terça-feira, 25 de setembro de 2012

De 1991 a 2011, a renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais que a dos 10% mais ricos.

Matéria do Rede Brasil Atual.

Estudo do Ipea, com base em dados do IBGE, aponta na última década redução sem precedente da desigualdade desde os anos 1960

Publicado em 25/09/2012

São Paulo – Expressão dos anos 1970, cunhada pelo ex-ministro Delfim Netto, vem à tona em estudo divulgado hoje (25) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, do IBGE. “O tamanho do bolo brasileiro ainda está crescendo mais rápido e com mais fermento entre os mais pobres”, diz o documento – Delfim falava em esperar “o bolo” da economia crescer para então dividi-lo. Mas foi só na década passada que isso começou a ocorrer de fato, embora as fatias continuem desiguais. Se os anos 1990 podem ser chamados os de estabilização da economia, os anos 2000 foram marcados pela redução da desigualdade de renda.

Dos arquivos do blog:
O Brasil é a Nova América?

“Como consequência da manutenção do crescimento com redução da desigualdade, a pobreza mantém uma contínua trajetória decrescente, que vem desde o fim da recessão de 2003 independentemente da linha de pobreza e e da medida usada”, observa o instituto. Uma das conclusões do estudo afirma que “não há na história brasileira, estatisticamente documentada desde 1960, nada similar à redução da desigualdade de renda observada desde 2001”. Daquele ano até 2011, a renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais que a dos 10% mais ricos. No período de 12 meses, até junho deste ano, já com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, o mesmo movimento foi captado, “perfazendo 11 anos consecutivos de quedas do índice de Gini (índice criado para medir a concentração de renda em determinado grupo)”.

Por um lado, a desigualdade no Brasil permanece entre as 15 maiores do mundo, lembra o Ipea, “e levaria pelo menos 20 anos no atual ritmo de crescimento para atingir níveis dos Estados Unidos, que não são uma sociedade igualitária”. Mas, pela Pnad, o país atingiu em 2011 seu menor nível de desigualdade de renda “desde os registros nacionais iniciados em 1960”. Nos anos 1960, o índice de Gini atingia 0,535, chegando ao pico de 0,607 nos anos 1990. Em 2011, chegou a 0,527 – quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.

“Se no futuro um historiador fosse nomear as principais mudanças ocorridas nas sociedade brasileira e latino-americana na primeira década do terceiro milênio, poderia chamá-la de década da redução da desigualdade de renda”, sustenta o estudo do Ipea. “Da mesma forma que a de 90 foi a da estabilidade para nós (depois dos vizinhos), e a de 80, a da redemocratização. Existe paralelo entre a fotografia e os movimentos do Brasil e da América Latina. Em ambos, o nível da desigualdade é dos mais altos do mundo, mas em queda. A má notícia é que ainda somos muito desiguais; a boa notícia prospectiva é que há muito crescimento a ser gerado na base da pirâmide social.”

De 2001 a 2011, no caso de pessoas que vivem em famílias chefiadas por analfabetos, a renda cresceu 88,6% enquanto aquelas cujas pessoas de referência têm 12 ou mais anos de estudo tiveram queda de 11,1%. A renda no Nordeste sobe 72,8% e a do Sudeste, 45,8%. Também houve crescimento maior nas áreas rurais (85,5%) em relação às metrópoles (40,5%) e as demais cidades (57,5%). E a renda dos que se identificam como pretos e pardos sobe mais (66,3% e 85,5%, respectivamente) do que a dos brancos (47,6%). “De maneira geral, a renda de grupos tradicionalmente excluídos, que tinham ficado para trás, foi o que mais prosperou no período. Em particular, analfabetos, negros, crianças, nordestinos, moradores do campo foi onde a renda cresceu mais no século 21”, afirma o Ipea.

Ainda no período 2001-2011, as mudanças no mercado de trabalho representaram mais de três quartos do aumento da renda domiciliar per capita. O segundo fator de elevação da renda foram as transferência da Previdência Social. Já a dinâmica de 2009 a 2011 foi diferente: quase todo o crescimento da renda ocorreu pela elevação dos salários dos trabalhadores ocupados. “Em outras palavras, especialmente no período mais recente, houve uma disjunção entre as causas do crescimento da renda média e da redução da desigualdade. Antes, o mercado de trabalho fora o principal motor de ambos os processos; mais recentemente, como vimos, sua contribuição para a queda da desigualdade diminuiu bastante. Caso essa tendência permaneça nos próximos anos, o objetivo último de promover um crescimento pró-pobre vai enfrentar novos obstáculos”, prevê o instituto.

