terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pesquisa mostra Brasil liderando índice de aproveitamento social do crescimento econômico


Já é lugar comum: qualquer referência ao crescimento do Brasil vem acompanhada ou é retorquida pela ressalva derrotista de que, dentre os BRICs, ele é o que menos cresce. Recentemente, outra objeção vem se somando. Agora, lembra-se sempre que o México tem crescido mais que o Brasil.

O discurso subjacente, acho, é sempre o mesmo. O crescimento da economia brasileira e as mudanças por que passamos é resultado do acaso, do momento mundial – e da política econômica de 15 anos atrás. Existe mesmo quem diga que o Brasil cresce “apesar do Brasil”. No caso do México, que integra o NAFTA e tem política econômica mais liberal, além disso, somam-se as críticas ao sepultamento da ALCA.


Dos arquivos do blog:

Agora, matéria do Valor transcrita abaixo (via Vermelho) revela que, apesar de ter crescido apenas 5,1% em média nos últimos anos, os ganhos sociais da evolução econômica do Brasil equivalem a um crescimento da ordem dos 13% ao ano – ou seja, a um padrão chinês de evolução.

Esse modelo de desenvolvimento econômico, segundo a pesquisa noticiada, referente ao período entre 2006 e 2011, coloca o Brasil na liderança mundial quanto ao aproveitamento social do crescimento econômico. O México, veja você, ocupa a 127ª posição no ranking elaborado, que conta com 150 países.

No que diz respeito aos BRICs, vale repetir o seguinte parágrafo do texto abaixo:

“O estudo também compara o desempenho recente dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.”


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O mesmo Valor traz, hoje, em artigo do Delfim Netto, referência a um outro índice de bem estar da população e à sua evolução. E o gráfico com os dados referentes ao período entre 1995 e 2011, copiado abaixo, após apresentação do índice pelo próprio Delfim, revelam uma completa estagnação até 2003, quando é substituída por forte e constante crescimento.

Não sou economista (ou outro “cientista”), mas não consigo “comprar” a ideia de que uma mudança tão repentina quanta acentuada na evolução do tal índice ocorra independente de uma alteração equivalente na condução da política econômica e social. 

"As pesquisas empíricas sugerem que o sentimento de “bem-estar” depende, fundamentalmente, de duas variáveis: 1) do crescimento da renda real dos cidadãos, que pode ser aproximada pela sua renda média; e 2) da distribuição entre os cidadãos da renda produzida. Elas sugerem, cada vez mais fortemente que uma melhoria do nível de igualdade aumenta o “bem-estar” de todos.

Diante desses fatos, o grande economista Amartya Sen, ganhador do Nobel de 1998), propôs uma medida engenhosa para simular o “bem-estar social”. Se o índice de Gini (que vai de 0 a 1) “mede” a concentração da renda, o seu complemento (1 menos o índice de Gini) sugere uma medida de “desconcentração”, ou seja, de maior igualdade na distribuição da renda.

É bom lembrar que o índice de Gini mede a “distância média” entre as pessoas, não o seu nível de bem-estar. A sugestão de Sen é construir um indicador composto da renda média real multiplicada pelo índice de “desconcentração”, de forma a captar um pouco melhor as duas variáveis a que nos referimos acima.

Felizmente, um interessante trabalho do Ipea (“A Década Inclusiva (2001-2011)”, Comunicações do Ipea nº 155, 25/10/2012) construiu o tal índice, que reproduzimos no gráfico abaixo. Vemos claramente que na octaetéride (1995-2002) ele permaneceu estagnado."

Gráfico do índice de bem estar social calculado pelo IPEA com base no Gini e na renda média.
Gráfico do índice de bem estar social calculado pelo IPEA com base no Gini e na renda média.

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O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia.

A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group (BCG), que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda, na sigla em inglês), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE.

O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 1990", diz o texto do relatório "Da riqueza para o bem-estar", que será oficialmente divulgado hoje. O estudo também faz referência ao programa Bolsa-Família, destacando que a ajuda do governo às famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola.

Gráfico do Ranking dos países que fizeram mais progressos na elevação dos padrões de vida, entre 2006 e 2011.
Ranking dos países que fizeram mais progressos na elevação dos padrões de vida, entre 2006 e 2011.
Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola (98), Albânia (97,9), Camboja (97,5) e Uruguai (96,9). A Argentina ficou na 26ª colocação, com 80,4 pontos. Chile (48º) e México (127º) ficaram ainda mais atrás.

Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança (estabilidade política, liberdade de expressão, direito de propriedade, baixo nível de corrupção, entre outros itens), educação, saúde, ambiente e infraestrutura.

O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidas.

Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, com 100 pontos, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária, com 47,8 pontos.

Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais."

Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos – Peru e Uruguai – aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis – Angola, Etiópia e Ruanda – e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação ao padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã.

Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6,5% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%.

O estudo também compara o desempenho recente dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.

O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país."

Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Businessweek: baixa recorde no desemprego cria escassez de empregadas domésticas no Brasil


Por David Biller and Raymond Colitt

Por uma década, Geane Menezes ganhou não mais que US$ 250 por mês limpando a casa de uma família rica brasileira. Agora, ela vende lembrancinhas em uma loja no aeroporto na cidade nordestina do Recife e planeja abrir um negócio.

"Eu me sinto mais valorizada e ganho duas vezes mais", disse Geane, 34 anos, arrumando as redes e castanhas de caju da loja.

Geane não é a única pendurando seu avental. Com o desemprego em mínimos históricos na maior economia da América Latina, as mulheres pobres, que por décadas formaram uma fonte de trabalho doméstico barato para as classes média e alta, estão buscando empregos melhor remunerados e mais qualificados. O resultado é uma oferta cada vez menor de ajuda, o que permitiu que as babás, empregadas domésticas e cozinheiras restantes exigissem aumentos salariais maiores que o dobro da taxa de inflação desde 2006.

Dos arquivos do blog:


Os custos podem subir ainda mais rápido, e deixar o serviço doméstico inatingível para a classe média, se o Congresso aprovar uma legislação que garante aos empregados domésticos o pagamento de horas-extras, bónus anuais e outros direitos atualmente desfrutados pelo resto da força de trabalho do Brasil. A defensora do projeto, a deputada Benedita da Silva, do Partido dos Trabalhadores, diz que tais benefícios estão muito atrasados.

Mesmo com os recentes avanços  na redução da pobreza, o Brasil ocupa o 14º pior lugar em igualdade de renda (abaixo da Nigéria e Rússia) dentre os 154 países listados nos Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial .

"Hoje, eu não teria que ser uma empregada doméstica", disse Benedita da Silva, de 70 anos de idade, que em sua juventude trabalhou como uma no Rio de Janeiro, enquanto vivia em uma favela. "O mercado de trabalho oferece oportunidades muito melhores."

Redução da Pobreza
O Brasil liderou a redução da pobreza na América Latina na última década, com uma expansão  de mais de 40% em sua classe média (aqueles que ganham de US$10 a US$ 50 por dia), de acordo com um estudo do Banco Mundial publicado neste mês.

Por tráz do progresso,  a inflação baixa e a estabilidade econômica, que levou a um crescimento médio anual na década de 3,8%, além de uma expansão nos gastos com combate à pobreza durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), um ex-metalúrgico. A Taxa de desemprego em todo o país mergulhou para um quase recorde de 5,4% em setembro, menos da metade do nível de uma década antes.

Enquanto o Brasil ganha mobilidade social, o número de empregados domésticos caiu de 7,2 milhões em 2009 para 6,7 ​​milhões no ano passado, de acordo com a última pesquisa da agência nacional de estatística.

Idade Média
A média de idade também está aumentando, enquanto a juventude brasileira fica mais tempo na escola, se preparando para obter empregos melhor remunerados onde a escassez de mão de obra qualificada existe atualmente, como na engenharia e comércio. Apenas 5,8% dos empregados domésticos têm entre 18 e 24 anos, em comparação com 14,8% no total da força de trabalho, de acordo com um estudo do ministério das finanças em 2011. Tradicionalmente, as mulheres pobres no Brasil começavam a limpar casas em seus 20 anos ou, às vezes, até como adolescentes.

"A filha do empregada já não quer ser empregada doméstica", disse Marcelo Neri, um economista que pesquisa tendências de pobreza e é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do governo federal, conhecido como IPEA. "Ela está estudando, indo para a escola secundária, e quer uma profissão melhor."

