segunda-feira, 18 de junho de 2012

Estudo da PUC liga Bolsa Família e redução da criminalidade.

Matéria de O Globo, surpreendentemente, reconhecendo uma qualidade no Bolsa Família.


RIO e SÃO PAULO - A redução da desigualdade com o Bolsa Família está chegando aos números da violência. Levantamento inédito feito na cidade de São Paulo por pesquisadores da PUC-Rio mostra que a expansão do programa na cidade foi responsável pela queda de 21% da criminalidade lá, devido principalmente à diminuição da desigualdade, diz a pesquisa. É o primeiro estudo a mostrar esse efeito do programa na violência.

Dos arquivos do blog:


Em 2008, o Bolsa Família, que até ali atendia a famílias com adolescentes até 15 anos, passou a incluir famílias com jovens de 16 e 17 anos. Feito pelos pesquisadores João Manoel Pinho de Mello, Laura Chioda e Rodrigo Soares para o Banco Mundial, o estudo comparou, de 2006 a 2009, o número de registros de ocorrência de vários crimes — roubos, assaltos, atos de vandalismo, crimes violentos (lesão corporal dolosa, estupro e homicídio), crimes ligados a drogas e contra menores —, nas áreas de cerca de 900 escolas públicas, antes e depois dessa expansão.

— Comparamos os índices de criminalidade antes e depois de 2008 nas áreas de escolas com ensino médio com maior e menor proporção de alunos beneficiários de 16 e 17 anos. Nas áreas das escolas com mais beneficiários de 16 e 17 anos, e que, logo, foi onde houve maior expansão do programa em 2008, houve queda maior. Pelos cálculos que fizemos, essa expansão do programa foi responsável por 21% do total da queda da criminalidade nesse período na cidade, que, segundo as estatísticas da polícia de São Paulo, foi de 63% para taxas de homicídio — explica João Manoel Pinho de Mello.

O motivo principal, dizem os autores, foi a queda da desigualdade causada pelo aumento da renda das famílias beneficiadas — Há muitas explicações de estudos que ligam queda da desigualdade à queda da violência: uma, mais sociológica, é que diminui a insatisfação social; outra, econômica, é que o ganho relativo com ações ilegais diminui — completa Rodrigo Soares. — Outra razão é que muda a interação social dos jovens ao terem de frequentar a escola e conviver mais com gente que estuda.

Reforma policial ajudou a reduzir crimes

Apesar de estudarem no bairro que já foi tido como um dos mais violentos do mundo, os alunos da Escola Estadual José Lins do Rego, no Jardim Ângela, periferia de São Paulo — com 1.765 alunos, dos quais 126 beneficiários do Bolsa Família —, dizem que os assaltos e brigas de gangues, por exemplo, estão no passado.

— Os usuários de drogas entravam na escola o tempo todo — conta Ana Clara da Silva, de 17 anos, aluna do ensino médio.

— Antes, você estava dando aula e tinha gente vigiando pela janela — diz a diretora Rosângela Karam.
Um dos principais pesquisadores do país sobre Bolsa Família, Rodolfo Hoffmann, professor de Economia da Unicamp, elogia o estudo da PUC-Rio:

— Há ali evidências de que a expansão do programa contribuiu para reduzir principalmente os crimes com motivação econômica — diz. — De 20% a 25% da redução da desigualdade no país podem ser atribuídos ao programa; mas há mais fatores, como maior valor real do salário mínimo e maior escolaridade.

Professora da Pós-Graduação em Economia da PUC-SP, Rosa Maria Marques também lembra que a redução de desigualdade não pode ser atribuída apenas ao Bolsa Família:

— Também houve aumento do emprego e da renda da população. E creio que a mudança na interação social dos jovens beneficiados contou muito.

Do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, o professor Ignácio Cano concorda com a relação entre redução da desigualdade e queda da violência:

— Muitos estudos comparando dados internacionais já apontaram que onde cai desigualdade cai criminalidade.

Mas são as outras razões para a criminalidade que chamam a atenção de Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ. Misse destaca que a violência na capital paulista vem caindo por outros motivos desde o fim dos anos 1990:

— O estudo cobre bem os índices no entorno das escolas. Mas não controla as outras variáveis que interferem na queda de criminalidade. Em São Paulo, a violência vem caindo por pelo menos quatro fatores: reforma da polícia nos anos 2000; política de encarceramento maciça; falta de conflito entre quadrilhas devido ao monopólio de uma organização criminosa; e queda na taxa de jovens (maioria entre vítimas e autores de crimes), pelo menor crescimento vegetativo.

Para Misse, a influência do programa não foi pela desigualdade:

— É um erro supor que só pobres fornecem agentes para o crime; a maioria dos presos é pobre, mas a maioria dos pobres não é criminosa. Creio que, no caso do Bolsa Família, o que mais afetou a violência foi a criação de outra perspectiva para esses jovens, que passaram a ter de estudar.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/bolsa-familia-reduz-violencia-aponta-estudo-da-puc-rio-5229981#ixzz1y8ny1hZY
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terça-feira, 12 de junho de 2012

The Guradian: o Brasil deveria ter um acento permanente no Conselho de Segurança da ONU

O editorial do The Guardian em sofrível tradução minha.