Ainda segundo o estudo, os rendimentos do trabalho explicam 58% da queda do índice de Gini de 2001 a 2008, sendo 19% atribuídos a aumentos dos benefícios da Previdência e 13% pelo programa Bolsa Família. "Cada ponto percentual de redução do Gini pelas vias da previdência custou 352% mais que o obtido pelas vias do Bolsa Família. Todas essas transferências cresceram no período. Ou seja, a desigualdade poderia ter caído ainda mais se fizéssemos a opção preferencial pelos pobres pelas vias do Bolsa Família”, observa o Ipea.

E quanto a esta década? O estudo aponta alguns caminhos. “Se for a da qualidade de educação pode-se incluir no Bolsa Família a educação da primeira infância, a presença dos pais nas escolas e prêmios extras por performance escolar medidos pelo sistema de avaliação de proficiência instalado”, diz o Ipea, citando itens como Prova Brasil e Enem. “Se for a década do maior protagonismo dos pobres novas portas de entrada à cidadania e aos mercados podem ser abertas pelo Bolsa Família através de crédito, seguro e poupança. Se for a da responsabilidade fiscal o Bolsa Família custa hoje aos cofres federais menos de 0,5% do PIB. Se for a da erradicação da miséria proposta, o Bolsa Familia é o caminho mais curto para se chegar lá principalmente se acompanhado de upgrades que dê mais a quem tem menos, que trate os diferentes pobres na medida de sua diferença. A segunda década do novo milênio parece ser a de múltiplos caminhos em direção à superação da pobreza. Diversos deles serão trilhados sobre a estrutura do Bolsa Família.”

domingo, 9 de setembro de 2012

Alunos de escolas com 12ª melhor média do País no Ideb são beneficiários do Bolsa Família.


Ilustração de Remy Charlip para A Day of Summer.
Ilustração de Remy Charlip.


Alunos de escolas com 12ª melhor média do País no Ideb em Pedra Branca moram no campo, mas recebem incentivo de professores e familiares para se dedicar aos estudos
Daniel Aderaldo - iG Ceará | 06/09/2012 05:00:28

Os 360 alunos das duas escolas com maior nota do Ceará no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011 na avaliação dos anos iniciais (1ª à 4ª série) são filhos de pequenos agricultores e beneficiários do programa federal Bolsa Família.

Encravada em uma serra castigada pela seca, a 300 quilômetros de Fortaleza, a pequena Pedra Branca tem uma rede municipal de ensino formada por 60 instituições de ensino e foram justamente as escolas de Ensino Infantil e Fundamental Cícero Barbosa Maciel e Sebastião Francisco Duarte, localizadas na zona rural, onde normalmente os resultados são inferiores, que obtiveram nota 8,1. Esse resultado representa a 12ª melhor pontuação entre todas as instituições públicas do País.

Maria Ducilene Pereira da Silva é diretora da Escola Cícero Barbosa Maciel há seis anos. Conhece bem seus alunos e, a todo instante, cuidava de dividir o mérito do sucesso no Ideb entre gestores, professores, alunos e pais.

Dos arquivos do blog:
Desde a implantação do Bolsa Família, a Taxa de Natalidade já caiu 25%

“Embora tenhamos aqui praticamente 100% filhos de agricultores que vêm de famílias simples, eles tem um diferencial. Não temos problemas com violência, com drogas, com desrespeito de alunos para com professores ou a direção da escola. Nós não temos atritos entre alunos”, afirmou.


Filha de agricultores, Francisca Diany Martins do Nascimento, 11 anos, orgulha-se das notas que tira na escola e, como praticamente todos os colegas, alimenta o sonho de ser “doutora” – médica. O pai passa mais tempo em São Paulo do que em Pedra Branca. Seguiu a sina de ir cortar cana-de-açúcar para tentar fazer chegar à mesa de casa um pouco mais do que o programa federal Bolsa Família proporciona.

