sábado, 31 de outubro de 2009

Superinteressante: Wall Street e o novos fundos, que rendem mais quando pessoas morrem mais cedo.

Segue um matéria rápida da Superinteressante.

Uma única pergunta chatinha: o dinheiro respeita algum tipo de limite moral?

por Marcos Ricardo dos Santos

Eles já apostaram em quase tudo. Depois de negociar em ações e petróleo, resolveram especular com financiamentos imobiliários - e quase quebraram a economia global. Agora os bancos de Wall Street inventaram um novo jeito de tentar ganhar dinheiro: apostar na morte das pessoas. Eles pretendem criar um novo tipo de investimento, que está sendo apelidado de death bond - "título da morte", em inglês - e basicamente consiste no seguinte. Os bancos compram os seguros de vida de idosos e revendem para investidores. Aí, quanto mais rápido os velhinhos morrerem, maior o ganho dos investidores.
Por incrível que pareça, já existem pelo menos 9 bancos, entre eles gigantes como Goldman Sachs e Credit Suisse, interessados na novidade. E os envolvidos dizem que isso não tem nada de mais. "Não há nada de imoral em oferecer uma oportunidade aos idosos que estejam precisando de dinheiro", afirma Will Menezes, gerente da Life Insurance Settlement Association (associação de empresas que negociam seguros de vida nos EUA).

Mas o novo negócio tem detalhes de arrepiar. Com os avanços da medicina, no futuro os idosos poderão viver mais - o que faria os investidores perder dinheiro. Por isso, os bancos pretendem selecionar pessoas com as mais variadas doenças. Acredita-se que os death bonds possam atrair US$ 160 bilhões em investimentos. Mas o governo dos EUA, cuja negligência com os bancos de investimentoajudou a detonar a crise econômica mundial, jura que está de olho neles - e acaba de formar uma comissão especial que vai fiscalizar os títulos da morte.
O IDOSO
Para conseguir dinheiro, um homem (ou mulher) de 60 anos vende seu seguro de vida ao banco, que paga 40% do valor total da apólice - neste exemplo, US$ 400 mil*.

O APOSTADOR
O banco compra milhares desses seguros e agrupa em títulos financeiros (bonds), que são revendidos a investidores do mercado financeiro.

A MORTE
Agora, existem 3 possibilidades.

MORTE NA IDADE ESPERADA
Vinte anos depois, o idoso morre. O valor total do seguro, US$ 1 milhão, vai para o investidor. Ele lucra US$ 600 mil, ou 130% do que havia aplicado. Isso dá 6,5% de ganho por ano.
MORTE PREMATURA
O idoso morre após 5 anos. O investidor recebe o US$ 1 milhão do seguro. Seu lucro foi de 130% em apenas 5 anos - equivalente a 26% por ano de investimento. Uhu!
MORTE TARDIA
O idoso vive mais 30 anos. Os 130% de lucro, divididos por 30, dão apenas 4,33% de rendimento por ano - menos do que o investidor teria ganho aplicando em outra coisa.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

...por que cantar parece com não morrer, é igual a não se esquecer que a vida é que tem razão...

E não é que o blog, aos poucos, vai deixando de ser apenas um clipping pessoal. Se é assim, que tal mais um passo?

Momento cultural: Enquanto engomo a calça, com Ednardo.


Terra Maganize: A questão é: por que articulistas e jornalistas podem falar de certos temas e não podem falar de outros?, pergunta Sírio Possenti

Segue o artigo de Sírio Possenti para o Terra Magazine.

Sírio Possenti

Em geral, prefiro escrever apenas sobre temas em relação aos quais poderia, se necessário, indicar bibliografia, ou seja, questões que estudo ou estudei um pouco (mas detestaria ser chamado de especialista). Ou seja, não quero, nesta coluna, emitir opiniões sobre outros campos. Mesmo assim, muita gente acha que faço isso. Por exemplo, quando comentei o Dicionário Lula, de Ali Kamel, alguns leitores acharam que as opiniões de Ali Kamel eram minhas - especialmente uma de efeito favorável ao presidente (tratava-se do número de palavras que Lula usou em seus pronunciamentos, mais de dez mil, um número para acadêmicos).

Hoje vou sair explicitamente desta rotina para comentar um artigo de Nélson Motta publicado no Estadão de 16/10/2009, que não tem nada a ver com linguagem, pelo menos com os tópicos mais habituais. O título é "Bolivarismo esportivo". Motta diz que os futebolistas equatorianos e bolivianos dão show em brasileiros e argentinos a 3000 metros de altitude e que se vangloriam disso. Mesmo que depois percam ao nível do mar etc.

Uma pequena investigação sobre as atividades de Nélson Motta revela que é produtor cultural, que foi autor de músicas, que escreveu sobre bossa nova. Nada indica que ele seja especialista em fisiologia esportiva ou em qualquer tema conexo. Ou seja, para escrever o que escreveu sobre o assunto que "desenvolveu" em seu texto, não precisou de nenhuma informação técnica. Acho até que não ter informações ajuda artigos assim. Deve ser bom ser pago para recordar aos leitores do Estadão reles fatos esportivos como estes, que todo mundo pode discutir nos botequins.

Mas talvez ele ganhe mais para acrescentar aos lugares-comuns afirmações como a seguinte: "É a influência dos três patetas, Chávez, Morales e Correa, até no futebol. No seu habitat natural, eles vivem a ilusão de que jogam mais e melhor do que os outros, com mais fôlego, mais talento, mais patriotismo, que afirmam sua identidade nacional".

E acrescenta que "é preciso que a CBF trabalhe para reverter esta demagogia populista travestida de igualitarismo, escondendo uma típica malandragem latino-americana que só pode ser entendida como bolivarismo esportivo, seja isto lá o que for". (Como ele pode esperar isso da CBF?).

Também desanca Maradona, que considera um perfeito idiota latino-americano, expressão que designou durante algum tempo todos os que não eram adeptos radicais do neoliberalismo e, no limite, da adoção do dólar como moeda "nacional". Menem instituiu na Argentina a tal paridade, que, de certa forma, vicejou no Brasil nos anos iniciais do Plano Real (ainda lembram?), regida por Gustavo Franco.

A expressão é bem conhecida, e Menem foi o melhor exemplo do que seria o contrário do perfeito idiota, segundo os "intelectuais" que produziram o conceito. Os argentinos sabem bem o que significa, no caso, ser um "sábio" latino-americano. O que explica em parte, pelo menos, que Dieguito prefira Fidel Castro a, por exemplo, Uribe.

Motta critica Maradona também por ter batido uma bola com Morales, quando a Argentina foi jogar em La Paz e levou aquela goleada de 6 a 1 (talvez ele tenha preferência por reuniões político-esportivas como a de Collor com a seleção de 90)!

Pode ser que Maradona seja um perfeito idiota latino-americano. Pode ser que seja verdade que Chávez e Morales sejam tudo isso que Motta repete sobre eles. Admitamos. Mas mesmo que isso não fosse verdade, mesmo que Motta apenas expressasse uma opinião equivocada ou até bestalhona, nada a reclamar. Quem não quer ler o texto dele pode simplesmente mudar de página, ir adiante, à procura de alguma inteligência.

O que é mais difícil de suportar é que Motta faça de conta (ou talvez acredite) que Bolívia e Equador começaram a disputar as eliminatórias para a Copa (e a Taça Libertadores) na "altitude" depois que Chávez, Morales e Correa assumiram os governos nos seus países. E antes deles, quando esses países eram governados pelos "sábios", os brasileiros e argentinos jogavam suas partidas contra eles em quais cidades, hein, Nélson Motta?

Aliás, o que está fazendo Chávez nesta lista, se ele mesmo, Motta, só fala das partidas de bolivianos e equatorianos contra brasileiros e argentinos? A que altitude a Venezuela joga suas partidas? Bem que ele poderia informar, mas então seria necessário que a coluna tivesse outra marca além da má fé ou da ignorância.

Mas é bom textos assim sejam publicados. Pelo menos, fica-se sabendo quem é mesmo e como é o idiota latino-americano perfeito.

No mesmo estilo Nélson Motta, o Jornal Nacional de 21/10/2009 informava que mais um presidente latino-americano obtinha o direito de reeleger-se. Era Ortega, da Nicarágua. Bonner fez rápida retrospectiva: Chávez, depois, Morales, depois, Correa, agora Ortega. Em voz mais baixa - explica-se! - informou que Uribe está tentando um terceiro mandato (de leve)!

Mas essa é de fato uma notícia para o ouvinte meio idiota latino-americano para o qual Bonner já declarou que faz seu jornal: um cara do tipo Hommer Simpson. Se não fosse assim, talvez destacasse Uribe, e informaria que as reeleições começaram de fato com Menem, Fernando Henrique e Fujimori. Bem antes, portanto, do que ele cita, e com gente de outro calibre ideológico.

Um pouco de verdade (jornalística) não faria mal a ninguém.

PS 1 - Pensando bem esta coluna não é sobre assuntos estranhos a este espaço. A questão é: por que Motta e Bonner podem falar de certos temas ou pessoas e não podem falar de outros? Uma hipótese: burrice, desconhecimento de fatos banais. Mas esta deve ser descartada: sabem muito bem que as coisas não são como eles as contam. Segunda hipótese: má fé, sacanagem. Não deve ser excluída, mas pode não ser a explicação final.

A explicação pode simplesmente residir no fato de cada sujeito diz o que pode dizer e esquece o que não pode dizer. Freud pode explicar, em certos casos. Mas quem explica os dois casos comentados aqui são provavelmente os teóricos da ideologia e de sua relação com os discursos. Eles dirão que há coisas que simplesmente não podemos dizer. A política está cheia de casos assim.

