quinta-feira, 29 de abril de 2010

AdNews: até o fim do anos, 92% das escolas brasileiras terão internet banda larga.

Matéria do AdNews.



28/04/10

O secretário de Educação à Distância do Ministério da Educação (MEC), Carlos Bielshowsky, disse que até o final deste ano 92% das escolas brasileiras terão acesso à internet. Ele apresentou as ações do governo brasileiro para promover o acesso à inclusão digital e a capacitação de professores na área de tecnologia durante a Conferência Internacional - O Impacto das Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação.

"Fizemos um acordo com as operadoras de banda larga e até o final do ano 92% das escolas brasileiras terão acesso à internet, isto significa a inclusão digital de cerca de 35 milhões estudantes", afirma Bielshowsky.

Segundo o secretário, o trabalho desenvolvido pelo MEC busca a "alfabetização digital" de professores e alunos, além de estimular a autonomia dos estudantes na formação do conhecimento através dos laboratórios de informática e de promover novas estratégias pedagógicas com o uso de conteúdos digitais na sala de aula.

"Queremos tornar a sala de aula menos aborrecida, mais atraente. Até o momento, implantamos laboratórios em 42.688 instituições, mas é idiotice fazer isso sem capacitar o professor e é isto que estamos fazendo. Em 2009 capacitamos 332.184 professores e faremos mais este ano", destaca.

Pena Neto: direção do PSDB mentiu sobre o Gente que mente.

Artigo de Mair Pena Neto para o Direto da Redação.


A primeira denúncia partiu de Carta Capital, que em matéria de Leandro Fortes revelou a montagem de um esquema tucano na internet, com o uso de hackers e colaboradores para espalhar calúnias, criar polêmicas e operar contra a candidatura de Dilma Rousseff nas redes sociais que acumulam 60 milhões de usuários.

A reportagem da revista dava nome aos bois. O sistema foi concebido por Eduardo Graeff, ex-secretário-geral da presidência de Fernando Henrique Cardoso e tesoureiro nacional do PSDB. A ação conjuga um trabalho institucional a um exército de brucutus para tentar destruir a candidatura do governo por quaisquer meios.

A campanha sórdida se revelou nesta semana com um falso artigo, atribuído à jornalista Marília Gabriela, no qual ela dizia ter medo de Dilma. O artigo foi inicialmente publicado num blog fascistóide, de um tal Horácio Camilo Banchero, que tem entre seus seguidores Eduardo Graeff. Reproduzido pelo deputado José Carlos Aleluia, do Democratas, da Bahia, em seu blog, o artigo se espalhou. Ao tomar conhecimento da farsa, Marília Gabriela a denunciou e pôs seus advogados para processar os responsáveis.

O sistema tucano é muito mais ramificado e explícito. No site oficial do PSDB, existe um link para o site “Gente que mente”, que publica acusações contra Lula e Dilma. O dito site já tinha sido citado na matéria da Carta Capital, e a direção do PSDB dizia ter sido criado por simpatizantes do partido. A revista afirmou que ele era criação de Cila Schulman, ex-secretária de Comunicação Social do governo do Paraná nas gestões Jaime Lerner (DEM), entre 1994 e 2002, que presta serviços à presidência nacional do DEM e trabalhou na campanha de Kassab à prefeitura de São Paulo.

Na verdade, uma consulta à página de registro do Comitê Gestor da Internet no Brasil revela que o domínio do site é do PSDB mesmo. O responsável pelo registro é Eduardo Graeff, que por meio do Instituto Social Democrata, criado por FHC, também criou todos os sites da campanha de José Serra, além de outro chamado petralhas.com.br, A expressão petralhas é utilizada para se referir pejorativamente aos integrantes do PT.

Tudo isso acontece à vista de todos e nenhuma providência é tomada. A mídia silencia e faz seu papel de cúmplice também tentando farejar irregularidades na campanha de Dilma. Gastou papel e articulistas para denunciar a utilização de uma foto de Norma Benguell no blog de Dilma, ignorado pela atriz, que recusou qualquer pedido de desculpas e ainda disse torcer para a vitória da petista.

Certamente o PT também tem seus brucutus, mas esses são vigiados de perto pela mídia, pronta para denunciar qualquer irregularidade em apenas um dos lados da campanha. O jogo sujo na rede dá os primeiros sinais de como será a campanha presidencial.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Inovação Tecnológica: novo computador do INPE colocará o Brasil na elite mundial da previsão do tempo.


Alex Sander Alcântara - Agência Fapesp - 14/04/2010

O novo supercomputador tem 1.272 nós, cada um com dois processadores de 2 GHz e velocidade máxima de 192 gigaflops (bilhões de operações de ponto flutuante) por segundo.

Super modelos

O Brasil deu um passo fundamental para se tornar um agente central na elaboração do próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

O motivo é que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) concluiu o processo de licitação para a compra de um supercomputador que será usado para rodar os modelos climáticos para previsões meteorológicas e estudos sobre mudanças no clima.

O supercomputador, que deverá estar em funcionamento até o fim deste ano, colocará o país entre os primeiros do mundo em aplicações de modelagem climática.

Ranking dos supercomputadores

O anúncio da compra do supercomputador foi feito nesta segunda-feira (12/4), pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, na presença do pelo diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, durante a Conferência Paulista de C&T&I, realizada na sede da Fundação.

"Quando recebemos o supercomputador anterior chegamos ao 25º lugar no mundo em estudos climáticos e previsões de tempo. Quando o novo estiver plenamente operacional, ficaremos entre os três ou quatro no cenário mundial", disse Carlos Nobre, pesquisador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe e coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

Segundo Nobre, esse é o quarto computador comprado pelo Inpe com essa finalidade - o anterior foi adquirido em 2003 - e a cada quatro ou cinco anos as máquinas precisam ser renovadas.

Desempenho do supercomputador

A empresa norte-americana Cray ganhou a concorrência, com um supercomputador com 1.272 nós, cada um com dois processadores de 2 GHz e velocidade máxima de 192 gigaflops (bilhões de operações de ponto flutuante) por segundo. Além da Cray, a japonesa NEC apresentou proposta.

O desempenho teórico máximo do novo supercomputador do Inpe é de 244 teraflops (trilhões de operações) por segundo, e o desempenho efetivo no benchmark do CPTEC foi de 15,8 teraflops.
"
Ele tem cerca de 30 mil processadores instalados, o que seria equivalente a dezenas de sistemas de grande porte que o CPTEC tem instalado atualmente", disse Nobre.

