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domingo, 22 de novembro de 2009

Veja: em 1999, Dilma Rousseff alertou governo tucano de que a falta de investimentos poderia causar apagão nacional.

Lá embaixo, segue matéria publicada por Veja em 2001.

Esse assunto já cansou um bocado, mas essa é imperdível. E uma boa ajuda para quem ainda não entendeu a diferença entre blecaute (um acidente) e apagão (racionamento de energia por escassez). Um decorre de incidente casual, apesar de poder e dever servir de alerta por uma melhoria no sistema; o outro decorre de falta de investimento e projeto - além da arrogância de não dar ouvidos aos reiterados alertas, no caso do Apagão Tucano de 2001.

A cronologgia abaixo revela que desde 1995, primeiro ano do governo tucano, a própria Eletrobrás já alertara para a futura necessidade de racionamento.

Interessante também é descobrir que, segundo Veja, em janeiro de 1999, a então Secretária de Minas e Energia do RS, Dilma Rousseff (a quem a oposição tenta desgastar com o acidente da semana passada), alertara o governo tucano acerca do risco de blecautes decorrente de falta de investimento.

Dois meses depois, em março, Luis Pinguelli Rosa avisaria no Senado que o blecaute nacional previsto por Dilma - e que, de fato, veio – fora devido à vulnerabilidade do sistema e à falta de investimento no setor energético. (aqui e aqui, o mesmo especialista revela que o recente blecaute não teve as mesmas causas daquele de 1999).

A matéria, dos arquivos de Veja, foi localizada e publicada por esta blog.

Se você quiser mais um pouco sobre o assunto, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui há matérias e artigos com especialistas (nacionais e importados) falando sobre o blecaute.

A CRONOLOGIA DOS ALERTAS

Não foi por falta de aviso. Houve muitos. Foi por imprevidência mesmo – e crença na salvação das chuvas. Abaixo, alguns dos alertas recebidos por dezenas de autoridades do governo:

Setembro de 1995 – A Eletrobrás alerta o ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, para o risco de racionamento de energia em 2001-2003 e estima que, nesse período, o consumo terá de cair 10%.

Maio de 1996 – A Eletrobrás alerta o presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, o secretário Andrea Calabi (Planejamento) e os secretários José Roberto Mendonça de Barros e Pedro Parente (Fazenda) sobre a gravidade da crise. Em documento de 38 páginas, lista medidas emergenciais e prevê racionamento para o período 1998-1999.

Junho de 1997 – Num encontro em Belo Horizonte, técnicos das distribuidoras de energia alertam para o risco iminente de blecautes em Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas.

Janeiro de 1999 – Depois de o Rio Grande do Sul ter sofrido 31 cortes de energia, a secretária estadual de Minas e Energia, Dilma Vana Rousseff, viaja a Brasília e alerta autoridades do setor elétrico de que o problema gaúcho se estenderá ao país caso não se invista em geração e transmissão.

Março de 1999 – Dias depois do maior apagão da história do país, o físico Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio, avisa, em reunião no Senado, que o blecaute é sinal da vulnerabilidade do sistema de transmissão e da falta de investimentos no setor energético. Estão presentes Rodolpho Tourinho (ministro das Minas e Energia), Mário Santos (do Operador Nacional do
Sistema Elétrico, ONS), além dos presidentes de Furnas e Eletrobrás.

Abril de 2000 – Em reunião com a cúpula do ONS, o presidente da estatal energética gaúcha, Vicente Rauber, propõe um plano imediato de racionamento de energia no país. A proposta é rejeitada.

Setembro de 2000 – Horácio Lafer Piva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), divulga uma "mensagem de alerta à indústria" prenunciando escassez de energia no Estado.

Outubro de 2000 – Num seminário em Brasília, Luis Carlos Guimarães, diretor da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, alerta que o país está à beira de um colapso energético. Estão presentes técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Dezembro de 2000 – O ONS entrega ao ministro Rodolpho Tourinho e ao diretor-geral da Aneel, José Mário Abdo, um relatório informando que o nível dos reservatórios de água das represas está razoável.

12 de março de 2001 – O ONS entrega novo relatório à Aneel e ao secretário executivo das Minas e Energia, Hélio Vitor Ramos, traçando, desta vez, um quadro sombrio do nível dos reservatórios de água das represas por causa da falta de chuvas.

20 de março de 2001 – O ONS informa o novo ministro das Minas e Energia, José Jorge, sobre a gravidade da situação. Três dias depois, no Palácio da Alvorada, FHC reúne-se com a equipe econômica e membros do setor elétrico para tratar do tema. À espera de chuva em abril, descartam o racionamento.

25 de abril de 2001 – Sem as chuvas esperadas, o ONS pede oficialmente ao ministro José Jorge, das Minas e Energia, que deflagre um processo de racionamento.

8 de maio de 2001 – O governo propõe as primeiras medidas de redução do consumo. Dois dias depois, FHC mostra espanto com a gravidade do problema e com o desencontro de informações dentro do governo. Decide criar um comitê para enfrentar a crise e coordenar o racionamento.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Valor: nosso sistema não é frágil e mesmo com a máxima proteção sempre é possível acontecerem apações, diz mais um especilista.

Essa entrevista com Mario Veiga foi publicada pelo Valor ontém; a cópia copiada está aqui.

A entrevista é enorme e, por isso, pretendia cortar uns trechos. Mas não deu. Ela é extremamente esclarecedora do início ao fim.

Aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui há matérias e artigos com especialistas (nacionais e importados) falando sobre o blecaute.

Sistema elétrico do Brasil não é frágil, atesta especialista


Por Josette Goulart, no jornal Valor Econômico

O apagão que afetou 18 Estados, retirou a maior usina hidrelétrica do país do sistema e deixou São Paulo completamente às escuras foi forte o bastante para que as culpas pudessem ser atribuídas ao governo, no clima pré-eleitoral em que o país já vive. Especialistas independentes negam que o sistema elétrico brasileiro seja frágil. O engenheiro eletricista Mário Veiga é um deles. Ele preside uma das consultorias mais prestigiadas no setor elétrico, a PSR Consultoria.


Com mestrado e doutorado na área de pesquisa operacional, Veiga diz que o Brasil tem um sistema complexo como complexa é qualquer rede elétrica, de qualquer país, e com equipamentos sujeitos a falhas. Ele acredita que apesar da pressão política, a diretoria do Operador Nacional do Sistema (ONS) está blindada e deve divulgar ainda hoje exatamente os fatores do apagão da semana passada.

Com isso será possível consertar os erros e seguir em frente na gestão do sistema. E alerta que o discurso de que o que faltou foi investimento esconde um passivo futuro para o consumidor. O Valor chegou ao nome de Veiga após consultar mais de 10 especialistas e executivos do setor pedindo a indicação de um profundo – e isento – conhecedor do sistema elétrico nacional.

Valor: O sistema elétrico no Brasil é frágil?
Mário Veiga: Não, o sistema elétrico brasileiro não é frágil. O que temos que fazer é separar o que é oferta de geração, que está associada ao risco de racionamento de energia, a oferta de transmissão, que é a infraestrutura que transporta essa geração até os centros de consumo, e a infraestrutura de gestão, quer dizer, a operação segundo a segundo nesse sistema. Na parte de geração estamos até com excesso de oferta, o que permite que Brasil absorva com facilidade taxas altas de crescimento do PIB.

A parte de transmissão acompanha a parte de geração. Os leilões de construção de linhas são feitos para que as linhas necessárias e reforços estejam prontos quando entrarem novos geradores no sistema. Nos últimos nove anos, foram licitados – e a maior parte construídos -, cerca de 32 mil quilômetros de linha de alta tensão.
Então, estamos bem na parte de geração e de infraestrutura de transmissão.

