quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Foreign Policy: atualmente, Celso Amorim é o melhor Ministro de Relações Exteriores do mundo, diz Rothkopf

Seguindo indicação do Blog do Nassif, com alguns grifos meus e em péssima tradução minha mesmo (com alguma ajuda do Google), aí vai o post de David Rothkopf no Foreign Policy.


O melhor Ministro de Relações Exteriores do mundo.

Esse pode ter sido o melhor mês para o Brasil, desde cerca de junho 1494. Foi quando o Tratado de Tordesilhas foi assinado e concedeu a Portugal tudo no mundo novo a leste de uma linha imaginária, que foi declarada existente a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Isso asegurou que o que viria a se tornar o Brasil seria Português e, portanto, desenvolver uma cultura e uma identidade muito diferente das do resto espanhol da América Latina . Isso garantiu que o mundo teria samba, churrasco, "A Garota de Ipanema", e, através de alguma cadeia incrivelmente fortuita e entrelaçada de eventos, Gisele Bundchen.

Embora o Brasil tenha levado algum tempo para superar a máxima sarcástica segundo a qual ela era "o país do futuro e sempre seria," há pouca dúvida de que o amanhã já chegou ao país, mesmo que ainda haja muito trabalho a ser feito para superar seus graves desafios sociais e tocar seu potencial econômico extraordinário.

A evidência de que algo novo e importante estava acontecendo no Brasil começou transparecer anos atrás, quando o então presidente, Fernando Henrique Cardoso, engedrou uma mudança para a ortodoxia econômica, que estabilizou um país atormentado por ciclos de altos e baixos e inflação estonteante. Ela ganhou impulso no entanto, durante todo o extraordinário período do atual presidente, Luis Inácio Lula da Silva.

Algo deste impulso se deve ao compromisso de Lula com a preservação dos fundamentos econômicos dispostos por Fernando Henrique Cardoso, um movimento político corajoso para um líder trabalhista de longa data, pertencente ao Partido dos Trabalhadores, de oposição. Algo disso é devido à sorte: uma mudança de paradigma energético mundial ajudou a fazer os 30 anos de investimentos do Brasil em biocombustíveis começarem a se justificarem em importantes novos caminhos; descobertas maciças de petróleo ao largo da costa do Brasil; e uma demanda crescente da Ásia, que permitiu ao Brasil a tornar-se um líder mundial nas exportações agrícolas e assumir o papel de "celeiro da Ásia". Mas muito desse impulso é devido à grande habilidade dos líderes do Brasil no aproveitamento de um momento com que muitos dos seus antecessores provavelmente teriam se atrapalhado.

Dentre esses líderes, grande parte do crédito vai para o presidente Lula, que tornou-se um pouco como uma estrela do rock na cena internacional, aproveitando sua energia, diligência, carisma, invulgar intuição e senso comum de forma tão eficaz, que a sua falta de educação formal mal foi impedimento. Alguns créditos vão para outros membros de sua equipe, como sua chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma ex-ministra da Energia que se tornou uma chefe de equipe muito durona e uma possível sucessora de Lula.

Mas eu acredito que uma grande parte dos créditos deveria ir para Celso Amorim, que idealizou a transformação do papel do Brasil no mundo, que quase não tem precedentes na história moderna. Ele foi ministro das Relações Exteriores de Lula desde 2003 (ele também atuou no mesmo papel na década de 1990), mas acho que há colocação justa a ser feita: a de que ele é, atualmente, o ministro de Relações Exteriores mais bem sucedido do mundo.