Preço do supercomputador

O valor total do investimento é de cerca de R$ 50 milhões, sendo que o Ministério da Ciência e Tecnologia entrará com R$ 35 milhões, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e R$ 15 milhões serão provenientes da FAPESP. O preço do sistema da Cray ficou em R$ 31,3 milhões e o restante será usado na infraestrutura, suporte e atualização dos equipamentos.

O preço do supercomputador foi um dos pontos destacados pelo ministro. "A proposta da Cray foi mais interessante que a da NEC, que pediu cerca de R$ 50 milhões. A máquina oferecida pela empresa vencedora tem velocidade três vezes maior do que a outra e apresenta menor consumo de energia", disse.

Serviços meteorológicos

Segundo o ministro, a compra do supercomputador vai permitir ao país dar um salto tecnológico significativo em termos de serviços meteorológicos.

"Sem dúvida, é parte importante do esforço que o país realiza na superação de problemas ligados ao monitoramento e às previsões meteorológicas. Nesse sentido, a parceria com a FAPESP foi fundamental para ajudar a responder a esse e outros desafios da ciência brasileira nessa área", destacou Rezende.

Nobre ressalta que a capacidade de previsão do tempo existente hoje no Brasil é boa e, ao lado da China, é a melhor entre os países em desenvolvimento. "Mas, com essa nova máquina, muda a resolução das imagens projetadas, o tempo para apuração dos dados e, principalmente, a precisão das informações", destacou.

Previsão do tempo a cada hora

Segundo ele, com o modelo atual as previsões são feitas, em média, com três dias de antecedência. "Por dia, são feitas duas previsões. Para analisar todas as situações de códigos gerados, demoramos dois dias em média para concluir as análises. Com o novo sistema, vamos conseguir gerar previsões com resolução muito melhor em uma hora. Ou seja, teremos condições de fazer previsões a cada hora, diariamente", disse.

Segundo Nobre, melhor resuloção significa que será possível prever e modelar muito melhor a quantidade de chuva que poderá cair em determinadas regiões. "Com o sistema atual, é possível ver a média do volume de chuva por áreas, mas não se vai chover dez vezes mais a 10 quilômetros do ponto analisado, por exemplo", explicou.

Modelos globais do clima

Outro destaque é que o Brasil será capaz de projetar cenários com modelos globais. Segundo Nobre, até então o Inpe projetava esses cenários de forma limitada, utilizando modelos regionais.

O grande obstáculo para o país fazer parte do seleto grupo do IPCC, segundo Nobre, era computacional. "Já temos uma comunidade científica que tem condição de desenvolver o modelo matemático necessário", afirmou.

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou que boa parte da discussão sobre mudanças climáticas globais está pautada em resultados científicos recentes. "Quem está mais à frente da ciência está em melhor situação no debate mundial sobre os efeitos dessas mudanças e precisamos pôr o Brasil em uma posição mais favorável nessa discussão", disse.

Brito destacou que parte do Programa FAPESP de Mudanças Climáticas Globais consiste no desenvolvimento de um modelo climático global.

"Isso é muito relevante, porque para fazer pesquisa competitiva em assuntos relacionados com mudanças climáticas ajuda muito se tivermos capacidade de rodar modelos próprios, que olhem melhor para a Amazônia e para o Atlântico Sul, por exemplo", disse.

Concluída a licitação, agora a Cray tem seis meses para entregar o supercomputador. O próximo passo será montar a estrutura de energia elétrica. A previsão é que até o fim do ano o sistema esteja funcionando. "Em dois anos, deveremos iniciar os testes das primeiras versões do modelo brasileiro para a previsão climática global", disse Nobre.

AdNews: para previsão do tempo e combate à catástrofes climáticas, Governo Brasileiro adquire supercomputador para o INPE.

Matéria do AdNews.

Aqui há uma matéria bem mais detalhada sobre o mesmo assunto.
Brasil terá um dos computadores mais rápidos do mundo.
14/04/10



O Brasil acaba de adquirir um dos 20 computadores mais rápidos do mundo. A máquina, cujo valor é de R$ 31,3 milhões, deve chegar no fim do ano, e será posta em funcionamento no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, SP.

O supercomputador deve melhorar a previsão do tempo e ajudar no combate a catástrofes provenientes de situações climáticas no país – como a última, que matou mais de 200 pessoas no Rio de Janeiro. Além disso, o Brasil entrará no hall dos poucos países que poderão prever não só o tempo com alguns dias de antecedência, mas o clima, ao longo de todo o século.
O aparelho foi comprado da empresa Cray pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Só o seu sistema de refrigeração custou R$ 2,9 milhões.
Uma de suas principais funções será rodar modelos de circulação global – como os do IPCC, das Nações Unidas – para avaliar mudanças climáticas.
Com desempenho máximo de 244 teraflops, ou trilhões de operações por segundo, o supercomputador só não é mais rápido do que outros que estão nos EUA, Rússia, China e Alemanha.
Redação AdNews

terça-feira, 13 de abril de 2010

OI: sobre Belo Monte, jornais brasileiros destacam opinião de Cameron e omitem a de Marina Silva.

Artigo publicado pelo Observatório da Imprensa.

POLÍTICA & AMBIENTE Jornalismo de frases de efeito.
Por Luciano Martins Costa em 13/4/2010
Comentário para o programa radiofônico do OI, 13/4/2010

A ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata à Presidência da República, senadora Marina Silva, foi a convidada principal do seminário sobre economia de baixo carbono, organizado pela revista CartaCapital em São Paulo, na segunda-feira (12/4). Os jornais de terça-feira registram o evento apenas para destacar opiniões da senadora sobre a disputa eleitoral.

Marina Silva disse entre outras coisas que, sem Lula na disputa, a campanha será um confronto de candidatos carrancudos – e a imprensa gostou da frase. A senadora disse muito mais do que isso, e os outros participantes também ofereceram farto material sobre a questão do desenvolvimento sustentável, que deveria estar no centro dos debates eleitorais. Mas os jornais parecem estar interessados apenas em frases de efeito.

Uma das informações oferecidas aos presentes dá conta do crescente interesse da imprensa brasileira pelo tema da preservação ambiental. A ex-ministra informou, por exemplo, que em 2003, quando ela assumiu o cargo, sua assessoria coletava nos jornais uma média de catorze notícias sobre a questão ambiental por dia. Hoje, a imprensa brasileira publica diariamente pelo menos uma centena de notas e reportagens sobre o assunto.