Valor: E na parte de gestão de infraestrutura, que tem recebido tantas críticas?
Veiga: Na parte de gestão, as medidas que foram tomadas quando houve a reforma do setor foram de, primeiramente, centralizar a autoridade da operação no ONS. O ONS tem total autonomia e autoridade para operar o sistema minuto a minuto, da maneira mais eficiente possível. Esse é um desafio para qualquer operador do mundo, porque a cada segundo o total de energia produzida tem que ser exatamente igual ao de energia consumida. Essa operação é feita em três horizontes.
Num olhar para os próximos três a cinco anos é que, estrategicamente, se decide como usar os reservatórios do país. Isso é feito por um processo de otimização bastante sofisticado, que leva em consideração literalmente bilhões de combinações de cenários futuros. Depois, essa decisão é detalhada na programação para as próximas 24 horas, em que o ONS, em coordenação com os centros regionais, determina o cronograma de produção de cada usina. Depois vai para o tempo real, em que, de segundo a segundo, a operação do sistema é ajustada para ficar sempre igual à demanda.

Valor: Parece um processo simples…
Veiga: A rede elétrica foi considerada há alguns anos pela academia americana de engenharia como o sistema mais complexo jamais feito pelo ser humano. É a máquina mais complexa já feita. Isso porque existem centenas de milhares de componentes que têm que funcionar, segundo a segundo, como o programado. A vantagem desse sistema é permitir que geração barata chegue à casa dos consumidores.
Quando a energia elétrica foi produzida e distribuída em escala comercial pela primeira vez, com a descoberta de Thomas Edison, cada quarteirão tinha seu próprio gerador, porque não havia capacidade de transmitir energia a distancias muito longas. Isso teria a vantagem de nunca haver um blecaute, porque é como se cada quarteirão fosse um sistema isolado.
A desvantagem é que esses geradores funcionavam a óleo e eram caríssimos. Quando foi inventado o sistema de corrente alternada, isso permitiu que fossem construídas linhas de transmissão de longas distâncias. Se poderia, assim, construir mais longe um gerador maior e, portanto, mais barato, por causa da economia de escala. Então rapidamente, no mundo inteiro, os sistemas deixaram de ser isolados para se integrarem. Foi um processo que beneficiou os consumidores, porque contribuiu para reduzir o custo de energia.

Valor: Não foi diferente no caso do Brasil, certo?
Veiga: No caso do Brasil, isso era fundamental por causa das usinas hidrelétricas. Se você pega o exemplo do Equador ou Peru, que são países de tamanho menor, um evento meteorológico pode causar uma seca simultânea em todo o país. O Brasil, por ter área muito grande, tem várias regiões climáticas. A vantagem de termos uma rede interligada é que pode funcionar como se fosse um portfólio.
Igualzinho quando a pessoa tem varias ações na bolsa de valores para poder diversificar o risco. Quando chove na região Norte, não chove no Nordeste, quando chove no Sudeste, não chove no Sul. Então eu posso aproveitar muito melhor essa diversidade de produção hidrelétrica e ter um sistema com muita participação hidráulica, mas que seja seguro.
O que o operador nacional faz permanentemente é, atraves do modelo de otimização, buscar energia de onde está chovendo, onde os reservatórios estão melhores, e transferir para regiões onde está chovendo menos e os reservatórios estão mais vazios. Isso permitiu ao longo do tempo que a produção de energia fosse muito eficiente e transferiu o benefício da energia mais barata possível para o consumidor.

Valor: Mas também traz o risco de apagões maiores?
Veiga: O fato de as hidrelétricas estarem localizadas a milhares de quilômetros dos centros de consumo torna a operação mais complexa do que naturalmente já é. Você tem cada vez mais a possibilidade do sistema entrar no que se chama de oscilação e que pode se traduzir em um apagão.

Valor: Como acontece essa oscilação?
Veiga: A cada segundo você tem fluxo de energia passando em todas as linhas de transmissão do sistema. Evidente que uma linha pode falhar. Pode cair um raio, pode haver uma falha nos componentes. Quando a linha falha é preciso tirá-la de operação e desligá-la. Isso é feito porque, se ela se danificar, vai levar meses para consertá-la e colocá-la de volta no sistema.
Se essa linha é desligada, a energia que estava passando por ali, automaticamente, numa fração de segundo, vai por um outro caminho, porque a energia não pode desaparecer. Se der azar de que nesse outro caminho já estava passando quantidade grande de energia, ele vai ficar sobrecarregado.
Nesse caso, equipamentos chamados relés identificam que aquele caminho está transferindo mais energia do que aguenta e a segunda linha também é desligada. A energia associada ao primeiro caminho, mais a energia do segundo, vai por um terceiro caminho, que por sua vez pode dar o azar de ser sobrecarregado e assim por diante. Aí se tem o efeito cascata e o apagão.

Valor: O senhor usou muito a expressão “se der o azar”. Então é azar mesmo?
Veiga: É um pouco de azar sim, pelo seguinte: o operador do sistema não tem, em nenhum país, o controle de quanto fluxo está passando em cada linha, porque os fluxos se distribuem de acordo com as chamadas leis de Kirchhoff. Se eu tenho duas linhas em paralelo, eu não posso forçar que em uma linha passe uma quantidade de energia, e em outra linha, outra quantidade. A natureza automaticamente distribui a energia entre as duas linhas em função das características elétricas das linhas.

Valor: Não há tecnologia para se medir esse fluxo?
Veiga: Poderia se fazer por meio de links de corrente contínua. Mas seria caríssimo.

Valor: Então ficamos à mercê das leis de Kirchhoff?
Veiga: Quando se planeja a transmissão, é feita uma série de simulações com milhões de cenários, que permitem que seja possível levar em consideração que os fluxos se distribuem de determinada maneira. É simulada a retirada de cada linha, uma a uma, para verificar por onde passariam os fluxos e garantir que, tirando uma linha, esses fluxos ainda passariam por uma outra linha e não teriam problemas.
O sistema é planejado para levar em consideração que os equipamentos falham. Porque eles falham mesmo. Então o sistema é desenhado levando em consideração que linhas podem falhar e é colocado um reforço no sistema, isto é, se criam caminhos alternativos de transporte de energia.

Valor: Aparentemente não havia esse caminho alternativo na semana passada.
Veiga: Existe um problema particular quando se tem uma usina como Itaipu. Ela é muito grande, responde por 20% da geração do país, e está a 900 quilômetros do centro de carga. Então é como se todos os caminhos andassem juntos. Mas o sistema de Itaipu é protegido e não é qualquer raio que o derruba. Se pode perder uma linha, até duas linhas, que não dá problema. Mas ninguém desenhou ou projetou o sistema para a saída de três linhas de operação, como disse o ONS. E não é uma questão de colocar mais reforços, pois custariam centenas de milhões de reais, que onerariam a conta do consumidor.

Valor: Não há margem de manobra, então, quando caem as três linhas que ligam Itaipu ao Sudeste?
Veiga: O que torna a operação ainda mais complicada é que, como estes fenômenos ocorrem em frações de segundos, o ser humano não tem tempo de agir. É por isso que se faz uma pré-programação e o sistema está preparado para, quando determinada linha receber fluxo maior, que ela seja desligada. Mas algumas vezes pode acontecer de o equipamento falhar e não acionar a instrução dada para se desligar a linha. Aí aquilo que devia estar desligado continua ligado e se começa a ter problemas, porque toda a coreografia previamente ensaiada pode começar a falhar.