Mas os jornalistas não têm compromissos com os fatos? Não, responderão os "ideólogos". Só com os que interessam!

PS 2 - Acaba de sair pela Parábola meu livrinho Língua na mídia, uma coletânea de colunas do tipo das que publico aqui semanalmente. Trata-se de textos que analisam o que jornalistas e outros -istas dizem sobre fatos de língua.

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso e Questões para analistas de discurso.

Terra Magazine: oposição é vulgar em relação à Venezuela, diz Pecro Simon.

Segue a matéria do Terra Magazine.

Será que a própria oposição começa a acordar para o que anda fazendo.

Provavelmente, não. Mas o Brasil, e não o Lula, só teria a ganhar

Claudio Leal


Opositor do governo, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) votou a favor da entrada da Venezuela no Mercosul, aprovada nesta quinta-feira na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Sem exagero, pode-se afirmar que Simon é dissidente da dissidência: faz restrições a Chávez, mas não entende o radicalismo contra o ingresso do País no bloco sul-americano.

- Não entendi a posição da oposição. Achei muito vulgar, muito incompreensível... Gente importante, responsável - não vou nem citar o nome -, não entender a importância do Mercosul. Porque o governo Chávez pode ter o defeito que tiver, mas o governo passa e a Venezuela fica.

Um dos críticos extremados de Chávez, o senador Arthur Vigilio declarou esta tarde que "isto é a missa de sétimo dia do Mercosul. A Venezuela é um peso e aceita um Estado governado por um homem que marcha para uma ditadura". Pedro Simon destaca a importância econômica da adesão venezuelana.

- A oposição queria fazer uma visita à Venezuela, pra que ela assumisse um compromisso sobre isso ou sobre aquilo. Não concordo. Se fosse para aprovar a pessoa da presidência da República, eu não aprovava. Faço muitas restrições ao presidente da Venezuela, mas acho que entrar a Venezuela no Mercosul é importante pra ela e pra nós. Agora, o Senado brasileiro vetar seria algo muito negativo e correríamos um risco muito grande.

Simon avalia que a definição do Senado fortalece a visita do presidente Lula à Venezuela. O tema deve ser levado ao plenário, na próxima semana, segundo expectativa do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

- Passou tranquilo na comissão e era importante, porque o presidente Lula deve estar chegando a essa altura na Venezuela e era bom ele levar essa medida de que o Senado vai aprovar. Tenho a convicção de que, semana que vem, será aprovado em plenário - avalia o peemedebista.

Mair Pena Neto: a ida de Marina Silva para um PV aliado ao DEM é um mistério.

Segue o artigo de Mair Pena Neto para o Direto da Redação.

O DILEMA DE MARINA

A senadora Marina Silva, tradicional quadro do PT, que mudou-se recentemente para o PV e cogita ser candidata à Presidência da República em 2010, tem um enorme desafio pela frente. Como conciliar sua visão política e ecológica do desenvolvimento do Brasil à aliança dos verdes com as forças neoliberais do país?

Essa dicotomia entre Marina e o partido a que se filiou, e, sobretudo, a seus aliados nacionais, ficou evidente na opinião da senadora sobre a CPI do MST, estimulada por DEM e PSDB, parceiros do PV no projeto nacional. Profunda conhecedora das questões da terra, Marina defendeu que a CPI não se limitasse a repasses do governo a entidades que lutam pela reforma agrária, mas que tratasse da questão fundiária no país em todos os seus aspectos.

Essa visão mais profunda incluiria, naturalmente, grilagem de terras, índices de produtividade, assassinatos no campo e o próprio modelo agrícola do país, o que não interessa aos ruralistas, abrigados principalmente nos partidos aliados ao PV.

Seringueira e defensora de um modelo de desenvolvimento sustentável, condição que a levou a romper com o partido de toda a vida por temer um desenvolvimentismo predatório, Marina não teria como compactuar com ruralistas, responsáveis pelo desmatamento que corresponde a mais da metade das emissões de carbono do país. Tampouco poderia estar ao lado da agropecuária, segunda atividade que mais contribui para o aquecimento global no Brasil.

Marina Silva talvez fosse a pessoa política com mais capacidade de fazer avançar a agenda de desenvolvimento do país, que recuperou para o Estado o planejamento das atividades econômicas e sociais, mas isso parece incompatível na legenda em que se abrigou. O Brasil cresce, reduz as desigualdades, pressiona as empresas a se comprometerem com o país e na ânsia de retomar o tempo perdido pelos anos de neoliberalismo deixa de lado algumas alternativas de desenvolvimento que Marina poderia apontar.

A senadora teria na próxima eleição um importante papel de denunciar certas incongruências e forçar compromissos dos candidatos com maior cacife eleitoral. Mas a incongruência maior seria usar como palanque justamente a tribuna onde estão os maiores adversários de sua visão política.

A cada vez que se manifesta, Marina explicita as contradições das alianças dos verdes, e sua mudança para o partido torna-se um mistério. O único cenário imaginável seria o da sua candidatura isolada à Presidência pelo PV, enquanto PSDB e DEM apoiariam José Serra ou Aécio Neves. Restaria a pergunta sobre quem ela apoiaria se não passasse ao segundo turno e a disputa ficasse entre estes tradicionais aliados e o PT? A Marina Silva que conhecemos certamente votaria no seu ex-partido, enquanto os verdes, por sua recente trajetória, ficariam com os neoliberais.

Sérgio Porto, se vivo fosse, comporia um segundo samba do crioulo doido.

Maria Inês Nassif: com as mudanças na distribuição de renda, as eleições de 2010 tendem a ser marcadas por um eleitorado mais exigente.

Segue o artigo de Maria Inês Nassif para o Valor de hoje. O link no título é para a fonte da cópia, o Portal do MPOG.

Um eleitorado mais exigente
Maria Inês Nassif

Em 2006, a política eleitoral foi marcada pelo fenômeno de descolamento do voto dos humores da classe média urbana que, ao longo da história da República, funcionou como uma caixa de ressonância das elites econômicas. A ascensão ao mercado de consumo de uma grande parcela de excluídos, por meio do Bolsa Família, produziu uma autonomia do voto dos menos favorecidos em relação ao poder econômico e reduziu o papel de formadores de opinião das classes médias. De lá para cá, as políticas de valorização do salário mínimo adicionaram um outro componente social à realidade política: o ingresso nas classes médias de cidadãos originários da base da pirâmide que já estavam no mercado de consumo, mas que tinham acesso limitado a bens e mercadorias.

Foram, portanto, dois dados importantes de mobilidade social distintos, cada um deles com poder de repercussão em uma eleição diferente. Nas eleições de 2006, o dado social predominante foi o ingresso ao mercado de consumo de grande parcela da população. Nas eleições de 2010, terá forte influência sobre o pleito a ascensão à classe média de grandes contingentes das camadas populares.

Nos últimos sete anos, o país passou de uma situação de reduzidas classes médias e alta e amplas camadas na base da pirâmide - com forte concentração, nessas últimas, de famílias com baixíssima ou nenhuma renda. Quase às vésperas das eleições de 2006, as estatísticas começaram a acusar um forte efeito de desconcentração de renda do programa Bolsa Família, que atingia então os situados no último degrau da pirâmide de renda. Esse dado apenas tornou-se visível no auge do chamado Escândalo do Mensalão e o mundo institucional custou a entender que algo acontecia de diferente no universo social. A política foi sacudida por traumas intensos, cujo epicentro era o Congresso Nacional - em especial uma CPI que alimentava grandes cenas midiáticas que em algum momento chegaram a consolidar, entre letrados, a idéia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era tão destituído de sustentação política que caminhava para um impeachment, ou uma renúncia.

Foram quase simultâneas as divulgações das pesquisas de opinião que acusavam um constante aumento de popularidade de Lula, em plena crise, e a divulgação de indicadores que comprovavam um efeito grande de mobilidade do Bolsa Família. Os fenômenos foram tão vinculados que foram necessárias várias pesquisas de opinião acusando aumento da popularidade de Lula para que a oposição se convencesse que o presidente não apenas estava no páreo, como era o franco favorito na disputa pela reeleição.

O aumento da classe média brasileira no período seguinte é um dado ainda de difícil avaliação, que precisará ser devidamente considerado nas definições de estratégias de campanha de todos os candidatos às eleições presidenciais. O fato de os dois fenômenos terem acontecido num período governado por um único partido, e não ter ocorrido até o momento - nem no período de crise - um forte refluxo das condições objetivas de consumo desses setores, pode indicar que a candidata governista entra no mercado eleitoral como depositária de um legado. O conservadorismo da classe média, no caso dos ascendentes no governo Lula, tende a favorecer a candidata - o status quo agora é o PT, ao contrário de 2002.

De outro lado, a ascensão à sociedade de consumo significa também acesso a bens de consumo ideológicos que mantinham esses setores à margem até agora. A informação, o acesso a tecnologias por onde elas transitam rapidamente e a exposição a diversas outras mídias expõem esses setores emergentes a conteúdos dos quais foram marginalizados enquanto estavam excluídos dessas tecnologias - e cuja inclusão não era alguma coisa que estava na agenda das elites políticas, que partiam do pressuposto, no jogo eleitoral, de que essas camadas eram cooptáveis via movimentos de emocionalização de uma classe média mais conservadora. Outro fator que pode contribuir para isso é o aumento progressivo de escolaridade, que caminha de forma constante desde os governos Fernando Henrique Cardoso. Os ganhos de distribuição de renda podem acelerar o processo de aumento de anos de estudo da população.