O detalhe, que nenhum dos participantes se animou a comentar, continua sendo a qualidade desse noticiário. Pela baixa repercussão que o evento produziu nos jornais do dia seguinte, pode-se concluir que a imprensa ainda não entendeu que o desafio ambiental é a grande notícia neste início do século 21.

Como um filme

Os jornais noticiam na terça-feira (13), por exemplo, que o diretor de cinema James Cameron se juntou aos protestos em Brasília contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu. Mas apenas dão espaço para a manifestação de uma celebridade, sem avançar uma linha no debate a respeito do projeto, que já tem mais de vinte anos.

A própria senadora Marina Silva, sobre cujas preocupações ambientais e conhecimento do tema não pairam dúvidas, afirmou que não tem opinião formada contra a construção de Belo Monte. Mas os jornais não publicaram sua declaração. Preferiram divulgar a opinião amadora de James Cameron, cujo interesse é basicamente divulgar os subprodutos do seu filme Avatar, como o videogame ambientado no planeta imaginário de Pandora.

Vista pelas páginas dos jornais, a realidade brasileira parece cada vez mais um filme de Hollywood.

***

Como alimentar preconceitos

As edições de terça-feira dos jornais dão destaque à manifestação do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, que se declarou publicamente a favor de levar à justiça comum os casos consistentes de pedofilia que tenham como acusados sacerdotes católicos .

Mas uma declaração da autoridade religiosa, pela maneira como foi reproduzida pela imprensa brasileira, pode provocar alguma confusão entre pedofilia e homossexualidade, com risco de alimentar os preconceitos contra homossexuais.

O cardeal Bertone afirmou que "muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia". Essa declaração, mal digerida na leitura ligeira dos diários, pode alimentar o preconceito segundo o qual homossexuais são propensos a abusar de crianças.

Nos mesmos jornais, há citação de opiniões contrárias às do secretário de Estado do Vaticano, como a de teólogos que relacionam o celibato como uma das causas do problema da pedofilia envolvendo sacerdotes católicos.

Ao reproduzir frases opinativas, sem esclarecer essas declarações com interpretações mais densas de especialistas, os jornais podem estar contribuindo para reforçar tendências preconceituosas de seus leitores.

O fato de aparecer na mesma edição o noticiário sobre a prisão do pedreiro Admar de Jesus, suspeito de haver estuprado e assassinado seis jovens numa cidade de Goiás, pode ser um agravante na confusão que normalmente se forma em torno do tema.

Longe do debate

A questão da pedofilia, muito presente na imprensa nos últimos meses, ainda não foi devidamente discutida pelos jornais.

Tramita no Congresso um projeto de lei de autoria do senador Gérson Camata, do Espírito Santo, propondo a adoção da castração química nos casos de pedofilia e outros crimes sexuais. No entanto, há muita controvérsia entre juristas sobre a questão.

O fato de alguém ter praticado pedofilia uma vez, e sido condenado por isso, não assegura que voltaria a cometer o mesmo crime, alegam especialistas.

A hipótese de dar ao Estado o direito de punir preventivamente alguém pela suposição de que pode vir a cometer um crime assombra muitos especialistas. Mas a imprensa ainda nem chegou perto desse debate.

Terra Magazine: elevar taxa de juros pode abortar ciclo de investimento que sobreviveu à crise mundial, escreve Júlio Gomes de Almeida.

Artigo publicado pelo Terra Magazine.

Julio Gomes de Almeida
De São Paulo (SP)

A princípio, o governo não adotou medidas específicas para incentivar o investimento durante a crise, limitando-se a municiar de recursos o BNDES para que não faltasse financiamento para quem se aventurasse a apostar no futuro. Preferiu concentrar os incentivos fiscais em bens duráveis de consumo (automóvel, geladeira, etc) e em material de construção. A ausência de ações concorreu para que o investimento caísse muito entre o último trimestre de 2008 e o segundo trimestre de 2009.

No último trimestre de 2008, a taxa de investimento (a relação entre o investimento e o PIB) caiu para 18,2%, vindo de 20% no trimestre anterior e atingiria 15,8% no primeiro trimestre de 2009, o mais baixo nível desde o segundo trimestre de 2004.

Somente em julho o governo lançaria um poderoso programa na área do crédito que teve pronto êxito e ajudou a reativar o dinamismo da inversão no país, de forma que uma das melhores surpresas do desempenho brasileiro no imediato pós-crise acabou sendo a intensidade com que o investimento se recuperou. No último trimestre de 2009, a taxa de investimento chegou a 17,9% do PIB. O Programa de Sustentação do Investimento reduziu para praticamente zero a taxa de juros real nos financiamentos do BNDES para a compra de máquinas e equipamentos no país.

É preciso observar que o Brasil vivia desde 2007 uma onda de crescente e envolvente inversão, algo que nos últimos 30 anos não ocorria. Esse processo envolvia investimentos mais "leves" como na agregação marginal de capacidade produtiva e na modernização do parque produtivo das empresas, mas também grandes projetos que visavam à demanda futura. Investimento correndo à frente da demanda é tudo o que uma economia precisa para crescer e simultaneamente evitar problemas inflacionários.

Sem dúvida, a crise interrompeu o curso dessas iniciativas, mas não removeu a perspectiva favorável que nutre a decisão de investir, vale dizer a expectativa de um mercado em expansão que torna possível a antecipação de uma atrativa rentabilidade do capital. Por isso, assim que a economia mostrou sinais de superação da crise, reapareceu a disposição de investir e a "febre" anterior de novos projetos foi resgatada. O risco de interrupção de um processo como esse que não é fácil de ser desencadeado deveria merecer avaliação muito cuidadosa pelo governo antes de voltar a elevar a taxa de juros.

No caso do setor industrial o retorno ao investimento tem sido forte e generalizado e já se mostra capaz de estabilizar a utilização da capacidade produtiva da indústria em um nível confortável como 84%. Esse nível assegura o atendimento da demanda sem pressões sobre os preços e, simultaneamente, confere atratividade a novos investimentos que irão agregar capacidade de produção à economia. Em outros segmentos, como, em especial, infraestrutura e habitação, é muito significativa a disposição de investir.