“Ele liga para mim sempre para saber se eu estou bem nos estudos. Eu conto que estou bem nas provas: tirei oito, nove, dez

A realidade de Diany é compartilhada por Ana Carla Alves Furtuoso, 11 anos, assim como ocorre com quase todos os alunos matriculados nas duas escolas campeãs em Pedra Branca. A casa simples da família, de paredes pintadas com cal e chão de cimento frio, tem quatro cômodos, que são divididos com duas irmãs mais velhas e os pais, pequenos agricultores.

Uma saca de milhão (60 quilos) e meia saca de feijão é o saldo do que foi plantado no início do ano, antes da quadra chuvosa mais uma vez decepcionar. Do pouco colhido, a família separa uma parte do feijão para a alimentação e outra é vendida. A própria prefeitura compra a safra, que vai para a merenda escolar das crianças, toda baseada na agricultura familiar. O milho fica para o consumo da criação de animais.


Estudante do turno da manhã da 6ª série na Escola Sebastião Francisco Duarte, Carla já havia feito a tarefa de casa quando a reportagem do iG pediu para que ela mostrasse onde e como estudava em casa. Tímida, a menina buscou no quarto o caderno de capa dura e o livro de Matemática, mas não o lápis. Explicou que havia emprestado para uma colega, moradora de um sítio vizinho, que estava com o material escolar incompleto. “Ela passou aqui e levou para fazer o dever de casa também”.

Com uma caneta, revisou a lição feita no dia anterior. Tudo sob a supervisão da mãe. Como estudou somente até o ensino fundamental, a ajuda de Gonçalina Alves Feitosa, ou simplesmente Dona Branca, limita-se ao incentivo. “Quem tira as dúvidas mesmo é a irmã mais velha”

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Brasil é a Nova América?

O artigo abaixo foi publicado no Bullish on Books, um blog da CNBC sobre livros de negócios. O autor, James Dale Davidson, escreveu também o livro "O Brasil é a Nova América: como o Brasil oferece mobilidade ascendente em um mundo em colapso".

Nem sei se, tomado o conjunto da obra, eu gostaria que o Brasil algum dia vire uma "nova América"; não gosto muito da ideia de que a gente venha a repetir o tal sonho americano - que, claro, tem aspectos positivos. Prefiro que a gente construa um outro tipo de sociedade, ainda que aproveitando coisas boas que eles, os norte-americanos, fizeram por lá.

Mas não deixa de ser interessante ver um autor norte-americano fazendo aquilo que, por aqui, é coisa rara: louvar o que nós temos conquistado. 

Capa do livro "O Brasil é a Nova América: como o Brasil oferece mobilidade ascendente em um mundo em colapso"
Brazil Is the New America: How Brazil Offers Upward Mobility in a Collapsing World



Há não muito tempo atrás, havia uma crença generalizada de que os Estados Unidos era o melhor destino do mundo para alcançar ascenção social, uma aspiração que se tornou conhecida como "o sonho americano".

Pela a maior parte dos séculos 19 e 20 isso realmente parece ser verdade.

Mas não mais.

Hoje, o passaporte mais valioso do mundo no mercado negro não é o dos EUA, mas o brasileiro.

O Brasil não só vem crescendo a uma taxa média de 5% enquanto a economia dos EUA patina; o Brasil parece muito mais perspectiva de crescimento no futuro. O Brasil é o maior país tropical do mundo, com uma reserva incrível de recursos inexplorados.

Pra começar, em um mundo árido, o Brasil é a nova superpotência da água. A revista The Economist afirmou: "segundo a avaliação da ONU sobre a água do mundo, de 2009, o Brasil tem mais de 8 trilhões de km³ de água renovável a cada ano, sem dificuldades, mais do que qualquer outro país." Para referência, existem 264 bilhões de galões em um km³. Então, 8 trilhões (ou 8 trilhões) de km³ é um monte de água.

