Só para lembrar que, se por aqui as coisas parecem estar voltando aos eixos, lá fora, a situação é bem diferente.
EUA saem da crise, mas os americanos ainda não.
Desde agosto, Althea Scott está morando com dois de seus quatro filhos em um abrigo para sem-teto em Washington. Althea, de 41 anos, está desempregada desde março. Ela era professora-assistente de uma escola e deixou o emprego depois de ser atacada por uma aluna com uma mesa. Em junho, foi despejada de seu apartamento, depois de passar meses sem pagar o aluguel.
Jogaram todos os seu móveis na calçada. Sem emprego e sem um lugar para morar, ela hoje se amontoa com a filha de 13 e o filho de 15 anos em um quarto no abrigo. Os três vivem com US$ 620 por mês, da pensão de seu ex-marido, e ajuda do governo. "Eu só espero conseguir um emprego para voltar a ter uma vida normal com a minha família, mas está muito difícil de achar."
A economia dos Estados Unidos voltou a crescer no terceiro trimestre, mas a maioria da população ainda não viu melhora. Isso porque os EUA passam pela chamada "recuperação sem empregos". O PIB cresceu 3,5% no terceiro trimestre, mas o desemprego bateu nos 10,2% em outubro, a maior taxa em 26 anos. A projeção é de que continue muito alto, em 9,5% até o fim do ano que vem. Ou seja, para a maioria dos americanos, a recuperação é uma miragem.
"O crescimento econômico não trouxe a geração de empregos de que precisamos desesperadamente", admitiu o presidente Barack Obama na quinta-feira, ao anunciar um fórum para criação de empregos.
Segundo Patricia Fugere, diretora da Legal Clinic, nunca foi tão alto o número de famílias que perderam suas casas para execução de hipoteca ou foram despejadas por não pagar aluguel e agora estão em abrigos. Há 430 famílias em lista de espera para os abrigos, um recorde. "Muitas perderam emprego e arrumaram outro que paga muito pouco, e não dá para arcar com aluguel", conta Patricia. "O pessoal está dizendo que a economia está se recuperando, mas acho que vai demorar para vermos alguma melhora."
Stacey Long, que trabalha há sete anos como diretora de apoio às comunidades na Bread for the City, nunca viu tanta gente desesperada por alimentos e remédios. "Para se candidatar ao nosso auxílio-aluguel e conta de luz, chego a receber 150 telefonemas por dia", diz. "Nunca vi a situação tão grave."
Isso porque a taxa de desemprego americana, ao contrário da brasileira, não leva em conta pessoas que desistiram de procurar emprego porque não conseguem achar e aquelas que têm um emprego de meio período que paga tão mal que nem dá para arcar com o aluguel. Na taxa ampla, que inclui todas as pessoas desempregadas e subempregadas, o número sobe para 17,5%.
O medo é que grande parte da recuperação da economia americana seja sustentada apenas por programas de estímulo fiscal, como o "cash for clunkers", que dava incentivos para as pessoas trocarem seus carros poluentes por veículos econômicos, e restituições para compra de imóveis. Esses programas estão acabando.
Se o desemprego não começar a desacelerar, as pessoas continuarão com as carteiras fechadas - ou porque não têm emprego, ou porque têm medo de perder o seu. E, sem a volta do consumo, que responde por 70% da economia, a recuperação econômica dos Estados Unidos não vai se firmar.
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