Nesses casos, vale dizer, nos setores de indústria, infraestrutura e habitação, o governo deveria se preocupar em articular novas modalidades de financiamento. As estruturas existentes no BNDES e no sistema de poupança são boas e ajudam no financiamento corrente desses setores, mas podem não ser suficientes quando há uma grande evolução das inversões. Como se sabe, por enquanto, o BNDES vem suprindo as necessidades de recursos, mas isso vem exigindo uma grande colocação de dívida pública no mercado que talvez encontre um limite nesse ano. No caso da habitação, o sistema em vigor vem se beneficiando do grande aumento da captação de depósitos de poupança que se acentuou no período de crise. Mas esse impulso pode perder força, enquanto a grande demanda de financiamento do setor pode vir a se acentuar ainda mais.

Existem outros problemas e lacunas. Problemas porque há uma ameaça crescente de que os efeitos de propagação e multiplicação do corrente ciclo de investimentos sobre a economia doméstica se reduzam dramaticamente se o comando da realização desses investimentos se situar fora do país e as ordens de fabricação de bens de capital favoreceram a produção no exterior.

Quanto às lacunas, estas existem, por exemplo, na exportação, onde o câmbio valorizado e outros fatores que elevam o custo de produção doméstico (custo da infraestrutura, do crédito, da tributação, dentre outros), impedem que decolem os projetos nessa área. Na inovação, os investimentos tendem a aumentar à medida que o crescimento econômico mostre maior sustentação, mas incentivos mais eficazes poderiam ajudar a antecipá-los.

Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Brasil Econômico: captação líquida do FGTS sobre 153% em um anos.

Matéria do Brasil Econômico.

Posso destacar alguns números? Lá vai:

- a captação líquida do FGTS no 1º trimestre de 2010 foi 153% maior que a do mesmo período de 2009;

- comparando os mesmos períodos, as demissões sem justa causa caíram 8,37%;

- os saques do FGTS para compra de imóveis, por outro lado, subiram 27,4% na mesma comparação (ou seja, sem eles, a captação líquida teria subido ainda mais);

- aumentaram também o número de empresas que fazem recolhimento ao FGTS (3,6%) e o número de trabalhadores beneficiados com os aportes (5,9%, ou 1,7 milhão de novos trabalhadores).

Brasil Econômico - 08/04/10 14:30

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) contabilizou captação líquida de R$ 3,753 bilhões de janeiro a março deste ano, um volume recorde para o período.

Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, o crescimento é de 153%, um "resultado excepcional", de acordo com o vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, Wellington Moreira Franco [#nojo].
Ele informou que a arrecadação bruta do FGTS foi de R$ 15,340 bilhões (8,81% a mais que no primeiro trimestre de 2009) e os saques efetuados - por perda de emprego, aposentadorias e compra da casa própria - somaram R$ 11,578 bilhões, o que representa queda de 8,11% em relação aos registrado em igual período do ano passado.

Moreira Franco disse que a grande prova de recuperação da atividade econômica do país está na queda de 8,37% no número de demissões sem justa causa, no último trimestre, em comparação com o mesmo período de 2009.

Em contrapartida, os saques para compra de moradias aumentaram 27,4% devido ao "aquecimento" do setor de crédito imobiliário.

Segundo ele, o resultado recorde do FGTS decorre basicamente do "bom momento de estabilidade da economia e da confiança do empresariado", que tem oferecido mais empregos. Tanto que, pela primeira vez na história, o país teve um primeiro bimestre de ano com mais de 50% da força de trabalho ocupada formalmente - 50,29% em janeiro e 50,69% em fevereiro. Os números de março não saíram ainda.

Moreira Franco acredita que a tendência da formalidade é melhorar mais ainda, uma vez que o FGTS dispõe de R$ 56,4 bilhões em recursos orçamentários para este ano, com potencial para gerar cerca de 2,5 milhões de novos postos de trabalho.

No seu entender, o crescimento do emprego com carteira assinada e direitos trabalhistas é o indicador que mais retrata a realidade econômica do país.

O vice-presidente ressaltou também que "as empresas estão cumprindo mais a legislação". Um exemplo disso é o crescimento de 3,6% no número de empresas que recolheram o FGTS no primeiro trimestre deste ano, comparado ao primeiro trimestre de 2009. Como resultado, mais 1,7 milhão de trabalhadores passaram a ter recolhimento do FGTS no período, um incremento de 5,9%.

G1: unanimidade no STF: não há nenhuma prova para processar Lula pelo mensalão.

Matéria do G1.
08/04/10 - 15h15 - Atualizado em 08/04/10 - 16h27
Pedido foi formulado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Ministro Joaquim Barbosa rejeitou pedido por falta de justificativa.
Robson Bonin

O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou nesta quinta-feira (8) questão de ordem apresentada pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na ação penal do mensalão. Em uma lista de 13 pedidos, Jefferson solicitava a inclusão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como réu do processo.
Os ministros acataram por unanimidade entendimento do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, que alegou ausência de provas ou justificativas para o pleito. “A questão já foi resolvida por este plenário e o réu [Jefferson] insiste no tema da inclusão do presidente entre os réus da ação penal”, afirmou Barbosa. “O pedido é destituído de qualquer base documental e probatória e também não teria qualquer eficácia”, complementou.

O pedido para incluir Lula no rol dos réus já havia sido feito por Jefferson em diferentes momentos, desde que a ação começou a tramitar no STF, em 12 de novembro de 2007.
Foi o ex-deputado que denunciou o suposto esquema de pagamento a deputados da base aliada, em 2005. Ele argumenta que “houve co-participação” do presidente, já que ex-ministros foram incluídos como réus na ação.

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) listou 40 envolvidos que acabaram virando réus quando a Suprema Corte acolheu a denúncia. O nome do Lula não foi relacionado, o que motivou o pleito de Jefferson. Lula foi convocado como testemunha pelo ex-deputado.

Joaquim Barbosa também lembrou que a PGR pode apresentar denúncia contra Lula em qualquer momento, caso encontre elementos.

Penalidade

Em seu parecer sobre o conjunto de pedidos apresentado por Jefferson, Joaquim Barbosa acusou o ex-deputado de manobrar para tentar prejudicar o andamento do processo no STF.

O magistrado sugeriu aos colegas a aplicação de uma multa aos advogados de Jefferson ou a apresentação de uma representação junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por má-fé no decorrer do processo. Os magistrados do STF, no entanto, decidiram não aplicar penalidades e apenas enviar a íntegra da decisão desta quinta à OAB para possíveis providências.