Valor: O sr. não acha que a explicação da causa do apagão está demorando?
Veiga: Amanhã (hoje) vai sair a análise do ONS do que aconteceu. A demora é justificável, porque o sistema possui registros segundo a segundo do que aconteceu, como se fossem caixas pretas. O que os técnicos estão fazendo é olhando essas caixas pretas e verificando cada relé, cada chave, cada disjuntor para saber o que aconteceu.

Valor: Por essa complexidade, parece que não é fora do normal ter demorado para voltar a luz…
Veiga: Sim e não. Porque você também se prepara para a falha. Imagine que houve um blecaute num país e toda a demanda desapareceu. A linha pode ser religada em frações de segundo, mas isso não é feito, porque quando existe uma falha do país inteiro o operador sabe qual era o consumo um segundo antes de dar o problema, só que quando falta a luz, as pessoas desligam seus equipamentos.
O operador tem um problema complicado, porque ele não sabe qual a demanda que vai ter no sistema quando ele religar. Vamos imaginar que o sistema estava consumindo 50 mil MW na hora que caiu a energia, mas pessoas desligaram seus aparelhos e a carga, se fosse religada, seria de 30 mil MW. Mas operador estimou 40 mil MW e se ele religar haverá novo desequilíbrio e o sistema cai de novo.
Por isso é feita uma divisão no sistema, já pré-programada, que se chama de ilhamento. Se o ilhamento funcionar você continua tendo o sistema que caiu, mas sabe que ele foi isolado. Agora existem vários megaquarteirões e se começa a recuperar a geração para cada um separadamente. O ideal, que qualquer centro de controle busca, é que as falhas não ocorram, mas se ocorrerem que se consiga fazer o desligamento de maneira organizada.
No relatório do ONS, um dos assuntos que vai ser discutido é se esse esquema de desligamento funcionou 100% como esperado ou, se pela magnitude da falha, não teria condições físicas de esse esquema funcionar. O que significa que caiu mais energia do que se esperava. Se pode usar o script mas também é preciso usar a experiência do operador.

Valor: Nunca se cogitou a possibilidade de Itaipu sair do sistema?
Veiga: Não posso falar pelo ONS, mas em nenhum lugar do mundo se planeja o sistema para falharem três linhas de transmissão como aconteceu na semana passada. Certamente foi um evento absolutamente inesperado. O importante é saber se as três linhas falharam por um azar imenso, ou se houve uma causa comum, um megarraio nas três linhas, ou se na verdade quando uma falhou, houve algum problema na proteção que, de alguma maneira – isso certamente o ONS vai esclarecer -, teria levado à falha das outras duas.
Então é o seguinte: se deu um azar cósmico e falharam as três ao mesmo tempo por razões independentes, aí realmente é um azar gigantesco e é muito pouco provável mesmo. O que é mais provável é terem falhado uma ou duas das linhas e ter havido mais um incidente que levou à falha da terceira. Em geral, as falhas que causam problemas nunca são espetaculares. São uma combinação inesperada de fatores que, cada um isoladamente, não traria problemas.

Valor: Poderia ter sido evitado este apagão?
Veiga: Prevenir-se do conjunto de pequenas causas é um grande desafio, porque estamos falando de milhares e milhares de componentes, e quando você pensa em todas as combinações de pequenos acidentes que podem no conjunto dar errado, você estaria analisando bilhões ou trilhões de possíveis causas. Tenta-se da melhor maneira possível se prevenir, com reforços, com caminhos duplicados, mas sempre é possível acontecer um problema.

Valor: O fato de Itaipu naquele momento estar gerando a plena capacidade pode ter contribuído?
Veiga: Claro que se tivesse gerando pouco, e as três linhas falhassem, a energia poderia passar pelas outras. Mas se durante seis anos, que foi o tempo entre o último blecaute e agora, se tivesse criado um procedimento para Itaipu nunca gerar a plena capacidade, se estaria deixando de utilizar a energia hidrelétrica barata de Itaipu para utilizar algo mais caro. Quando se faz a conta, se vê que isso possivelmente não era uma solução razoável. O fundamental é que causas sejam explicadas, identificadas e erros corrigidos. Se foi algo imprevisto, paciência, tem que melhorar.

Valor: De certa forma o sistema formou um ilhamento, mas que abrangeu todo o Sudeste...
Veiga: Quando se perde toda a energia de Itaipu, não tem jeito, lembre que a cada segundo o total de geração tem que ser o total de demanda, então se toda a energia de Itaipu sai do ar tenho que cortar essa demanda, e nas áreas que são mais afetadas pela energia que foi embora. Então não tem jeito, que o Sudeste ia ser cortado, ninguém tem dúvidas. A questão que o ONS vai esclarecer é se pelo fato de ter havido falha mais severa é que foi necessário cortar mais demanda do que a oferta de Itaipu.

Valor: Então o Sudeste sempre vai ser afetado pela saída de Itaipu?
Veiga: A gente fica traumatizado, mas é bom lembrar que é a primeira vez na história que houve a saída de Itaipu
. Se Tucuruí falhar, vai afetar o Nordeste. Não tem almoço grátis. São os riscos que traz uma energia limpa, barata. Mesmo com todos os esforços para evitar que ocorram acidentes, nunca é impossível de se ter apagão. O importante sempre é que as recomendações e aperfeiçoamentos sejam implementados.

Valor: O sr. acredita que o ONS tem liberdade para divulgar exatamente tudo o que aconteceu, ou vai existir pressão política?
Veiga: Não imagino que haja pressão política e uma das razões é que na lei do modelo do setor elétrico foi dada total blindagem política para a diretoria do ONS. Embora o ONS seja empresa privada, as empresas que contribuem não tem qualquer ingerência no ONS, nem o governo. Essa blindagem existe para dar todas as condições de o operador fazer um trabalho técnico, que sempre tem feito.

Valor: A experiência vivida em outros apagões foi aproveitada?
Veiga: Várias recomendações da análise dos apagões de 1999 e 2003 foram aproveitadas. Não sei se todas, mas várias delas com certeza foram. Mas este é um processo que tem que ser constante. E não se é obrigado a implementar todas as propostas, porque alguma delas têm que comparar custo e benefício para saber se vale à pena. O fato de não ser implementada não significa que houve descuido ou descaso.

Em tempo, segundo o Viomundo, que, vejo agora, também publicou a entrevista, "hoje , dia 18, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, informou que o órgão vai entregar na sexta-feira, "ou no máximo na segunda-feira", o Relatório de Análise de Perturbação (RAP) com as informações sobre as causas do blecaute que atingiu 18 Estados na terça-feira da semana passada. O documento vai para o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que fará a fiscalização."

Terra: sem especialista que lhe dê razão sobre o blecaute, oposição apela para vidente do Cesar Maia.

Matéria do Terra.

Este, infelizmente, é o nível da nossa oposição. Na falta de um mísero especialista que lhes dê razão ao alarmismo, um de seus líderes propõe que se convide um vidente a depor sobre o blecaute no Senado Federal.

Depois, ainda dizem que, na oposição, o PT faria igual.

No mais, parece que a Sra Keila, autora da matéria, quer um empreguinho na Folha ou na Globo. Segundo ela, lá no quinto parágrafo, até senadores da base governistas estariam contra a suposta (digo eu) manobra para blindar Dilma Roussef. Pode até ser verdade (eu não sei!), mas a citação que ela justapôs prova exatamente o contrário.

Segundo ela, um determinado senador (supõe-se, governista) teria dito: "O Senado está perdendo o bom senso. Não faz sentido discutir esse problema em todas as comissões. O Senado não pode se prestar a esse papel.

