quarta-feira, 31 de março de 2010

O conceito de Democracia de Heloísa Helena

Aquela, lá embaixoo, é uma nota da página de apoio de Plínio de Arruda Sampaio.

Segundo ela e outras notas da página, a presidência do PSOL (leia-se, Heloisa Helena) e alguns correlegionários teriam retirado do ar o site do partido. A medida tomaria a gestão do site das mão da Secretária de Comunicação do partido, que, assim como a maioria dos filiados, apoiou outra candidatura à Presidência da República, e não a do escolhido pela Senadora e sua minoria.

Se o partido não faz o que eu quero, neste conceito bem peculiar de democracia, a solução é simples: eu imponho a minha opinião a força.

Isso me lembrou da eleição de 2002. Por um acaso, pude ouvir o discurso da Senadora Heloísa Helena no último comício feito por aqui no Rio. Ela berrava, para delírio de uma parte da audiência, que aquela história de Lulinha paz e amor e de Carta ao povo brasileiro seria, por assim dizer, para inglês ver; que, depois da eleição e posse, eles iriam ver...

Imediatamente, senti um certo regozijo, logo seguido por um gosto amargo na garganta. Seria isso mesmo? Os compromissos assumidos em campanha seriam simplesmente um palavrório sem valor? Seria o Lulinha paz e amor, menos radicalmente de esquerda, uma mera persona, criada para iludir o eleitor, que nunca o elegera na versão anterior?

Havia uma boa dose de questionamentos éticos naquele amargor, mas, acima de tudo, pairava a dúvida: onde está a democracia nesse comportamento? Fingir ser uma coisa, adotar certas idéias, para conseguir o voto dos eleitores, e depois agir com outros parâmetros condiz com o princípio democrático?

Não, claro que não - acho eu. Se a democracia pressupõe o governo do povo, por meio de representantes escolhidos por sua maioria, qualquer coisa que vicie esta escolha colide diretamente com o conceito.

No caso, vendia-se ao eleitor uma proposta de mudança, mas dentro de um quadro de respeito aos princípios e regras postas e no exercício de um governo de coalizão. Qualquer ruptura abrupta, portanto, acho eu, somente poderia ser vista como uma fraude: aquilo que se convencionou chamar de estelionato eleitoral.

Revelando, desde logo, o seu conceito de democracia, o que a Senadora propunha era o seguinte. Já que o povo, este ingrato, não compartilha as nossas idéias, a gente finge que concorda com a deles - e o Lulinha paz e amor faz a campanha. Depois, eleitos democraticamente, a gente impõe o nosso verdadeiro projeto.

Mas não deu certo. Talvez por acreditar num outro conceito de democracia, em que o povo faz suas escolhas e elas devem, dentro do possível e ao máximo do possível, ser respeitadas, a intenção do Lula parece que era outra. O Lulinha paz e amor, para desespero da Senadora Heloísa Helena, era de verdade.

Aí, ela deu mais uma prova do conceito peculiar de democracia que adota. Sem poder para tomar o partido para si, e, convenhamos, agindo razoavelmente dentro das regras, saiu do jogo com a bola embaixo do braço, e foi criar nova agremiação.

[OBS: recentemente, relendo isto, reparei que há, aqui, um erro. A Senadora não saiu do partido, mas foi expulsa. Mas não acho que isso afete o restante da "análise".]

Em seguida, entretanto, já que o governo parecia disposto a valorizar a escolha dos cidadãos que o elegeram, se juntou à pior direita para, democraticamente, tentar derrubá-lo em um golpe institucionalizado.

Agora, parte dos que trilharam esse caminho com ela, parece, provam, eles mesmo, o amargo sabor da democracia segundo Heloísa Helena.

Boa sorte, é o que lhes desejo.


26 de março de 2010

Diante da retirada do site oficial do PSOL do ar na madrugada desta quarta-feira, alguns militantes estão organizando uma campanha na internet para garantir a democracia interna do partido e a livre circulação de informações sobre a III Conferência Nacional Eleitoral. Nesta sexta-feira, a presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, e outros apoiadores da pré-candidatura de Martiniano Cavalcante publicaram uma nota assumindo a autoria da retirada unilateral da página. A iniciativa, ironica e contraditoriamente, é “justificada” pela “defesa da democracia no PSOL”. Acesse o site de iniciativa do militante Paulo Piramba: http://euqueromeupsoldevolta.blogspot.com/

terça-feira, 30 de março de 2010

Barron's: porque o Presidente da Petrobrás é um dos 30 CEOs mais respeitados do mundo.

Este texto sobre Gabrielli acompanha o artigo da Barron’s que gerou esse post.

CEO da Petrobras desde 2005

Porque: construiu uma gigante do petróleo da sulamericana que rivailiza com a Exxon.

José Sergio Gabrielli, tem um das maiores funções de equilíbrio no mundo dos negócios: satisfazer o governo brasileiro, que detém 40% do seu gigante da energia, ao entregar retornos atraentes para todos os acionistas. Ele a desempenha com serenidade.

Agora, a Petrobras está sentada sobre uma enorme descoberta de petróleo ao largo da costa do Brasil, e, com Gabrielli envolvido, todos irão compartilhar as riquezas. Não que o governo não dispute um grande pedaço. As autoridades estão revendo as normas estatais na esperança de guiar uma parte maior das receitas do petróleo para programas do Fundo Social.

Gabrielli raramente deixa acima. Embora outros gigantes da exploração e refino de petróleo e gás cortaram gastos no ano passado, a Petrobras despejou capital nas operações, aumentou a produção de petróleo em 5%. O resultado: suas ações ofuscaram as de muitos de seu grandes, integrado pares de energia ao longo do ano passado.

Um ex-professor de economia, Gabrielli fez claramente seu dever de casa. Agora, com o petróleo perto de US$ 80 o barril, ele pode ir para a cabeça da classe.
DimitraDeFotis

Guilherme Barros: presidente da Petrobrás está entre os 30 CEOs mais respeitados do mundo, diz revista do Wall Street Journal

Post do Blog do Guilherme Barros.

O artigo da Revista Barrons's está disponível aqui.

Em tempo, Gabrielli é miltante petista desde a fundação do partido.

Obviamente, trata-se de mais um escandaloso caso de aparelhamento do Estado por incompetentes militantes petistas. Como essa aqui, aliás.


O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, é o único latino-americano citado na lista dos trinta CEOs mais respeitados do mundo da revista Barron’s, editada pelo The Wall Street Journal. É a segunda vez que Gabrielli aparece na lista.

Segundo a publicação, foram selecionados executivos que souberam manter suas companhias longe da crise mundial e aproveitaram o momento para expandir negócios e fazer boas aquisições. O desempenho das ações das empresas também é um dos critérios.

Brasília Confidencial: candidato a presidente, Serra multiplica por seis os gastos com publicidade.


Sobre os gastos de Serra com publicidade, aqui e aqui você encontra outras matérias. Nesse último post, com base nos dados da matéria, comparei os gastos do governo Serra e do governo federal com publicidade em 2009.

Segundo aqueles dados, levando em conta apenas os gastos da Administração Direta do estado, foi possível demonstrar o exato tamanho do recato propagandístico tucano. Até aquela data, o Estado de São Paulo (ou seja, o Governo Serra) havia gastado em publicidade o dobro do que gastara o governo federal, tendo por critério o valor despendido por habitante, e, pasmem, 15 vezes mais que o Governo Lula, se a comparação for baseada em Reais por kilômetro quadarado.

Agora, nesta matéria há vários dados interessantes, mas, lá no final, um salta aos olhos. O candidato a presidente (toc, toc, toc) gastos 2,5 vezes mais com propaganda da companhia de trens do que com a compra de trens.


O tucano José Serra renuncia ao governo paulista amanhã, para disputar a Presidência da República, ostentando um recorde histórico: nenhum governador daquele estado gastou tanto quanto ele em publicidade. Levantamento da bancada do PT na Assembleia Legislativa, baseado nos dados oficiais do Sistema de Gerenciamento do Orçamento do Estado (SIGEO), informa que as despesas do governo paulista com propaganda foram multiplicadas de R$ 40,7 milhões em 2006, ano anterior à posse de Serra, para R$ 293 milhões em 2009, terceiro ano de seu mandato. O crescimento foi de 620%.

Só para se ter uma idéia das dimensões do que o governador tucano gastou em propaganda, basta dizer que um hospital com 250 leitos, construído e montado com toda a infra-estrutura, custa aos cofres públicos algo em torno de R$ 50 milhões. Com o que gastou em publicidade no ano passado, quando já pleiteava a candidatura à Presidência, Serra poderia ter construído seis hospitais no estado.

As secretarias em que Serra aportou mais recursos em publicidade são exatamente as que ele considera as vitrines de seu governo.

Na Educação as despesas com propaganda cresceram 466% – de R$ 4,4 milhões, no último ano do governo anterior, para R$ 20,5 milhões, no ano passado.

Na Saúde, os gastos com publicidade aumentaram 442% (de R$ 4,5 milhões para R$ 24,3 milhões).