Veja a íntegra das 13 reclamações apresentadas por Jefferson:

1 – Realização de interrogatório em Recife sem que a sua defesa tivesse tempo útil para participar da audiência.

2 – Ausência de atualização do feito pela secretaria da corte de modo que a defesa pudesse conhecer do inteiro teor dos autos antes das audiências realizadas.

3 – Não atendimento do pedido do agravante para que fosse realizada uma acareação entre os réus José Genoíno e Pedro Henry.

4 – Não inclusão do presidente da República entre os réus em co-participação com os três ex-ministros denunciados, solicitando que o STF extraia cópias para que seja oferecida denúncia contra o presidente da República.

5 – Expedição de carta de ordem para a oitiva de testemunha sem que fossem julgados os embargos de declaração contra o recebimento da denúncia, o que teria causado prejuízo a defesa.

6 – Ausência de publicação do acórdão nos embargos de declaração opostos contra o recebimento da denúncia, o que também teria causado prejuízo a defesa.

7 – A falta de sincronia entre os atos praticados no feito e as suas respectivas publicações para fins de intimação.

8 – Impossibilidade de formular perguntas ao presidente da República, arrolado como testemunha da defesa, tendo em vista pedido do réu, ainda não analisado, no sentido de que sua excelência seja denunciado nestes autos, o que poderia alterar o conteúdo das perguntas a lhe serem dirigidas.

9 – Necessidade de reabertura do prazo concedido pelo relator para formular perguntas ao presidente da República na qualidade de testemunha, já que a defesa pede a sua inclusão no rol dos acusados.

10 – Cerceamento de defesa pelo indeferimento de testemunhas cujo os endereços não foram fornecidos pela defesa justificando tal circunstância no fato de todos serem homens público,s cujos endereços poderiam ser buscados pela secretaria deste tribunal ou dois juízos delegatários no site da Câmara dos Deputados ou nos cadastrados e arquivos dos seus lugares de exercício funcional.

11 – Reconsideração da decisão que determinou a antecipação dos valores necessários à expedição da carta rogatória alusiva a inquirição da testemunha Miguel Horta, residente em Portugal.

12 – Prazos irrazoáveis para cumprimento das cartas de ordem, pois o signatário não vive apenas e somente desta causa para poder seguir o ritmo decorrente do calendário de audiência que reclama revisão.

13 – Nulidade de todo o processo desde os interrogatórios, não renovados, de que a defesa de Roberto Jefferson não pôde participar bem como de todas as oitivas de testemunhas, já que o Plenário não teria autorizado a instrução sem a publicação do acórdão de recebimento da denúncia, mas sim apenas a citação e interrogatório dos réus.

Terra Magazine: mancheteiros da Folha levariam bomba em interpretação de texto.

Artigo publicado no Terra Magazine.

Título corrigido, graças ao Terra Magazine.

Sírio Possenti

Não sou jornalista. Só leitor. Nunca trabalhei numa redação. Não tenho a menor ideia sobre a possibilidade de o comando de um jornal ou de uma revista se reunir e decidir explicitamente ser parcial. Muito menos sei se podem ocorrer eventos como um grupo político - ou seus representantes, portadores de material sonante - reunir-se com donos de meios de comunicação para desenhar estratégias, sugerir notícias e silêncios, especialmente em períodos eleitorais. Em suma: comprar ou alugar um jornal ou revista.
O que sei, o que dá para ver muito claramente, é que é óbvio que os tais "meios" tomam partido, na prática. Não é que eles passem a mentir, mas eles escondem pedaços dos eventos, ou os apresentam privilegiando claramente um ponto de vista. Por exemplo, a ISTOÉ do dia 7/4/2010 mostrou apenas fotos de personalidades sonolentas na despedida de 10 ministros. Fato? Certamente. Mas, querendo (ou podendo), deve ser possível mostrar jornalistas com o dedo no nariz.

Vou apresentar sem comentários - acho que não são necessários - duas duplas de manchetes de sábado, dia 2/4/2010, de dois jornais paulistas. Tratando da decisão de Meirelles de permanecer no BC, a Folha de S. Paulo publicou o seguinte título na primeira página: "Sem chance na chapa de Dilma, Meirelles decide que fica no BC". A manchete do Estado sobre o mesmo fato era "Sem apoio do PMDB Meirelles desiste de eleição e fica no BC". Diferentes? No escopo, apenas.

Noticiando declarações de Marina Silva, os dois jornais estão ainda mais diferentes entre si. A Folha deu a seguinte manchete: "Lula virou refém do PMDB, afirma Marina". Segundo o texto da notícia que o jornal publica abaixo da manchete, ela disse isso e também que, no governo FHC, o PSDB quis governar sozinho e ficou refém do DEM. Este último pedaço ficou fora da manchete. No Estado, o mesmo pronunciamento foi anunciado assim: "Marina prega diálogo de PT e PSDB". Diferentes? Como água e lama.

As matérias dos dois jornais são muito parecidas. Ou seja: eles sabem fazer jornalismo, quando querem.

Lendo as duas notícias - sim, as duas - fica bastante claro qual era a questão relevante do pronunciamento de Marina Silva. Para ela, certa ou não, não importa, o fato de o PT ser refém do PMDB e de o PSDB ter sido refém do DEM (então PFL) é o argumento que justifica sua tese: esses dois partidos não podem mais continuar na mesma rota. Ambos devem mudar, dialogar entre si. Opinião dela, que as matérias informavam adequadamente.

A questão me interessa por mais de um motivo. Como cidadão, porque me permite ter opiniões melhores ou menos boas sobre certos defensores da liberdade total (que eles querem ter de alugar suas cabeças). Como estudioso de questões de texto / discurso, porque manchetes, "olhos" e outras formas de intromissão de "alguém" nos textos são guias de leitura. Muitos cidadãos, mas também muitos senadores, só lêem as manchetes. Sem contar que elas são replicadas mundo afora no lugar dos textos. Estes recursos estão para matérias de jornais e revistas como as orelhas para os livros: são lidos no lugar dos textos.
Assim, surgem questões interessantes: por exemplo, quem disse mesmo o que está na manchete? Se o que está na manchete é apenas parte do que foi dito, corresponde à verdade? É uma informação decente?

Obviamente, uma manchete não pode ser igual ao texto que encabeça. É então que se pode descobrir o valor do jornal, é aí que o jornalismo pode ser colocado em xeque (talvez em cheque).
Se um aluno, em um hipotético teste de leitura baseado em uma só questão, tivesse que responder sobre a declaração de Marina e assinalasse a opção da Folha, seria reprovado. Ah, sim, sou radicalmente avesso ao controle dos meios de comunicação. Mas constato diariamente que eles são controlados.