Peraí, mas esse não é o argumento usado pela própria base governista? Ou não? Será que ele é contra a Dilma prestar esclarecimentos em apenas uma comissão porque "não faz sentido discutir esse problema em todas as comissões"?

Aliás, essa história toda de blindagem da Dilma é muito engraçada. A oposição sem discurso resolve utilizar eleitoralmente o blecaute, fazendo a ministra comparecer a todas as comissões possíveis, mas quem manobra é base governista, que, diga-se de passagem, não impediu a prestação de esclarecimento, apenas limitou o convite a uma só comissão. Sei, faz todo o sentido...

Por falar nisso, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui há matérias e artigos com especialistas falando sobre o blecaute.

Com Dilma 'blindada', oposição quer vidente explicando apagão.
18 de novembro de 2009 • 11h32 • atualizado às 12h30 Comentários
Keila Santana - Direto de Brasília

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), resolveu ironizar a estratégia governista de "blindar" a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e provável candidata do PT à Presidência, de explicar o apagão elétrico que atingiu 18 Estados na semana passada em comissões do Senado. O tucano pediu nesta quarta-feira que fosse incluído no requerimento um convite para que um representante da Fundação Cacique Cobra Coral, entidade científica esotérica especializada em fenômenos climáticos e previsões astrológicas, inclusive sobre política nacional, fale sobre o apagão na Comissão de Ciência e Tecnologia.

A estratégia da base desde que a oposição começou a apresentar requerimentos para que Dilma fale em comissões do Senado sobre o blecaute é a de aprovar apenas um convite de audiência pública com a chefe da Casa Civil, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e mais 18 técnicos da área de energia.

A sugestão gerou um enfrentamento entre os líderes. O presidente da comissão, senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), acolheu o pedido do líder tucano e incluiu a Fundação Cobra Coral no requerimento. Por conta do bate-boca entre os senadores, a reunião foi suspensa antes que o pedido fosse votado. A sessão deve ser retomada no início da tarde.

Informado sobre a confusão na Comissão de Ciência e Tecnologia, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), evitou fazer comentários sobre o convite aos videntes e disse que achava da ideia "o mesmo que todo mundo".

Até senadores governistas ficaram irritados com a manobra para blindar a imagem da ministra Dilma a qualquer custo. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) reclamou da disputa política entre governo e oposição. Para o peemedebista, o rumo da disputa está prejudicando a credibilidade do Congresso. "O Senado está perdendo o bom senso. Não faz sentido discutir esse problema em todas as comissões. O Senado não pode se prestar a esse papel", disse.

Já o senador Renato Casagrande (PSB-ES) disse que o assunto poderia ser bem esclarecido com o comparecimento ao Senado do ministro de Lobão, de representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Partimos para a disputa eleitoral e isso é muito ruim porque o Senado não colabora em nada para esclarecer o assunto. A ministra Dilma não é ministra da área e o que se está discutindo aqui é tática de disputa eleitoral", disse.

Virgílio rebateu as afirmações de Casagrande. Segundo ele, da parte da oposição não há qualquer tipo de disputa eleitoral. O líder do PSDB acrescentou que Dilma foi quem elaborou o atual marco regulatório do setor de energia e, por isso, tem que que explicar no Senado o funcionamento do sistema.

Falta de Luz

Por volta das 22h30 de terça-feira (10), as 18 unidades geradoras da usina de Itaipu começaram a "rodar no vazio" - ou seja, não conseguiam passar eletricidade para a rede distribuidora. O problema atingiu pelo menos 18 Estados, sendo que quatro deles (Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo) ficaram completamente às escuras. Acre, Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Rondônia foram parcialmente atingidos pela falta de luz. A situação foi normalizada entre a noite de terça-feira e a madrugada e manhã desta quarta-feira.

Três linhas de transmissão com problemas teriam causado o apagão. De acordo com o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, duas das linhas vão de Ivaiporã, no Paraná, a Itaberá, no sul de São Paulo. A terceira liga Itaberá a Tijuco Preto, no sul de Minas Gerais. O problema, afirma Zimmermann, foi possivelmente causado por condições meteorológicas adversas.

Com 18 unidades geradoras e 14 mil megawatts de potência instalada, a usina binacional de Itaipu fornece 19,3% da energia consumida no Brasil e abastece 87,3% do consumo paraguaio. De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), 28,8 mil megawatts de potência foram perdidos com a pane (cerca de 40% da energia do Brasil), o que impossibilitou o fornecimento para as demais regiões. Para abastecer o Estado de São Paulo, por exemplo, são necessários cerca de 17 mil megawatts.

Com informações da Agência Brasil

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Folha: Não há sistema tecnológico com 0% de falhas, escreve Luiz Pinguelli Rosa

Segue o artigo publicado hoje pela Folha.

Aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, mais especilistas falam sobre o blecaute.


LUIZ PINGUELLI ROSA

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Não há sistema tecnológico sem falhas. Mas o sistema interligado é inteligente, pois otimiza o uso da geração hidrelétrica
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AINDA PAIRAM algumas dúvidas sobre o blecaute que atingiu vários Estados brasileiros, mais drasticamente São Paulo e Rio de Janeiro.

É preciso esclarecer, porém, que o ocorrido na terça-feira foi totalmente diferente do chamado apagão de 2001, quando o governo decretou um racionamento obrigatório de energia elétrica para toda a população, sob pena de desligamento de residência ou empresa por alguns dias caso não fosse cumprido o corte no consumo.

Dos arquivos do blog:

Naquela ocasião, havia falta de energia para atender a demanda, pois esta vinha crescendo mais rapidamente do que a capacidade instalada no país. Enquanto houve chuvas suficientes para a geração hidrelétrica, o sistema funcionou e o problema foi adiado. Quando as chuvas se reduziram, os reservatórios estavam vazios e faltou energia no sistema.

Alertei o então presidente Fernando Henrique Cardoso por uma carta, como coordenador do Instituto Virtual da Coppe/UFRJ, e cheguei a conversar com José Jorge, à época ministro de Minas e Energia.

Naquele caso, houve falta de investimento. As estatais elétricas, a começar pela Eletrobrás, reduziram seus investimentos, pois aguardavam a privatização. Já as empresas privatizadas, a maioria delas distribuidoras nos Estados, pouco investiram.

O problema da última terça-feira tem mais semelhança com o blecaute de 1999, que também desligou São Paulo e muitas outras cidades, algumas por muito mais horas do que o recente incidente. Aquele problema se originou em uma subestação de transformadores em Bauru (SP), causado por uma sobretensão elétrica supostamente devida a um raio que atingiu a linha de transmissão a muitos quilômetros de distância e se propagou até a subestação -que deveria estar protegida. Como não estava, o sistema falhou.

O que ocorreu nesta semana foi a interrupção de três linhas que trazem a energia de Itaipu ao Sudeste, acarretando o desligamento de todas as turbinas da usina e causando o desligamento de várias outras linhas em cascata. Daí a propagação do blecaute ter atingido tantas cidades. O efeito é como uma série de pedras de dominó que caem uma por cima da outra.

O desligamento das linhas em sobretensão é correto, pois as protege e evita danos a equipamentos e perdas de transformadores por sobrecarga. Portanto, o desligamento automático das linhas de transmissão é inevitável em certos casos críticos como o de agora. Os efeitos seriam muito piores se o desligamento não ocorresse.

No entanto, algumas questões ainda precisam ser respondias. A primeira delas é o que causou a sobrecarga. Uma hipótese aventada é que raios tenham causado tudo isso. Três linhas sofreram colapso, embora todas sejam protegidas por para-raios, que são fios paralelos ao longo das linhas.

