segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mauro Carrara, Belchior, e o jornalismo (?) da Globo.

Segue mais um excelente artigo de Mauro Carrara.

O original (ou a cópia aqui copiada) está aqui.

Belchior e o jornalismo de Ali Kamel
Mauro Carrara

Tempos atrás, narrei publicamente algumas desventuras daquele tido como “o mais pior dos jornalistas brasileiros”.

Entre muitos profissionais e observadores da imprensa, o estatístico Ali Kamel constitui-se em referência singular de apuração preguiçosa, texto confuso e aplicação ladina de lógicas de conveniência.

O sabujo da família Marinho subiu ao cume da Vênus Platinada valendo-se da escada magirus da obscenidade, especialmente na execução de serviços de comunicação encomendados pela direita brasileira.

Detalhe: a referência nada tem a ver com “O Solar das Taras Proibidas”. Deixemos em paz o astuto Casanova de Roberto Mauro.

Convém, no entanto, notar como o amoroso e eterno pupilo de Henrique Caban logrou, no tempo presente, impor seu “modus informandi” às Organizações Globo e, por tabela, a significativa parcela da inculta mídia monopolista do país.

Exemplo formidável tivemos na edição de 23 de Agosto do Fantástico, o caduco programa dominical da emissora carioca.

Inventou-se ali uma estória (sim, agora sem “h”, mesmo) sobre o desaparecimento de um “grande astro da MPB”.

O sumido (ninguém sabe, ninguém viu) seria Belchior, o inspirado cantor e compositor cearense, moço de Sobral, ex-repentista, autor de jóias da música brasileira como “Apenas um rapaz latino-americano” e “Paralelas”.

A longa matéria misturava fraseados de trama noir e música incidental de suspense hitchcockiano. Por meio de depoimentos pinçados e uma edição bem tesourada, a Globo induziu o brasileiro a cogitar até mesmo de uma abdução.

No dia seguinte, por exemplo, no comércio popular da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo, um pirateador de CDs afirmava que o artista encontrava-se numa base militar em Vênus, na qual cientistas cabeçudos escaneavam sua mente de poeta.

Naquele final de tarde, o hábil prosador admitia já ter vendido 16 cópias de álbuns do artista.

O que o telespectador engole

Ora, nos delírios narrados por Patrícia Poeta e Tadeu Schmidt, o folhetim da Globo manteve-se caninamente fiel à doutrina kameliana do jornalismo “testador de hipóteses”.

Afinal, a teoria do desaparecimento era verossimilhante, o que mestre Kamel considera suficiente para a construção de uma boa matéria.

O estatístico, aliás, já cometera experiências do gênero em “Veja” e na própria Globo, com destaque para os malabarismos argumentativos destinados a atirar no colo de Lula a responsabilidade pela tragédia com o avião da TAM, em Congonhas, em 2.007.

No caso de Belchior, a reportagem foi tratada como pândega por vários profissionais gabaritados da Central Globo de Jornalismo. Era o "se colar, colou". Riu-se da figura do trouxa engolidor de bobagens, o típico Homer Simpson boneriano.

Nas redações da emissora, pórém, a pauta se converteu em batata quente. Ninguém queria assumir a execução da suíte.

Durante a semana, os fatos comprovaram que os súditos de Kamel testam hipóteses, levianamente, ou são péssimos apuradores.

Nos dois anos do suposto “sumiço”, Belchior foi visto, fotografado e gravado em vídeo por dezenas de pessoas, entre jornalistas e cidadãos comuns.

Uma cantora lírica encontrara o cantor em duas ocasiões, em setembro do ano passado, em São Paulo.

Dois meses depois, ele aparecera no bairro do Coqueiral, no Recife, para participar de um evento do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.

Bastava aos jornalistas do Fantástico “testar um Google” para encontrar as matérias dos jornais pernambucanos sobre a participação de Belchior na cerimônia.

Em 9 de Fevereiro, em Brasília, posara para fotos ao lado de outro famoso amante do bigode, ninguém menos que José Sarney.

O “sumido” distribuira ainda autógrafos para admiradores em lugares como aeroportos e restaurantes, no Brasil e no Uruguai. Tudo recente, recentíssimo.

Aliás, que fugitivo, abduzido ou desencarnado daria palhinhas em shows, participaria de atividades de ONGs e visitaria o presidente do Senado?

A edição de 30 de Agosto do Fantástico, portanto, tinha de colocar dar um fim honroso a mais essa alucinação kamelista.

A batata quente caiu nas mãos da dedicada Sônia Bridi. Coitada.

E lá foi a galega comer pó nas estradas do Uruguai e, convertida em emissária da assistência social, dar plantão na porta de uma pousada em San Gregorio de Polanco.

Tomou um chá de cadeira. Coitada de novo.

Belchior apresentou-se já de noite à câmera da Globo. Afirmou que considerava “estranha” a reportagem sobre seu suposto desaparecimento. E disparou uma fleumática reprovação: “aquilo não tinha nenhuma relação comigo”.

Com um sorriso de mofa nos lábios, concluiu: “eu vivo em São Paulo”.

Ao que tudo indica, o simpático Belchior deu um tempo para escapar de falsos amigos e parentes chatos. É possível ainda que, inadimplente, tenha revivido seu personagem latino-americano, aquele “sem dinheiro no bolso”. Normal, normalíssimo.

Não por acaso, o jornalismo kameliano faz estardalhaço em torno de fatos inexistentes, mas cerra os olhos ao embuste dos bandalhos mal dissimulados.

A Globo não sabe, por exemplo, quem é o marido de Lina Vieira, desconhece seu padrinho demista cara-de-pau e nem desconfia dos interesses da ninfa da Receita no factóide da “agilização”.

Vamos testar uma hipótese? A empresa da família Marinho continuará enfiando gente em seu Triângulo das Bermudas, e Ali Kamel seguirá educando os truões da mídia imprensaleira. Vale uma aposta?