Num contexto de maior escolaridade e maior renda, portanto, imagina-se que mudem também os critérios de escolha do voto. O julgamento do eleitor tende a passar por crivos que superem o simples ganho de renda - esse é um ganho passado e entram no cenário expectativas de ascensão social diferentes.

Nesse contexto, pode adquirir importância grande a adesão a candidatos de setores da mídia convencional e não convencional - veiculada pela internet - e ganham peso maior os programas de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Esse é um elemento novo no processo eleitoral. Dificilmente se volte a uma realidade onde as classes médias representem simplesmente uma caixa de ressonância das elites econômicas mas não necessariamente esse eleitorado tenderá à esquerda por ter ascendido no governo Lula. O dado concreto, no momento, é que esse eleitorado obrigará uma campanha eleitoral que agregue mais informações e argumentos eleitorais mais convincentes.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

E-mail maria.inesnassif@valor.com.br

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Novo Jornal: contra vontade de FHC e Gilmar Mendes, o processo do mensalão tucano entra em pauta do STF.

Segue a matéria do Novo Jornal, com negritos meus.

ATENÇÃO: SÓ AGORA REPAREI: FIZ ALGO QUE SEMPRE CRITICO. POR ESTAREM EM UM NOTICIOSO, TOMEI POR PROVADOS FATOS NO MÁXIMO PROVÁVEIS (AINDA QUE ME PAREÇAM BEM PROVÁVEIS).

Muitas informações interessantes em um texto tão curto. Não resisto: vou ter que destacar. Vamos lá:

1 – O Presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes, que trabalhou para o Governo FHC (ou seja, do PSDB, ou tucano), estaria se recusando a levar a julgamento o processo do MENSALÃO MINEIRO (ou do PSDB, ou tucano);

2 – o próprio ex-presidente Fernando Henrique (o FHC do PSDB, ou tucano) estaria pessoalmente empenhado em evitar que o processo fosse levado a julgamento;

3 – o principal acusado no processo, o Senador Eduardo Azeredo (do PSDB, ou tucano), estaria ameaçando o ex-presidente Fernando Henrique (o FHC do PSDB, ou tucano);

4 – segundo um de seus assessores, o Senador Eduardo Azeredo (do PSDB, ou tucano) estaria disposto a partir para o “tudo ou nada”;

5 – apesar dos esforços do ex-presidente Fernando Henrique (o FHC do PSDB, ou tucano) e da boa vontade do Presidente do STF, o Ministro Gilmar Mendesque, trabalhou para o Governo FHC (ou seja, do PSDB, ou tucano), a pressão do Ministro Joaquim Barbosa e dos procuradores fez com que o fosse finalmente marcado o início do julgamento.

Sei, o comportamento do Lula é realmente um enorme risco para nossa democracia…

STF marca data de julgamento de Azeredo

Após duas semanas, Gilmar Mendes cede: “Tucanoduto de Azeredo” entra na pauta da Corte para julgamento em 4 de novembro
Divulgação

Senador Eduardo Azeredo

Nos últimos quinze dias travou-se uma enorme batalha dentro do Supremo Tribunal Federal (STF)
. De um lado, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes; do outro, a Procuradoria da República e o ministro Joaquim Barbosa insistindo para que fosse colocado em pauta o inquérito 2280 relativo às investigações e denúncias apresentadas pela Procuradoria contra o senador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB).

Conforme noticiado por Novojornal, nos bastidores, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso lutava para que a matéria não fosse colocada em pauta, diante das ameaças de Azeredo.

A Procuradoria da República e o ministro Joaquim Barbosa insistiam que estava ficando muito mal perante a opinião pública a ingerência do senador tucano na tramitação da matéria.
Alegavam ainda que quanto mais demorassem para apreciar a matéria, mais próximo das eleições estariam, motivando especulações de que a questão era política.

Após consultar os membros da Corte e constatar que o entendimento da maioria era o mesmo do ministro Joaquim Barbosa e da Procuradoria da República, Gilmar Mendes foi obrigado a ceder, colocando a matéria em pauta.

Marcado para o dia 4 de novembro, o julgamento pela Corte será da aceitação ou não da denúncia apresentada pela Procuradoria da República, em análise ao relatório do ministro Joaquim Barbosa.

Até agora nada se sabe sobre este relatório, porém o conteúdo da denúncia apresentada pela Procuradoria da República é “consistente”, informa um dos procuradores que atuaram no caso.

O desdobramento deste julgamento é imprevisível, pois se espera de Azeredo um comportamento de “tudo ou nada”, disse um de seus assessores.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Viomundo: em dois anos, Serra triplicou o gasto com publicidade.

Segue o post do Azenha no Viomundo.

Notem: o Serra, sob o silêncio decoroso de nossa mídia, não aumentou um pouco os gastos com publicidade. O Serra TRIPLICOU o gasto com publicidade em apenas dois anos.

Não custa lembrar que, como calculei aqui, tendo por parâmetro a quantia despendida por kilômetro quadrado de território, Serra gastou com publicidade 15 (QUINZE) vezes mais que o do Lula.

Aqui, o mesmo cálculo revela que, pelo mesmo parâmetro, a Yeda Crusius (PSDB) gastou com publicidade 12 vezes mais que o Governo Federal.

Serra, a farra da publicidade.

Estudo feito pela liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo demonstra que os gastos do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), têm "marca" própria de crescimento.

Gastos com publicidade e propaganda triplicaram

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Saúde, Educação e Segurança perderam espaço no orçamento estadual

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   Ou seja, Saúde, Educação e Segurança são prioridade do governador José Serra, sim, mas apenas na publicidade. E a população que se lasque.

Kanitz e o legado de Lula: Lula estimulou a criação de empresas brasileiras de classe mundial.

Segue o artigo do Kanitz para seu blog. Trata-se do segundo de uma série de oito prometida acerca do que ele chama de o "legado de Lula".

O primeiro, eu transcrevi aqui.


A idéia de que nações deveriam ser tão eficientes como empresas, que deveríamos criar governos bem administrados e empresas de classe mundial não era bem aceita no passado no Brasil, e nem é até hoje entre alguns partidos políticos deste país, que são contra grandes empresas em geral. Mas é uma antiga bandeira de administradores, e nestes últimos 30 anos há milhares de livros publicados sobre empresas de classe mundial, nunca lidos por membros do governo.

Michael Porter, que foi meu colega em Harvard em 1972, escreveu um influente livro “A Vantagem Competitiva das Nações”. Criou a disciplina de Administração Econômica, o uso de técnicas administrativas para fomentar a Riqueza das Nações.

O mundo, para quem não leu esta linha de pesquisa, será eventualmente dominado por 3000 empresas, 10 empresas distribuídas entre 300 setores importantes da economia, a grosso modo obviamente.

Isto pode assustar muita gente, mas assusta ainda mais se pensarmos que o Brasil nunca se interessou em criar as suas próprias empresas globais para poder melhor competir.

Em 1987, apresentamos Michael Porter ao então Ministro da Fazenda, Bresser Pereira, mas o interesse foi pequeno. Infelizmente, porque na época o Brasil não tinha mais do que duas empresas deste porte, a Vale e a Petrobras. Quando deveria no mínimo ter uns 5% das empresas de Classe Mundial do mundo, ou seja 150 empresas e não duas.

Ao contrario do que muitos imaginam, Lula leu este livro, tanto é que se confunde as vezes citando a “vantagem comparativa das nações”, e não a "vantagem competitiva das nações".

Como a tentativa de aproximar Michael Porter com o governo não ocorreu, por 25 anos mostrei nas Edições de Melhores e Maiores a necessidade de termos empresas de classe mundial. Por isto só posso elogiar um governo que adota teses caras aos administradores há longa data.

Fiz uma palestra na FIESP em 1991, no início do movimento da globalização, onde mostrei ao Conselho da Fiesp, presidido por Mario Amato, que a 500a. maior empresa nacional, num ranking global, caía para a 20.000a. posição. Ou seja seria uma empresa insignificante.

De importante no Brasil, a 500 ésima viraria uma mosca no contexto da globalização.

A maioria dos presentes, da Cofap, da Metal Leve, da Prosdócimo, não se tornaram empresas de classe mundial apesar do alerta. Pior, viraram subsidiárias de empresas estrangeiras em vez de empresas de classe internacional.

Perdemos assim toda a nossa indústria de autopeças e eletroeletrônica, por falta de visão governamental de que empresas brasileiras precisavam ser competitivas a nível mundial.

A tônica de 30 anos de política econômica era impedir inclusive que estas empresas virassem oligopolistas, havia um forte sentimento anti-grande empresa, que perdura até hoje,

A Telebrás, por exemplo, foi pulverizada em nada menos que dezesseis empresas, justamente para impedir o surgimento do “Big Business”. Telefônicas estatais estrangeiras puderam comprar empresas de telefonia brasileiras, o que mostra que o intuito não era privatizar e sim pulverizar o capital.

Nós administradores, também acreditamos em pulverizar e enfraquecer o “capital”, mas não criando empresas fracas, e sim criando capitalistas fracos, onde nenhum é majoritário, via empresas de capital aberto e pulverizado. Enfraquecendo sempre o capitalista, não a empresa.

Assim em vez de consolidar os setores de autopeças, eletroeletrônico, mecânica, etc..., acabamos entregando estes setores a empresas de classe mundial estrangeiras.