Talvez uma delas tenha sido atingida, a sobretensão tenha se propagado indevidamente para dentro da subestação em que as outras também tenham sido afetadas. É uma hipótese.

Como evitar a repetição de blecautes? Não há sistema tecnológico com 0% de falhas. O que pode ser feito é minimizá-las, tanto na frequência de ocorrências desse tipo como na gravidade delas.

Eliminar o uso da transmissão de longa distância seria uma bobagem, pois o Brasil é uma Arábia Saudita hidrelétrica. Integrando em um longo tempo a energia que se pode obter do potencial hidrelétrico brasileiro, o resultado é maior que a energia do petróleo do pré-sal. O sistema interligado é inteligente, pois otimiza o uso da geração hidrelétrica, complementada por outras fontes.

Uma proposta que tem sido recentemente estudada em todo o mundo é o de redes elétricas inteligentes, ou seja, fazer uma gestão melhor das redes para diminuir incertezas, evitar problemas de pico de tensão e falhas, com um sistema de controle ponto a ponto ao longo das redes.

Nos Estados Unidos, Nova York sofreu um blecaute em 2003 que, sob certos aspectos, foi mais grave.

Há poucos meses, o professor Pravin Varaiya, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, esteve no Programa de Planejamento Energético da Coppe para participar de um seminário sobre essas redes inteligentes de energia elétrica. Mas os estudos ainda precisam avançar, inclusive para prevenir vulnerabilidades como o acesso indevido à rede por hackers.

O que se mostrou vulnerável aqui no nosso caso foi a enorme extensão da área atingida e a grande população que sofreu as consequências, pois não se conseguiu ilhar a propagação do efeito para circunscrever suas consequências a uma região menor. É necessário apurar os fatos para corrigir as falhas e aperfeiçoar o sistema.


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LUIZ PINGUELLI ROSA , 67, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).

Carta Maior: Comparar o blecaute de 10 de novembro de 2009 ao longo tempo das trevas que vigorou no país entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 é um apagão histórico bem típico de uma elite que não soube atualizar as linhas de transmissão do seu ideário, escreve Gilson Caroni

São Bartolomeu, a longa noite tucana.
Gilson Caroni Filho

Ao querer transformar a queda de energia, causada por uma falha tripla nas linhas de transmissão de Furnas, no “apagão do governo Lula”, a oposição, com apoio da grande imprensa corporativa, mostra a estreita margem de ação que restou ao antigo bloco de poder do governo tucano. Reacender o Clube da Lanterna, fundado por Carlos Lacerda, em 1953, para combater o governo Vargas só amplia o blecaute em que vive a direita após duas derrotas em eleições presidenciais. De antemão é uma aposta perdida. Uma comemoração tão grotesca quanto fugidia.

Quando lideranças do PSDB, DEM e PPS se unem no Congresso para dizer que o episódio serviu para demonstrar o fracasso da política energética do governo petista, o discurso político cede lugar à farsa burlesca, ao lançamento inoportuno de afirmações que, por grotescas, surtem efeito contrário ao pretendido por seus autores. Rememoram um passado recente, estabelecendo padrões de comparação que lhes são extremamente desfavoráveis. Mais uma vez, a direita, ignorando a posição em que se encontra, mira no horizonte e atira no próprio pé. Um embuste que ignora a massa crítica acumulada por diversos debates sobre crise energética no governo anterior. Em todos há um denominador comum: a responsabilidade pela ineficiência de energia elétrica se devia a erros de gestão da então administração federal.

Em 2001, o BNDES publicou “O Cenário Macroeconômico e a Oferta de Energia Elétrica no Brasil". O documento, um alentado estudo dos economistas Joana Gostkorzewicz e Fábio Giambiagi, alertava que as dificuldades para a oferta de energia elétrica eram conseqüência direta da política de transição de um modelo gerenciado até então pelo Estado para a iniciativa privada. O açodamento entreguista deixava explícitas as “insuficiências do novo marco regulatório, bem como a ausência de articulação entre os vários órgãos governamentais, responsáveis pelo setor de energia."

Concluindo a análise, o estudo reconhecia que "nos últimos anos, os recursos das empresas estatais, ainda amplamente dominantes na geração e transmissão, foram prioritariamente destinados para o saneamento financeiro das empresas e, portanto, para a preparação das privatizações. Tendo as empresas estatais deixado de investir pelas razões apontadas acima e o setor privado não encontrado ambiente seguro para substituir as estatais, devido às debilidades dos novos marcos, pavimentou-se o caminho para o desastre."

O estudo, feito por órgão do Governo Federal, era categórico no diagnóstico: “O setor elétrico brasileiro possui um desenho próprio que o torna inadequado à operação por empresas privadas". Se em 2001, os reservatórios estavam quase secos e a inexistência de linhas de transmissão impedia o manejo de geração, a causa determinante para o racionamento de energia foi a implementação de uma política privatista que aprofundou a queda da produção, reduziu a arrecadação tributária e alimentou o processo inflacionário, mantendo a fragilidade do Brasil em relação à economia internacional.

Quando Lula destaca os investimentos feitos pelo governo nos últimos sete anos, dizendo que “nesse período, foram construídas 30% das linhas de transmissão feitas em 123 anos no país", não fala apenas de números relativos a um setor. O passo é maior. O que é anunciado é a retomada de decisões fundamentais para o desenvolvimento, deixadas em segundo plano, nos oito anos de gestão neoliberal. O que norteia a ação governamental é a criação de mecanismos que possibilitem ao Estado retomar seu papel de indutor do desenvolvimento nacional.

Comparar o blecaute de 10 de novembro de 2009 ao longo tempo das trevas que vigorou no país entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 é um apagão histórico bem típico de uma elite que não soube atualizar as linhas de transmissão do seu ideário. Um autêntica confissão pública de fé no modelo monetarista-liberal que impossibilitou o crescimento econômico, aumentou as desigualdades e enfraqueceu as instituições políticas. A noite de São Bartolomeu deseja revisitar os huguenotes que ousaram sobreviver.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

JB: Sistema 100% seguro é extremamente caro e não existe em nenhum lugar do mundo, diz especialista.

Segue matéria do JB, copiada daqui.

Apesar de tudo, um sistema seguro.

Autor(es): birajara Loureiro - Jornal do Brasil - 12/11/2009

O sistema de transmissão de energia elétrica no Brasil tem bom padrão de qualidade e eficiência, e está estruturado em grandes linhas interligadas, uma opção histórica, desde a construção da hidrelétrica de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, afirma Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, entidade independente que promove estudos sobre o sistema energético do Brasil.

– A qualidade das linhas obedece a critérios rigorosos. Houve investimentos pesados e todas as linhas são contratadas mediante leilões, com regras estritas. O padrão é bom – diz Cláudio Sales.

Dos arquivos do blog:

Engenheiro formado pela PUC e ex-integrante das administrações da Cemig, Energisa e Energipe, Sales explica também que, mesmo privilegiado por uma matriz energética que tem 89,6% de seu conjunto constituídos por fontes hídricas, os órgãos de planejamento, basicamente o Operador do Sistema Energético (ONS) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) defrontam-se sempre com o dilema de expandir o sistema de transmissão, tentando dar-lhe um grau máximo de segurança, o que pode ter custo muito elevado, ou criar uma maior complementação com geração localizada. Neste caso, predominantemente térmica, ou seja usinas movidas a óleo, o que significa uma maior emissão de gases.

– Esta é a equação. Seguramente o resultado ideal está no meio das duas alternativas. Em relação à complementação térmica, felizmente o mundo está atento a questões de mudanças climáticas. Só que a realidade do mundo, neste particular, é completamente diversa da do Brasil. A geração de energia no Brasil responde por apenas 1,4% do total dos gases de efeito estufa emitidos no país, enquanto no resto do mundo este percentual chega a 25%, com a predominância para geração de combustíveis fósseis, 67% do total – esclarece Sales.