The Economist: Este é um grande momento para ser um brasileiro...

Segue em (péssima) tradução minha (com uma ou outra ajuda o Google) e alguns grifos meus, o editorial da The Economist.

O original está aqui.

Novas alianças na América Latina
De que lado o Brasil está?

Tempo para Lula para defender a democracia em vez de abraçar autocratas


Esse é um grande momento para ser um brasileiro e, especialmente, Luiz Inácio Lula da Silva, o inspirador presidente do país. Por muito tempo o gigante da América Latina com desempenho cronicamente baixo, hoje, o Brasil está em todas as listas de meia-dúzia ou mais novos lugares que importam no século 21. Parece que nenhum encontro internacional, seja para discutir a reforma financeira ou a mudança climática, está completo sem Lula, um ex-metalúrgico e líder sindical cuja bonomia e instinto de conciliação entre os opostos políticos fazem dele amigo em toda parte. "Ele é meu homem", jorrou Barack Obama na cúpula do G20 em Londres; Fidel Castro o chama de "nosso irmão Lula".

O novo destaque do Brasil é merecido. Ele decorre, em grande parte, do sucesso de Lula e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, em estabilizar uma economia previamente disfuncional, levando a um rápido crescimento econômico. Uma das dez maiores economias do mundo, foi uma das últimas delas a entrar em recessão e, agora, parece ser uma das primeiros a abandoná-la. Quando o Goldman Sachs o juntou com China, Índia e Rússia, como as economias do BRIC e disse que eles iriam dominar o mundo, em 2050, houve muitas considerações sobre o Brasil não pertencer à companhia tão musculosa. Certamente, a marca "BRIC" deu ao Brasil um diferencial de marketing. Mas agora é a Rússia, com sua economia deprimida e dependente do petróleo, que parece deslocada.

Lula também merece muito do louvor amontoado sobre ele. Ao tomar posse, em 2003, ele mostrou coragem política na manutenção de políticas econômicas responsáveis, ignorando os clamores de seu Partido dos Trabalhadores, de esquerda, para não pagar a dívida. Seu instinto para a economia racional o transformou de um protecionista em um defensor do livre comércio. Suas políticas sociais ambiciosas ajudaram a triar 13 milhões brasileiros da pobreza, estreitando cada vez mais as desigualdades marcantes da renda. Apesar dos índices de popularidade quase sobrenaturais, ele sabiamente rejeitou falar de mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato.

O sucesso em casa tem dado oxigênio para a ambição de salto da política externa do governo Lula. Seu Brasil quer ser visto como uma grande potência, definindo-se como o líder de uma América Latina unida e, ao mesmo tempo, buscando novas alianças com outras potências emergentes do "sul" global. Graças a capacidade de Lula para ser tudo para todos os homens, até agora o Brasil tem conseguido influenciar sem estar sob o peso de responsabilidade. Mas, olhando mais de perto, se arrisca a legar uma herança decepcionantemente ambivalente. Acima de tudo, o Brasil precisa decidir o que ele representa e quem são seus reais amigos - sob grande risco de que outros façam essa escolha para ele.

Êxitos do Sul e desconfortos


Embora a história também lhe tenha dado o parentesco com a África, de onde milhões foram trazidos como escravos, o Brasil é, à primeira vista, o mais "ocidental" dos BRICs. Ao contrário da China ou da Rússia, é uma democracia numa região essencialmente democrática. Mas os líderes brasileiros muitas vezes tem preferido ver o seu país como uma potência do sul, um líder do mundo em desenvolvimento. Sob Lula, esse viés tem endurecido. De certa forma, isso é saudável. Lula está certo ao exigir a reforma das instituições mudiais para refletir a evolução do equilíbrio de poder. As exportações do Brasil tem encontrado novos mercados na Ásia, África e Oriente Médio. Mas o que realmente une estes países? Para desgosto do Brasil, a China ajudou a bloquear sua candidatura a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, enquanto a Índia fez muito para parar um acordo de comércio mundial. E o viés do Sul passou sw mão em mão com traços mais negativos.

Admiravelmente para uma possível grande potência, o Brasil renunciou às armas nucleares. Menos admiravelmente para um país que defende o Tratadio de não-Proliferação Nuclear, se recusou a assinar um protocolo adicional, negando a inspetores internacionais o completo acesso às suas instalações nucleares civis.

O governo Lula mostra também uma indiferença enigmática com a democracia e os direitos humanos para além das fronteiras do Brasil. Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores, argumenta que as condenações dos países ricos aos países pobres por abusos são tendenciosas e ineficientes. Grupos de direitos humanos reclamam que no Brasil da ONU se alinha com países como China e Cuba para proteger regimes abusivos. Lula felicitou Mahmoud Ahmadinejad por sua vitória nas eleições profundamente falhas do Irã, comparando os protestos da oposição maciça aos torcedores de futebol cujo time perdeu. A primiera viagem internacional de Ahmadinejad após a posse será para Brasília. Obama pediu a Lula para "usar sua influência" para convencer seu convidado para travar o seu suspeito trabalho nuclear. Se o Brasil ocupa um assento rotativo no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Janeiro próximo, pode ter que escolher se quer a volta de sanções mais duras contra o Irã.

No triangulação entre democratas e autocratas

Em muitas destas circunstâncias há um rastro tácito ds anti-americanismo. Isso é mais caro para o Brasil na América Latina. A influência ianque lá está em declínio, enquanto a influência da China e outros países está a crescer. Se agora há receios de uma "nova guerra fria" na região, como alguns no Brasil se preocupam, o homem que arrisca começá-la não é Obama, mas um dos amigos de Lula, Hugo Chávez, da Venezuela.

