segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Alberto Dines: Para a grande imprensa paulistana, violência urbana e crime organizado são "fenômenos" cariocas.

Segue o comentário de Alberto Dines, hoje, no rádio, transcrito no site do Observatório da Imprensa.

Tenho que discordar do jornalista, entretanto, pelo num ponto de sua conclusão. Tamanha equalização em sua atuação não pode demonstrar a desorganização da imprensa paulista. Ainda pelo contrário, as semelhanças na atuação de empresas que, em tese, competiriam demonstram memos muita organização – do tipo que, penso eu, só pode existir tendo em vista um fim comum.

CRIME EM SÃO PAULO
A notícia escondida
Por Alberto Dines em 9/11/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 9/11/2009

Para a grande imprensa paulistana, não existe violência urbana nem crime organizado. Estes são "fenômenos" cariocas. Para os mundaníssimos jornalões da Paulicéia, chacinas, assaltos a condomínios, arrastões, seqüestros e latrocínios são "baixarias", coisa que só interessa à "gentinha" e não aos seus qualificados leitores.

O novo e audacioso assalto a um carro-forte em Araras, perto de Campinas, ocorrido no fim da tarde da quinta-feira (5/11) só foi noticiado pela Folha de S.Paulo e pelo Estado no sábado (7).

Ao longo do dia anterior, os portais de informação da internet fartaram-se de "comer mosca", embora as rádios ao longo do dia estivessem muito ativas investigando o roubo de quase 6 milhões de reais e a primeira "bala-perdida" de que se tem notícia nestas prósperas bandas.

As autoridades policiais acreditam que os bandidos fazem parte da mesma quadrilha que, três semanas antes, em Amparo, atacou e roubou outro carro-forte também utilizando uma metralhadora pesada. Mas isto não interessou à mídia digital, a mídia da modernidade (ver "Ctrl C, Ctrl V: notícia que é bom, nada").

Olho nos anúncios

O mais grave, porém, aconteceu no domingo (8), depois que os jornalões afinal acordaram da letargia: o fato havia sumido, evaporou-se, como se nada tivesse acontecido. Como se a polícia inteira estivesse de folga, como se as redações estivessem trancadas e os jornais fechados para balanço.

No sábado, a Folha dedicou três páginas ao assalto, o Estadão usou duas, capas inclusive. A omissão do domingo não ocorreu por falta de espaço: o "Cotidiano" da Folha estendia-se ao longo de três cadernos.

Seria incúria, incompetência ou ordens do Departamento Comercial para não macular com sangue os fascinantes anúncios de lançamentos imobiliários?

Qualquer que seja a razão, está ficando claro que o Rio pode ser a capital do crime organizado. Mas São Paulo é a capital da imprensa desorganizada.

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