E-mail
Na sexta-feira da paixão, após ler nota de Mônica Bérgamo, enviei o seguinte e-mail ao painel do leitor da Folha (que publico aqui porque sei que o Painel não vai publicar e por que o tema não vai ser pautado):
"Sugestão de pauta: a) como Serra está na política desde o governo Montoro, seria interessante verificar com quantos anos de trabalho efetivo ele se aposentou na Unicamp (conforme informações de Mônica Bérgamo);
b) afastado para exercer funções de governo etc. (suponho), se mesmo assim ascendeu na carreira universitária, que tem suas regras próprias;
c) em que nível da carreira ele se aposentou, se a renda é de cerca de R$ 12.000,00 líquidos;
d) o que informa sobre ele o Lattes."

Folha: O Brasil não tem que ser espelho dos EUA, diz senador americano.

Entrevista publicada pela Folha.

Aqui, há um post americano que também mostra o Brasil de Lula visto dos EUA.

Monica Bergamo.

O senador americano Christopher Dodd, 65, relator da reforma do sistema financeiro dos EUA, visitou o Brasil nesta semana. Ciceroneado pelo empresário Mario Garnero, ele teve audiência com Lula e uma reunião na Bovespa, em SP.

FOLHA - A colunista Mary Anastasia O'Grady, do "Wall Street Journal", disse que o mundo deve conter o entusiasmo com o Brasil, que o ex-presidente FHC foi o único responsável pela estabilização e que "a melhor coisa" que Lula fez "foi nada".
CHRISTOPHER DODD - Não concordo. Não vou me posicionar sobre a eleição brasileira, mas eu a acompanho como um "outsider". E os candidatos que lideram propõem uma continuidade da política de Lula. Com todo respeito à srta. Grady, ela deveria falar com as pessoas no Brasil. O presidente Lula merece grande crédito. O Bolsa Família é uma ideia esplêndida, e uma fonte de renda atrelada à educação. O Brasil entende, como nós, que precisamos de um sistema educacional que permita que as pessoas busquem os empregos do século 21. É por isso que 80% dizem que Lula faz um bom trabalho.

FOLHA - Muitos dizem que o Bolsa Família é assistencialista.
DODD - Considero válido esse ponto de vista, mas é fácil dizer quando você tem um bom emprego no "Wall Street Journal". Vá explicar isso para uma família em SP, no Rio ou em Recife.

FOLHA - Como o Senado americano vê a relação do Brasil com o Irã?
DODD - Mesmo em uma família pode haver diferenças. Brasil e EUA são amigos, mas não são uma família. Não é função do Brasil espelhar a política externa dos EUA, mas espero que tenhamos cooperação nas sanções ao Irã. Elas não são a melhor alternativa, mas são melhores do que o Irã fabricar armas nucleares. O presidente Lula acredita que isso pode ser resolvido pela diplomacia. Espero que ele esteja certo, mas em algum momento nós teremos que decidir que talvez o Irã não esteja disposto a isso.

Maria Inês Nassif: [MST:] Nem demônio, nem anjo, mas ator social.

Artigo publicado pelo Valor, mas copiado daqui.

Nem demônio, nem anjo, mas ator social.
Política - Maria Inês Nassif
Valor Econômico - 08/04/2010

A técnica de discurso doutrinário, particularmente usada em situações históricas onde grupos de poder precisam de forte respaldo popular para seus projetos próprios, centra-se na repetição de "verdades" - verdades mesmo, verdades aumentadas ou simplesmente mentiras - que respaldem ideologicamente não apenas esses setores, mas convençam a um maior número de pessoas de que são verdades únicas, contra as quais não existe argumento racional. Essas verdades têm que ser apresentadas como dogmas, sob pena de não parecerem "a" verdade. Isso é muito usado eleitoralmente, mas não apenas nesses momentos em que o convencimento de parcelas majoritárias da população pode se converter em votos que respaldarão democraticamente um projeto de poder. Ela se incorpora à própria vida social quando o que está em jogo é uma disputa pela hegemonia.

O livro "Combatendo a desigualdade social: o MST e a reforma agrária no Brasil", organizado por Miguel Carter - mexicano criado no Paraguai - professor da School of International Service da American University, em Washington DC, coloca em perspectiva o senso comum criado em torno do MST. Primeiramente, ele propõe que se deixe de lado dois exageros: da direita, que, no limite, equipara o movimento pela reforma agrária ao terrorismo; e o de esquerda, que o romantiza, superestimando a sua influência. Na introdução ao livro, que traz 16 artigos de autores variados, Carter relativiza uma e outra posição.

O MST é um movimento complexo e duradouro, mas é uma "associação de pessoas pobres", "opera com recursos limitados" e é susceptível a problemas de ação coletiva como qualquer outro movimento social. Não agrega mais do que 1% da população, nem chega a 5% da população rural. Não é bandido e não é mocinho: apenas um ator social sujeito a erros, mas que representa setores sociais expostos à miséria e vitimados por uma das piores distribuições de renda do mundo.

O MST tem dois grandes méritos históricos, segundo o autor: o de expor e desafiar enormes desigualdades de renda e fundiária do Brasil, internamente; e, externamente, de ter recolocado na agenda internacional a reforma agrária, depois da hibernação do tema no período pós-anos 80, quando a forte urbanização do Terceiro Mundo, o avanço tecnológico agrícola e a ascensão do neoliberalismo começaram a questionar fortemente a reforma agrária como política pública. E a forte reação interna de determinados setores sociais ao movimento responde muito mais ao que o MST expõe - um país com uma imensa concentração de renda e fundiária - do que propriamente pelo risco "revolucionário" que representa.

O movimento, de fato, tem um elevado grau de sofisticação de organização popular, registra Carter: estima-se "1,14 milhão de membros, mais de 2 mil assentamentos agrícolas, cerca de 1.800 escolas primárias e secundárias e uma escola de ensino superior, vários meios de comunicação, 161 cooperativas rurais e 140 agroindústrias". Entre 1985 e 2006, conseguiu assentar seus integrantes em 3,7 milhões de hectares. Mas, embora o mais visível e organizado movimento pela reforma agrária - até 2006, tinha mais de um quarto dos 7.611 assentamentos do país -, não mantém a mesma proporção de participação na terra distribuída pelos governos. Segundo o organizador do livro, mais de 90% da terra distribuída entre 1979 e 2006 responderam a reivindicações de outros movimentos de sem-terras.

