Construção parte para ambicioso ciclo de expansão.
Autor(es): Daniela D"Ambrósio
Valor Econômico - 17/12/2009
Uma fotografia do mercado imobiliário no final de 2008 retratava um cenário cinzento, desolador até. Empresas endividadas e sem credibilidade, ações derretendo na Bolsa, com 70% de queda, na média, lançamentos sendo cancelados e crédito restrito. Exatos doze meses depois, o setor comemora uma recuperação surpreendentemente rápida e, ao que tudo indica, consistente.
As construtoras mais problemáticas foram compradas, o índice da construção civil acumula alta de 207,66% no ano, o financiamento é farto, as grandes empresas bateram seguidos recordes de vendas e o mercado de capitais reabriu para o setor - injetando recursos para amparar um ambicioso ciclo de expansão.
Com ajuda dos principais empresários - que tiveram e ainda mantém uma participação ativa nas discussões - o governo criou o programa habitacional para estimular a habitação popular, que inseriu no mercado um público de renda de um a seis salários mínimos, que estava excluído da compra de imóveis - e é o atual motor das vendas. Para comprar um imóvel de R$ 90 mil, uma família tinha que comprovar renda de quase R$ 3,5 mil. Hoje, com os subsídios, que podem beirar os R$ 23 mil, para comprar o mesmo imóvel é necessária uma renda de R$ 1.850,00.
O termo baixa renda ganhou as páginas de jornais e virou quase um lugar-comum. Mais do que isso. Passou a soar como música ao ouvido dos investidores estrangeiros em busca de oportunidades nos mercados emergentes. A participação dos investidores de fora foi de cerca de 90% nas ofertas públicas de empresas focadas nesse público, como MRV e PDG Realty. Em busca do apelo da baixa renda, boa parte das construtoras, especialmente as de capital aberto - com experiência nesse segmento ou não - incorporaram o discurso e trataram de explorar, de alguma maneira, esse filão.
O setor entra numa rota de crescimento em 2010 e o clima é de um otimismo contagiante. Até porque a bonança não veio na mesma proporção para todo mundo. Mas as previsões de crescimento publicadas pelas maiores empresas setor evidenciam esse gigantismo. A Cyrela espera lançar até R$ 7,7 bilhões em 2010 e vender até R$ 6,9 bilhões. A Cyrela projetou metas até 2012, quando pretende vender até R$ 10,7 bilhões. A mineira MRV espera vender R$ 4,3 bilhões em 2010 e a PDG Realty estima alcançar R$ 4,8 bilhões. Para o mercado como um todo, o Secovi estima alta entre 10% e 15% em 2010.
A demanda está forte não apenas na baixa renda como também na classe média, ancorada pelo emprego e renda. É unanimidade entre as próprias empresas, analistas e consultores que as classes C e D continuarão sendo a âncora do setor imobiliário no próximo ano. "Há um mercado gigante para ser explorado", afirma Zeca Grabowsky, presidente da PDG Realty.
Muita coisa mudou no mercado imobiliário. Há uma grande diferença em relação a 2007, quando houve a corridas de empresas do setor para a bolsa e o chamado boom do segmento. "Os investidores estrangeiros hoje enxergam o setor imobiliário brasileiro como uma oportunidade mais consistente e saudável", diz Grabowsky. "Além de muito maior, em função do Minha Casa, Minha Vida."
Para Rubens Menin, presidente da MRV, empresa mineira especializada na baixa renda, no começo de 2008 ninguém acreditava que o mercado de capitais seria reaberto para o setor. Juntas, Cyrela, MRV, PDG Realty, Rossi e Brookfield captaram quase R$ 5 bilhões na bolsa, no segundo semestre. Só em dezembro, oito empresas anunciaram colocação de debêntures.
Mas a boa vontade em relação ao setor não está restrita aos estrangeiros. "Hoje, o Brasil entende a importância econômico-social do setor", diz Menin, presidente da MRV, "Em 30 anos de MRV e 34 no setor de construção, eu nunca vi um ambiente tão propício", diz.
"O aumento da presença dos imóveis de 2 dormitórios está relacionada ao programa Minha Casa, Minha Vida e à disponibilidade de financiamento habitacional", afirma Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi. Para Petrucci, medidas como o aumento do limite do valor do imóvel a ser financiado pelo Sistema Financeiro de Habitação, de R$ 350 mil para R$ 500 mil, e do prazo das linhas de crédito para 30 anos foram importantes para estimular os empréstimos.
Esperava-se, no início do ano, que o crédito imobiliário com recursos das cadernetas de poupança atingisse R$ 28 bilhões. A Caixa Econômica Federal anunciou que as contratações no crédito imobiliário da CEF alcançaram R$ 39,3 bilhões até o dia 30 de novembro, mais 93% sobre os R$ 20,3 bilhões no mesmo período de 2008.
Mesmo com todo o cenário positivo, a crise afetou o mercado imobiliário e as vendas devem fechar o ano empatadas com 2008. As vendas, que somaram R$ 22 bilhões no ano passado, estão em R$ 16,4 bilhões este ano - o que significa que a indústria precisa vender, pelo menos, R$ 5,7 bilhões no último trimestre. Para efeito de comparação, no terceiro trimestre foram vendidos R$ 6,6 bilhões.
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