Brasil: um Bric para construir junto
Brasil agora tem um PIB total maior que o Reino Unido e algo que outras nações procuram em vão: liderança sustentada

O Brasil, que abrigará a Cúpula da Terra este mês e uma Copa do Mundo e uma Olimpíada nos próximos quatro anos, vem se beneficiando de uma coisa que você procuraria em vão em grande parte do mundo: liderança sustentada. Primeiro, veio Cardoso, o sociólogo e homem de estado que colocou a economia sob controle. Em seguida, foi Lula, até agora, a melhor reencarnação de Franklin Roosevelt. Emergindo de sua sombra como uma afiada [é isso?] reformadora pragmática, veio a atual presidenta, Dilma Rousseff.

O Brasil ascendeu com a China - abastecendo-a  com soja e minério de ferro - e agora tem um PIB maior do que o Reino Unido. Lula se comparou a um mascate, vendendo mercadorias em todos os lugares; o desafio de Rousseff é destravar a produtividade e criar uma economia mais avançada.

Como os brasileiros já são muito mais ricos do que os chineses ou indianos, seria difícil se aproximar de suas taxas de crescimento. Mas existe uma possibilidade no investimento maciço em infra-estrutura e, mais importante, em educação. Dilma Rousseff terá que transpor sua popularidade e habilidade gerencial em comando sobre Congresso, para definir o ritmo.

Embora seja líder mundial em desigualdade, o Brasil também lidera o seu eficaz enfrentamento. Seus programas sociais merecidamente famosos, uma vitrine para o governo ativista, ajudaram a tirar 20 milhões de pessoas da pobreza e criar um mercado interno. Depois de muito receber sermões econômicos de qualidade variada, Brasília não tem nenhum desejo de começar a dá-los, mas assiste com apreensão as tentativas européias de reduzir a dívida sem crescimento.

Tudo isso deu ao Brasil a credibilidade para assumir um há muito cobiçado papel como uma potência global.

Particularmente sob Dilma Rousseff e seu ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, ele assumiu uma característica mistura de contenção e independência no exercício desse poder. Brasília não só duplicou seus diplomatas na última década, ela redobrou sua ênfase na diplomacia como a única maneira de "multipolaridade benigna".

Em parte, isso é o luxo de um bairro tranquilo (que ainda deve convencer das vantagens e magnanimidade de sua liderança). Mas também reflete longa tradição diplomática e vivência da natureza da soberania e da democratização. Ao acumular poder e responsabilidade, o Brasil não será mais capaz de ser amigo de todos e sentirá a tensão entre soberania e direitos humanos mais intensamente, mas ele aspira ser uma ponte entre potências e, por vezes, será um corretivo para hipocrisia seletividade ocidentais.

Não só o Brasil deveria ter um assento permanente no Conselho de Segurança; ele é o melhor argumento para a reforma do Conselho de segurança e outras tentativas de tornar o sistema internacional mais representativo. Esta é a hora do ocidente, e do resto, abraçar a ascensão do Brasil de forma mais activa e começar uma relação mais profundo.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ozires: ao piorar o rendimento dos títulos públicos, redução da SELIC obrigará empresários a investir em produção.

Artigo do Brasil Econômico explica como a redução da Selic pode alavancar os investimentos produtivos.

Redução da rentabilidade dos títulos públicos forçará os empresários a garantir retorno sobre a produção.

Após a Taxa Básica de Juros (Selic) romper sua mínima histórica ao alcançar o patamar de 8,5%, industriais e especialistas do setor indicam que os empresários serão obrigados a levar mais dinheiro para as companhias para conquistar o retorno que era garantido pelos investimentos em títulos públicos.

Assim, a indústria terá de enfrentar a falta de competitividade do país e realocar recursos em produção e diferenciação de seus principais produtos.

Entre os setores mais sensíveis à redução da Selic estão os de bens de consumo duráveis, como produtos de linha branca, eletroeletrônicos e automotivos. Com isso, máquinas e equipamentos também serão beneficiados com as novas necessidades da indústria manufatureira.

Ozires Silva, reitor da Unimonte e fundador da Embraer, comenta que os empresários terão que se movimentar com a perda de rentabilidade dos títulos públicos.

"Agora não há mais espaço para a renda fixa. O retorno ficará cada vez mais baixo e os empresários terão que investir na própria companhia para melhorar a produtividade e reduzir os custos."

Dados indicam que há espaço para que os aportes em máquinas e equipamentos, além de pesquisa e desenvolvimento, aumentem.

Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 60% dos investimentos são custeados pelas próprias empresas, mas elas seguram boa parte do capital, cerca de um quarto do montante, devido ao bom retorno fornecido pela Selic e pelas incertezas econômicas.

Silva afirma que não há mais saída para os empresários. "O retorno dos investimentos está mais atrativo que o dos títulos, e a indústria terá que se movimentar para sobreviver", avalia.

Outros reflexos da queda da Selic são indiretos, mas poderão subsidiar um ambiente econômico melhor para que o setor possa voltar a crescer. O principal deles é a redução da volatilidade do câmbio.

A expectativa é de que o real perca atratividade no mercado internacional à medida que os títulos brasileiros valham menos. A atual taxa do dólar, em torno de R$ 2,00, é entendida como o piso para os industriais.

"É um nível de câmbio que atende os interesses do Brasil. Se permanecer neste patamar, espera-se algum efeito positivo na produção industrial em seis meses", diz o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Skaf também acredita que a demanda pode aumentar com a redução da Taxa Básica de Juros, mas a posição atual dos bancos configura uma barreira entre os industriais e seus potenciais consumidores.

"A Selic baixa tenderia a estimular o crédito e a demanda, porém o sistema bancário está muito seletivo e não vem expandindo o crédito. Assim, a demanda continua fraca", argumenta Skaf em tom de reclamação.