Lula numa reunião do Conselho de Economia, se não me engano em 2004, anunciou sua política de empresas de classe mundial, desta forma:

“Precisamos ter empresas líderes mundialmente, empresas capazes de impor seus preços em escala mundial.”

“Precisamos ter empresas líderes nos setores de Mineração, Frango, Papel e Celulose, Agropecuária, Bancos, Telecomunicações”, disse Lula
.

A frase “empresas capazes de impor seus preços”, é inusitada no meio intelectual. Parece ser de um ultra-direitista falando, mas na realidade é simplesmente bom senso.

Trabalhadores sabem que empresas fracas sem “vantagens competitivas” significam sindicatos fracos.

Os economistas da CEPAL são conhecidos pela tese de que agricultura, pecuária e mineração eram péssimos setores e precisavam ser abandonados, porque “os termos de troca” sempre seriam desfavoráveis. Isto significava que trocaríamos cada vez mais minérios e produtos agrícolas por menos produtos industrializados.

Daí a tese da CEPAL de que deveríamos privilegiar a produção de produtos com "alto valor adicionado", como informática, bio-tecnologia etc ; e abandonar as commodities, minério, agricultura, café e frango. Imaginem se tivéssemos seguindo este caminho, como seria nossa situação hoje.

Para termos produtos com "elevado valor adicionado", é necessário enormes programas de ciência e tecnologia, com universidades com elevado alento inovador, pesquisa e inovação, escolas de administração independentes e cursos de empreendedorismo. E quem compra produtos com "elevado valor adicionado" são os ricos, exigindo assim uma industria exportadora ou uma sociedade com péssimos índices de distribuição da renda.

Acontece que temos um setor agrícola e de mineração e não temos universidades voltadas a criar produtos de consumo para as empresas, nem uma classe de ricos grande suficiente, como nos Estados Unidos.

A saída do impasse Cepalino é criar empresas fortes nos setores de agricultura, mineração e frango com capacidade de impor seus preços.

E é neste governo que vemos esta consolidação há tanto tempo defendida pela ciência da administração.

A Brasil Foods foi imposição de Lula, contra seu ex-ministro Luiz Furlan que tentava manter a Sadia como empresa familiar. Foi Lula quem defendeu a fusão com a empresa profissional Perdigão, administrada por administradores e não por membros de uma família.

É no governo Lula que vemos a fusão de Itaú-Unibanco, Marfrig, JBS, Duratex-Satipel, Dasa, VCP-Aracruz, criando empresas de classe internacional.

Decisão bastante criticada, em editoriais e artigos, com o temor que estas empresas usariam sua capacidade de determinar preço para abusar do consumidor nacional, ou que seria uma estatização indireta da economia. Ou que estaríamos criando empresas capitalistas fortes, em detrimento do consumidor.

Refutar estes temores requer um país onde o administrador tem colunas em revistas e jornais, onde professores de administração são sistematicamente ouvidos pela imprensa e pelo governo, o que ocorre em outros países mas não no Brasil

Rapidamente, lembre-se somente que a tendência das megas empresas é reduzir preços e não aumentá-los, vide Wall Mart.

Lula sem dúvida criou o inicio de um movimento, que poderá ser mudado em próximos governos, o que seria um erro, porque ainda falta mais 140 empresas brasileiras de classe mundial para chegarmos às 150 que Michael Porter defendia há vinte anos.

Só que estas empresas recém criadas estão agora aí para sempre. Nenhum governo futuro atreverá cindi-las ao meio novamente, e o sucesso delas certamente será um forte estímulo para provar que a tese original da Cepal estava certa mais com sugestões erradas e que Michael Porter e os milhares de professores e defensores de Empresas de Classe Mundial, de empresas Maiores e Melhores, estavam corretos.

Nassif: a nossa oposição se matou.

Segue o excelente artigo publicado por Luis Nassif em seu blog.

A análise feita pelo Nassif me parece realmente muito boa, ainda que não concorde com todos os pontos.

Ele identifica três "entidades" (Serra, PSDB e oposição) como uma só, para depois concluir que eles foram tangidos pela mídia. No entanto, a oposição não é só o PSDB, que, por sua vez, não é só o Serra. Assim, ainda que o Serra não compartilhe com a mídia seus mantras irracionais, isso não quer dizer que o restante do PSDB e da oposição tenham apenas seguido um pensamento único a eles imposto.

A real relação entre Serra, PSDB e oposição me parece, ademais, muito mais dialética do que aquela traçada por ele. As meninas da mídia e seus comparsas bebem da fonte do próprio PSDB e da oposição, que se retroalimenta e reafirma na mídia, e assim por diante. Quanto ao Serra, acho que, nesse jogo, ele fez bem mais que calar.

Por outro lado, não concordo que a oposição, ou mesmo o Serra, tenha abandonado o barco da mídia. Além de, como disse, não achar que esse barco seja realmente só da mídia, mas comum a ela e a setores da oposição e do PSDB, não vejo sinais desse afastamento entre eles, ao menos no que tange à oposição enquanto grupo politicamente articulado. Explico.

Tenho notado, e talvez seja a isso que o Nassif se refere, que parte dos grupos sociais tradicionalmente opositores ao Lula e ao PT estão efetivamente se distanciando do discurso monocóridico e vazio adotado pela oposição partidária e pela mídia. Talvez por perceber como este discurso afastou-se da realidade e aferra-se a premissas superadas e a meras disputas por poder, tendo em vista inclusive seus próprios interesses econômicos, parte de nossa elite, antes refratária ao governo e a suas políticas, estaria se permitindo uma segunda olhada. E gostando do que está vendo.

A oposição partidária, entretanto, acho eu, se mantém tão raivosa e cega quanto antes, pregando nada, acerca de nada e, cada vez mais, para ninguém.
A oposição partidária e a mídia não enxergam o país que se move diante delas, e tampouco a movimentação da elite que acreditam ainda representar. E essa elite, ou parte dela ao menos, sim, parece ir, de fato, abandonando o barco da oposição e da mídia partidárias e suas gritarias dogmáticas, de olho num país que muda e atenta às razões políticas e econômicas desta mudança.

Por fim, já que a introdução vai ficando maior que o texto que introduz, uma última constatação. Esse fenômeno, do súicídio de nossa oposição partidária e da mídia a ela coligada, é, ao mesmo tempo, triste e perigoso.

Triste, pois uma oposição e uma mídia críticas me parecem essenciais para a criação de caminhos e o aperfeiçoamento de projetos e programas; perigoso, pois elas seriam também essenciais ao equilíbrio de poder necessário a uma democracia.


Um dos fenômenos mais ridículos dessa longa noite de insanidade política dos últimos anos, foi a terceirização da política pelo PSDB (clique aqui para ler post sobre o tema).

Aqui analisei esse fenômeno, que é facilmente explicável:

José Serra assumiu a herança de FHC. Juntos, vieram colunistas políticos e econômicos adeptos da internacionalização, do suposto papel civilizatória dos mercados, do racionalismo vesgo contra qualquer forma de gastos sociais, tendo como tacape um iPod que repetia mantras, slogans e refrões. Jamais conseguiram entender o pais como um todo, composto de mercados eficientes, sim, mas também de políticas públicas, políticas sociais, indústria, agricultura, movimentos sociais.

As idéias de Serra não batiam com o reducionismo deles. Em vez de cumprir o papel de líder, convencendo-os de que os tempos mudaram, de que esse neoliberalismo exacerbado era coisa velha até para os mercadistas empedernidos, que política e política econômica são feitas com pragmatismo e não com ideologização de porta de banco de investimento, o neo-Serra decidiu não entrar em nenhuma dividida. E se eximiu da função básica de qualquer candidato a líder: fornecer o fio condutor das idéias capaz de organizar o discurso de seus liderados.

Com o campo das idéias em aberto, sem ninguém para os coordenar, a comitiva midiática desembestou. Imersos em um ataque continuado de megalomania, colunistas se viram como os novos heróis da civilização cristã ocidental, que fez com que as meninas daqui, colunistas culturais e de variedades dali, colunistas políticos e econômicos, até cronistas de costumes, poetas e produtores musicais do eixo Paulista-Ipanema se transmudassem em condutores de povos. Disseminando o quê? Slogans, preconceitos e fel.

Imagino meus amigos colunistas políticos e econômicos em um palanque lavando as mãos com álcool depois de cumprimentar qualquer um do “povo” – aliás, único ponto em comum com Serra. Só o fato de se lembrarem que um dia foram povo já os deixa com crises existenciais profundas. E foram eles que passaram a “ensinar” ao PSDB como falar para o povo e como falar para a elite.

No continente, todas as políticas neoliberais geraram derrotas políticas estrondosas e o advento de governos populares (como Lula), ou populistas (como Chávez). No campo popular, essa insensibilidade sepultou partidos e governantes. No campo dos conceitos, o neoliberalismo virou pó com a eclosão da crise. E nossos condutores de povos, conhecendo apenas o ambiente restrito e auto-referenciado de suas fontes, pretendendo orientar a oposição sobre como se comunicar com o Brasil. Mal conhecendo a Avenida Paulista e o Itaim, queriam expelir regras para o país. O Brasil se tornou o museu da cera desse neoliberalismo de orelha de livro.

Agora, caiu a ficha da oposição. E as meninas, impossíveis, passam a puxar a orelha de todo mundo, do governador A, que teve um gesto de gentileza aqui; do B, que compareceu a uma cerimônia com Lula ali; do C, que não xingou o Judas do presidente acolá.

A oposição abandonou os condutores de slogans. Porém, tarde demais para reconstruir seu discurso político.