Na área de Transportes (rodovias, ferrovias etc) o crescimento das despesas com publicidade foi de 1.359% – de R$ 823 mil para R$ 12 milhões.

E na área de Transportes Metropolitanos (Metrô, CPTM ou Expansão São Paulo, amplamente divulgado por emissoras de rádio e TV) os gastos com propaganda aumentaram mais do que em todos os outros setores. O crescimento, estratosférico, foi de R$ 20 mil para R$ 48,4 milhões.

As despesas com publicidade também são exorbitantes quando se compara o que Serra gastou no primeiro bimestre de 2009 ao que gastou em janeiro e fevereiro últimos. As despesas quase triplicaram – de R$ 5,08 milhões para R$ 14,2 milhões. Como a lei eleitoral limita os gastos dos governos com publicidade até o mês de julho, a bancada do PT acredita que o governador resolveu concentrar gastos nesse semestre, procurando mostrar obras que, muitas vezes, só existem mesmo na propaganda.

Outro gasto que chamou a atenção dos parlamentares do PT foram os que o Governo Serra fez para divulgar a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Eles saltaram de R$ 15 mil, em 2006, para R$ 48 milhões, em 2009, cerca de 310 mil porcento a mais. Para se ter uma ideia do que foi gasto de propaganda na CPTM, basta dizer que os investimentos do Governo Serra na compra de novos trens, em 2009, não passaram de R$ 19 milhões. Afora isso, os gastos com serviços de limpeza das composições e também das estações foram diminuídos de R$ 46 milhões, em 2008, para R$ 40 milhões, em 2009.

Gulherme Barros: mesmo sem incentivo, vendas de carros devem bater recorde e montadoras já operam no limite de suas capacidade, diz consultoria.

Post do Blog do Guilherme Barros.

Mesmo com o fim da redução do IPI, as vendas de veículos leves deverão crescer 7,4% em 2010 e 3,1% no ano que vem, registrando novos recordes, segundo projeções da Lafis. A consultoria também projeta novas marcas históricas de produção nos dois períodos.

Osmar Sanches, economista da Lafis, coloca a expectativa de crescimento da economia brasileira, de 5,2% neste ano e 5,3% em 2011, como principais fundamentos para a evolução das vendas da indústria automobilística.

Para ele, as exportações podem reagir também, na medida em que mercados externos importantes para o setor se recuperam.

“A expectativa é que esta recuperação gire em torno de 10,6% em 2010, chegando a cerca de 500 mil unidades”, disse Sanches.

No caso da produção, a previsão da Lafis para a produção é de 3,4 milhões em 2010 e 3,6 milhões em 2011, números muito próximos da capacidade instalada da indústria na opinião do economista.

“As principais montadoras estão operando no limite da capacidade e partem para um novo ciclo de investimentos, o mais importante desde o final dos anos 1990, quando ocorreu o boom das novas empresas no País”, afirmou.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Pochman, no Valor: se Lula copiasse medidas de FHC em 98, PIB do Brasil poderia ter caído 5% com a crise.

Artigo publicado pelo Valor e copiado daqui.

A virada de 2009.
Marcio Pochman
Valor Econômico - 25/03/2010

No final de 2008, a irrupção da maior crise internacional desde a Grande Depressão de 1929 interrompeu o mais longo ciclo de expansão de investimentos no Brasil depois do milagre econômico do começo da década de 1970. De fato, os investimentos como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) foram reduzidos em 9,9% no ano passado, após o ritmo de crescimento quase três vezes superior à expansão da produção nacional iniciada em 2004. Pelas informações do IBGE, contudo, o segundo semestre de 2009 indicou uma considerável recuperação econômica, não somente pela ocupação da capacidade instalada, mas também pelos investimentos, capazes de permitir que o PIB deste ano cresça acima de 5%.
Se diante da grave crise internacional de 2008, o Brasil tivesse optado por repetir o receituário governamental similar ao adotado durante a crise financeira de 1998 (de menor proporção), o comportamento econômico e social nacional teria sido bem diverso do que foi constatado em 2009. Ao invés da situação de relativa estagnação da produção nacional no ano passado (variação negativa de 0,2% em relação a 2008), o Brasil teria passado, provavelmente, por uma profunda recessão econômica, ao redor dos -5%.

Isso porque em 1998 o país encontrava-se iludido pela perspectiva da Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas), o que implicava, entre outras coisas, a maior concentração das exportações nacionais aos países ricos. Ou seja, o Brasil seguiria na mesma direção do México, que em 2009 registrou mais de 80% do seu comércio externo com os Estados Unidos. Com a crise de 2008, cujo epicentro foi nos países ricos, a forte queda nas exportações mexicanas para os Estados Unidos propulsionou recessão econômica ainda maior, próxima de 7% no ano passado. O Brasil, contudo, mudou a sua trajetória externa a partir de 2003, o que permitiu diversificar os parceiros comerciais e reduzir o peso relativo dos países ricos nas exportações, caindo de mais de 2/3 para atuais menos de 50%. Mesmo com a diminuição das exportações de bens e serviços em 10,3% em 2009, enquanto componente da demanda agregada, observa-se que seu impacto terminou sendo relativamente mitigado pelo avanço do comércio exterior com nações do âmbito Sul-Sul.

Da mesma forma, nota-se que na crise financeira de 1998, a concepção governamental prevalecente era a de que o Estado se constituía na parte principal dos problemas da época. Por isso, as opções de política econômica e social entre 1998 e 1999 se concentraram adicionalmente na asfixia do setor público, por meio da contenção do gasto público (custeio e investimento), bem como da elevação da carga tributária em relação ao PIB (em 4,5%), como forma de financiar o pagamento adicional dos encargos do endividamento público originados pelo brutal aumento da taxa de juros em 136,8% (de 19% para 45%). Nessas circunstâncias, as empresas e bancos públicos foram ainda mais estrangulados, com corte de 16,6 mil funcionários públicos federais, enquanto a política social seguiu contrária a sua ação compensatória sobre os efeitos da crise. O tranco econômico e a mordaça do Estado resultaram em elevação do desemprego e da taxa de pobreza, que passou de 49,7%, em 1998, para 53,5% dos brasileiros (aumento de 7,6%).

Na grave crise internacional de 2008, a concepção governamental predominante foi outra. Ou seja, o Estado seria parte fundamental da solução dos problemas. Coube ao Estado atuar estratégica e ativamente na adoção de medidas que permitissem reduzir a carga tributária em 1,6% (de 34,8% do PIB, em 2008, para 34,3%, em 2009), sem contração das despesas públicas fundamentais diante da diminuição dos gastos financeiros - possibilitada pela prévia queda na taxa de juros em 36,4% (de 13,7%, em 2008, para 8,75%, em 2009).

Ademais, houve o imediato reforço das empresas e bancos públicos, com a garantia de recursos adicionais para ampliação do orçamento do BNDES, bem como do reposicionamento da Caixa Econômica Federal  e do Banco do Brasil, que atuaram de forma anticíclica diante do encolhimento do crédito nos bancos privados. Com isso, o conjunto das operações de crédito do sistema financeiro nacional não foi reduzido em relação ao PIB, conforme a queda de 4,3% verificada em 1999 (de 28,1% do PIB, em 1998, para 26,8%, em 1999). Também as empresas públicas como Eletrobrás e Petrobras deram sequência ao planejamento de maior prazo reavivado pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que desde 2007 focou na ampliação dos investimentos, sobretudo em energia e infraestrutura nacional e, mais recentemente, em habitação popular.

Para além do importante papel das decisões governamentais inovadoras na economia, convém destacar a ousadia nas políticas de renda adotadas na última crise internacional. De um lado, a elevação do valor real do salário mínimo em 5,8% no ano de 2009, contra apenas 0,7% em 1999. Por consequência, o impacto favorável para os beneficiários das políticas sociais (aposentados e pensionistas da Previdência Social), que tiveram ampliações no valor do benefício. Assim também houve aumento no quantitativo de atendidos pelo programa Bolsa Família e pelos receptores do Seguro Desemprego ao longo de 2009.

Por força disso, as famílias agregaram, em média, R$ 2,8 mil em 2009 (acréscimo no consumo das famílias em R$ 160 bilhões). Idêntico procedimento anticíclico não se verificou por parte do governo há dez anos. De outro lado, percebe-se que a orientação governamental em defesa da produção doméstica correspondeu ao maior estímulo à geração de empregos formais (saldo líquido de quase um milhão de novas vagas em 2009, contra redução de 190 mil postos de trabalho em 1999), bem como a contenção mais rápida do próprio desemprego. Diante disso, o Brasil entrou mais tarde e desvencilhou-se mais cedo da contaminação da crise internacional. A pobreza encolheu, uma vez que mais de 500 mil brasileiros abandonaram essa situação nas regiões metropolitanas, enquanto a desigualdade de renda do trabalho caiu 0,4%. Até a inflação não subiu, mesmo com a desvalorização cambial ocorrida em função da crise, pois terminou regredindo de 5,9%, em 2008, para 4,3%, em 2009. Na época da crise financeira de 1998 e 1999, a taxa de inflação subiu de 1,7% para 8,9%.