Por mais de um século, o Nordeste do Brasil, origem de Lula e Geane, produziu uma constante migração de trabalhadores para as cidades do sul industrializado – e muitos deles acabaram trabalhando como empregados domésticos. Agora, os empregos estão sendo criados no Nordeste, onde o crescimento econômico supera o resto do país, e as empregadas estão voltando para casa, disse Fernando Aquino, presidente do Conselho de Regional de Economia de Pernambuco.

A Montadora italiana Fiat, que está construindo uma fábrica de R$ 3,5 bilhões (US $ 1,7 bilhão) em Pernambuco, e a Kimberly-Clark Corp, com sede em Dallas,  estão entre os fabricantes se estabelecendo na região para explorar o seu mercado de trabalho e crescente classe consumidora.

Escola noturna
Geane disse que ela está fazendo planos de frequentar a escola notirna para estudar turismo e hospitalidade, e um dia quer abrir sua própria loja em frente à praia em Recife. Ela disse que confia o crédito governamental vai ajudar a alcançar esse objetivo.

"Eu espero não ter que voltar para a limpeza", disse ela.

Sob Lula, o Brasil aumentou os gastos com os pobres. Ele expandiu o seu principal programa social para os pobres, o Bolsa Família, de 3,6 milhões de famílias em 2003 para 12,7 milhões em 2010, de acordo com o IPEA. Sua protegida e sucessora, Dilma Rousseff, mais do que duplicou o seu programa habitacional, que, até agosto de 2012, subsidiou o crédito para 1 milhão de famílias, pobres em sua maioria, comprarem sua primeira casa.

Número cada vez menor
Os números cada vez menores de pessoas dispostas a trabalhar como empregada fazem encontrar funcionário um desafio para as agências de colocação, como a Maid in Brasil. Ela analisa 20 mulheres oferecendo serviços de limpeza por dia em 2008, quando começou a conectar famílias do Rio de Janeiro com a ajuda, disse a co-diretora Magaly Mega. Agora, é sorte entrevistar apenas 7 empregadas domésticas por dia - a maioria das quais é menos qualificada, exige melhores salários e demite-se sem hesitação, se o seu empregador é muito exigente, ela disse.

"Houve uma mudança radical," Magaly disse em uma entrevista por telefone. "Antes, havia uma grande quantidade de pessoas dispostas a ser empregada doméstica e morar no serviço, e todas aceitavam o salário mínimo imediatamente", disse ela. "Agora, isso é muito raro."

A escassez também se reflete nos salários para os trabalhadores domésticos, que aumentaram 83% desde 2006, mais do dobro da taxa de inflação, de acordo com a agência nacional de estatística. O salário médio mensal para os trabalhadores domésticos foi de R$723 em setembro, de acordo com a agência de estatísticas. O salário mínimo legal do Brasil é atualmente de R$ 622.

Dependências de empregada
A mudança afeta atitudes culturais, refletidas até na forma como casas estão sendo projetados. Menos casas de classe média estão sendo construídas com quartos de dormir para empregadas domésticas, e elevadores de serviço, tradicionalmente utilizadas pela ajuda, já não são um acessório comum.

"A maneira como as pessoas cuidam de suas próprias casas, utilizando mais as máquinas de lavar e contratando uma diarista em vez de empregadas residente, é um sinal de modernização", disse Neri, Ipea. "Isso é difícil para as famílias acostumadas a serem servidas."

O boom de empregos contribuiu para um aumento de 91% na renda dos 10% mais pobres do Brasil na última década, mais de cinco vezes mais rápido do que o poder aquisitivo dos 10% mais ricos, de acordo com um estudo do IPEA publicado em setembro.

No entanto, quase 3/4 dos empregados domésticos são pagos por baixo dos panos, privando-os dos direitos legais, como aposentadoria.

'Herança Maldita'
A congressista Benedita da Silva disse que sua proposta de emenda constitucional, que, no início do mês, passou em uma comissão da Câmara por unanimidade, tem como objetivo acabar com tais práticas e ser mais um passo para acabar com a "herança maldita" de injustiça econômica do Brasil.

O Brasil foi o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão, em 1888, e seu legado continua a penetrar o tecido social do país. Embora a proposta de lei garanta direitos adicionais, os custos adicionais podem levar os empregadores a demitir cerca de 10% das empregadas atualmente com contratadas, de acordo com Mario Avelino, que dirige uma organização sem fins lucrativos chamada Doméstica Legal, que promove direitos trabalhistas para empregadas domésticas.