O grande desafio, daqui para frente, será a construção de uma nova oposição, provavelmente de centro-direita – elemento fundamental para o aprimoramento das instituições nacionais. A atual, morreu. Ou melhor, suicidou-se.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Terra Magazine: as bolhas, suas causas e seus efeitos para leigos.

Segue o artigo de Carlos Drummond para o Terra Magazine, com grifos meus.
Carlos Drummond
De Campinas (SP)

À luz da história das crises financeiras, a taxação recente das aplicações externas no Brasil para evitar a formação de bolhas - como justificou o ministro da Fazenda, Guido Mantega - é correta. Toda bolha financeira é, por definição, insustentável e quando estoura, isto é, quando chega ao fim, prejudica sempre com maior intensidade os grupos sociais mais fracos. Mas nem toda bolha resulta em inovação tecnológica, novos ativos produtivos ou melhora da infraestrutura.

As bolhas são caracterizadas por mudanças relativamente rápidas das condições de funcionamento do mercado, provocando um distanciamento incomum entre os preços dos ativos - ações, imóveis ou outros bens - e as suas médias históricas. A alteração expressiva de preços em curto espaço de tempo costuma produzir euforia e o abandono, pelos participantes do mercado, da análise racional de risco.
Sob entusiasmo contínuo dos aplicadores, o mercado parece ter um só lado e uma única opinião. Há uma indiferença à razão, nas palavras do jornalista financeiro Roger Lowenstein. O risco aumenta e o tamanho do desastre cresce na mesma proporção.

A crise financeira e econômica detonada no final de 2008 nos Estados Unidos assinala o desfecho de duas bolhas consecutivas de hipervalorização: de ações de tecnologia e de imóveis, ambas acompanhadas de manipulações, falcatruas e falências de empresas e de indivíduos. O final repetiu o script de todas as bolhas: desemprego, despejo e dilaceração da base da sociedade.

A bolha das ações de empresas de tecnologia (ou empresas "ponto com") na década de 1990 produziu a expansão da internet ao custo de uma recessão de média intensidade e teria sido mais positiva que negativa. A bolha das hipotecas subprime, detonada no ano passado, deixou apenas um rastro de destruição.

A formação de uma bolha de aplicações financeiras externas hoje no Brasil dificilmente teria consequências positivas além da valorização dos papéis, benéfica para os seus detentores. Diferente é o efeito dos investimentos estrangeiros diretos encaminhados para inovações tecnológicas, ampliação de capacidade produtiva ou de oferta de serviços. Esses não foram atingidos pela taxação.

A sucessão mais recente de bolhas tomou forma em meados da década de 1990, no governo de Bill Clinton, que definiu a meta de cortar o déficit do Tesouro. A medida resultaria em redução das taxas de juros, que conduziriam a um aumento do consumo de bens duráveis como carros e eletrodomésticos, construção de residências e investimentos empresariais.

Com juros baixos, a economia passou a crescer mais rapidamente. Eram os primórdios da chamada Nova Economia, impulsionada pela difusão do uso de computadores e da internet, marcada por uma ascensão vertiginosa seguida de uma queda arrasadora do mercado das ações "ponto com", das empresas do setor.

O índice da National Association of Securities Dealers Automated Quotation System - NASDAQ, bolsa de negociação das ações de empresas de tecnologia da Nova Economia, subiu 42% em 1995 e 22% em 1996, ano em que Greenspan comentou a "exuberância irracional" do mercado de ações.

A onda altista continuou após a reeleição de Clinton. O NASDAQ subiu mais 22% em 1997 e 40% em 1998.

A transição da bolha estourada das ações para a do mercado imobiliário foi rápida. Quando os preços das ações subiram, muitos investidores usaram os ganhos obtidos para adquirir casas. Como o estoque de residências era relativamente estável, o aumento das aquisições pressionou os preços para cima.

Este foi um dos fatores que permitiu passar-se, quase sem interrupção, de uma bolha para outra.
O Fed teve um papel fundamental no processo. Depois da queda da bolsa, reduziu-se as taxas de juros parao seu ponto mais baixo em 50 anos, o que contribuiu para sustentar a alta de preços no mercado de residências, que já estava supervalorizado.

No seu depoimento ao Congresso em 2002, Greenspan assegurou que inexistia uma bolha no mercado imobiliário. Os números evidenciavam uma outra realidade. Os preços nesse segmento, que entre 1953 e 1995 haviam acompanhado a inflação, de 1995 a 2006 subiram mais de 70%, descontada a inflação.

As importações da Ásia, em especial as da China, mantinham a inflação baixa. O Fed garantia juros baixos. O mercado financeiro havia criado um arsenal de instrumentos inovadores. Tudo concorria para manter o crescimento do mercado imobiliário. A bolha continuava inchando. Muitas autoridades - a começar por Greenspan -, empresários e economistas sabiam que um dia estouraria, mas agiam como se a bonança aparente pudesse perdurar por tempo indefinido.

Enquanto as remunerações milionárias dos dirigentes das instituições permaneciam intocadas, as famílias estadunidenses perdiam perto de US$ 5 trilhões, cerca de US$ 70 mil por proprietário de residência, em consequência do estouro da bolha. Entre 2002 e 2006 os preços reais das residências estavam nada menos do que 70% acima da média dos últimos 100 anos.

Os Estados Unidos, "a terra das bolhas", segundo o escritor e banqueiro Charles A. Morris, conhecem esses movimentos pelo menos desde o século 19, quando surgiram várias delas na esteira de inovações tecnológicas e de avanços da economia.

Carlos Drummond é jornalista. Coordena o Curso de Jornalismo da Facamp.

Carta Maior: barrar a revisão dos índices de produtividade rural é o verdadeiro objetivo da CPI do MST, diz Gilson Caroni Filho.

Segue o artigo de Gilson Caroni Filho, publicado pela Agência Carta Maior, com grifos meus.
Gilson Caroni Filho

O campo ideológico das entidades que representam os proprietários de terra está unido em torno de um ponto: barrar a revisão dos índices de produtividade rural, mantendo os dados defasados do IBGE, que datam de 1975, como parâmetro para as desapropriações. A iniciativa é tão clara que só uma cobertura midiática enviesada pode ocultar sua real intenção: bloquear qualquer possibilidade de reforma agrária.

A CPI do MST no Congresso é a resposta dos setores mais reacionários da sociedade brasileira a uma conjuntura política que, ao contrário das anteriores, facilita o processo de emancipação dos trabalhadores rurais da tutela do proprietário da terra, permitindo-se pensar em projetos de democracia moderna no Brasil.

É importante lembrar que apesar de a repressão no campo não ter recuado - em alguns casos até houve agravamento - o aumento do espaço do debate político favorece o atendimento de demandas legítimas de movimentos sociais que, desde os anos 1980, se organizam pelas bases, assumindo um protagonismo salutar. Assim, como força reativa, o esforço de criminalização do MST obedece a um antigo procedimento ideológico, precisamente diagnosticado pelo sociólogo José de Souza Martins:
"demonstrar que a causa eficiente dos conflitos e lutas pela terra está na ação dos grupos e partidos comprometidos com a tese da reforma agrária", ocultando a violência do próprio capital, dos grileiros que, tal como a Cutrale, recebem incentivos financeiros e econômicos.

Caiado e Kátia Abreu, entre outros representantes do atraso, sentem saudades de antigos pactos políticos, pelos quais a burguesia (nacional e estrangeira), através de ampla aliança com diversificados setores civis e militares, atualizava seu modelo de desenvolvimento, mantendo as classes subalternas em seu lugar. Convém lembrar que não só os trabalhadores rurais foram atingidos pela política de extermínio desse bloco de poder. Também os povos indígenas se defrontaram com essa frente capitalista de destruição humana que teve (e tem) amplitude nacional.

Não devemos esquecer que a UDR de Ronaldo Caiado fez sucesso junto aos grandes e pequenos proprietários defendendo a propriedade da terra em si. Seus métodos políticos sempre primaram pela clareza e truculência. Em 1987, realizou um leilão de dez mil cabeças de gado de corte e reprodutores, e cavalos da raça manga-larga com o objetivo de mostrar aos constituintes a força do latifúndio, evitando que a Reforma Agrária fosse aprovada pelo plenário. Entre os que não concordaram com seus métodos, comentou-se, à época, que Caiado desestabilizou lideranças de cooperativas em todo o país para eleger pessoas ligadas à UDR.

Há quem acredite que os protagonistas da decantada "modernidade rural" teriam trocado o radicalismo da União Democrática Ruralista pelo diálogo em busca de resultados. Em artigo publicado aqui mesmo, em 8 de março de 2006, Maurício Hashizume apresentou os resultados da “dialogicidade” dos donos da terra:
"Nos últimos 20 anos, 1,5 mil lideranças de trabalhadores rurais foram mortas em conflitos no campo, de acordo com números da Contag. Desse total somente 76 casos foram julgados e apenas em 16 deles houve condenação."

No plano institucional o cenário não é alentador. Os planos do governo para controlar a CPI do MST devem esbarrar na capilaridade dos interesses rurais em diversas bancadas. Hoje, "para neutralizar os avanços da esquerda", ruralistas e industriais estão unidos em diversas partidos, alguns da base aliada. O braço parlamentar do extermínio deve mostrar sua força nas críticas aos sem-terra e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Aos que acenavam com voluntarismo sobre a política de alianças, esses dados devem levar a uma inflexão.