Sem a crise de 2008, o Brasil, possivelmente, não precisaria ter tomado medidas ousadas, que terminaram por solapar a lógica do tratamento da recessão econômica por meio das receitas neoliberais. É por isso que 2009 se tornou o ano da virada que consolida outro caminho de desenvolvimento que não seja o da reprodução do passado.

Folha: demo-tucanos impedem divulgação de relatório da ONU elogioso à política habitacional de Marta Suplicy

Matéria da Folha e já publicada pelo Nassif.

Texto que enaltece política habitacional da gestão Marta e critica Serra e Kassab é recolhido após queixa oficial
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

 
Um relatório sobre a cidade de São Paulo encomendado pelo UN-Habitat (Programa das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos) gerou uma crise com a Prefeitura de São Paulo. Sua divulgação, prevista para ontem no 5º Fórum Urbano Mundial, foi suspensa.

O texto elogia a política habitacional de Marta Suplicy (PT) e critica, sem citar nomes, seus sucessores José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM).

Após ter acesso a um rascunho do relatório "São Paulo: um Conto de Duas Cidades", a superintendente de habitação popular da prefeitura, Elisabete França, enviou e-mail ao chefe da divisão de pesquisas do UN-Habitat, Eduardo Moreno, reclamando que o texto, do consultor independente Christopher Horwood, "mais parece um panfleto político do que um estudo técnico".

O UN-Habitat recuou. Alberto Paranhos, autoridade principal do escritório para América Latina e Caribe, disse que será marcada nova data, mas só após o autor do texto apresentar suas críticas à prefeitura e ouvir suas considerações.

"Não temos problema em criticar, mas adotamos como prática apresentar as críticas antes para dar direito de réplica e ter certeza de que o que está escrito é verdadeiro. No caso desse documento, quando descobrimos que ele já estava sendo impresso, suspendemos o processo. Mas algumas cópias acabaram sendo divulgadas", afirmou Paranhos.

A Folha foi um dos veículos a ter acesso ao relatório. Os quatro primeiros capítulos trazem dados de uma pesquisa feita em parceria com a Fundação Seade, vinculada ao governo de São Paulo. No quinto parágrafo, é feita uma análise das políticas públicas habitacionais.

O texto diz que a gestão Marta "marcou importante era na política habitacional de São Paulo", citando positivamente a criação das Zonas Especiais de Interesse Social, o programa Bairro Legal e os Centros Educacionais Unificados.

O documento afirma que os sucessores da petista não deram continuidade a algumas dessas políticas e que especialistas consultados "concordam que as autoridades municipais não estão cientes ou comprometidas com a melhoria das condições de vida em cortiços e favelas".

A Folha tentou entrar em contato com Horwood, mas não conseguiu localizá-lo.

Uol: beneficiário do Prouni, filho de catador de garrafas se forma e ganha bolsa de mestrado nos EUA.

Matéria do Uol Educação.
Simone Harnik
Em São Paulo

Depois de se formar em administração em Belo Horizonte, Bruno Lucio Santos Vieira, 22, ingressou no mestrado em relações internacionais na Ohio University, nos Estados Unidos. Hoje, no curso, o estudante dedica seu tempo a disciplinas como história econômica norte-americana e mercados financeiros.

A biografia resumida acima pode parecer com a de algum brasileiro bem-nascido e cheio de oportunidades. No caso de Bruno, no entanto, cada passo tem sido uma batalha: filho do aposentado Henrique Barbosa Vieira, 68, e da dona de casa Neide Lúcia Santos Vieira, 56, o rapaz concluiu a educação básica toda em escola pública, fez a graduação pelo Prouni (Programa Universidade para Todos) no Centro Universitário Una e ganhou, pelo bom desempenho, desconto para a pós-graduação.
No entanto, há um semestre na terra de Obama, e ainda que tenha a bolsa de estudos, os custos de vida têm comprometido o futuro acadêmico do jovem. A cada mês, ele fica mais 600 dólares no vermelho – o que corresponde a aproximadamente R$ 1.100. "Quando vim, não ficou claro que haveria tantos gastos, e eles comprometeram o orçamento", conta.

E a família não tem como ajudar. "Meu marido ganha um salário e meio. Acabou de passar por um câncer de próstata. Para complementar a renda, ele recolhe garrafas, e eu lavo para vendermos", diz Dona Neide, que se esforça para segurar a saudade e as lágrimas sempre que fala com o filho. "Ele é o meu caçula e toda a vida foi exemplar. Muito carinhoso. Mas estou muito triste com as dificuldades que ele está passando."

Ajuda dos novos amigos

Mesmo trabalhando para a faculdade – dentro dos limites da lei – tem sido bem difícil bater a quantia necessária a cada mês, diz o jovem. E as economias que fez enquanto trabalhava no Brasil já se foram.

A sobrevivência tem dependido da boa vontade dos novos amigos nos EUA. Dois ucranianos e um espanhol têm financiado o aluguel e a comida para Bruno e sua mulher, Poliana. O casal ainda consegue almoçar de graça duas vezes por semana em igrejas da cidade.

O casamento, que não completou um ano terá de resistir à distância. Com a falta de dinheiro, Poliana já está de malas prontas para retornar ao país.

Nem luxo nem lixo

O mobiliário da casa que Bruno divide com os europeus recebeu vastas contribuições do desperdício ou do desapego da comunidade de Ohio. "Quando alguém nos pergunta onde compramos armário, mesas, cadeiras, sofá, sempre brinco que foi no 'Trash.com' [em inglês, "trash" quer dizer lixo]. Achamos também panela, pratos, copos, talheres", relata Bruno, que chegou a receber até doações de comida.

Primeiro da turma

Durante a faculdade, a performance do jovem foi alvo de elogios dos docentes. Segundo a coordenadora do curso de administração do Una, Christiana Metzker Netto, ele "tem muito potencial".

"Bruno teve 94 pontos [em cem] de média geral. Tirou de letra a faculdade e foi um aluno exemplar. No trabalho final, tirou 99 pontos – e as médias costumam ser bem mais baixas", revela. "O curso também pede 60 horas de atividades complementares, que os alunos demoram a cumprir. Bruno fez 255 horas".

O empenho rendeu troféu de melhor aluno do curso, mas não foi suficiente para garantir a estadia no mestrado. E o rapaz tem recorrido ao seu passado acadêmico para buscar auxílio – concorre a novas bolsas, ainda sem certezas.

O mais jovem de cinco irmãos, primeiro a se formar na faculdade e a ir ao exterior, é admirado pela família e espera voltar com o mestrado concluído. "Todo herói tem de ter um pouco de louco, tem de arriscar. Pensei que essa podia ser a minha única chance de continuar estudando", diz.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Globo: democrática, PM de Serra avisa a professores e jornalistas: SE PRECISAR, NÓS VASMOS DESCER PORRADA SIM.

Matéria de O Globo.

A foto foi tirada de uma matéria do Estadão, e se parece muito com essa, de outra democrática reação da Administração Serra aos descontentes.

O nome do arquivo no site do jornal, sintomaticamente, é "serraborracha". Taí, bom nome. Poderia ser incluído no programa de governo do Serra. Um slogan para resumir como ele tratará quem com ele não concorde em sua eventual presidência (toc, toc, toc).




FRANCO DA ROCHA (SP) - Policiais militares e um grupo de cerca de 30 manifestantes entraram em confronto no início desta tarde durante a inauguração do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (Caism), que funciona no antigo Hospital do Juquery, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A obra foi inaugurada pelo governador José Serra (PSDB).

Serra foi recebido calorosamente pelo grupo de manifestantes, formados por professores da rede estadual, em greve desde o último dia 8. A categoria começou a gritar palavras de ordem contra o governador, como 'Serra, a culpa é sua, a greve continua'. Cerca de 40 PMs fizeram um cordão no local impedindo que os manifestantes chegassem próximos ao palanque do governador paulista.

Os manifestantes teriam tentado avançar e foram recebidos com golpes de cassetete e spray de pimenta pela PM. Até uma jornalista acabou agredida pela Polícia Militar, por um soldado de prenome Sérgio. O policial retrucou quando questionado por jornalistas. Quem estava no palanque do governador também começou a tossir e ter os olhos irritados pelo spray de pimenta jogado contra os professores. Três manifestantes foram presos.

- Se precisar nós vamos descer porrada sim.

Após a agressão, os manifestantes começaram a gritar 'abaixo à repressão, professor não é ladrão' e chamar o governador, que discursava, de ditador. Serra também foi calorosamente vaiado durante seu discurso e saiu do evento sem comentar a manifestação nem o confronto. Na entrevista coletiva, o tucano limitou-se a comentar exclusivamente a obra inaugurada.