Estes números, no seu entender, significam que, diferentemente de outros países, o Brasil tem espaço para enfrentar o problema com as melhores soluções. Trazer para cá as visões e conclusões que o mundo tem sobre a questão do aquecimento e abastecimento energético, por exemplo, seria um erro gigantesco.

– A nossa é uma matriz privilegiada. Ou seja, o Brasil tem sim condições de fazer as melhores opções
 energéticas para produzir com mais segurança e eficiência, sem que isso implique comprometimento mais significativo do ponto de vista ambiental – complementa.

Quanto ao apagão de quarta-feira, Sales, mesmo antes de ter conhecimento das causas do problema, ressalvou, se, por um lado, Itaipu é uma exemplo de produção eficiente de energia e renovável e limpa, por outro também representa uma vulnerabilidade, pois responde por 20% do abastecimento brasileiro.

– O nível ótimo de segurança é um desafio com que todo o planejador se defronta. Ter um sistema com diversos níveis de alternativas de operação, denominadas redundâncias, para fazer frente a intempéries, que sempre acontecem, pode ter um custo proibitivo. Um país como o Brasil, mesmo com uma situação privilegiada em termos de geração de energia, certamente não tem condições de bancar um sistema que tenha segurança de 100% porque o custo sobe exponencialmente. Além disso, não existe este nível de segurança em qualquer lugar do mundo – afirma Claúdio Sales.

Valor: especialistas do setor elétrico são ENFÁTICOS ao dizer que o sistema brasileiro é SEGURO.

Segue matéria do Valor sobre o blecaute de terça copiada daqui.
Acho bem sintomática diferença gritante entre as cobertura realizadas pela mída brasileira em geral e aquela especializada em negócios. Sabendo que falam para poderá perder MUITO dinheiro se basear suas decisões em notícias distorcidas e, principalmente, lembrará do culpado por isso, esses meios acabam realizando uma cobertura decente - o que não afasta o exercício da crítica inteligente.

Aqui, você encontra mais uma matéria sobre o mesmo assunto publicada por outro meio especializado em negócios.
Aqui, aqui e aqui, notícias da BBC sobre a opinião de especialistas estrangeiros sobre o nosso blecaute.
E, aqui, notícias sobre blecautes semelhantes em outros lugares do mundo.


Especialistas consideram que sistema é seguro
Autor(es): Josette Goulart
Valor Econômico - 12/11/2009

Mesmo diante de um blecaute que deixou os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul completamente às escuras por horas durante a noite de terça-feira e a madrugada de ontem, especialistas importantes do setor elétrico são enfáticos ao dizer que o Brasil tem um sistema seguro.

Dezenas de ocorrências de desligamentos automáticos de linhas de transmissão e unidades geradoras são registradas frequentemente nos boletins do Operador Nacional do Sistema, mas os sistemas são rapidamente ajustados e eventuais cortes de energia duram minutos. Não são sequer noticiados. Neste ano, por exemplo, duas linhas de Itaipu já tinham saído do sistema sem causar blecautes.

Na terça-feira passada foi diferente porque as cinco linhas de transmissão que transportam a energia de Itaipu deixaram de funcionar por um evento considerado atípico. Duas dessas linhas são de corrente contínua e operam na mesma frequência que a energia transmitida ao Paraguai. Saíram de operação por sobrecarga dos sistemas, que por proteção se autodesligam. O problema ocorreu nos outros três circuitos que sofreram um curto por descargas elétricas atmosféricas, segundo a informação oficial do governo .

Ocorre que, sem as três linhas em operação, toda a usina hidrelétrica de Itaipu saiu do sistema. Como ela é a usina responsável por fornecer 25% da energia do país, principalmente ao Sudeste, ao sair de operação ela tem poder de deixar a região às escuras. Sorte que foi durante a madrugada.

A preocupação do ONS com Itaipu vem aumentando nos últimos anos. Mas o operador já verificou que mesmo com duas das principais linhas de Itaipu desligadas é possível evitar blecautes no Sudeste. O ONS tem até mesmo um esquema especial de proteção para Itaipu que foi colocado em teste em 4 de julho desse ano. Está registrado nos boletins do ONS que nesse dia houve a queda de duas das linhas da usina e para proteger o sistema e evitar a sobrecarga foram tiradas de operação turbinas de Itaipu e de Tucuruí, distante 3.500 quilômetros de Foz do Iguaçu. A necessidade de reduzir a geração também em Tucuruí é para evitar que as linhas que ligam o Norte ao Sul sofram sobrecarga e causem um apagão em série nestas regiões.

O ex-presidente da Companhia de Transmissão Paulista e professor da Universidade de São Paulo, Sidnei Martini, lembra que no ano passado quando ainda estava na presidência da Cteep, também aconteceu de duas linhas de transmissão que ligam Itaipu ao Sudeste terem sido desligadas automaticamente por problemas meteorológicos. "Lembro que pensamos: nosso sistema é mesmo seguro pois conseguimos segurar a energia de Itaipu só com uma linha operando", disse Martini. "Se fosse um sistema frágil teríamos tido muitos apagões nestes dez anos."

No boletim interno do ONS (o jornal Ligação) de julho deste ano, um técnico do ONS reportava que o órgão estava se empenhando em um esquema especial de proteção para Itaipu e que todo esse empenho era necessário pela frequência com que ocorrem desligamentos desses dois circuitos próximos a usina. Isso preocupa uma importante fonte do setor, mas que lembra que são com apagões como o que ocorreu essa semana que os sistemas são aprimorados.

É por causa de seu poder de causar um blecaute caso saia de operação que a usina de Itaipu é vista como a infraestrutura mais crítica do país. Mas foi somente no ano passado que as autoridades brasileiras começaram a elaborar um plano nacional de segurança de suas infraestruturas para evitar ataques ou ter um plano de contingências que possa resolver rapidamente a situação e dar segurança a população que fica desprotegida.

O vice-presidente da Rede Energia, Sidney Simonaggio, destaca que apesar de uma grande parte do Brasil ter sido atingida, rapidamente os sistemas do Nordeste, Norte e Sul foram retirados do sistema interligado e a energia rapidamente foi restabelecida. Se fosse um sistema frágil, segundo Simonaggio, todo o país teria ficado no escuro.

Ao todo 18 estados foram atingidos. O apagão teve início às 22h13. Mas as 22h29, o Sul do país já estava religado. Em menos de meia hora, os estados do Norte e Centro-Oeste também. Antes das onze da noite, o Nordeste também teve sua situação regularizada. "Nosso sistema não é frágil", diz José Cláudio Cardoso, presidente da Associação das Transmissoras.

A mesma frase foi usada pelo ex-diretor geral da Aneel, Jerson Kelman. Lembrou ainda Kelman que nenhum sistema é infalível e que o Brasil tem sim o risco do sistema interligado, ou seja, de uma queda em série. Mas ao mesmo tempo é esse sistema que impede que a falta de água nas hidrelétricas em alguma região reflita em falta de energia em outra. O professor da USP Ildo Sauer diz que o problema não é falta de investimento, mas que o apagão reflete uma fragilidade na gestão do sistema. Alguns especialistas lembram que o fato de termos um sistema completamente automatizado também é muito suscetível a hackers.

Portal Exame: analistas dizem que blecautes ocasionais são inevitáveis.

Segue artigo publicado pelo Portal Exame.