É hora da parcela progressista da sociedade civil reabrir as portas da história para que esse processo não tenha continuidade. De um lado estão trabalhadores assalariados, posseiros e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) como vítimas de toda sorte de violência. De outro, os mandantes, atores vinculados à produção em grandes propriedades, representando os interesses de sua classe. E é na fria lâmina dessa dialética que devemos intervir com firmeza e precisão.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

Agência Brasil: OIT diz que programas sociais do governo Lula são exemplo no combate ao trabalho escravo infantil.

Seguem duas matérias, uma da Agência Brasil e a outra da BBC Brasil, ambas com grifos meus.

A segunda matéria não vai junto para comparar os dois países. Intuitivamente, é possível imaginar que os números de trabalho e exploração infantil no Brasil sejam maiores que nos EUA. Juntei as duas matérias apenas para mostrar que exploração infantial não uma coisa que ocorra “só no Brasil mesmo”, como gostamos (infelizmente) de repetir sobre toda e qualquer de nossas gravíssimas mazelas

Brasil é exemplo no combate ao trabalho escravo infantil.
Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), são apontados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como modelos que devem ser seguidos. O levantamento detalhado sobre o trabalho infantojuvenil no Brasil também deve ser tomado como exemplo pelos países vizinhos. Dados recentes indicam que há cerca de 4,3 milhões de crianças e adolescentes em atividades ilegais no território brasileiro, mas com tendência à redução.

O coordenador do Programa para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, Renato Mendes, disse hoje (26) que, em geral, as crianças e os adolescentes em situação de trabalho escravo têm atividades voltadas para a agricultura familiar, domésticas e comércio urbano no Brasil.

De acordo com Mendes, os estados do Piauí, Maranhão e Tocantins são os que apresentam os números mais expressivos do país. “Mas os últimos dados indicam que os números estão caindo no Piauí e Maranhão e infelizmente tendo elevação no Tocantins”, disse ele.

A diretora do Programa Internacional para Erradicação do Trabalho Infantil, Michelle Jankanish, destacou o esforço do governo federal no combate ao trabalho escravo entre crianças e adolescentes. Para ela, o “Brasil conseguiu gerar novas competências e aumentar os esforços” para eliminar o problema.

Michelle se referiu indiretamente ao Programa Bolsa Família (PBF), que é de transferência direta de renda destinada a atender famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70).

Para a OIT, outro exemplo de programa bem-sucedido é o Peti. O programa tem como objetivo contribuir para a erradicação de todas as formas de trabalho infantil no país, atendendo famílias cujas crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos se encontrem em situação de trabalho.

Nesta segunda-feira (26), o governo do Brasil e de mais quatro países - Bolívia, Equador, Paraguai e Timor Leste – assinaram projetos de cooperação com o apoio da OIT e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que vai repassar US$ 2 milhões para que executem as propostas conjuntas.

*****
BBC Brasil

O FBI, a polícia federal americana, anunciou nesta segunda-feira que resgatou 52 crianças e adolescentes explorados sexualmente no país durante uma operação que durou três dias. Foram presas quase 700 pessoas, incluindo 60 agenciadores de prostituição infantil.

Mais de mil agentes do FBI e policiais participaram da operação, realizada em dezenas de cidades americanas. Os agentes realizaram investigações e prisões em inúmeros locais, entre eles cassinos, paradas de caminhões e na internet.

Dez anos

A polícia afirma que a criança mais jovem resgatada tem dez anos de idade. "A prostituição infantil continua a ser um problema grave de nosso país, evidenciado pela quantidade de crianças resgatadas", disse Kevin Perkins, diretor-assistente do FBI.

Desde 2003, a divisão do FBI batizada de Força Tarefa Inocência Perdida já resgatou quase 900 crianças exploradas sexualmente. Mais de 500 pessoas foram subsequentemente condenadas em conexão com os crimes e US$ 3,1 milhões, apreendidos.

Agência Brasil: Representante da ONU elogia polícia comunitária no Rio e pede políticas de prevenção.

Segue a matéria da Agência Brasil, com grifos meus.

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O coordenador do Programa Cidades Mais Seguras das Nações Unidas (ONU), Elkin Velásquez, elogiou hoje (26) o projeto de policiamento comunitário nas favelas do Rio de Janeiro, mas acrescentou que é preciso fazer uma avaliação constante do seu processo de implantação em outras favelas. Velásquez está no Rio e visitou, no final de semana, o projeto do Morro da Babilônia, na zona sul da cidade, uma das cinco favelas cariocas que contam com o novo tipo de policiamento.

O policiamento comunitário prevê o fim do controle da favela por criminosos, com sua ocupação em tempo integral pela polícia, e também uma proximidade maior dos policiais com os moradores dessas áreas.

“Tive uma excelente impressão da comunidade de Babilônia. Pude constatar que é um processo que está no início, mas que está avançando bem, com uma presença constante da polícia e do Estado nessa comunidade. Pelo que pude conversar, é uma comunidade que demandava, solicitava e pedia essa presença permanente”, disse.

Para Velásquez, no entanto, é preciso haver uma análise e avaliação constante do projeto, ao levá-lo a outras comunidades do estado. “Quando se multiplica uma experiência piloto positiva, sempre é necessária uma análise detalhada do que ocorre em outras favelas. É preciso fazer essa multiplicação sob um processo de avaliação constante, por parte das comunidades, das autoridades e de acadêmicos, para saber que ajustes são necessários.”. Velásquez não quis comentar as políticas de enfrentamento adotadas pelo governo do Rio de Janeiro. Ele explicou que não conhece, a fundo, o que acontece no estado. Mas, segundo ele, toda política de coerção policial precisa ser feita de acordo com princípios de direitos humanos e que as polícias devem sempre reduzir, ao máximo, as mortes em confrontos.

Ele afirmou ainda que, para alcançar níveis melhores de segurança até as Olimpíadas 2016, é preciso que o Rio de Janeiro invista na prevenção da criminalidade. E isso, segundo Velásquez, inclui intervenções sociais, econômicas, culturais e urbanas.

Ainda de acordo com o oficial da ONU, é necessária a liderança das autoridades, a participação das próprias comunidades no planejamento das políticas e a busca de resultados concretos.

De acordo com ele, muitas vezes as autoridades focam mais suas atenções para as facções criminosas e para os chefes dessas quadrilhas e se esquecem de atacar a vulnerabilidade das comunidades, das instituições e do sistema econômico e social.

Viomundo: Com um requerimento tão genérico, a CPI poderá investigar também evasão de divisas, crime organizado, grilagens de terra e as contas das entidades patronais do agronegócio, diz Dr. Rosinha.

Copiado do Viomundo.


Uma CPI do ódio de classe

por DR. ROSINHA*

Contra o desejo raivoso dos ruralistas anti-MST, vamos mais uma vez comprovar a legitimidade do movimento e da agricultura familiar

A constituição de uma CPI mista para investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cogitada a partir do desejo raivoso dos ruralistas e viabilizada graças ao apoio ostensivo da mídia privada, é reflexo da influência que setores conservadores ainda mantêm sobre a sociedade brasileira.

Também é sintoma da fragilidade de parte da base de apoio do governo Lula, formada por alguns parlamentares sem compromisso com o governo que dizem apoiar.

Com uma atuação internacionalmente reconhecida, o MST foi recentemente classificado pelo intelectual norte-americano Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, como "o mais importante movimento de massa do mundo".

A quem interessa criminalizar o MST? A quem interessa demonizar um movimento social com 25 anos de serviços prestados à justa causa da reforma agrária?

A resposta é simples: aos latifundiários e aos grandes detentores do capital financeiro, nacional e transnacional, que controlam boa parte da agricultura no país.

Os dados do censo agropecuário do IBGE, divulgados há poucas semanas, revelam que menos de 15 mil fazendeiros são donos de mais de 98 milhões de hectares. Em termos percentuais, 1% dos proprietários rurais detém a titularidade de 46% da terra no país.

O que incomoda a bancada ruralista e os setores por ela defendidos no Congresso é o fato de o MST simplesmente existir. E lutar pela distribuição das terras no campo.

Aos olhos dos ricos, os pobres não têm o direito de se organizar, de se manifestar em defesa de seus direitos.

Além de criminalizar o MST, os ruralistas desejam adiar a reforma agrária. Ao se contrapor, por exemplo, à revisão dos índices de produtividade —medida determinada em lei— demonstram todo o caráter reacionário e ilegal de sua posição.

Esses índices determinam se uma fazenda é ou não improdutiva. Criados em 1975, estão defasados. Não levam em conta os avanços tecnológicos da agricultura, o que facilita aos fazendeiros alcançar os indicadores mínimos e evitar desapropriações.

A legislação brasileira determina o seu ajuste "periódico". Com novos índices, o número de imóveis que não cumprem sua função social disponíveis para a reforma agrária cresceria no país.

Sem discurso diante do sucesso do governo Lula, os três principais partidos de direita hoje no Brasil, DEM, PSDB e PPS, estão desnorteados, à procura de alguma tábua de salvação para se agarrar. Assim como em outros episódios, tentam da fazer da CPI do ódio de classe contra o MST um palanque eletrônico, com vistas à eleição de 2010.

O MST já afirmou que não teme a CPI. O Partido dos Trabalhadores e o governo, também não.

Com um requerimento sem fato determinado, que de tão genérico permite a investigação desde cooperativas em geral até evasão de divisas, passando pelo crime organizado, grilagens de terra e uma infinidade de outros temas, a comissão pode vir a se debruçar, entre outros casos, sobre as contas das entidades patronais do agronegócio.