Dos arquivos do blog:


Trinta e cinco anos atrás, o Brasil importava alimentos. Hoje, é o maior exportador mundial de cinco culturas princípais, bem como de carne e frango. Cientistas brasileiros projetaram novas versões tropicais, de ciclo curto, de culturas temperadas, como soja e milho. Elas amaduressem de 8 a 12 semanas mais rápido do que as versões originais temperadas, tornando possível, aos agricultores brasileiros, produzir duas colheitas por ano em vez de uma, como nos Estados Unidos.

Em 2002, o rendimento médio global para a soja no Brasil (2,6 toneladas / hectare) superou o rendimento médio nos Estados Unidos (2,4 toneladas / hectare). Mais significativamente, o custo de produção de soja no Brasil caiu para cerca de US $ 6, 23 por saca de 60 kg, apenas 50% do nível dos EUA, de US $ 11,72.

Enquanto ninguém, fora alguns investidores profissionaism, estava olhando, o Brasil calmamente ultrapassou os Estados Unidos na liderança mundial para a mobilidade ascendente. Com uma população apenas dois terços do tamanho de os EUA, o Brasil criou mais de 15 milhões de empregos ao longo dos últimos 8 anos, enquanto os EUA perderam milhões de vagas. Combinando a independência energética e vastos recursos naturais, incluindo 60% das terras ociosas aráveis do mundo e 25% de sua água doce, o Brasil é a primeira superpotência tropical do mundo, oferecendo uma nova fronteira de crescimento.

Mas não cometa o erro de pensar que o Brasil é apenas um grande e bem regada fazenda. O Brasil tem uma economia diversificada e moderna. Na verdade, a agricultura representa apenas 5,5% da economia brasileira. O Brasil tem também um grande setor de mineração, mas 84% ​​das exportações brasileiras são de produtos manufaturados. Começando com os automóveis e aviões (o Brasil é 3 º produtor mundial de aviões comerciais), aço, ferramentas, têxteis e vestuário, calçados, cimento, produtos químicos, fertilizantes, vagões e locomotivas também são importantes exportações brasileiras. E provavelmente surpreenderia a maioria dos americanos saber que, em vários momentos na última década, o Brasil também foi o maior exportador mundial de programas de televisão, habilmente dublados do português para outras línguas.

Consideremos o embaraçoso tema da independência energética. Os políticos norte-americanos tem falado sobre alcançar a independência energética por décadas. No entanto, eles fizeram pouco ou nada para avançar para esse objetivo. A importação de petróleo pelos EUA subiram de cerca de 30% do consumo, em 1970, para em torno de 70% recentemente.

O Brasil, por outro lado, fez um progresso dramático. Em 1974, o Brasil importou cerca de 80% do seu petróleo. Hoje, a percentagem líquida das importações de petróleo pelo Brasil é inferior a zero. O Brasil se tornou um exportador de petróleo em 2009. Hoje o Brasil tem cerca de 100 bilhões de barris de reservas de petróleo e é amplamente reconhecido como líder mundial em biocombustíveis.

O salário real médio nos Estados Unidos tem estado estagnado durante um quarto de século e um em cada sete americanos agora participa do programa de cupons de alimentação, refletindo um crescimento preocupante da pobreza. (Pelos cálculos oficiais, 5,4 milhões de norte-americanos afundaram na pobreza durante o primeiro ano da presidência de Obama). Enquanto isso, quase 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza para a classe média na última década.

Enquanto o crescimento do emprego nos Estados Unidos foi rudimentar, e mais americanos se qualificaram para invalidez permanente do que encontraram empregos durante o atual mandato presidencial, o desemprego brasileiro está em 5,8% e os salários estão subindo devido à escassez de trabalhadores.

Não muito tempo atrás, quem queria viver o "sonho americano" de mobilidade ascendente tinha que viver nos Estados Unidos. Mas o que era verdade nos séculos 19 e 20 já não é no despetar do século 21. Não só 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza para entrar na classe média na última década; o Brasil tornou-se um ótimo lugar para ficar rico, somando 19 novos milionários a cada dia desde 2007. Nada mal em comparação com os Estados Unidos, que perdeu 353 milionários a cada dia, só em 2011.

Não é de admirar que um número crescente de americanos estão migrando para o Brasil por  uma oportunidade. Como Scott e Mandy Harker disseram sobre sua decisão de deixar os EUA para o Brasil, "Para nós, era como estar em um navio afundando, esperando ele ir para baixo."