Essa é a segunda vez em uma semana que o governador é recebido com hostilidade pela categoria. Na quarta-feira passada, Serra foi hostilizado por professores durante inauguração de uma escola técnica em Francisco Morato, também na Grande São Paulo. Os grevistas chegaram a atirar ovos contra o carro oficial de Serra e trocaram socos e pontapés com seguranças que faziam a escolta do governador.

Estadão: democrática, a administração Serra pede que diretores de escolas não falem com jornalistas.

Matéria do Estadão.

Texto foi enviado a 77 unidades da zona leste da capital; secretaria diz que informação deve ser divulgada pela pasta
Mariana Mandelli e Luciana Alvarez – O Estadao de S.Paulo

Pelo menos 77 escolas estaduais da zona leste de São Paulo foram orientadas a não dar informações para a imprensa sobre a greve dos professores. A iniciativa partiu da Diretoria de Ensino da Região Leste 3 em comunicado enviado por e-mail aos diretores das escolas no início do mês.

No texto, a diretoria afirma que, por causa da paralisação, que teve início no dia 8, “a imprensa está entrando em contato diretamente com as escolas solicitando dados e entrevista.” E pede: “solicitamos ao diretor de escola para não atender a esta solicitação.”

A região leste 3 compreende os distritos de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, José Bonifácio, Lajeado e São Rafael.

O comunicado ainda orienta como proceder em relação ao envio de informações sobre a greve para o governo, detalhando dias e turnos em que os professores estiveram ausentes.

O texto pede que os colégios mandem os números reais de professores parados, “visto que os mesmos não estão batendo com os dados da Secretaria da Educação”. Segundo a pasta, 1% das escolas no Estado está parado. Já o sindicato da categoria fala em mais de 60% dos 215 mil professores em greve.

Em nota divulgada ontem, o governo afirmou que a orientação da diretoria regional “é para que os pedidos de jornalistas às escolas sejam encaminhados à assessoria de imprensa da Secretaria da Educação”. O texto ainda afirma que o setor deve fornecer informações e entrevistas solicitadas por jornalistas, já que “o trabalho da assessoria de imprensa é uma praxe em instituições públicas e privadas.”

Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), a medida “fere a liberdade de expressão”.

A professora Luzir Cristina Gomes, que dá aulas de Filosofia em três escolas de Embu Guaçu, conta que professores e diretores estão sendo pressionados. “Dependendo da escola, você sofre pressão do diretor para não aderir. Caso o diretor seja favorável à greve, é ele que sofre pressão da diretoria de ensino.”

Negociação. Representantes de sindicatos foram ontem à Secretaria da Educação pedir a abertura de negociação com o secretário, Paulo Renato Souza. A categoria quer reajuste de 34,3%. “Precisamos até quinta-feira que o secretário ou diga zero (de reajuste), para a gente poder avaliar na assembleia de sexta, ou ofereça algo”, disse Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp. À tarde, diversas entidades que representam a categoria participaram de audiência pública na Assembleia Legislativa.

terça-feira, 23 de março de 2010

Marcelo Neri, no Valor: um ano depois dos efeitos da crise, queda da desiguladade acelera.

Artigo publicado pelo Valor, mas copiado daqui.

Ano I depois da crise: desigualdade ainda em queda.

Meu artigo anterior neste espaço fez um balanço do bolso dos brasileiros em 2009. Começamosjaneiro com forte deterioração de todos os indicadores baseados em renda per capita seguida de paulatina recuperação de tal sorte que terminamos o ano num nível similar ao do ano anterior. Esse empate com muitos gols acontece para vasta gama de indicadores: média (-0,3%) e desigualdade de renda (0%), participação das classes AB (2%), C(-0,4%), D (1,4%) e E (-1,5%), esse último equivalente à proporção depobres.

Apesar da restrição da cobertura geográfica e de fontes de renda dos dados do trabalho nas seis principais metrópoles brasileiras, a Pesquisa Mensa ldo Emprego (PME) é um bom previsor da Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios (PNAD). Essa aderência não se deve apenas por cobrir 80% dasrendas PNAD mas pelo fato da renda de programas sociais e aposentadoria ter acompanhado de perto nos últimos anos o boom trabalhista. A PME permite a partir de amostras de mais de 100 mil entrevistados a cada mês antecipar em 18 meses a divulgação das estatísticas pnadianas.

Volto ao mesmo ponto, não por falta de assunto mas pela inflexão observada; ao confrontar janeiro de 2010 com janeiro de 2009 encontramos resultados bastante distintos da comparação entre dezembro de 2009 e dezembro de 2008. Conforme o gráfico demonstra voltamos ao ritmo demelhora das séries expressas em termos de crescimento anualizado, similar ao do período pré-crise compreendido entre dezembro de 2002 e dezembro de 2008. Senão vejamos: a classe E cai num ritmo um pouco menor agora (-7,95% agora contra -8,2%) já a classe D cai mais agora (-4,57% contra -2,39%). Olhando mais ao topo da distribuição, a Classe C sobe a uma velocidade menor agora (3,15% contra 3,82%) mas a classe AB mais rápido (5,5% contra 4,17%). Ou seja, saímos do marasmo da crise para o ritmo da pequena grande década ocorrida entre 2003 e 2008. Toda diferença provém de trocar a passagem entre dezembro de 2008 e janeirode 2009, quando a crise chegou com a força de uma ressaca, às nossas séries pela de dezembro de 2009 para janeiro de 2010. Nesse sentido estamos completando um ano depois dos efeitos da instabilidade partiremdo bolso do brasileiro. Completamos o Ano I depois da crise (D.C.).
A crise não foi nem marolinha, nem tsunami, mas ressaca tão forte quanto passageira. Do estouro da crise lá fora em 15 de setembro de 2008 até achegada nas séries da PME demorou três meses e meio, defasagem similar ao da chegada da crise asiática de setembro de 1997 às mesmas séries. A diferença é que o efeito da última persistiu por cinco anos em nossas séries e o da crise recente começou a ser revertido um mês depois. Mas o que explica a retomada recente? Não foi a média de renda per capita que sobe 0,9% nos últimos 12 meses contra 3,2% do período pré-crise. Foi a desconcentração de renda. Por exemplo, o índice de Gini que piorou em janeiro de 2009 (+2,5%) e depois cumpriu à risca o script de empate com variação nula de dezembro 2008 a dezembro 2009, sofre variação de -1,8% na comparação dos últimos 12 meses em ritmo superiora de -1,5% ao ano do boom anterior, conhecido aqui e alhures como da queda da desigualdade brasileira.

Como cada medida de desigualdade encerra julgamento de valor específico associado a função bem estar social da qual ela é derivada, convém checar a robustez dos resultados. O índice de Theil-T, mais sensível a mudanças ocorridas na cauda inferior da distribuição de renda, cai 3,2% ao ano entre dezembro de 2002 a dezembro de 2008 enquanto de janeiro de 2009 e 2010 o mesmo cai 7,2%, indicando aceleração da queda dedesigualdade brasileira.

Esse ponto merece destaque pois talvez a maior inovação brasileira na década passada foi a desconcentração da renda. Os dados do período pós-crise sugerem continuidade dessa tendência equalizadora de resultados. Complementarmente, as séries de nível e desigualdade de anos de escolaridade plantadas no passado que constituem os melhores previsores da distribuição de renda disponíveis, sugerem colheitas de resultados trabalhistas mais equânimes no futuro. Aos céticos pelo baixo nível da quantidade e da qualidade educacional brasileira vigente: o que importa ao crescimento são as melhoras obtidas.

A única vantagem de um país distante das fronteiras de equidade e de eficiência é a capacidade de progredir, sem dilemas. Estamos para experimentar o nível mais baixo de desigualdade de nossas séries históricas que se iniciam com o Censo de 1960. À luz das evidências internacionais, temos ainda um substancial excesso de desigualdade, sem dúvida, mas aí justamente reside o nosso diferencial de capacidade de melhora.
Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais eprofessor da EPGE, Fundação Getulio Vargas. Autor dos livros "EnsaiosSociais", "Cobertura Previdenciária: Diagnóstico e Propostas" e"Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grammen brasileiro".

Guilherme Barros: vendas de máquinas para construção cresceram 127% no 1º bimestre.

Do Blog do Gulherme Barros.


O ano começou de forma surpreendente, com vendas e produção em forte alta, para os fabricantes de máquinas de construção instalados no País.

No primeiro bimestre, as vendas cresceram 127,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, com 2,9 mil equipamentos comercializados. Já na produção, o salto foi ainda maior, 243%, e 3,7 mil unidades fabricadas.

Os dados são da Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias da Abimaq e contemplam modelos como tratores de esteira, retroescavadeiras, caminhões fora de estrada e rolos compactadores.

O crescimento de produção e vendas, segundo Mário Humberto Marques, presidente da Sobratema (entidade que reúne fabricantes e compradores de equipamentos), indica que o mercado da construção civil está se preparando para um ano aquecido.

“É um comportamento atípico para a época. Superou até mesmo janeiro e fevereiro de 2008, até então o melhor ano da história para a indústria de máquinas”, afirmou.