Sim, o senhor Chávez é eleito, mas ele sempre mostra poucos sinais de estar disposto a abandonar o poder nas urnas e constantemente atiça tensões na região. Foi o medo de que o presidente de Honduras estivesse transformando seu país no mais recente domínio chavista que levou ao equivocado golpe lá em junho. Agora, o senhor Chávez ameaça guerrear contra a Colômbia porque ela está atualizando um acordo que concede instalações em bases militares para os Estados Unidos, que está ajudando a combater as FARC e os traficantes de droga. Só os paranóicos podem interpretar isso como uma ameaça à Venezuela ou a Amazônia. Contudo, o Brasil escolheu manifestar preocupação com as bases, permanecendo em silêncio sobre a escalada armamentista de Chávez e a clara evidência de que o seu povo vendeu armas para as FARC.

Ninguém deve esperar que o Brasil atue como xerife da América. Mas é no seu próprio interesse, para evitar uma nova guerra fria na região. A maneira de fazê-lo não é errar entre democratas e autocratas, como Lula parece pensar. É envergonhar Chávez, traçando uma linha clara e pública a favor da democracia, o sistema que permitiu que um torneiro pobre chegasse ao poder e mudasse o Brasil. Por que outros países deveriam merecer menos?

Mail & Guardian on line: Brasil tem modelo de desenvolvimento de sucesso.

Artigo retirado do Mail & Guardian on line, de Johannesburg.
Segue em (péssima) tradução minha, com uma ou outra ajuda o Google, e alguns grifos também meus.

O original está aqui.

Como o Brasil desarma a armadilha da pobreza.

Departamentos de governo sul-Africano e as agências de desenvolvimento foram visitar o Brasil em massa, ansioso para aprender com o sucesso recente desse país.

Entre 2003 e 2007, antes da crise financeira, o crescimento econômico no Brasil atingiu uma média de 5% ao ano - o seu melhor desempenho em mais de 25 anos.

Também houve progresso na educação e na redução da pobreza, erradicação do HIV / Aids e desigualdade, o calcanhar de Aquiles América Latina moderna. Embora a economia brasileira deva diminuir em 2009, isso será muito inferior à média latino-americana.

As projeções de crescimento para 2010 são de cerca de 2% ou 3% e o sentimento geral é positivo para a trajetória sócioeconômica ascendente do Brasil.

A maioria dos partidários do chamado "modelo de esquerda" na América Latina atribui estes resultados aos programas sociais inclusivos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas a realidade é uma mistura complexa e delicada de políticas sociais e economia progressista que tem, com o tempo, amadurecido em um modelo de sucesso do desenvolvimento.

Uma vez descrito como o país que terá sempre potencial (e nunca vai realizá-lo), o Brasil ficou travado em crescimento medíocre e um deânimo de investimento após um crescimento econômico recorde entre 1965 e 1975, quando o país cresceu em média 10% ao ano.

No anos oitenta, a desaceleração econômica e a negligência social tinham criado níveis inaceitáveis de pobreza e enorme desigualdade de renda , embora o Brasil seja abençoado com recusros naturais e um dos produtores os maiores de alimentos do mundo.

Hoje, mais de 40 milhões de brasileiros são pobres e vivem com menos de 2 dólares por dia. Os níveis de desigualdade estão parificadod aos da África do Sul, mas mais graves do que em países como a Índia, Chile e Nigéria.

10% dos brasileiros mais ricos representam quase 50% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres contam com apenas 10%. Mas as coisas estão mudando.

O crescimento econômico sustentado trouxe confiança e a economia parece estar mais resistente à crise global.

Em 2007, o investimento estrangeiro atingiu níveis recordes de US$ 35 bilhões. Uma balança comercial favorável, com exportações superiores a US$ 700 bilhões, impulsionou o crescimento brasileiro liderado pelas exportações. O mercado acionário brasileiro teve um bom desempenho.

No ano passado, as bolsas brasileiras de commodities e de futuros se uniram para formar a segunda maior bolsa das Américas.

O Brasil tem adotado uma política externa e comercial mais assertiva através de um direcionamento vigoroso de investimentos em toda a América Latina e África, combinada com uma política comercial mais liberal. Esta abordagem, com as recém-descobertas reservas de petróleo ao largo da costa do Brasil, é parte de um plano para alimentar seu próximo ciclo de crescimento a longo prazo.

Mas é o sucesso do Brasil no desenvolvimento social que tem despertado o interesse dos pensadores da política sul-africana.

Logo após sua eleição em 2003, Lula da Silva lançou um ambicioso programa para acabar com a fome. O Fome Zero é uma nova abordagem decombate a fome e a desnutrição, combinando isso com outras prioridades sociais, como educação, saúde e uma sólida estrutura familiar.

O programa visa às famílias mais carentes em uma comunidade em particular e oferece cupons de alimentos em troca de freqüência escolar ou de formação técnica. Esta estratégia visa capacitar os necessitados e, finalmente, os integrar na economia formal.

Desde 2003, o número de pobres - pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia - caiu 21%, passando de 15,4 milhões para 11,3 milhões em 2008.

Em 2010 Lula da Silva espera ser capaz de entregar três refeições por dia para cada família no Brasil. A maioria parece concordar sobre a fórmula básica por trás do progresso social.

Em primeiro lugar, as difícil reformas estruturais e a liberalização econômica implementadas nos anos 1990 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso proveu as receitas necessárias para o Brasil se beneficiar do boom das commodities e implementar políticas de grande alcance social.

O governo Lula da Silva diz que as macro políticas de Cardoso lançaram as bases para o outlook positivo do Brasil de hoje.

Em segundo lugar, um empurrão inicial pelo crescimento econômico foi essencial. Sem crescimento - e um ambiente benigno internacional - o país nunca teria tido os recursos necessários para programas sociais eficazes e de entrega.

Em terceiro lugar, um quadro político coerente, que serve ao duplo objectivo de crescimento econômico e desenvolvimento social, por meio de uma cuidadosa e prudente administração dos recursos é essencial.

No entanto, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, diz que conciliar política macroeconômica e despesas públicas continua a ser um desafio.