Por Por Brian Ellsworth | 11.11.2009 | 20h36

SÃO PAULO (Reuters) - O apagão que atingiu o Brasil na noite da terça-feira ressalta a necessidade de fortes investimentos para garantir que a infraestrutura do país acompanhe seu robusto crescimento, mas não sinaliza riscos sistêmicos que possam abater a economia.

Dos arquivos do blog:

O blecaute causou problemas que se espalharam desde a interrupção do sistema de transporte público a emergências de hospitais, revelando desafios que acometem a nação cujas indústrias em expansão e a rápida recuperação da crise global a colocam em destaque em Wall Street.

Mas especialistas descrevem as cinco horas de apagão na terça-feira como um incidente isolado, similar aos que ocorreram em países como Estados Unidos, e não como uma repetição dos problemas que obrigaram o Brasil a racionar energia oito anos atrás.

"O Brasil não tem problemas com fornecimento de eletricidade. O sistema é confiável, mas ele é sujeito a esse tipo de problema", disse Cesar de Barros Pinto, da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate).

"É muito similar a quando cai um avião. Ninguém quer, ninguém deseja, todo mundo faz tudo para evitar, mas de vez em quando o avião cai", complementou.

O país, que sediará uma Copa do Mundo e uma Olimpíada nos próximos sete anos, tem feito avanços no setor elétrico desde a crise de 2001-2002, época do racionamento de energia elétrica provocado por anos sem investimento em geração.

O blecaute de terça-feira, diferentemente, foi provocado por falhas em linhas de transmissão que ligam o Brasil à usina de Itaipu, localizada na fronteira com o Paraguai e que fornece quase 20 por cento da energia brasileira.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta quarta-feira que o problema tenha sido causado por falta de investimento e pediu que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, explicasse a causa da pane, que, segundo autoridades do governo, parece ter sido provocada por condições severas de tempo.

CONTROLE PREJUDICADO

Analistas disseram que blecautes ocasionais são inevitáveis, mas ainda foi surpresa o fato de um problema de transmissão no Sudeste do Brasil ter afetado Estados a milhares de quilômetros ao norte e deixado quase metade do país às escuras.

"Tem que melhorar a gestão do setor elétrico, não se pode minimizar o problema", afirmou Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, gigante estatal do setor.

"Há problemas na gestão de acidentes. Temos que ter um sistema protetor."

O Brasil, maior país da América Latina e sua maior economia, sempre enfrentou enormes desafios no que se refere à distribuição de energia ao longo de seu vasto território, que exige uma extensa rede de linhas de transmissão localizadas em áreas frequentemente isoladas.

"Problemas vão ocorrer sempre, mas não devem ter reflexo em dez Estados", disse Otavio Santoro, diretor-executivo da empresa de consultoria Indeco Energia.

"O ministro de Energia precisa melhorar a coordenação para isolar esses problemas."

Ele afirmou que planos para um grande número de projetos de nova geração, entre eles a polêmica represa de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, provavelmente darão maior estabilidade ao sistema.

BBC Brasil: especialista alemão diz que concentração em Itaipu é a principal causa do blecaute.

Segue mais uma matéria da BBC Brasil.

Posso ressaltar só duas coisas? Lá vai:
1 – se o problema é a concentração em Itaipu, que bom finalmente estamos construindo mais hidrelétricas;
2 – lá no final, o entrevistado diz o que diferencia o nosso blecaute daqueke que atingiu os EUA em 2003, causado por uma árvore. Segundo ele, lá, nos EUA, a coisa tomou a proporção que tomou por “economia exagerada dos Estados na manutenção das redes.” Ou seja, lá, nos EUA, houve falta de investimento em transmissão; aqui, no Brasil, não.

Marcelo Crescenti
De Frankfurt para a BBC Brasil
Apagão em São Paulo
Para especialista, alto consumo de energia pode ter provocado apagão

A grande dependência da energia produzida em Itaipu foi a principal causa do apagão ocorrido na noite da terça-feira e é um problema estrutural que não será resolvido tão facilmente, segundo um dos maiores especialistas em redes elétricas da Alemanha.

Em entrevista à BBC Brasil, Albert Moser, diretor do Instituto Alemão de Economia Energética e Redes Elétricas e professor da Universidade de Aachen, disse que a principal causa do blecaute que deixou várias cidades brasileiras sem luz é a grande dependência da usina de Itaipu, que produz cerca de 20% de toda a energia consumida no país.

"Quando se tem uma produção tão grande de energia em um só lugar o sistema fica bastante vulnerável, o que leva a problemas como o que ocorreu nesta semana", afirmou.

Além disso, Itaipu está longe dos centros urbanos e, de acordo com Moser, quanto maior a distância, mais problemas ocorrem. "Não adianta fechar os olhos e rezar para que eles não aconteçam."

Cooperação

Segundo o especialista, a solução seria uma maior cooperação entre os países latino-americanos. "Com a formação de uma rede de usinas elétricas em toda a América Latina um país poderia ajudar o outro em caso de blecaute", disse.

Moser citou o exemplo europeu, onde a rede elétrica se baseia em uma cadeia de usinas interligadas situadas em vários países e que têm uma reserva de emergência com a qual podem compensar a queda de outras usinas.

Com o consumo crescente de energia no Brasil os problemas poderão aumentar, disse Moser. Uma saída seria a construção de usinas menores e mais perto dos centros urbanos. "Apesar da polêmica, as usinas atômicas na costa do Rio poderiam ser uma parte da solução", afirmou.

Segundo ele, o blecaute brasileiro não pode ser comparado com o ocorrido nos Estados Unidos há alguns anos. Ali o problema teria sido uma economia exagerada dos Estados na manutenção das redes.

BBC Brasil: especialista britânico não crê em falha do governo brasileiro e diz sistema elétrico dos Estados Unidos e dos países da OCDE são tão vulneráveis quanto o nosso.

Segue outra matéria da BBC Brasil.
Rogerio Wassermann
Da BBC Brasil em Londres
Carros passam na Avenida Paulista durante o blecaute
Blecaute deixou às escuras as principais cidades brasileiras

A possível falha na transmissão de energia que provocou o blecaute da noite da terça-feira é o resultado da vulnerabilidade dos sistemas tradicionais de energia no mundo todo e não somente no Brasil, na avaliação do especialista canadense-britânico Walt Patterson, pesquisador associado da Chatham House (Instituto Real de Assuntos Internacionais), de Londres.

“É um sistema pensado há mais de cem anos, com grandes geradores remotos que necessitam de longas linhas de transmissão com um controle central”, disse ele em entrevista à BBC Brasil. “A quebra de um único cabo é capaz de provocar uma sobrecarga que leve a um efeito dominó em todo o sistema.”
Para Patterson, autor do livro Keeping the Lights On – Towards Sustainable Energy ("Mantendo as Luzes Acesas – Em Direção à Energia Sustentável", em tradução livre), mesmo países ricos sofrem com a mesma vulnerabilidade.

Ele cita grandes blecautes ocorridos em 2003 – nos Estados Unidos e no Canadá, em agosto, quando 55 milhões de pessoas foram afetadas, na Dinamarca e na Suécia, em setembro, com 5 milhões afetados, e na Itália, no fim de setembro, com 55 milhões afetados – como exemplo do problema.

“No caso do blecaute nos Estados Unidos, em 14 de agosto de 2003, o problema foi provocado por uma árvore que derrubou uma linha de transmissão e resultou em um efeito cascata”, diz Patterson. “Em coisa de minutos, mais de 50 milhões de pessoas foram afetadas.”

Distância

Grandes usinas de geração, como a de Itaipu, que exigem a transmissão de grandes quantidades de energia por longas distâncias, apenas pioram ainda mais a situação, em sua avaliação.