Em relação a 2008, as vendas subiram 83,5% e as vendas, 1,5%.

Bernardo Kucinski: A linguagem do preconceito contra Lula.

Artigo originalmente publicado pela Revista do Brasil, mas copiado do Blog do Nassif.

Virou moda dizer que “Lula não entende das coisas”. Ou “confundiu isso com aquilo”. É a linguagem do preconceito, adotada até mesmo por jornalistas ilustres e escritores consagrados

Por: Bernardo Kucinski
Publicado em 01/01/2008

Um dia encontrei Lula, ainda no Instituto Cidadania, em São Paulo, empolgado com um livro de Câmara Cascudo sobre os hábitos alimentares dos nordestinos. Lula saboreava cada prato mencionado, cada fruta, cada ingrediente. Lembrei-me desse episódio ao ler a coluna recente do João Ubaldo Ribeiro, “De caju em caju”, em que ele goza o presidente por falar do caju, “sem conhecer bem o caju”. Dias antes, Lula havia feito um elogio apaixonado ao caju, no lançamento do Projeto Caju, que procura valorizar o uso da fruta na dieta do brasileiro.

“É uma pena que o presidente Lula não seja nordestino, portanto não conheça bem a farta presença sociocultural do caju naquela remota região do país...”, escreveu João Ubaldo. Alegou que Lula não era nordestino porque tinha vindo ainda pequeno para São Paulo. E em seguida esparramou citações sobre o caju, para mostrar sua própria erudição. Estou falando de João Ubaldo porque, além de escritor notável, ele já foi um grande jornalista.

Outro jornalista ilustre, o querido Mino Carta, escreveu que Lula “confunde” parlamentarismo com presidencialismo. “Seria bom”, disse Mino, “que alguém se dispusesse a explicar ao nosso presidente que no parlamentarismo o partido vencedor das eleições assume a chefia do governo por meio de seu líder...” Essa do Mino me fez lembrar outra ocasião, no Instituto Cidadania, em que Lula defendeu o parlamentarismo.

Parlamentarista convicto, Lula diz que partidos são os instrumentos principais de ação política numa democracia. Pelo mesmo motivo Lula é a favor da lista partidária única e da tese de que o mandato pertence ao partido. Em outubro de 2001, o Instituto Cidadania iniciou uma série de seminários para o Projeto Reforma Política, aos quais Lula fazia questão de assistir do começo ao fim. Desses seminários resultou um livro de 18 ensaios, Reforma Política e Cidadania, organizado por Maria Victória Benevides e Fábio Kerche, prefaciado por Lula e editado pela Fundação Perseu Abramo.

Clichês e malandragem

Se pessoas com a formação de um Mino Carta ou João Ubaldo sucumbiram à linguagem do preconceito, temos mais é que perdoar as dezenas de jornalistas de menos prestígio que também dizem o tempo todo que “Lula não sabe nada disso, nada daquilo”. Acabou virando o que em teoria do jornalismo chamamos de “clichê”. É muito mais fácil escrever usando um clichê porque ele sintetiza idéias com as quais o leitor já está familiarizado, de tanto que foi repetido. O clichê estabelece de imediato uma identidade entre o que o jornalista quer dizer e o desejo do leitor de compreender. Por isso, o clichê do preconceito “Lula não entende” realimenta o próprio preconceito.

Alguns jornalistas sabem que Lula não é nem um pouco ignorante, mas propagam essa tese por malandragem política. Nesse caso, pode-se dizer que é uma postura contrária à ética jornalística, mas não que seja preconceituosa. Aproveitam qualquer exclamação ou uso de linguagem figurada de Lula para dizer que ele é ignorante. “Por que Lula não se informa antes de falar?”, escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando Lula disse que o caso da menina presa junto com homens no Pará “parecia coisa de ficção”. Quando Lula disse, até com originalidade, que ainda faltava à política externa brasileira achar “o ponto G”, William Waack escreveu: “Ficou claro que o presidente brasileiro não sabe o que é o ponto G”.

Outra expressão preconceituosa que pegou é “Lula confunde”. A tal ponto que jornalistas passam a usar essa expressão para fazer seus próprios jogos de palavras. “Lula confunde agitação com trabalho”, escreveu Lucia Hippolito. Empregam o “confunde” para desqualificar uma posição programática do presidente com a qual não concordam. “O presidente confunde choque de gestão com aumento de contratações”, diz o consultor José Pastore, fonte habitual da imprensa conservadora.

Confunde coisa alguma. Os neoliberais querem reduzir o tamanho do Estado, o presidente quer aumentar. Quer contratar mais médicos, professores, biólogos para o Ibama. É uma divergência programática. Carlos Alberto Sardenberg diz que Lula “confundiu” a Vale com uma estatal. “Trata-a como se fosse a Petrobras, empresa que segundo o presidente não pode pensar só em lucro, mas em, digamos, ajudar o Brasil.” Esse caso é curioso porque no parágrafo seguinte o próprio Sardenberg pode ser acusado de confundir as coisas, ao reclamar de a Petrobras contratar a construção de petroleiros no país, apesar de custar mais. Aqui, também, Lula não fez confusão: o presidente acha que tanto a Vale quanto a Petrobras têm de atender interesses nacionais; Sardenberg acha que ambas devem pensar primeiro na remuneração dos acionistas.

Filosofia da ignorância

A linguagem do preconceito contra Lula sofisticou-se a tal ponto que adquiriu novas dimensões, entre elas a de que Lula teria até problemas de aprendizagem ou de compreensão da realidade. Ora, justamente por ter tido pouca educação formal, Lula só chegou aonde chegou por captar rapidamente novos conhecimentos, além de ter memória de elefante e intuição. Mas, na linguagem do preconceito, “Lula já não consegue mais encadear frases com alguma conseqüência lógica”, como escreveu Paulo Ghiraldelli, apresentado como filósofo na página de comentários importantes do Estadão. Ou, como escreveu Rolf Kunz, jornalista especializado em economia e também professor de filosofia: “Lula não se conforma com o fato de, mesmo sendo presidente, não entender o que ocorre à sua volta”.

Como nasceu a linguagem do preconceito? As investidas vêm de longe. Mas o predomínio dessa linguagem na crônica política só se deu depois de Lula ter sido eleito presidente, e a partir de falas de políticos do PSDB e dos que hoje se autodenominam Democratas. “O presidente Lula não sabe o que é pacto federativo”, disse Serra, no ano passado. E continuam a falar: “O presidente Lula não sabe distinguir a ordem das prioridades”, escreveu Gilberto de Mello. “O presidente Lula em cinco anos não aprendeu lições básicas de gestão”, escreveu Everardo Maciel na Gazeta Mercantil.

A tese de que Lula “confunde” presidencialismo com parlamentarismo foi enunciada primeiro por Rodrigo Maia, logo depois por César Maia, e só então repetida pelos jornalistas. Um deles, Daniel Piza, dias depois dessas falas, escreveu que “só mesmo Lula, que não sabe a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo, pode achar que um governante ter a aprovação da maioria é o mesmo que ser uma democracia no seu sentido exato”.

Preconceito é juízo de valor que se faz sem conhecer os fatos. Em geral é fruto de uma generalização ou de um senso comum rebaixado. O preconceito contra Lula tem pelo menos duas raízes: a visão de classe, de que todo operário é ignorante, e a supervalorização do saber erudito, em detrimento de outras formas de saber, tais como o saber popular ou o que advém da experiência ou do exercício da liderança. Também não se aceita a possibilidade de as pessoas transitarem por formas diferentes de saber.

A isso tudo se soma o outro preconceito, o de que Lula não trabalha. Todo jornalista que cobre o Palácio do Planalto sabe que é mentira, que Lula trabalha de 12 a 14 horas por dia, mas ele é descrito com freqüência por jornalistas como uma pessoa indolente.

Não atino com o sentido dessa mentira, exceto se o objetivo é difamar uma liderança operária, o que é, convenhamos, uma explicação pobre. Talvez as elites, e com elas os jornalistas, não consigam aceitar que o presidente, ao estudar um problema com seus ministros, esteja trabalhando, já que ele é “ incapaz de entender” o tal problema. Ou achem que, ao representar o Estado ou o país, esteja apenas passeando. Afinal, onde já se viu um operário, além do mais ignorante, representar um país?

Fontes: João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 2/9/2007. Blog do Mino Carta, 16/11/2007. Blog do William Waack, 2/12/2007. Texto de Lúcia Hipólito no UOL, 24/07/2007. José Pastore, artigo no Estadão, 11/12/2007. Carlos Alberto Sardenberg, “De bronca com o capital”, Estadão, 10/12/2007. Filósofo Paulo Ghiraldelli, Estadão, 29/8/2007. Rolf Kunz, “Lula, o viajante do palanque”, Estadão, 29/11/2007. José Serra, em Folha On Line, 1º/8/2006, em reportagem de Raimundo de Oliveira. Gilberto de Mello, escritor e membro do Instituto Brasileiro de Filosofia, no Estadão de 2/8/2007, reproduzido no site do PSDB. Everardo Maciel, na Gazeta Mercantil de 4/10/2007. Rodrigo Maia, em declaração à Rádio do Moreno, 6/11/2007, 17h20. César Maia em seu blog, 12/11/2007. E Daniel Pizza em texto do Estadão de 2/12/2007.