Quarto, os programas sociais têm sido bem estruturados, bem orientados, cuidadosamente geridos e apoiados por instituições governamentais e não-governamentais - incluindo grupos da comunidade local. Essas instituições estão envolvidas em vários níveis de planejamento, tanto a nível federal e estadual.

Finalmente, a liderança foi fundamental. A maior realização Lula da Silva tem sido a sua capacidade de criar um consenso entre os poderosos sindicatos de trabalho e de negócios sobre o que é necessário em um país notório por seus interesses divergentes.

A sucessão de Cardoso e Lula da Silva se provou uma combinação eficaz. Após a prioridade retórica de ajuste estrutural na década de 1990, o país - como um oficial brasileiro colocou - se normalizou no governo Lula da Silva.

Já não é desviado por souções "bala de prata" para o crescimento, predominantes nos anos 1980 e 1990, e está mais aberto ao diálogo internacional sobre política e integração.

Brasileiros admitem que o país ainda está lutando para superar o clientelismo e incutir a meritocracia no serviço público. Oportunismo político significa que muito do planejamento ainda é de curto prazo.

O futuro está também em questão enquanto o país se prepara para as eleições de 2010, quando o presidente termina seu segundo e último mandato.

O Brasil mostrou que uma abordagem equilibrada para o crescimento e desenvolvimento podem funcioar em países em desenvolvimento e com desafios sócio-econômicos difíceis, quando as políticas sociais e as reformas económicas são integradas para atender objetivos comuns, por meio do planejamento consciente e liderança.

Elizabeth Sidiropoulos é diretora nacional e Dr. Lyal Branco é pesquisador associado do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais

Terra: polícia indicia duas pessoas por campanha contra Yeda

Notícia publicada pelo Terra.

O Original está aqui.


RS: polícia indicia duas pessoas por campanha contra Yeda
31 de agosto de 2009• 13h31 • atualizado às 13h31

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul indiciou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Celso Woiciechowski, e a vice-presidente da entidade, Rejane Silva de Oliveira, por peculato e crime à honra, devido à campanha publicitária contra a governadora do Estado, Yeda Crusius.

Para o delegado Cléber Ferreira, titular da 3ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, a campanha extrapolou os limites razoáveis do que se pode chamar de liberdade de expressão e ofendeu a pessoa da governadora. O vídeo com opiniões sobre as denúncias de corrupção no governo do Estado foi veiculado entre maio e junho na mídia.

O delegado informou que indiciou Woiciechowski e Rejane por peculato e crime à honra porque houve pagamento pelas campanhas com recursos da entidade, o que configura aproprição de dinheiro, a que os indiciados têm acesso em razão do cargo que ocupam, para ato lesivo contra a honra da governadora.

O delegado disse ainda que os contratantes cometeram ato criminoso, não as agências de publicidade pagas pelo serviço. De acordo com o Código Penal, a pena para peculato é de 2 a 12 anos de reclusão e multa. Para crime à honra, de 6 meses a 2 anos de detenção e multa.

O indiciamento está embasado no inquérito remetido à Justiça nesta segunda-feira. A Justiça encaminhará o documento para o Ministério Público, que decidirá se denuncia ou não os indiciados.

O presidente da CUT, Celso Woiciechowski, classificou o indiciamento como "ato autoritário e prepotende da governadora". Segundo ele, a campanha foi promovida para reivindicar a instalação de uma CPI para apurar as denúcias. Woiciechowski informou que a entidade vai se defender judicialmente do indiciamento.

Para Rejane de Oliveira, que também é presidente do Centro dos Professores do Estado do RS (Cpers), com o indiciamento, o governo quer tirar o foco das denúncias de esquema de corrupção e intimidar os movimentos sociais. Segundo ela, o governo do Estado a persegue politicamente. "Quando o Cpers é processado, eu, como presidente, sou responsabilizada. Por que no caso da CUT foram indiciados o presidente e a vice?", questionou.

Rejane informou que o advogado da CUT já entregou à polícia um documento que comprova que ela não estava presente na reunião em que a campanha publicitária foi planejada. Para ela, a denúncia de peculato não cabe porque não foram usados recursos públicos na campanha.
Redação Terra

Serra e os porquinhos.

É notícia velha, eu sei. Mas, de tão bem escondida, algumas pessoas ainda acham que é mentira.

Bom, taí embaixo para quem quiser ver.

É importante dizer que, depois da asneira reproduzida abaixo, ele fez algumas observações até interessantes sobre como lidar com a epidemia, então eminente.

Mas fica a pergunta: porque tamanha asneira não ganhou as manchetes? Seria a declaração um fato irrelevante, principalmente quando dita por alguém que se auto proclama o melhor Ministro da Saúde de todos os tempos e pretende presidir o país?

sábado, 29 de agosto de 2009

Diário de Notícias: Lula, política externa e o borogodó.

Outro, também já velhinho, do mesmo Diário de Notícias de Lisboa.

O original está aqui.

Política externa de Lula "é bem brasileira"
por SUSANA SALVADOR26 Julho 2009

Presidente tem apostado no desenvolvimento das relações com países do hemisfério sul, sobretudo de África. Já fez cinco vezes mais viagens a este continente do que qualquer antecessor, sublinha o cientista político Clóvis Brigagão.

O carisma do Presidente Lula da Silva facilitou o impulso que o Brasil já vinha a viver desde o regresso à democracia de pensar o país como um actor global. "Lula é um tipo popular, sem ser populista ou bobão. Leva a sério a sua posição, mas faz tudo de uma maneira bem brasileira", disse ao DN o cientista político Clóvis Brigagão, que na semana passada deu uma palestra sobre política externa brasileira na Casa da América Latina.

Essa maneira bem brasileira "é uma diplomacia doce, suave, não é ao tipo americano, assertiva", referiu o director adjunto do Centro de Estudos das Américas. "O Brasil não joga agressivamente com ninguém" e já teve de "engolir alguns sapos" nas relações com os seus vizinhos. A resolução de conflitos através de meios pacíficos e a defesa da lei internacional são as bases da sua democracia externa.