Sabemos que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), duas entidades patronais, receberam mais de R$ 1,1 bilhão em recursos públicos entre 2000 e 2006. E que parte desses recursos foi utilizada ilegalmente pelas federações que representam os interesses dos fazendeiros.

Que tal investigarmos também o cartel internacional das indústrias de suco de laranja, liderado pela Cutrale, que atua em terras públicas griladas no Estado de São Paulo?

Embora tenha sido minimizado pela mídia, é público o fato de que há cerca de uma década o Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) reivindica na Justiça a posse da fazenda Santo Henrique, ilegalmente ocupada pela Cutrale.

Contra o ódio de classe dos ruralistas e de sua raiva anti-MST, vamos mais uma vez comprovar a legitimidade do movimento e da agricultura familiar, como contraponto ao latifúndio e ao agronegócio.

O IBGE já comprovou que, dos produtos consumidos pelos brasileiros, 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite, 46% do milho e 34% do arroz são produzidos pelos pequenos agricultores.

Apesar de as propriedades com menos de dez hectares ocuparem apenas 2,7% da área total dos imóveis rurais, a agricultura familiar gera 74,4% dos empregos no campo.

Toda denúncia deve ser investigada pelos órgãos competentes. Sim à reforma agrária, não à criminalização dos movimentos sociais.

*Dr. Rosinha, deputado federal (PT-PR), é coordenador da Frente da Terra, que defende a reforma agrária no Congresso Nacional.

Bloomberg: as perspectivas de crescimento econômico para o Brasil são possivelmente as melhores das últimas décadas, diz a Goldman Sachs.

Segue a matéria da Bloomberg, com grifos meus e em péssima tradução minha.

By Paulo Winterstein

26 de outubro (Bloomberg) - As ações brasileiras não estão caras, mesmo depois do índice Bovespa subir 73% neste ano e cortar posições pode ser "perigoso" para os investidores, disse a Goldman Sachs Group Inc.

Avaliações prévias sugerem que é arriscado ser 'underweight' em Brasil", Stephen Graham, um analista de São Paulo escreveu em uma nota aos clientes. "O risco soberano brasileiro e as taxas de juros estão em ou perto dos recordes mínimos, enquanto as perspectivas de crescimento econômico sustentável são possivelmente melhores do que em qualquer período nas últimas décadas."

A Bovespa pode chegar aos 85.000 pontos até meados do próximo ano, ele escreveu. Isso representa um ganho de 31% desde o encerramento em 23 de outubro. O índice de negócios está em 16,5 vezes os lucros estimados, em comparação com 17,16 vezes para o MSCI Latin America Index, de acordo com dados da Bloomberg.

O lucro por ação provavelmente vai crescer 46% no próximo ano e 23% em 2011, o que significa que as avaliações futuras permanecerão estáveis, mesmo que o índice suba para 85.000, escreveu Graham.

O índice oscilou pouco hoje, subindo menos do que 0,1% para 65,085.55 em São Paulo.

A Bovespa está pronta para seu maior ganho anual em seis anos enquanto a economia se recupera da primeira recessão desde 2003, amparada pelo recorde de juros baixos e pelo aumento da demanda doméstica. Os economistas prevêem que o PIB do Brasil aumentará 4,8% no próximo ano, após crescer 0,18% em 2009, segundo a previsão média em outubro num levantamento do Banco Central em cerca de 100 analistas publicado hoje.

'Baby Boom'

Um "baby boom" na década de 1980 significa que consumidores na faixa dos 20 anos estão entrando agora no mercado com o "volumes de crédito nunca antes disponíveis", aumentando a demanda no mercado interno do Brasil, escreveu ele.

O crescimento da população poderá elevar o Brasil a terceiro mercado mundial de computadores e telefones ano que vem, escreveu Graham. A estabilidade financeira do país levou a 77% de crescimento em contas bancárias em sete anos e a um crescimento de 18% no número de cartões de crédito desde 2001, escreveu o estrategista.

Os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016 provavelmente vão acelerar o financiamento para projetos necessários de infra-estrutura, escreveu Graham. O Brasil está assistindo "alguns dos maiores projetos de transmissão de energia, gasodutos, hidrelétricas, e de telecomunicações em curso no mundo", enquanto a atenção global dos eventos desportivos coloca o governo sob pressão para acelerar o ritmo da construção, ele escreveu.

Maior economia da América Latina, tem também uma vantagem sobre as outras nações produtoras de commodities porque vende a China, que cresce rápido, em vez de depender das vendas para mercados de crescimento mais lento na Europa e os EUA, escreveu Graham.

Nassif: Bolsa Família é culpada pela incompetência de O Globo.

Copiado do Blog do Nassif.

Acho que, por incrível que pareça, raras vezes nossa imprensa produziu tamanho absurdo. Lógica, causa e efeito são alguns dos conceitos básicos subvertidos por essa peça publicitária. Sim, porque jornalismo isso não é.


Mais uma obra-prima da era Ali Kamel-Rodolfo Fernandes em O Globo (Meu Deus!, um jornal que há dois anos caminhava para ter um padrão de qualidade internacional).

1. Regiões mais ricas têm mais emprego formal.

2. Regiões mais pobres, menos emprego formal.

3. A Bolsa Família se destina às famílias mais pobres. Onde existe menos emprego formal, existe mais Bolsa Família. Onde existe mais emprego formal, menos Bolsa Família.

4. Logo…. Esqueça o “logo”. A lógica Rodolfo-Kamel não é socrática.

Manchete de O Globo de hoje:

Em cidades onde o programa beneficia 71% das famílias, trabalho chega a 1,3% da população
Criado para reduzir a miséria, o Bolsa Família, maior programa social do governo federal, não gerou empregos no interior do país. Em 85 municípios onde o programa atinge em média 71% das famílias, o emprego com carteira assinada só alcança 1,3% da população. Em Presidente Vargas, no Maranhão, onde 80% das famílias são atendidas pelo programa, empregos formais são contados nos dedos de uma mão: 4, para 10,2 mil habitantes, relatam os enviados REGINA ALVAREZ e SÉRGIO MARQUES. Gestores reconhecem que o programa pode levar à acomodação e que é difícil fazer funcionar as chamadas portas de saída. E a baixa escolaridade, aliada à falta de capacitação, dificulta o crescimento profissional. Páginas 3 e 4 (clique aqui para ler esse Prêmio Pullitzer do jornalismo tupiniquim)

Donde se conclui:

1. 100% das matérias que O Globo escreve sobre O Bolsa Família tem conclusões manipuladas e viés ideológico furado, piorando ainda mais a baixa qualidade do jornal.

2. Logo, é a Bolsa Família quem emburrece O Globo.

PS – A matéria é honesta. A manipulação é da primeira página e dos títulos.

Correio Braziliense: Governo Lula Governo multiplica recuperação de recursos públicos desviados.

Segue matéria do Correio Braziliense, com alguns grifos meus.

Atuação mais agressiva da AGU é o fator principal para a recuperação
Lúcio Vaz

Publicação: 25/10/2009

A União começa a ter sucesso na recuperação do dinheiro público desviado por empresas, servidores e políticos corruptos. Dos valores ressarcidos a partir de 2003, cerca de R$ 1 bilhão, exatos R$ 774 milhões (77% do total) correspondem ao período entre 2007 e agosto deste ano. Aumentam a cada ano os recolhimentos referentes a condenações impostas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por fraudes em convênios. Foram apenas R$ 2,6 milhões em 2004. Chegaram a R$ 93 milhões em 2006 e alcançaram R$ 357 milhões no ano passado. Mas a batalha ainda está longe de ser vencida. O percentual de recuperação do dinheiro desviado dos cofres públicos, que ficou na média de 2% nos últimos 10 anos, está agora em torno de 10%.

O Ministério Público no TCU, responsável pelo acompanhamento das execuções, considera que a maior eficiência resulta de dois aspectos: atitude diferenciada e reestruturação da Advocacia-Geral da União (AGU). "O que não havia era vontade política. Muitos dos condenados, inclusive, tinham origem na política. Uma boa parte era de prefeitos", afirma o procurador do TCU Marinus Marsico.

Ele também destaca a reestruturação da AGU nos últimos dois anos: "Isso propiciou um incremento significativo nos recolhimentos. Hoje, a AGU destina mais de 100 advogados exclusivamente para cuidar de cobranças de ações de improbidade. Quando você tem essa atenção toda, obviamente os resultados aparecem. O perfil da cobrança é difícil porque o tribunal condena pessoas do Oiapoque ao Chuí. É preciso uma logística e uma organização muito grandes".

A demora na tramitação dos processos do TCU também dificulta o ressarcimento. "Com certeza, o princípio constitucional do direito de ampla defesa proporciona uma série de recursos que, muitas vezes, julgamos desnecessários. Os acusados os usam apenas para adiar decisões. E, quanto mais demora o processo, mais difícil é a cobrança, mais fácil fica para os responsáveis se desfazerem de seus bens e evitar que a recuperação tenha sucesso", complementa Marsico.

Combate permanente

O primeiro relatório do Grupo Permanente de Combate à Corrupção, formado pela AGU, traz os números e as novas metodologias utilizadas na recuperação do dinheiro desviado. De janeiro a agosto deste ano, foram ajuizadas 1.769 ações, no valor total de R$ 441 milhões. As 1.022 ações de execução das decisões do TCU somaram R$ 112 milhões. As 221 ações de improbidade administrativa que tiveram a União como assistente somaram R$ 241 milhões. As ações de improbidade em que a União aparece como autora somam apenas R$ 11 milhões.