Bernardo Kucinski é professor titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP. Foi produtor e locutor no serviço brasileiro da BBC de Londres e assistente de direção na televisão BBC. É autor de vários livros sobre jornalismo.

sábado, 20 de março de 2010

Nassif: Veja dá de ombros aos desmentidos da justiça e do ministério público.

Postagem do Blog do Nassif.

Incluí apenas links para os documentos citados por ele, da justiça e do Ministério Público, que derrubariam as matérias da revista.

Aqui, tem uma matéria do Valor Econômico, que esclarece que os fundos de pensão não perderam um tostão na Bancoop e diz, mais uma vez, que o promotor paulista não tem provas de suas acusações.

20/03/2010 - 08:53

O jogo ficou assim:
1. Veja informou que o Vaccari foi denunciado pelo doleiro (que ela chama de consultor financeiro) em um sistema de delação premiada. Deu como provas o relatório sigiloso do depoimento, que estaria no inquérito do “mensalão”. Só disse isso, não apresentou provas maiores. O leitor fica dependendo, então, de confiar na palavra do repórter. Pouco antes, noticiou que o promotor Blat pediria a quebra do sigilo de Vaccari, devido à suspeita de que tivesse havido desvios para financiamento de campanha. São duas denúncias sem apresentação de provas, baseadas exclusivamente na palavra de duas pessoas: do repórter e do procurador. O PT desmentiu, Vaccari desmentiu. Até aí, morreu Neves. É a palavra de um lado contra a do outro.

2. Aí vem o juiz – que recebeu o pedido de quebra do sigilo de Vaccari – e espinafra o promotor. Acusa-o de promover eventos puramente políticos, já que não havia nada que fundamentasse seu novo pedido. Ou seja, a palavra do promotor foi para vinagre.

3. Depois, vem a procuradora de São Paulo que colheu os depoimentos de Funaro. E garante que o nome de Vaccari sequer foi mencionado. Desmontou a palavra do repórter.

4. A revista volta ao tema esta semana, espinafra a defesa do PT, critica os que falam de “mídia golpista” mas sobre os desmentidos oficiais à matéria, nada. Fala sobre “evidências” na cobrança de propinas que já haviam sido desmontadas pelo juiz e pela procuradora – em informações que se espalharam por toda a Internet e por todas as redações do país. Depois do desmentido da procuradora, o jovem repórter Diego Escosteguy ficou sob suspeita de ter inventado uma matéria. Ele não pode simplesmente responder indignando-se com a não resposta do PT. Seu papel, agora, é mostrar as provas de que a matéria da semana passada não foi inventada, inclusive para não prejudicar uma carreira promissora.

Da Veja

O PT continua dando de ombros…

…e repete o mesmo erro visto no mensalão: ignora as evidências de que seu tesoureiro cobrava propina e decide mantê-lo no cargo

Na noite da última terça-feira, o lobista e deputado cassado José Dirceu, acusado pela Procuradoria-Geral da República de comandar a “organização criminosa” do mensalão, réu no Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa e formação de quadrilha, celebrou seus 64 anos numa alegre festa em Brasília. Dirceu, o perseguido, aproveitou a tertúlia para anunciar sua enigmática convicção de que será absolvido no STF – e propôs um brinde especial ao novo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como um dos operadores do mensalão petista e, também, como responsável por desfalques milionários na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, a Bancoop. “Vamos defender nossos amigos dessas denúncias infundadas”, arengou o petista, observado de perto pelo presidente do Senado, José Sarney, e pelo senador Renan Calheiros, ambos do PMDB, políticos retos que, como Dirceu, conhecem bem esse tipo de “denúncia infundada”. Até o outrora discreto chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, foi às falas: “Não vamos aceitar linchamento sem provas”. O partido, portanto, está disposto a manter no cargo João Vaccari, o coletor de propina do mensalão junto aos fundos de pensão.
As declarações no convescote de Dirceu demonstram que o PT resolveu aplicar no caso de Vaccari a mesma tática belicosa que adota desde o começo do governo Lula sempre que surgem evidências de malfeitorias cometidas pelos companheiros. É uma estratégia rudimentar, na qual o partido se defende tão somente atacando os autores das denúncias – ou, ainda, o mensageiro delas: “a mídia golpista”. Essa atitude prepotente, de deprezo aos demais protagonistas do jogo democrático, serve ao propósito político de interditar o debate e a validade de quaisquer investigações, ignorando, assim, a substância objetiva das provas apresentadas ao público. A nota divulgada pelo tesoureiro na semana passada – em resposta às revelações de VEJA sobre os depoimentos sigilosos do corretor Lúcio Funaro aos procuradores que investigam o mensalão – ratifica isso. Nela, lê-se apenas que as denúncias visam a “influenciar o processo eleitoral”. Nada diz sobre os fatos. Ou seja, nega sem negar. Não nega que Vacca-ri recebeu o corretor e o deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto na sede da Bancoop, no fim de 2004. Não nega que nesse encontro Vaccari explicou que, para fazer negócios nos fundos de pensão, era necessário pagar um pedágio ao PT. Não nega que, na conversa, Vaccari explicou que Funaro e Valdemar também deveriam pagar propina para participar dessas negociatas.
Ao desprezo pelos fatos seguiu-se a terceira linha de defesa do PT, na qual o partido procurou distanciar Vaccari do comitê da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Ele é tesoureiro do PT, mas não cuidará das finanças da campanha, asseguram os articuladores do partido. Bobagem. Nem distância física existe. O provável comitê de campanha de Dilma funcionará no mesmo prédio da sede do PT, em Brasília. A partir de abril, quando deixará a Casa Civil para dedicar-se exclusivamente à campanha, Dilma será funcionária do PT. Seu salário sairá dos cofres administrados por Vaccari. Ao menos cinco assessores dela deixarão a Casa Civil e passarão a receber pelo partido. A sigla também bancará, naturalmente, toda a estrutura da caminhada eleitoral de Dilma até julho, quando a campanha começará oficialmente e o comitê poderá arrecadar doações. O partido estima que gastará entre 5 e 8 milhões de reais nesse período de pré-campanha. Tudo com a assinatura de João Vaccari – o homem que pedia comissão a empresários, segundo depoimentos em poder da Procuradoria-Geral da República.
Apesar da soberba petista, a oposição conseguiu, na semana passada, apro-var a convocação de Vaccari para depor numa CPI do Senado. O tesoureiro deve aparecer no Congresso nesta terça-feira, mas não há esperança de que ele se disponha a dar explicações. O promotor José Carlos Blat, que coordena as investigações do caso Bancoop, também irá. O corretor Lúcio Funaro foi convidado, mas não pretende depor. Ele disse a amigos que só quer testemunhar caso Vaccari desminta seu depoimento. “Que-ro ver se ele tem coragem de ir para uma acareação comigo”, desafiou Funaro. “O pessoal está tentando trazer 2005 para a eleição de 2010. Acho pouco eficaz”, disse a ministra Dilma Rousseff. Por “pessoal”, entenda-se adversários. Porém, ao eleger Vaccari como o novo tesoureiro do partido, foi o PT que levou o mensalão para o coração da campanha da ministra.


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Globo: seguranças truculentos impedem comerciante de fazer pergunta a Serra (veja a foto!).

Matéria do Globo.


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MOGI GUAÇU (SP) - O dono de uma loja de sucata de automóveis foi retirado à força de um discurso do governador José Serra, durante a inauguração de uma escola técnica em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo, na tarde desta sexta-feira.

O comerciante Wagner Menezes, de 33 anos, protestava contra o número de pedágios em rodovias da região quando foi retirado do local por seguranças que disseram não ser do governo do estado.

O rapaz, gostaria de perguntar ao governador quando ele voltaria à cidade para inaugurar um pedágio.

- O governo colocou um pedágio a cada 12 quilômetros aqui. Estou protestando não só por causa própria, mas por todos - afirmou Menezes, que disse não integrar nenhum partido político.

Antes de tentar fazer a pergunta, o comerciante já havia feito gestos durante o discurso de Serra, sinalizando que o governador 'estaria roubando'. Ele já havia sido intimado pela segurança.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Guilherme Barros: Serra finalmente anuncia sua candidatura.

Post do Blog do Guilherme Barros.


No dia em que comemora seu aniversário de 68 anos, José Serra anunciou sua candidatura à Presidência.

Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, realizada hoje na sede do governo de São Paulo, José Serra falou pela primeira vez que é o candidato do PSDB à Presidência.
O programa vai ao ar hoje à tarde.

Valor Econômico: promotor do caso Bancoop acusa sem provas.

Matéria do Valor, copiada daqui.
Além da informação que vai aí no título, a matéria do Valor Econômico traz mais duas informações bem interessantes.