"O Presidente Lula compreendeu esse movimento do Brasil para fora", referiu Brigagão. E, como nos tempos em que era dirigente sindical, escolheu a dimensão de "entrar em entendimento com todo o mundo". O futuro Governo, seja ele qual for, deverá seguir o mesmo caminho: "A minha percepção é que o Brasil não volta atrás, porque a própria sociedade entendeu que o Brasil deve participar nesta dimensão internacional."

A aposta de Lula foi claramente a relação Sul-Sul, tendo quintuplicado as viagens que antigos presidentes fizeram a África, explicou o analista. "Há claramente um interesse neste continente", explicou. Em relação aos vizinhos, o desenvolvimento do Conselho de Defesa Sul-Americano permite lidar com as novas ameaças globais: crime organizado, tráfico de droga, terrorismo, e ataques contra o meio ambiente.

Depois há ainda outros fóruns regionais, como o Mercosul, que neste momento está apenas "um pouco parado no porto, em conserto". E a presença do Brasil no G20, que ganhou maior destaque com a actual crise internacional. Em relação ao futuro, "os novos actores do G20 vão querer continuar e exigir que as grandes decisões económicas e políticas continuem a passar pelo G20, e não apenas pelo G7", explicou

Diário de Notícias: Lula e o borogodó?

Artigo já velhinho, pouco mais de um mês, do Diário de Notícias de Lisboa.

O original está aqui.

O que é que Lula tem?por VANESSA RODRIGUES,19 Julho 2009


Prémio. Em seis anos de Presidência do Brasil, Lula da Silva continua com uma imagem intocável, um apoio popular maioritário, imunidade contra sucessivos escândalos e acaba até de arrecadar o Prémio UNESCO de embaixador da paz. Nunca o Brasil teve um presidente assim

Quando, em Abril deste ano, o Presidente norte-americano, Barack Obama disse, num círculo restrito de líderes mundiais, que Lula da Silva "é o político mais popular da Terra", seguido de um gracejar descontraído: "Esse é o homem! Adoro-o!", o Presidente do Brasil, apesar de tímido como uma criança bem-comportada, sabia que o elogio, dito assim no pódio da elite de estadistas internacionais, significava que tinha entrado para o clube restrito dos políticos mais influentes do mundo.

Não é por acaso: Lula foi o primeiro chefe de Estado a encontrar-se com Obama, então ainda Presidente recém-eleito dos Estados Unidos. Há poucos dias, vimo-lo a entregar uma camisola da selecção brasileira de futebol ao homólogo norte-americano e Obama pediu-lhe que o ajudasse a mediar o conflito com o Irão. Agora a UNESCO acaba de lhe entregar o prestigiado prémio de embaixador da paz mundial, o Félix Houphouët-Boigny (caixa).

O que mais surpreende os cientistas políticos é que, no sexto ano de mandato como Presidência da República, a imagem de Lula já deveria ter sofrido "desgaste". Pelo contrário. "Lula, quando faz certo, acerta, quando não faz nada, também acerta, e quando faz algo errado, sai intocável", analisa o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"Para a maioria da população, ele é uma pessoa generosa que apoia até os políticos em más alturas, como no caso da crise no Senado", diz. Nas sondagens de Baía, ficou "evidente que as pessoas se identificam com ele", como se espelhasse os desejos e as frustrações de todos, por isso não o recriminam. Sem diploma universitário, ex-metalúrgico e ex- -sindicalista, Lula dá erros de português, faz metáforas com o futebol e passou fome. "Coisas que só pobre entende", disse Lula na campanha de 2006, quando discursava no interior de São Paulo.

"A maior transformação que o Presidente Lula trouxe para o Brasil, e que o faz ter ainda uma aceitação incrível na sociedade brasileira, é essa capacidade de ser um conciliador nacional", conta Baía ao DN. "Ele afastou-se um pouco da esquerda do PT [Partidos dos Trabalhadores], para ser centro." E o Brasil nunca teve um estadista do centro. "Lula concilia interesses antagónicos e promove os pactos políticos negociados. Com ele a democracia acontece." E com um presidente mais livre do partido, nota o cientista político Murilo Aragão, "a política brasileira aproxima-se a passos largos de um processo de americanização", à semelhança do norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que venceu quatro eleições seguidas, mantendo--se na Casa Branca entre 1933 e 1945, proeza nunca mais repetida em Washington. Além de "conciliador nacional", Lula é o mediador da América Latina. Portanto, também o pode ser num contexto internacional e Barack Obama sabe-o.

Essa imagem de um Lula carismático chegou a seduzir o realizador João Moreira Salles no documentário Entreatos, sobre a corrida às eleições de 2006. Ele disse que teve de se afastar para conseguir alguma isenção. Lula também cativou a brasileira Ana Schneider, consultora ambiental. Arrependeu-se do voto. "Com tanta corrupção nestes últimos anos, é uma vergonha." Aliás, foi essa "cegueira" de Lula que a revista britânica The Economist criticou esta semana: a "capacidade de fechar os olhos ao escândalo quando lhe convém". Ao mesmo tempo que protege os políticos, ele pede aos órgãos que "investiguem", mas isso, conta Baía, reforça a imagem de conciliador intocável, com 80% de aceitação.

Quando pressionado com escândalos, Lula diz simplesmente: "Eu não sabia", que é aliás uma característica do "lulismo", isto é, o modo de governação do estadista brasileiro.

E, afinal o que é que Lula tem? Baía arrisca: "Um pragmatismo como ninguém."

BBC: Brasil pode ser o primeiro grau de investimento pós-crise.

Segue artigo da BBC Brasil, com alguns trechos grifados por mim.

O Original está aqui.