"É como um tiro no pé", Avelino disse por telefone do Rio de Janeiro. "A classe alta não vai desistir de ter uma empregada. É a classe média, em que ambos os pais têm que trabalhar, que vai sentir o impacto. "

Rosane Aguiar, uma pediatra com uma casa em Santo da cidade Antonio de Pádua, no Rio de Janeiro, perdeu a conta de quantas empregadas domésticas ela viu ir e vir ao longo dos últimos cinco anos, e disse que salários mais altos para menos horas de trabalho fazem a despesa insustentável.

"Nos fins de semana, eu fico na cozinha e lavando roupas", Rosane, 54 anos, disse em entrevista por telefone. "Nós temos que nos acostumar com o modelo norte-americano, que está chegando aqui. A classe média fica com poucas alternativas. "

Para contatar o repórter desta história: David Biller, no Rio de Janeiro, dbiller1@bloomberg.net; Raymond Colitt, na Redação de Brasília, rcolitt@bloomberg.net;

Para contactar o editor responsável por essa história: Joshua Goodman em jgoodman19@bloomberg.net

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Brasil deve subir cinco colocações em ranking de competitividade industrial.

A Deloitte fez uma pesquisa com 550 executivos-chefes de companhias industrias ao redor do mundo, visando elaborar seu "2013 Global Manufacturing Competitiveness Index". Segundo as impressões dos entrevistados, hoje o Brasil ocuparia o 8º lugar no ranking de competitividade industrial.

Entretanto, a pesquisa também sondou as expectativas dos mesmos executivos acerca da situação dos países em cinco anos. Segundo o relatório (íntegra em PDF aqui), eles acreditam que, em 2017, o Brasil ocupará o 3º lugar no ranking de competitividade industrial, passando países como a Alemanha e os Estados Unidos.

Abaixo, o ranking divulgado no relatório e, depois, o texto da análise específica sobre o Brasil.

2013 Global Manufacturing Competitiveness Index


Surpreendentemente, o  Brasil caiu no ranking GMCI desde 2010, passando do quinto para o oitavo lugar em competitividade atual de produção. Ao contrário da Coréia do Sul e de Taiwan, no entanto, os executivos entrevistados esperam que o ambiente de produção no Brasil melhore rapidamente e acham que o país se tornará a terceira nação mais competitiva do mundo nos próximos cinco anos.

A chave para as vantagens da produção brasileira são os investimentos sectoriais em curso e as ações políticas favoráveis, que ​procuram estimular a competitividade a longo prazo. Especificamente, o recentemente anunciado plano industrial Brasil Maior deverá criar vantagens fiscais favoráveis para os fabricantes brasileiros, bem como reduzir os custos de empréstimos e de energia. Segundo o plano, o governo brasileiro também espera atacar um conjunto obstáculos fiscais, legais, financeiros e de infra-estrutura comumente referidos como o "Custo Brasil", que ajudaram a minar a competitividade das empresas brasileiras, bem como a competitividade de todo o mercado interno quanto à capacidade de importadores e exportadores de lidarem com a competição internacional.

Felizmente, os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 devem impulsionar uma série de melhorias. Por exemplo, o Brasil deverá melhorar a infra-estrutura e trazer investimento estrangeiro, o que, provavelmente, terá uma influência positiva sobre na melhora da indústria e do ranking competitivo do país. O Brasil também é um dos poucos países com uma base suficientemente grande de recursos naturais, juntamente com uma infra-estrutura de pesquisa relativamente avançada. Isso coloca o país em uma posição única para capturar etapas mais lucrativas da cadeia de valor através do uso de fontes de energia alternativas ecologicamente sustentáveis.

Os executivos que participaram da pesquisa GMCI/2013 expressaram preocupação com a força de trabalho do Brasil, que alguns sentem representar uma desvantagem competitiva. Isto poderia ser devido a escassa disponibilidade de trabalhadores especializados, agravada pelo alto custo do trabalho no Brasil.

Apesar de algum questionamento acerca da eficácia de longo prazo do Plano Industrial Brasil Maior, a maioria dos executivos concordam que o ambiente de produção no país vai continuar a melhorar enquanto o Brasil enfrentar de forma proativa os desafios políticos, regulamentatórios e de força de trabalho. Investimentos adicionais de empresas da China, Coréia do Sul e América do Norte, que procuram tirar vantagem das oportunidades decorrentes da Copa do Mundo e Olimpíadas, também irá aumentar competitividade.