Nas ações com base nas condenações do TCU, 131 réus eram prefeitos e outros 176 eram ex-prefeitos. O número de servidores e ex-servidores chegou a 34. No grupo, havia 33 empresas e 22 pessoas físicas. Nas ações de improbidade administrativa movidas pela União, havia 165 servidores públicos, 114 prefeitos e ex-prefeitos, 74 empresas e 69 empresários.

O relatório considera o bloqueio dos bens dos réus como "medida indispensável para a garantia do ressarcimento ao erário nas ações de improbidade". O Grupo de Combate à Corrupção diz que o dado mais relevante do relatório refere-se aos valores ressarcidos à União a título de honorários, indenizações e convênios desde 2003 até 21 de agosto deste ano

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Jus Navigandi: a estranha fala do representante da Fazenda paulista, segundo Kiyoshi Harada

Segue artigo do professor Kiyoshi Harada para o Jus Navigandi.

Tá certo: todos nós sabemos que a questão dos precatórios não é um problema só em São Paulo. Mas, talvez, ali seja um dos poucos lugares em que o governante, se tiver um mínimo de senso de ridículo, não pode colocar a culpa pela dívidas não pagas nas costas de seu antecessor. Afinal, são, o que, 14 anos seguidos de governos do PSDB?

Catorze anos no governo do estado mais rico da nação e eles foram incapazes de botar os precatórios em ordem. É essa a tão acalentada gestão tucana?

E o que dizer do graduado funcionário da fazenda pública tucana, que parece desconhecer dispositivo constitucional acerca da sua área de atuação?

Kiyoshi Harada - jurista, professor e especialista em Direito Financeiro e Tributário pela USP

Li na Folha de São Paulo a estranha entrevista do senhor coordenador da CAT da Fazenda Paulista reclamando contra aumento dos pedidos de compensação do ICMS com créditos de precatórios.

Alegou que quanto maiores as dificuldades das empresas para solver os tributos, maior o número de pedidos de compensação com precatórios, o que nos faz lembrar do vetusto Conselheiro Acácio ou do lendário Sherlock Holmes.

Porém, o que mais causa espanto é o fato de o porta voz da Fazenda chamar de oportunistas as empresas que adquirem os precatórios, com deságio de até 75% e afirmar que não há lei que permita o contribuinte a usar precatórios para pagar o ICMS.

O leigo pode até pensar que aquele servidor público está fazendo a defesa do precatorista, obrigado a vender o seu crédito por um preço vil e humilhante. Na realidade, trata-se de uma questão de sobrevivência. Mais de 50.000 pessoas já morreram na fila de precatórios. É muita estranha essa fala, para dizer o mínimo, pois é exatamente a Fazenda caloteira que está conduzindo a essa situação atentatória à dignidade da pessoa humana. Tanto é que essa questão já foi levada ao Tribunal de Direitos Humanos da OEA, em face da inércia de nossas instituições e autoridades empenhadas em dar mais calotes. Vejam-se as Pecs 12, 351 e 395 em discussão no Congresso. Quem, afinal, é o responsável pelo mercado negro de precatórios? Se para pagamento de ICMS a lei concede um certo prazo, para pagamento de precatório alimentar a Constituição determina pagamento imediato.

Outrossim, a compensação de tributo com precatório independe de regulamentação legal, pois é auto-aplicável o § 2º, do art. 78, do ADCT que confere o poder liberatório do pagamento de tributo tão só pelo advento da parcela de precatório descumprida.

Alegou-se, também, que os usuários de precatório são empresas de grande porte que poderiam pagar seus impostos em dinheiro. Ora, se assim é por que o Estado de São Paulo, o mais rico da Federação detendo o segundo maior orçamento do País não paga seus precatórios?

Longe de criticar, a Fazenda deveria estar agradecida com essas oportunas compensações que induzem ao atingimento do principal objetivo da Lei de Responsabilidade Fiscal que é a busca do equilíbrio orçamentário mediante liquidação do passivo, representado por milhares de condenações judiciais. Sem o poder liberatório dos precatórios os governantes não conseguirão se desvencilhar da obcecada idéia de continuar programando, metódica e periodicamente, o desvio de parte considerável das verbas pertencentes ao Judiciário para outros fins. Já tivemos oportunidade de escrever que para atender as prioridades da administração o governo só pode remanejar verbas pertencentes ao Poder Executivo. É uma decorrência do princípio da separação dos Poderes. Chegará um dia em que esses precatórios, hoje batizados de "impagáveis", tornar-se-ão de fato impagáveis mesmo sem os costumeiros desvios.

Congresso em Foco: "a mídia dominante não tem mais espaço para esconder os interesses que representa, nem vergonha em se desfazer duma neutralidade que nunca existiu", segundo Márcia Denser.

Segue o artigo de Márcia Denser para o Congresso em Foco.

Márcia Denser

A convivência do governo Lula com a grande mídia não tem sido nada fácil. Desde 2002 já se vão sete anos, e os ataques são tão constantes, tão previsíveis e sempre absurdamente os mesmos que já nos acostumamos a pular cotidianamente tais partes, botando sob suspeita simplesmente TUDO o que ela declara – tantos foram os exageros e desmentidos e besteiras e alucinações – enfim, o delírio que a direita elevou à categoria política. Previsivelmente, o governo democrata de Barak Obama recentemente foi atacado massivamente pelos ultra-radicais da direita norte-americana, contrária à reforma de saúde proposta por ele, tendo à frente o grupo Fox. Aliás, a nossa mídia saturou-se desse assunto esta semana, inclusive capa de Carta Capital: “A vida de Obama não tem sido nada fácil etc.” Lula que o diga, veterano dessa merda há sete anos.

Mas a defesa do livre mercado na saúde nos EUA é só a ponta do iceberg do ataque midiático. Embaixo se entrelaçam o fanatismo e o dinheiro da direita republicana, dentro e fora da mídia. Sua meta é desconstruir e imobilizar o sucessor de Bush. Não há muita diferença entre o que se passa nos EUA e a divisão de trabalho observada no Brasil, onde as rádios chutam o governo Lula abaixo da linha da cintura, os jornalões desgastam e “denunciam”, enquanto a Globo faz o seu habitual antijornalismo destinado a um público pretensamente e inteiramente constituído de idiotas.

Conforme observou Saul Leblon em Carta Maior, a repetição dos mesmos métodos e argumentos duma histérica mídia neoconservadora no mundo todo parece indicar um fenômeno de recorte histórico global. O fato é que o conservadorismo está encurralado após o fracasso econômico e político neoliberal. A falência dos mercados financeiros desregulados na maior crise do capitalismo desde 1930 já é reconhecida como um novo divisor histórico. Corroído na base de sua legitimidade pela falência de empresas, famílias e bancos, sem contar o recrudescimento do desemprego e da insegurança alimentar – inclusive nos países centrais –, o conservadorismo vê sua base social derreter. A radicalização do seu ‘braço midiático’ soa como uma tentativa derradeira de reverter o processo ainda nos marcos da democracia, desqualificando o adversário formado por partidos e governos progressistas. A radicalização é proporcional à ausência de um projeto conservador, uma vez que os neocon não têm, nem nunca tiveram, nada a oferecer à sociedade.

O fato é que acontece agora uma radicalização aberta, um embate em que a mídia dominante não tem mais espaço para esconder os interesses que representa, nem vergonha em se desfazer duma neutralidade que nunca existiu, mas da qual sempre se considerou guardiã para descartar a democratização efetiva dos meios de comunicação. A isenção já não pode sequer ser simulada.

Então vale assinalar as declarações à imprensa de Anita Dunn, diretora de Comunicações do presidente norte-americano, em resposta aos ataques recentes ao governo Obama: "A rede Fox está em guerra contra Barack Obama. Não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição. Rupert Murdoch tem talento para fazer dinheiro, e eu entendo que sua programação é voltada a fazer dinheiro. Só o que argumentamos é que seus veículos não são um canal de notícias de verdade. Não só os âncoras, mas a programação toda. Não é notícia de verdade, mas é a pregação de um ponto de vista. E nós vamos tratá-los assim".

No caso dos EUA, um país essencialmente conservador e racista, pode-se argumentar que não há grande surpresa nos ataques da Fox & cia. a um presidente negro e democrata. O que surpreende é Obama estar reagindo e com munição pesada. Mas nem tanto, afinal não foi exatamente devido a esta estratégia que ele ganhou as eleições, degradação global dos neocon à parte, funcionando como “colaboradores involuntários e a despeito de si próprios”?

É verdade que mediante a divulgação de coisas como “temos um presidente ilegítimo. Um presidente que vai acabar com a América e os americanos. Chegou o momento de agir, abaixo o governo” (panfletos distribuídos por manifestantes); “cada dia ganha mais peso a possibilidade de que os militares tenham que intervir como último recurso para solucionar o problema Obama”, escreveu o colunista do site Newsmax, fórum de encontro de extremistas na internet (na rebelião contra a reforma da saúde confluíram dezenas de organizações conservadoras, desde o Clube para o Crescimento, o Instituto para a Empresa Competitiva, até o obscuro Centro para os Direitos Individuais Ayn Rand), os serviços secretos dos EUA começaram a levar o assunto muito a sério e iniciaram uma investigação sobre uma pesquisa criada na rede social Facebook, na qual se perguntava se Obama deveria ser assassinado! (sic)

Como presidente dos Estados Unidos, Obama é o homem mais poderoso do mundo, sua reação foi até amena, razoável e diplomática, mediante o que já fizeram e disseram seus antecessores. E por muito menos.