Brasil está apto a ser 1º grau de investimento pós-crise, diz Moody's
Bruno Garcez

Da BBC Brasil em Washington



O Brasil estaria se movendo na direção certa, disse o analista
O Brasil reúne as condições necessárias para se tornar, nos próximos dias, o primeiro país, entre os 100 países analisados pela agência de classificação de risco Moody's, a ser avaliado como ''grau de investimento'' desde o início da crise econômica.

É essa a opinião do analista-chefe para o Brasil da agência, Mauro Leos. A classificação é dada a países cujas economias são consideradas seguras para investidores. A categoria determina se um país oferece ou não risco de pagar seus títulos. Quanto mais elevada a classificação, maior a propensão em atrair títulos.

Em entrevista à BBC Brasil, Leos afirmou que, se a conclusão do comitê de avaliação da agência for a de que o Brasil merece entrar nessa categoria isso se dará porque ''o país está apto a arcar com choques externos, está se movendo na direção certa e os riscos crediários que enfrenta são mais baixos do que antes''.

Outras duas agências de risco, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings, já haviam elevado a classificação do Brasil para grau de investimento, no ano passado.

Mas a Moody's, ao contrário das duas outras, decidiu não elevar a categoria do país no ano passado, a fim de aguardar para ver o quanto o país seria afetado pelos efeitos da crise econômica mundial.

"O Brasil se saiu melhor do que o esperado. E um dos fatores decisivos para rever a classificação do país foi a avaliação do mercado. No Brasil, após um período crítico entre setembro e novembro, quando houve queda da atividade econômica, o sentimento do mercado melhorou consideravelmente", afirma Leos.

Emergentes

Segundo ele, a despeito do declínio abrupto do quarto trimestre de 2008, o Brasil se diferenciou de outras economias emergentes em 2009, porque já está crescendo a uma taxa de 4%, no terceiro trimestre, em termos anuais, um índice que não temos visto em outros países''.

Fatores como sistema bancário sólido, balanço de pagamentos positivo e retorno do fluxo de capitais foram determinantes para provocar a revisão da Moody's.

O analista afirma que o Brasil, assim como outras nações afetadas pela crise, sofreu um aumento de seu déficit fiscal e, consequentemente, da dívida pública.

"Mas no caso do Brasil, isso não é grande o suficiente para causar preocupação. A posição oficial do governo é a de retomar balanços primários consistentes com o compromisso de reduzir a dívida pública."

De acordo com Leos, se vier a ser de fato considerado grau de investimento pela última agência que faltava, isso possibilitará ao Brasil contrair empréstimos mais elevados a taxas de juros mais baixas.

A avaliação também abrirá caminho para fundos de investimentos e os fundos de pensões americanos que têm como critério só investir em países que são avaliados como grau de investimento por diferentes agências de classificação.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mauro Carrara: o meio é a mensagem e o Twitter de direita.

Segue o artigo da Novae. No mínimo, uma opinião interessante.

O original está aqui.


Por que o Twitter é de direita

Mauro Carrara

Raras vezes o revés se exibiu tão instrutivo. E o senador Mercadante, do partido mudo, merece gratidão por nos oferecer incrível lição de como torrar a própria imagem diante da opinião pública.

Depois da tarde das garrafadas invisíveis, em que a bancada do partido mudo quis converter-se em madame girondina, Mercadante utilizou-se do microblog Twitter para anunciar, em caráter irrevogável, sua renúncia à liderança do PM na Câmara Alta.

O sol deitou, voltou, deitou e Mercadante resolveu pisar atrás, anunciando, pelo mesmo Twitter, sua desistência de desistir.


Dos arquivos:
OI: cinco mitos sobre as mídias sociais


E uma onda de indignação hipócrita e seletiva passou como tsunami sobre a praia governista. Foram muitas as vítimas. Estava posta a carniça aos abutres. Folha de S. Paulo e Estadão, por exemplo, lambuzaram-se das tripas do bigodudo parlamentar.

Do episódio neodantesco, ficaram três lições: 1) O partido mudo não sabe o que é o Twitter; 2) Os parlamentares do partido mudo utilizam essa e outras ferramentas de maneira imprópria e irresponsável; 3) A direita nada de braçada nessa lagoa da comunicação interativa.

Deu pena do incauto Mercadante. O tal perfil da Juventude do DEM, a mesma que utilizou o Twitter para engrossar o coro de “Fora Sarney”, divertiu-se à vontade em cantigas de maldizer, levantando hordas de playboys para espezinhar o pobre líder mudista.

O meio é a mensagem

Assisti a uma palestra de Marshall McLuhan há uns 5 mil anos, na Universidade de Wisconsin, numa época em que meu Inglês não era lá essas coisas.

Mas peguei o básico, sem grandes problemas.

Neste momento, vem à memória o trecho da preleção em que o canadense falava sobre sua teoria de que “o meio é a mensagem”, conceito que na época eu não compreendia muito bem, e continuei sem compreender.

Agora, contudo, tudo faz muito sentido.

Mercadante e o partido mudo nem desconfiam do impacto sensorial das novas mídias. Presos à ideologia e ao conteudismo, não percebem que os meios de comunicação se constituem em extensões humanas, nas tais próteses técnicas capazes de determinar padrões de comportamento e reconstruir discursos.

O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.

Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.

Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.

O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.

Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.

O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.

Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.

No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico

Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.

É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.

O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.

Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.

No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.

Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.

A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida.

O Twitter faz parte do arsenal das bombas informáticas, às quais faz referência o filósofo Paul Virílio, pessimista mas sabido.

Como instrumento de controle e alienação, a ferramenta já se converteu em arma poderosa do que se convencionou chamar de “direita”, considerado aí o termo conforme a brilhante conceituação de Norberto Bobbio.

Em seus estudos, Virílio alerta para a supervalorização da velocidade na sociedade tecnológica contemporânea. Segundo ele, perdemos o valor mediador da ação em benefício da interação imediata.

O pensador, que bem avaliou os elementos simbólicos da guerra, afirma que a velocidade divinizada reduz drasticamente o poder de atuação racional e estabelece uma conduta de reação, muitas vezes automatizada.