O outro mito seria o de negação do Estado pelo MST. As reformas agrárias, por definição, "implicam o envolvimento do Estado na reestruturação de relações de direito de propriedade". Sem o Estado, isso só acontece em situações de guerra - mas, mesmo nessas ocasiões, o Estado deve sancionar o resultado da disputa. Também não existe reforma agrária se não houver demanda social por distribuição fundiária. Carter sugere que a execução de reformas agrárias acabem se constituindo numa articulação de impulsos do Estado - que sanciona - e da sociedade - que demanda. No caso do MST, o movimento articula as duas faces da reforma: as marchas e invasões normalmente são apenas um lado da mobilização, que se completa - e concretiza a reforma agrária - com a negociação com o Estado.

Outro dado que relativiza o poder de interferência na vida institucional do país, reproduzido pelo autor, é o de sua representação política, em relação à dos grandes proprietários rurais e do agronegócio. Segundo ele, de 1995 a 2006, a representação política média dos camponeses sem-terra e agricultores familiares foi de um deputado federal por 612 mil famílias. Os grandes proprietários rurais fizeram um deputado federal para cada 236 famílias - tiveram, portanto, uma representação parlamentar 2.587 maior que a dos sem-terra. Essa distorção decorre de uma precariedade de direitos políticos entre os pobres - a negação do direito do voto aos analfabetos até 1985, o clientelismo político, a prática de compra de votos e distorções de representação. O maior acesso dos latifundiários ao poder político resultou em acesso correspondente ao orçamento público: para cada dólar disponibilizado de dinheiro público aos sem-terra, foram liberados US$ 1.587 dólares para os maiores fazendeiros do país.

A realidade que se esconde nas amplificações do "perigo" do MST não é boa para o processo civilizatório brasileiro. Mesmo andando nos governos FHC e Lula - de forma "reativa, restrita e de execução morosa" - , a reforma agrária brasileira é, em termos proporcionais, uma das menores de toda a América Larina. A reforma feita entre 1985 e 2006 situa o Brasil no 15º lugar no Índice de Reforma Agrária da América Latina, dois lugares antes do último colocado. Um por cento dos proprietários rurais controla 45% de todas as terras cultiváveis do país, e 37% dos proprietários rurais possuem apenas 1% dessas terras (números de 2005 do Ipea).

Brasil Econômico: O governador Cabral e o direito ao desabafo.

Artigo públicado pelo Brasil Econômico.

08/04/10 07:22 | Ricardo Galuppo - Diretor de Redação do Brasil Econômico


O tom era de desabafo. Mas o governador Sérgio Cabral foi muito lúcido na última terça-feira, quando culpou a demagogia pela quantidade absurda de mortes em função das chuvas que desabaram sobre o Rio de Janeiro.

Cabral criticou as pessoas que construíram casas em áreas de risco, mas não deixou de fora aqueles que - mais no Rio do que em outras grandes cidades - têm o hábito de condenar como autoritária qualquer tentativa do poder público de colocar ordem em um modelo urbano falido.

O Rio e o Brasil estão de luto pelas mais de 130 mortes desta semana. Mas também estão diante de uma oportunidade única de encarar problemas que se acumularam ao longo de décadas.

Sem ignorar que a quantidade de chuvas que caiu sobre a cidade foi anormal, o Rio apresenta problemas que se manifestam de maneira distinta. Mas, no fundo, têm uma mesma causa: a falta de vontade de resolvê-los.

Justiça seja feita, Cabral é o primeiro governante do Rio que, em muitos anos, não lavou as mãos diante da violência e do tráfico de drogas nas favelas nem tentou cobrir esse lixo com o tapete dos "problemas sociais" insolúveis.

Ao ordenar a ocupação de algumas comunidades pela polícia, seu governo fez a primeira tentativa da história de levar segurança a cidadãos normalmente desassistidos nesse quesito.

Meses atrás, quando falou em construir muros para evitar que a construção desordenada de casas em alguns dos morros da cidade avançasse sobre áreas de preservação, o governador foi acusado de tentar segregar as populações das favelas.

Agora, todo mundo vê que a medida não apenas é necessária como, talvez, não seja suficiente para resolver o problema.

As mortes no Rio foram provocadas por construções em áreas de risco, pelo lixo acumulado nas encostas e, acima de tudo, pela inépcia de autoridades que, no passado, viram problemas como esses se alastrar e não agiram para resolvê-los.

Cabral não pode ser acusado de omissão: já estava agindo antes de a tragédia acontecer. Tem, portanto, o direito de desabafar.

Valor: o setor da construção, as dificuldades de Serra com o diálogo e a comparação Lula x FHC.

Matéria publicada pelo Valor, mas copiado daqui.

Aqui, há outra matéria sobre as diferenças entre Lula, Dilma e Serra na visão de empresários.

Comparações de Lula ecoam em plateia da construção civil.
Autor(es): Cristiane Agostine, de São Paulo
Valor Econômico - 08/04/2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva testou com uma plateia de empresários o discurso eleitoral de comparação de seu governo com o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e foi bem-sucedido. Na noite de terça-feira, Lula recebeu apoio de dezenas de representantes da construção civil, em São Paulo, ao criticar a falta de investimentos no setor, "deteriorado há mais de vinte anos" e discorrer sobre o ineditismo do sistema capitalista brasileiro, que não tinha nem "capital nem financiamentos" em anos anteriores.

Empresários, beneficiados sobretudo por programas como o Minha Casa, Minha Vida, aprovaram também a crítica feita aos anos FHC e a comparação sobre os financiamentos feitos pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que aumentaram entre 2003, primeiro ano do governo Lula, e 2010.

É o caso do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Material de Construção, Melvyn Fox, que disse "concordar totalmente" com o discurso feito pelo presidente na cerimônia de abertura da 18ª Feira da Indústria da Construção e Iluminação, em São Paulo. "O setor da construção civil estava estagnado. Muito pouco foi feito até o fim do primeiro mandato de Lula. Houve uma mudança radical", comentou.

Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção, disse que o setor "está em êxtase", com projetos como o Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e 2. "A comparação entre os dois governos [Lula vs. FHC] não é uma questão política, mas sim numérica. Os resultados dos dois governos não são comparáveis", disse Conz. O otimismo se explica, em parte, pela previsão de crescimento 10% na venda de material de construção.