Para evitar o problema, o especialista sugere um sistema menos centralizado, “conectado de forma mais solta”, com geração e transmissão mais próximas aos usuários.

“O que precisamos é de um sistema conectado de maneira diferente, que não dependa apenas de uma única máquina para seu funcionamento”, diz.

Patterson observa que um problema desse sistema alternativo é seu custo maior do que o sistema tradicional, mas ele observa que isso funcionaria como um “seguro” contra possíveis blecautes como o da terça-feira no Brasil.

Para ele, não havia muito o que o governo brasileiro pudesse fazer em termos de prevenção para evitar o problema sem uma mudança completa no sistema de transmissão de energia.

“Pelas informações que tenho sobre o incidente, não creio que houve uma falha do governo brasileiro. Isso não é algo que acontece só no Brasil, também acontece nos países da OCDE (entidade que reúne os países considerados desenvolvidos)”, diz.

Segundo ele, não existe nenhuma informação conclusiva sobre a possibilidade de o apagão da terça-feira e outros ocorridos em 2005 no Rio de Janeiro e em setembro deste ano, no Espírito Santo, terem sido provocados pelo ataque de hackers ao sistema informático de Furnas (empresa responsável pela transmissão de energia), como chegou a ser sugerido.

Mas ele diz que isso não seria impossível, já que a vulnerabilidade do sistema não existe somente em relação a acidentes, mas também a ações intencionais.

BBC: blecaute no Brasil pode ter sido causado por hackers, mas, provavelmente, nenhum país tem como se defender de um ataque desses, diz especialista americano.

Segue a matéria da BBC Brasil.

Valquíria Rey
De Washington para a BBC Brasil

São Paulo foi uma das cidades afetadas pelo apagão

O Brasil pode ser vulnerável a um novo apagão elétrico causado por hackers, disse nesta quarta-feira um dos maiores especialistas americanos em segurança em sistemas de computadores, James Lewis, diretor do Center for Strategic and International Studies (CSIS).

Em entrevista a BBC Brasil, ele afirmou que, apesar de o Ministério das Minas e Energia atribuir o apagão desta terça-feira a curtos circuitos provocados pelo mau tempo, isso não é boa notícia para os brasileiros, preocupados com a segurança de sua rede elétrica.

"Se isso pode acontecer por causas naturais, um hacker também poderia provocar um novo apagão", afirmou.

"O Brasil precisa ter um plano para garantir que a rede nacional de eletricidade continue a operar normalmente depois disso", completou.

Todos os países

Lewis chefiou o grupo que preparou um relatório em segurança em sistemas de computadores para o presidente Barack Obama. Ele afirma que a maioria dos países está sujeito a ataques de hackers em suas redes de energia, inclusive os Estados Unidos.

"Provavelmente, nenhum país tem capacidade de se defender contra um cyberataque. Isso quer dizer que o Brasil não está sozinho", disse.

"Os franceses estão fazendo um grande esforço para assegurar suas redes de energia. Os britânicos e os russos também."

"De qualquer maneira, a maioria dos países ainda é vulnerável", afirmou.

Para evitar possíveis ataques, Lewis recomenda ao Brasil identifique o que realmente necessita para se proteger e, depois, identifique onde estão os pontos vulneráveis.

Se o Brasil for como os Estados Unidos, provavelmente, terá de melhorar o controle de equipamentos, avalia o especialista.

Apagões passados

Na semana passada, o programa 60 Minutes, da rede de televisão americana CBS, disse que dois apagões que afetaram milhões de brasileiros em 2005 e 2007 teriam sido causados por ataques de hackers.

Conforme a reportagem, os alvos dessas ações foram os sistemas de controle da rede de fornecimento de energia.

Durante o programa, o ex-chefe de inteligência americana Mike McConnell disse acreditar na possibilidade de um ataque semelhante ocorrer nos Estados Unidos.

De acordo com Lewis, afirmações de funcionários da CIA (agência de inteligência americana) e do Departamento de Defesa confirmam que os apagões de 2005 e de 2007 foram causados por hackers. Ele lembrou, inclusive, que o presidente Barack Obama, num discurso sobre segurança em computadores, em maio último, se referiu aos blecautes brasileiros.

O governo brasileiro, porém, não confirma se hackers provocaram os blecautes.

Segundo a empresa Furnas Centrais Elétricas, a causa do apagão de 2007 foi a poluição acumulada sobre os cabos de energia por conta da estiagem prolongada na região.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blecaute (ou apagão): só no Brasil mesmo?

Se tem uma coisa que me irrita fortemente é o discurso do "Só no Brasil mesmo...", uma das mais perniciosas manifestações do nosso complexo de vira-latas. O mais engraçado (ou enervante)  é o quão frequetemente essa afirmação vem de pessoas que, assim como eu, nunca puseram o pés fora do país ou, se o fizeram, nunca pelo tempo suficiente para propiciar uma comparação válida.

Ontém, ainda durante o blecaute (termo registrado pelo Houaiss e que tem a vantagem de afastar confusões com o racionamento energético de 2001/2002, consagrado como apagão), bem como nos jornais de hoje, uma variante do discurso se fez perceber. Ainda que ninguém tenha dito a frase expressamente (não sei se alguém o fez), acho que a mesma lógica esta presente em questionamentos deste tipo: como queremos sediar um olimpíada?; como queremos atrair investimentos?

Ainda que as perguntas sejam pertinentes e, obviamente, isto não deva ter qualquer influência sobre o fato de que temos descobrir o que aconteceu e bolar e por em prática medidas preventivas à repetição, fica a pergunta: mas é só aqui que acontece isso? Blecautes são exclusividade nossa?

Bom, uma rápida pesquisa na internet revela que talvez não seja bem assim. Blecautes, maiores ou menores, acontecem com bastante frequência, de forma que eles parecem ser mesmo inerentes ao funcionamento do sistema elétrico.

Para ficar apenas em alguns casos bastante esclarecedores, seguem alguns links sobre ocorrências do tipo das que tivemos ontém.

- Estados Unidos e Canadá, agosto de 2003. Segundo as reportagens abaixo, um blecaute deixou 50 milhões de pessoas sem luz naqueles países. Entre as cidades que ficaram às escuras nos EUA, estvam Nova Iorque e Chigago



http://www.ens-newswire.com/ens/aug2003/2003-08-18-01.asp
 
- Europa, novembro de 2006. Segundo as matérias, 10 milhões de pessoas ficaram sem luz em pelo menos SETE PAISES (Alemanha, França, Italia. Áustria, Bélgica, Espanha e Reuno Unido).
 
http://pqasb.pqarchiver.com/chicagotribune/access/1157021371.html?dids=1157021371:1157021371&FMT=ABS&FMTS=ABS:FT&type=current&date=Nov+06%2C+2006&author=Associated+Press&pub=Chicago+Tribune&desc=Power+outage+exposes+Europe's+fragile+grids&pqatl=google


http://www.voanews.com/english/archive/2006-11/2006-11-05-voa13.cfm?CFID=321446891&CFTOKEN=64638362&jsessionid=003076d6b9dd0ec5a23661f116e6a5d514b2

http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28026463_ITM

http://www.forbes.com/feeds/afx/2007/01/30/afx3375802.html
 
- região Nova Iorque, julho de 2006. Um blecaute "pequeno", que só afetou 25 mil residências, mas durou NOVE DIAS.

http://www.startribune.com/nation/11611686.html

- Italia,  setembro de 2003. 57 milhões de pessoas ficaram sem luz durante boa parte de um domingo.

http://www.nytimes.com/2003/09/30/news/30iht-italy_ed3__3.html