Por isso, o Twitter tem menos interesse no pensamento estruturado que no jogo rápido das reações. Assim, vem sendo utilizado com sucesso no fortalecimento de marcas, agregando “seguidores” por categorias definidas pelos profissionais de marketing.

Razões éticas ou morais podem afastar as esquerdas do Twitter. A esquerda não se contenta (e não sabe se contentar) com 140 caracteres e historicamente não tem gosto pela velocidade.

Os esquerdistas de raiz libertária, em especial, valorizam a dialética e a comunicação multidirecional, em que a igualdade de direitos faz emissores e receptores trocarem de lugar a cada passo da valsa.

O partido mudo e alguns setores decrépitos da esquerda são casos à parte. Praticam, há tempos, certo neoludismo fanático e tolo. Noutras ocasiões, a inépcia marca o uso das novas armas-meio.

Como já estive por aqueles lados, posso assegurar que os vietnamitas não se valeram apenas de zarabatanas e armadilhas de caça para vencer a maior potência bélica do mundo.

O Twitter é de direita, hoje. Mas não precisa ser para sempre.

Carta Capital: executivo da Alstom abre o bico para o MPF.

Segue o teaser da a matéria, que estará na revista desta semana.

O original está aqui.


A nova testemunha
28/08/2009 15:19:13

Gilberto Nascimento

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O caminho sinuoso do esquema de propinas das empresas Alstom e Siemens para políticos tucanos de São Paulo começa a ser desvendado nos seus mínimos detalhes. Um executivo que acompanhou de perto a execução do plano forneceu informações valiosas sobre o método de operação das duas grandes companhias europeias para favorecer autoridades e funcionários de empresas públicas no Brasil.

Um documento com informações sobre o modus operandi da Alstom e da Siemens foi repassado ao Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo pelo alto funcionário, cujo nome não foi revelado. O relatório do informante faz menção também a pagamentos a políticos de Brasília e da Bahia.

A francesa Alstom é uma grande fabricante de turbinas elétricas, trens de alta velocidade e vagões de metrô. Maior empresa de engenharia da Europa, a alemã Siemens faz desde lâmpadas até trens-bala e faturou 72 bilhões de euros no ano passado. As duas companhias são concorrentes, mas em determinados momentos na disputa tornavam-se aliadas, de acordo com a fonte.

*Confira a íntegra na edição impressa

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Terra magazine: Everardo Maciel diz que casos Petrobras, Dilma/Lina "são farsa".

Segue a matéria, que, no original, traz o vídeo da entrevista.

O original está aqui.

"Everardo: Casos Petrobras, Dilma/Lina 'são farsa'"


Bob Fernandes


O pernambucano Everardo Maciel mora há 34 anos em Brasília. Foi secretário executivo em 4 ministérios: Fazenda, Educação, Interior e Casa Civil, e foi Secretário da Fazenda no Distrito Federal. Everardo é hoje consultor do FMI, da ONU, integra 10 conselhos superiores, entre eles os da FIESP, Federação do Comércio e Associação Comercial de São Paulo e é do Conselho Consultivo do Conselho Nacional de Justiça.

Mas, nestes tempos futebolísticos, às vésperas de 2010, com tudo o que está no ar e nas manchetes e, em especial, diante do que afirma Everardo Maciel na entrevista que se segue, é importantíssimo ressaltar que ele foi, por longos 8 anos, "O" Secretário da Receita Federal dos governos Fernando Henrique Cardoso.

Dito isso, vamos ao que, sem meias palavras, afirma Everardo Maciel sobre os rumorosíssimos casos da dita "manobra contábil" da Petrobras - que desaguou numa CPI -, da suposta conversa entre a Ministra Dilma Rousseff e a ex-Secretaria da Receita Lina Vieira e da alardeada "pressão de grandes contribuintes", fator que explicaria a queda na arrecadação:

- Não passam de factóides. Não passam de uma farsa.

Sobre a suposta manobra contábil que ganhou asas e virou fato quase inquestionável, diz o ex-Secretário da Receita Federal de FHC:

-É farsa, factóide... a Petrobras tem ABSOLUTO DIREITO (NR: Destaque a pedido do entrevistado) de escolher o regime de caixa ou de competência para variações cambiais, por sua própria natureza imprevisível, em qualquer época do ano. É bom lembrar que a opção pelo regime de caixa ou de competência não repercute sobre o valor do imposto a pagar, mas, sim, a data do pagamento. Essas coisas todas são demasiado elementares.

E o caso Dilma/Lina?

- Se ocorreu o diálogo, ele tem duas qualificações: ou era algo muito grave ou algo banal. Se era banal deveria ser esquecido e não estar nas manchetes. Se era grave deveria ter sido denunciado e chegado às manchetes em dezembro, quando supostamente ocorreu o diálogo. Ninguém pode fazer juízo de conveniência ou oportunidade sobre matéria que pode ser qualificada como infração. Caso contrário, vai parecer oportunismo.

E a queda na arrecadação por conta de alardeada pressão de grandes contribuintes?

-Farsa, factóide para tentar explicar, indevidamente, a queda na arrecadação.

Sobre essa mesma queda e alardeadas pressões, Everardo Maciel provoca com uma bateria de perguntas; que ainda não foram respondidas porque, convenientemente, ainda não foram feitas:

- Quais são os nomes dos grandes contribuintes, quando e de que forma pressionaram a Receita? Quando foi inciada a fiscalização dos fatos relacionados com o senhor Fernando Sarney? Quantos foram os contribuintes de grande porte no Brasil que foram fiscalizados no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período de anos anteriores e qual foi o volume de lançamentos? A Receita, em algum momento, expediu uma solução de consulta que tratasse dos casos de variações cambiais como os alegados em relação à Petrobras?