É impossível apontar apenas um ponto de virada nos esforços de Amorim para transformar o Brasil, de uma embaraçada potência regional de influência internacional duvidosa, em um dos jogadores mais importantes no cenário mundial, reconhecido pelo consenso global para desempenhar um papel de liderança sem precedentes. Ele pode ter ocorrido quando ele desempenhou um papel central e e ajudou a engendrar uma resposta dos países emergentes contrária a uma poderosa encenação dos EUA e da Europa durante as conversações sobre o comércio de 2003 em Cancún. Pode ter sido a forma prudente como os brasileiros usaram questões como a sua liderança em biocombustíveis para forjar novos diálogos e influência, tanto com os Estados Unidos como com outras potências emergentes. Ele ( o ponto de virada) certamente envolveu a adoção da idéia de transformar o BRIC de um acrônimo numa importante colaboração geopolítica, trabalhando com os seus homólogos da Rússia, Índia e China para institucionalizar o diálogo entre os países e coordenar suas mensagens. (Provavelmente, o BRIC mais ajudado por esta aliança é o Brasil. Rússia, China e Índia ganham todos os lugares à mesa, devido à capacidade militar, o tamanho da população, poder econômico ou de recursos. O Brasil tem todas essas coisas ... mas menos do que os outros.) Também envolveu inúmeras outras coisas, como os laços aprofundados e reforçados do Brasil com países como a China; a promoção tanto de fluxos de investimento e com de uma reputação de ser relativamente segura em face dos reverses  da economia global; o nível de conforto do novo Presidente da América com o seu correspondente brasileiro – que se extendeu a incentivá-los a desempenhar um papel de canal com, por exemplo, os iranianos. Concorde-se ou não com todos os seus movimentos, em lugares como Honduras ou OEA em Cuba, o Brasil também continuou a desempenhar um importante papel regional, mesmo que seja claro o seu foco mudou para a escala global.

Nada ilustra o ponto a que o Brasil chegou ou a eficácia da equipe de Lula-Amorim quanto os eventos das últimas semanas. Em primeiro lugar, os países do mundo rifaram o G8 e adotaram o G20, garantindo ao Brasil um lugar permanente na mesa mais importantes do mundo. Em seguida, o Brasil se torna o primeiro país da América Latina a receber o direito de sediar os Jogos Olímpicos. O FT de ontem trouxe a notícia de que "A Ásia e o Brasil lideram o aumento na confiança do consumidor", um reflexo da reputação que o governo tem efetivamente vendido (com a maior parte do crédito indo para um ressurgido setor privado brasileiro.) E as histórias desta semana, vindas  da  reunião do FMI-Banco Mundial realizada em Istambul, mostram uma maior institucionalização do novo papel do Brasil, com o acordo para alterar a estrutura do Fundo Monetário Internacional. Segundo o Washington Post de hoje: "As nações também concordaram preliminarmente em reformular a estrutura de voto no fundo, prometendo um plano para dar mais força para os gigantes emergentes, como Brasil e China, em Janeiro de 2011."

Não é um mau trabalho para alguns dias. E, apesar de ser o Ministros das Finanças do Brasil que você vai encontrar nas reuniões do FMI- Banco Mundial, o arquiteto indiscutível desta notável transformação no papel do Brasil foi Amorim.

Muito trabalho resta a ser feito, é claro. Parte disso tem a ver com o novo papel que tem sido moldado. O Brasil quer um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e mais liderança em outras instituições internacionais. Ele pode muito bem ganhá-los, mas terá de manter seu crescimento e estabilidade para chegar lá. Além disso, o Brasil parece inclinado a minimizar as ameaças regionais, tais como as decorrentes da Venezuela (brasileiros tendem a olhar de cima seus vizinhos ao norte, quase tanto como eles fazem com seus amigos da Argentina para o sul ... e, assim, subestimar a capacidade de homens como Hugo Chávez para causar muito dano.) E eles têm uma eleição chegando, que pode alterar o elenco de jogadores que, claro, podem alterar a trajetória atual de inúmeras maneiras – boas e más.

Mas é difícil pensar em outro ministro de Relações Exteriores que tenha osquestrado tão eficazmente uma transformação significativa do papel internacional de seu país. E é por isso que, se me pedissem hoje para lançar um voto no melhor ministro do mundo, provavelmente elw iria para o filho nativo de Santos, Celso Amorim.

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