1 - O fundo da Bancoop em que os fundos de pensão aplicaram dinheiro era considerado um investimento muito seguro pela Standard & Poor"s.

Ela havia dado ao FDIC a nota AA. Segundo o Brasil Econômico:  "AAA: É a notação mais elevada, que revela uma capacidade "extremamente forte" do emitente cumprir com as obrigações financeiras."; e "AA: Difere pouco da classificação de AA. A capacidade do emitente em cumprir com as obrigações financeiras é "muito forte"."

Apenas para comparação, a S&P dá nota BBB- para a Petrobrás desde 26/06/2009. Ou seja, no momento de sua cração, segundo a S&P, era mais seguro investir no FDIC da Bancoop do que é, hoje, investir na Petrobrás.


2 - Os fundos de pensão das estatais não perderam um centavo na operação; apenas ganharam menos que o previsto.

Investimento na Bancoop expôs fundos a risco alto.
Ricardo Balthazar, de São Paulo

Um grupo de fundos de pensão estatais que há seis anos se uniu para reforçar os cofres da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) com a promessa de que teria o dinheiro devolvido em condições generosas só conseguiu recuperá-lo no fim do ano passado, depois de abrir mão de boa parte dos rendimentos que teria recebido se as premissas originais do negócio tivessem sido mantidas.

A transação foi concluída discretamente em novembro, quando a cooperativa desembolsou R$ 18 milhões para quitar suas obrigações com os fundos e um pequeno grupo de investidores que se associou a eles para investir na Bancoop. Eles tinham o direito de receber quase R$ 29 milhões, mas aceitaram o desconto proposto pela cooperativa para evitar os prejuízos que poderiam sofrer se continuassem amarrados à Bancoop por mais tempo.

O envolvimento dos fundos de pensão com a Bancoop nunca foi um segredo, mas a relação entre eles voltou a ser examinada com atenção nas últimas semanas por causa das suspeitas que cercam as atividades da cooperativa. A Bancoop está sob investigação do Ministério Público de São Paulo desde 2007 e seus dirigentes foram acusados pelo promotor José Carlos Blat de desviar dinheiro da cooperativa para o PT.

Entre 2004 e 2005, a Bancoop captou no mercado cerca de R$ 37,5 milhões com o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), em que a devolução do dinheiro dos investidores e seus rendimentos seriam assegurados pelos pagamentos feitos pelos associados da Bancoop. De acordo com a cooperativa, o objetivo da operação era arrecadar recursos para acelerar as obras de seus empreendimentos imobiliários.

A montagem do fundo e seu desempenho nos anos seguintes foram acompanhados de perto pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que nas últimas semanas virou o alvo principal das investigações conduzidas por Blat. Vaccari presidia o Sindicato dos Bancários quando o FIDC foi criado e pouco tempo depois assumiu o comando da Bancoop, onde permaneceu até fevereiro deste ano.

Os maiores fundos de pensão do país apostaram no FIDC da Bancoop. A Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), entrou com R$ 11 milhões. A Petros, dos empregados da Petrobras, aplicou R$ 10 milhões. A Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, investiu R$ 5 milhões. Os dirigentes dos três fundos têm laços antigos com o PT e o Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Quando o FIDC foi lançado, ele parecia um bom negócio. A promessa era que os recursos seriam devolvidos em três anos, corrigidos pela variação do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), mais 12,5% de juros ao ano, uma taxa considerada excelente para esse tipo de aplicação. A agência de classificação de risco Standard & Poor"s analisou a operação e deu ao fundo da Bancoop a nota AA, reservada para investimentos considerados muito seguros.

Mas havia problemas na administração da cooperativa, como ficou evidente pouco tempo depois. Auditores contratados pela Bancoop em 2005 revelaram que as prestações pagas pelos associados eram insuficientes para cobrir os custos de vários empreendimentos. Para tapar o buraco, a cooperativa decidiu cobrar novos pagamentos dos cooperados. Revoltados, muitos deixaram de pagar as prestações em dia e foram à Justiça contra a Bancoop.

O resultado foi um aumento da inadimplência na cooperativa, que se refletiu sobre a qualidade da carteira de títulos formada para assegurar os rendimentos dos fundos de pensão e dos outros investidores que haviam apostado no FIDC da Bancoop. Em maio de 2006, quando faltava pouco mais de um ano para o fundo ser liquidado e os investidores reaverem seu dinheiro, as regras do FIDC foram alteradas.

O prazo para encerramento do fundo foi esticado de três para sete anos e critérios desenhados para assegurar sua rentabilidade e manter baixa a inadimplência da sua carteira foram eliminados. A mudança foi aprovada por todos os cotistas do fundo da Bancoop, exceto a Previcq, fundo de pensão dos servidores de vários órgãos subordinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Nos anos seguintes, novas mudanças foram feitas nas regras do FIDC, para garantir aos fundos de pensão que os resgates programados para ocorrer uma vez por ano pudessem ser antecipados sempre que houvesse dinheiro disponível. Mas os problemas da Bancoop continuaram se agravando. A Standard & Poor"s passou a considerar o fundo de alto risco e a situação chegou a um ponto em que a cooperativa só conseguia cumprir suas obrigações com os cotistas fazendo novos aportes de recursos no FIDC.

Em agosto do ano passado, a Bancoop propôs o encerramento das atividades do fundo, oferecendo aos cotistas o saldo remanescente das suas aplicações com uma correção menor do que a combinada na criação do FIDC, equivalente à variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais 6% de juros ao ano. Os fundos de pensão aceitaram o desconto e o pagamento foi feito pela cooperativa em novembro.

Os fundos de pensão não perderam dinheiro com a Bancoop. Eles poderiam ter ganho muito mais se as condições originais da transação tivessem sido preservadas. Mas eles saíram do FIDC da Bancoop com o patrimônio preservado e rendimentos suficientes para manter o equilíbrio financeiro de suas carteiras. Ainda assim, ao permanecer por tanto tempo num fundo tão problemático, eles se expuseram a níveis de risco bastante elevados.

Em resposta a questionamentos feitos pelo Valor, a Previ, a Petros e a Funcef justificaram a demora pela necessidade de encontrar uma saída que evitasse prejuízos maiores, que poderiam ter ocorrido se o FIDC da Bancoop tivesse deixado de pagar os cotistas, ou se a questão fosse levada à Justiça, medida que os fundos de pensão seriam obrigados a tomar se levassem calote do fundo.

Somados todos os resgates feitos até o encerramento do FIDC da Bancoop, a Petros recebeu R$ 12,7 milhões, a Funcef levou R$ 14,6 milhões e a Previ recuperou R$ 7,8 milhões. O promotor Blat desconfia que o fundo tenha sido usado para desviar recursos para o PT, mas não tem nenhuma prova de que isso tenha ocorrido. Há duas semanas, a Justiça autorizou o Ministério Público a examinar a movimentação financeira do FIDC para conferir a sua tese. (Colaborou Alessandra Bellotto)

quinta-feira, 18 de março de 2010

MP: governo de São Paulo age em flagrante violação à lei na gestçao dos recursos do SUS.

Segue nota da Procuradoria da República em São Paulo, publicada antes pelo Viomundo.

Aqui, você encontra matéria da Carta Capital sobre a gestão irregular dos recursos do SUS pelos estados de Sãi Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e pelo Distrito Federal.

Segundo a matéria, o Governo Federal descobriu que os governos desses estados, no lugar de combater mosquitos, por exemplo, aplicavam o dinheiro do SUS no mercado financeiro, para "fazer ajuste fiscal".

Irregularidade na aplicação e gestão dos recursos foi apontada em auditoria do Denasus sobre os exercícios de 2006/07, realizada em 2009

O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado de São Paulo recomendaram aos secretários estaduais de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, e da Fazenda, Mauro Ricardo Machado Costa, o cumprimento da constituição e da legislação e depositem todos os recursos do Sistema Único de Saúde, independentemente da origem, no Fundo Estadual de Saúde, onde devem ser mantidos e gerenciados pela Secretaria da Saúde.

A recomendação estipula que sejam devolvidos todos os recursos do SUS mantidos em contas ou aplicações financeiras em nome do tesouro estadual à conta-corrente do Fundo Estadual de Saúde num prazo de cinco dias, a contar do momento em que o Estado de São Paulo seja notificado da recomendação.
Na recomendação, também é requerido que toda a documentação relativa à movimentação de recursos do SUS seja enviada mensalmente ao Conselho Estadual de Saúde, para fins de fiscalização e acompanhamento.

O promotor de Justiça Arthur Pinto Filho e as procuradoras da República Rose Santa Rosa e Sônia Maria Curvello, autores da recomendação, estipularam prazo de 20 dias úteis para que o governo do Estado comprove o cumprimento das medidas. Em caso de negativa, ou ausência de resposta, outras medidas judiciais ou extra-judiciais poderão ser aplicadas.