Com a palavra Everardo Maciel, Secretário da Receita Federal nos 8 anos de governo Fernando Henrique Cardoso:

Terra Magazine - Algo perplexo soube que o senhor, Secretário da Receita Federal por 8 anos nos governos de Fernando Henrique Cardoso, não tem a opinião que se imaginaria, e que está nas manchetes, editoriais e colunas de opinão, sobre o caso das ditas manobras contábeis da Petrobras, agora uma CPI?
Everardo Maciel - Independentemente de ter trabalhado em qualquer governo, meu compromisso é dizer a verdade que eu conheço. Então, a verdade é que a discussão sobre essa suposta manobra contábil da Petrobras é rigorosamente uma farsa.

Uma farsa, um factóide?
É exatamente isso. Farsa, factóide. E por quê? Porque não se pode falar de manobra contábil, porque a contabilidade só tem um regime, que é o de competência.

Traduzindo em miúdos, aqui para leigos como eu....
Eu faço um registro competência... quer dizer o seguinte: os fatos são registrados em função da data que ocorreram e não da data em que foram liquidados. Por exemplo: eu hoje recebo uma receita. Se estou no regime de competência, a receita é apurada hoje. Entretanto, se o pagamento desta receita é feito no próximo mês, eu diria que a competência é agosto e o caixa é setembro. Isso é competência e caixa, esta é a diferença entre competência e caixa, de uma forma bem simples.

Cabe uma pergunta, de maneira bem simples: então, Secretário, há um bando de gente incompetente discutindo a competência?
Eu não chegaria a fazer essa observação assim porque não consigo identificar quem fez essas declarações, mas certamente quem as fez foi, para dizer o mínimo, pouco feliz.

Por que o senhor se refere, usa as expressões, "farsa" e "factóide"?
Vejamos: farsa ou factóide, como queiram, primeiro para explicar indevidamente a queda havida na arrecadação. Agora, a Petrobras, no meu entender, tem ABSOLUTO DIREITO (NR: Destaque a pedido do entrevistado) de escolher o regime de caixa ou de competência para variações cambiais, por sua própria natureza imprevisível, em qualquer época do ano. É bom lembrar que a opção pelo regime de caixa ou de competência não repercute sobre o valor do imposto a pagar, mas, sim, a data do pagamento. Essas coisas todas são demasiado elementares. Para especialistas.

Então por que todo esse banzé no Oeste?
Não estou fazendo juízo de valor sobre a competência de ninguém, mas, neste caso, para o governo, me desculpem o trocadilho, o que contava era o caixa. E o caixa caiu. Para tentar explicar por que a arrecadação estava caindo, num primeiro momento se utilizou o factóide Petrobras. No segundo, se buscou explicações imprecisas sobre eventuais pressões de grandes contribuintes, às vezes qualificados em declarações em off como financiadores de campanha. Entretanto, não se identificou quem são esses grandes "financiadores de campanha" ou "contribuintes". Desse modo, a interpretação caiu no campo da injúria.

O senhor tem quantos anos de Brasília?
Não consecutivamente, 34 anos. Descontado o período que passei fora, 30 anos.

Diante desse tempo, o senhor teria alguma espécie de dúvida de que o pano de fundo disso aí é a eleição 2010?
Eu acho que nesse caso, em particular e em primeiro lugar, o pano de fundo era a sobrevivência política de uma facção sindical dentro da Receita.

Seria o pessoal que o atormentou durante oito anos?
Não todo tempo. E de qualquer sorte, de forma inócua.

Sim, mas me refiro para o que reverbera para além da secretaria,do que chega às manchetes... os casos da Petrobras, um atrás do outro.
Todos esses casos são, serão esclarecidos, e acabam, acabarão sendo esquecidos, perderão qualquer serventia para 2010. São factóides de vida curta. Depois disso chegamos à terceira fase do factóide.

Mais ainda? Qual é?
Aí vem a história do virtual diálogo que teria ocorrido entre a ministra-chefe da casa civil, Dilma Rousseff, e a secretária da receita, Lina Vieira. Não tem como se assegurar se houve ou deixou de haver o diálogo, mormente que teria sido entre duas pessoas, sem testemunhas. Agora tomemos como verdadeiro que tenha ocorrido o diálogo. Se ocorreu o diálogo, ele tem duas qualificações: ou era algo muito grave ou algo banal.

Sim, e aí?
Se era algo banal, deveria ser esquecido e não estar nas manchetes. Se era algo grave, deveria ter sido denunciado e chegado às manchetes em dezembro, quando supostamente ocorreu o diálogo. Ninguém pode fazer juízo de conveniência ou oportunidade sobre matéria que pode ser qualificada como infração. Caso contrário, vai parecer oportunismo.

À parte suas funções conhecidas, de especialista, por que coisas tão óbvias como essa que o senhor tá dizendo não são ditas? Já há dois meses essa conversa no ar sem que se toque nos pontos certos, óbvios...
Eu não sei porque as pessoas não fazem as perguntas adequadas...

Talvez porque elas sejam incômodas para o jogo, para esse amontoado de simulacros que o senhor aponta? Quais seriam as perguntas reveladoras?
Por exemplo: quais são os nomes dos grandes contribuintes, quando e de que forma pressionaram a Receita? Quando foi inciada a fiscalização dos fatos relacionados com o senhor Fernando Sarney? Quantos foram os contribuintes de grande porte no Brasil que foram fiscalizados no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período de anos anteriores e qual foi o volume de lançamentos? Ainda uma outra pergunta: a Receita, em algum momento, expediu uma solução de consulta que tratasse dos casos de variações cambiais como os alegados em relação à Petrobras? Respostas a isso permitiriam lançar luz sobre os assuntos.

Última pergunta, valendo-me de um jargão jornalístico: trata-se então de um amontoado de cascatas?
Não tenho o brilhantismo do jornalista para construir uma frase tão fortemente elegante e esclarecedora, mas, modestamente, prefiro dizer: farsa e factóide. Ao menos, no mínimo, algumas das coisas que tenho visto, lido e ouvido, não passam de factóides. Não passam de uma farsa."