Brasília: dois eixos, de Mário Fontenelle (fonte: Instituto Antônio Carlos Jobim) |
Assim, por acaso, esse livrinho caiu nas minhas mãos. ”Com a palavra, Lucio Costa”, editado pela Casa Lucio Costa, traz textos do próprio arquiteto, urbanista e professor sobre diversos temas. Entre eles, esse aí embaixo.
Abstraindo uma certa dose de auto-elogio que encerra o texto, ele revela o competente escritor por traz do arquiteto e uma visão ou esperança positiva de Brasil, que não precisa desconsiderar a dura realidade da qual se parte.
“O que ocorre em Brasília e fere nossa sensibilidade é essa coisa sem remédio, porque é o próprio Brasil. É a co-existência, lado a lado, da arquitetura e da anti-arquitetura, que se alastra; da inteligência e da anti-inteligência, que não para; é o apuro parede-meia com a vulgaridade, o desenvolvimento atolado no subdesenvolvimento; são as facilidades e o relativo bem-estar de uma parte, e as dificuldades e o crônico mal estar da parte maior. Se em Brasília esse contraste avulta é porque o primeiro élan visou além – algo maior.
Brasília é, portanto, uma síntese do Brasil com seus aspectos positivos e negativos, mas é também testemunho de nossa força viva latente. Do ponto de vista do tesoureiro, do Ministro da Fazenda, a construção da cidade pode ter sido mesmo insensatez, mas do ponto de vista do estadista, foi um gesto de lúcida coragem e confiança no Brasil definitivo.
E a autonomia e não vassalagem de seu urbanismo e de sua arquitetura, como mundialmente reconheceu a UNESCO ao transformar tão jovem cidade em Patrimônio da Humanidade, é a prova de que trilhamos o caminho certo.”
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