Para os autores, a recomendação visa “assegurar à população do Estado de São Paulo a aplicação da integralidade dos recursos do SUS em ações e serviços de saúde, bem como a fiscalização da movimentação desses recursos pelo órgão de controle social”.

DENASUS - Tanto o MPF quanto o MP-SP abriram procedimentos para apurar notícias de irregularidades na aplicação e gestão de recursos do Sistema Único de Saúde no Estado de São Paulo, detectados em auditoria realizada em 2009 pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) em todos os Estados da Federação para verificar o cumprimento da Emenda Constitucional nº 29/2000.

A auditoria constatou que o Estado de São Paulo, dentre outras irregularidades, não aplica o mínimo constitucional em ações e serviços de saúde, além de movimentar recursos do SUS em desacordo com a legislação vigente.

Verificaram os auditores que, no Estado, tanto os recursos do SUS repassados pelo Ministério da Saúde, como os relativos à EC nº 29/2000, são movimentados na conta única do Estado, mantida no Banco Nossa Caixa S/A e controlada pela Secretaria do Estado da Fazenda.

Já os recursos repassados pela União, via Fundo Nacional de Saúde, são inicialmente creditados em três contas do Banco do Brasil, “carimbadas” para Assistência Farmacêutica Básica, medicamentos excepcionais e procedimentos de Alta Complexidade. Após o crédito, a Secretaria de Saúde transfere os recursos para a conta única do Estado na Nossa Caixa.

Os auditores relatam que “o valor do TED coincide com o valor do crédito efetuado pelo Fundo Nacional de Saúde, ou seja, a transferência para a conta única não é feita com base no valor a ser pago aos prestadores e fornecedores e sim no mesmo valor da ordem bancária creditada pelo FNS”.

Consta, ainda, do relatório que "todos os recursos são movimentados pela conta única do Estado, exceto os recursos vinculados a Convênios”, o que apenas confirma a constatação de que tanto os recursos do tesouro estadual destinados à saúde, como os recursos repassados fundo a fundo pelo Ministério da Saúde, são gerenciados pelo Secretário de Estado da Fazenda e não pelo Secretário de Estado da Saúde”.

Tal situação, segundo o Denasus, “torna irreal o Balanço Anual do Fundo Estadual de Saúde, uma vez que os dados do Balanço não refletem a realidade das receitas e despesas destinadas as ações e serviços públicos de saúde e tiram do Conselho Estadual de Saúde a oportunidade de acompanhar e fiscalizar a totalidade dos recursos do SUS”.

A auditoria aponta que “não há registro de que o Fundo Estadual de Saúde preste contas periodicamente ao Conselho de Saúde”, que, portanto, não consegue fiscalizar, adequadamente, os gastos com a saúde pública no Estado.

Para o MPF e o MP-SP, o caso aponta “infelizmente, que o Estado de São Paulo, no que se refere à aplicação e gestão dos recursos do SUS, tem agido em flagrante violação à Lei”. Para o MPF, são violados o artigo 195, parágrafo 2º, e o artigo 77, parágrafo 3ª, das disposições transitórias da Carta Magna, que estabelece que os recursos do SUS “serão aplicados por meio de Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho de Saúde”.

Da forma como está sendo feita a distribuição do dinheiro público para a Saúde no Estado, segundo a recomendação, são feridos os artigos 32 e 33 da Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal nº 8080/90), a lei 8142/90, que prevê o funcionamento de fundos estaduais e municipais de saúde e que, caso isso não ocorra, o Estado ou Município pode perder o direito de administrar tais recursos.

A lei estadual 204/78, recepcionada pela atual Constituição, criou o Fundo Estadual de Saúde e definiu que o Fundo “fica vinculado ao Gabinete do Secretário da Saúde”.

A fiscalização das verbas da saúde pública, por meio do Conselho Estadual, está prevista na Constituição e em outras leis. A Constituição do Estado de São Paulo, no artigo 221, prevê que o Conselho Estadual de Saúde participará da elaboração e controle das políticas públicas “bem como na formulação, fiscalização e acompanhamento do sistema único de saúde”

“É, portanto, inadmissível, no modelo constitucional pensado pelo Poder Constituinte Originário, verba de saúde que não seja gerida pelo Secretário Estadual de Saúde, que não seja movimentada em Fundo de Saúde e que não tenha a fiscalização da sociedade, representada pelo Conselho Estadual de Saúde”, afirmam os autores da recomendação.

Leia a íntegra da recomendação aqui

quarta-feira, 17 de março de 2010

Terra: Com foco na classe C, Azul planeja crescer 50% em 2010.

Matéria do Portal Terra.

Guilherme Mergen
Direto de Porto Alegre

Apostando no potencial da classe C, a Azul Linhas Aéreas estabeleceu metas ousadas para o seu segundo ano de operações no mercado brasileiro. Em 2010, a empresa projeta um crescimento de 50% e quer se consolidar como a terceira maior companhia área do País, lugar atualmente ocupado pela WebJet. As pretensões foram apresentadas nesta quarta-feira pelo sócio-fundador da Azul, David Neeleman, durante encontro com empresários em Porto Alegre.
Atualmente, segundo dados de fevereiro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Azul é a quarta companhia do Brasil, com pouco mais de 5% do mercado - atrás de TAM, Gol Varig e Webjet, que respondem por 42%, 41% e 6% de participação, respectivamente. Desde o final do ano passado, a empresa de Neeleman tem registrado a maior taxa de ocupação no País, com quase 90% de lotação em suas aeronaves.

Para alcançar os 50% de crescimento, a companhia colocará em operação mais sete aeronaves modelo Embraer 195 até o final do ano, contabilizando 21 aviões. Segundo Neeleman, o número de rotas deve aumentar das 19 atuais para até 30, com quatro novos destinos. "Ainda não podemos dar detalhes dessas rotas e cidades. No entanto, com esses planos, a nossa projeção de crescer 25% saltou para 50%", disse o sócio-fundador da empresa, sem citar valores.

Para chegar ao 3º lugar no mercado, Neeleman aposta, além do avanço de sua empresa, na estagnação da maior concorrente, a Webjet. "Pelo que ouço, eles (Webjet) não têm tanta perspectiva de crescimento neste ano. Essa projeção, aliada ao nosso desejo de dominar metade do mercado onde atuamos, nós permite ocupar o lugar que planejamos. Mas, sinceramente, não importa o percentual que temos do mercado. O que importa é dominar onde estamos voando, com voos diretos e mais frequentes e um serviço satisfatório", afirmou.

Ofensiva na classe C

A partir de abril, a Azul deve iniciar uma nova ofensiva para atrair passageiros na classe C. Além de continuar com promoções como os passaportes, a empresa quer facilitar o processo de compra de passagens para pessoas sem cartão de crédito ou com limite reduzido. Conforme o sócio-fundador, qualquer cliente com conta corrente poderá adquirir pela internet a passagem parcelada, mediante o fornecimento de alguns dados.
"Tem uma fatia da classe C que deixa de viajar de avião por causa dessa questão do cartão de crédito. Queremos esse mercado. Por isso, daremos outras opções. Não posso detalhar muito ainda, mas antecipo que vamos aceitar quase todas as formas de pagamento. Nossa meta é ensinar as pessoas a andarem de avião", disse. Nas próximas semanas, com primeira parte da ofensiva, a companhia aceitará o pagamento em cheques.

Capital estrangeiro

No almoço com empresários da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), Neeleman mostrou-se indiferente à proposta encaminhada ao Congresso que permite às companhias brasileiras fixarem até 49% de capital estrangeiro. Na opinião dele, o projeto é benéfico somente para Gol e TAM, que possuem acionistas no mercado internacional.
"Não tememos a possibilidade de outras companhias crescerem com investimentos estrangeiros. Estamos girando o caixa, com lucro. Portanto, temos capital para investimentos, sem necessidade de buscar lá fora. Nenhuma companhia no mundo começou a operar com tanto capital com a Azul, disse, informando que a empresa alcançou 2,2 milhões de clientes no primeiro ano de atuação (2009).

Insatisfação com Congonhas

Apesar de a Azul ter garantido a permissão para operar em oito horários de pousos e decolagens de Congonhas, em São Paulo, Neeleman chamou de "ridícula" a distribuição de slots comandada pela Anac na semana passada. De acordo com ele, a agência destinou cerca de 80% dos voos a companhias como TAM e Gol, que atualmente já operam em mais de 95% dos horários no aeroporto paulista.
"É ridículo. A Anac deveria distribuir os novos voos de forma igual, como ocorreu no final do ano passado no Santos Dumont (Rio de Janeiro) - quando a empresa começou a operar no aeroporto carioca. Lá, TAM e Gol ganharam 20%, e não 80% como no Congonhas", disse.
Mesmo com o direito de operar em oito horário, o sócio-fundador da Gol adiantou que a companhia deve atuar, por enquanto, com apenas um voo. "Nossos slots são somente no fim de semana. Por enquanto, pensamos em um voo. Ainda não pensamos na rota. Teremos de avaliar onde encontraremos uma demanda específica de fim de semana", afirmou.