Na abertura da feira, Lula não poupou críticas a FHC e disse aos empresários que não deixem de lembrar como era a situação anos atrás. "De repente as pessoas esquecem do mundo que a gente veio, do mundo em que a gente está e do mundo que a gente quer ir. Este país teve o seu setor da construção civil praticamente deteriorado durante mais de 20 anos", declarou. Ao fazer o autoelogio, o presidente disse que a Caixa Econômica Federal investe "nove vezes" o que investia em 2003 e que o crédito cresceu de R$ 380 bilhões para R$ 1,4 bilhão. O BNDES, continuou Lula, emprestava R$ 38 bilhões e este ano fechará com R$ 139 bilhões.

A comparação entre Lula e FHC tem sido evitada pelos tucanos e apoiadores da campanha do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) à Presidência. O presidente, no entanto, sinalizou que deve insistir nessa linha em seus discursos. "Cansei de ver o Brasil se portar como se fosse um país de segunda categoria. Tudo a gente achava que não podia fazer e tudo, quando não dava certo, se jogava a culpa em cima do governo. E como o governo também não fazia, não falava nada e ficava todo mundo enganando todo mundo neste país", declarou.

Em seu discurso, Lula disse que deixará para seu sucessor "uma prateleira de projetos e programas", para que o próximo presidente não tenha que "começar do zero" como ele. Ao fazer propaganda do PAC 2 para empresários que se beneficiarão diretamente dele, Lula afirmou que lançou o programa para mudar o paradigma do país. "Não era possível um país capitalista viver sem crédito e sem capital. Isso mudou definitivamente", disse. "Quem vier a tomar posse na Presidência da República em janeiro de 2011 sabe que não existe mais espaço para pequenez política, não existe espaço para pequenos programas. Este país é grande e exige que os seus governantes pensem grande", declarou.

Representantes da construção civil disseram não temer o próximo governante, quem quer que ele seja, nem a paralisação das obras do PAC e do Minha Casa, Minha Vida. Para Dilson Ferreira, presidente executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas, "as mudanças no setor foram estruturais" e devem ser mantidas pelo sucessor de Lula. "Não foram mudanças circunstanciais", disse. No entanto, empresários ressaltam que a relação com Serra foi mais complicada, sobretudo por medidas como a substituição tributária, adotada em São Paulo. "Nossa relação com o governo estadual foi muito difícil", relatou Fox. "O que muda entre Dilma e Serra é a forma de dialogar. No Estado, não tivemos diálogo", disse Conz.

Portal Exame: EUA começam a cumprir acordo decorrente de retaliações brasileiras autorizadas pela OMC

Matéria do Portal Exame.



O governo Barack Obama ignorou as reclamações do Congresso dos Estados Unidos e começou a cumprir o acordo com o Brasil. A partir de amanhã, estão suspensos os pagamentos do programa de garantia de crédito à exportação agrícola previstos para este ano. Ontem, senadores americanos afirmaram que mudanças nos subsídios só poderiam ocorrer em 2012.


O Departamento de Agricultura dos EUA informou que os produtores têm até o meio-dia de hoje para garantir empréstimos nas condições atuais. Segundo comunicado do órgão, os recursos voltarão a ser oferecidos, mas com novos juros. Dos US$ 5,5 bilhões previstos para 2010, os EUA liberaram US$ 2,8 bilhões até o início da semana. É a primeira medida concreta dos americanos para modificar os subsídios após o acordo selado com o Brasil na segunda-feira. Os EUA se comprometeram a suspender o programa enquanto negociam com os brasileiros juros menores e prazos mais curtos para o financiamento da exportação agrícola.

Se realmente mudarem o programa, os americanos vão desestimular a exportação, o pode elevar as vendas brasileiras de algodão, soja, carne de frango e carne suína - produtos em que o Brasil concorre com os EUA no mercado. O programa de garantia à exportação vale para todas as commodities agrícolas. “O Congresso estava ameaçando, mas os americanos fizeram o que haviam prometido”, disse Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e mentor do painel do algodão.

O governo brasileiro adiou para 22 de abril a retaliação contra produtos americanos. Se tudo caminhar bem, mais 60 dias serão concedidos para chegar a um acordo definitivo. A Organização Mundial do Comércio (OMC) autorizou o Brasil a retaliar, depois que os EUA se recusaram a tirar os subsídios considerados ilegais pelo órgão em um processo vencido pelo País.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mãe, visite o lado selvagem da vida.

Só as mães são felizes, Cazuza.

O lado escuro da vida.

Walk on the wilde side, Lou Reed.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Inovação Tecnológica: empresa brasileira pesquisa combustível de foguetes a base de etanol.


Alex Sander Alcântara - Agência Fapesp - 07/04/2010

Empresa brasileira desenvolve motores para foguetes à base de etanol, considerado um combustível mais seguro do que a hidrazina, usada atualmente.

Atraso espacial

O Brasil acumula um atraso de meio século na propulsão de foguetes espaciais em relação aos norte-americanos e russos. Para tentar dar um impulso no setor, há cerca de 15 anos o país iniciou um programa de pesquisa em propulsão líquida e que tem como base o etanol nacional.

O desafio do programa, liderado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), é movimentar futuros foguetes com um combustível líquido que seja mais seguro do que o propelente à base de hidrazina empregado atualmente. Esse último, cuja utilização é dominada pelo país, é corrosivo e tóxico.

Combustível verde

O desafio da busca por um combustível "verde" e nacional também conta com o apoio de um grupo particular de pesquisadores, formado em parte por engenheiros que cursam ou cursaram o mestrado profissional em engenharia aeroespacial do IAE - realizado em parceria com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e com o Instituto de Aviação de Moscou.

Liderado pelo engenheiro José Miraglia, professor da Faculdade de Tecnologia da Informação (FIAP), o grupo se uniu para desenvolver propulsores de foguetes que utilizem propelentes líquidos e testar tais combustíveis.

"Os propelentes líquidos usados atualmente no Brasil estão restritos à aplicação no controle de altitude de satélites e à injeção orbital. Eles têm como base a hidrazina e o tetróxido de nitrogênio, ambos importados, caros e tóxicos", disse Miraglia.

A Agência Espacial Europeia (ESA) também anunciou, há poucos dias, um projeto para desenvolver um combustível verde para satélites e foguetes, que já está em testes.

Foguete a etanol

Na primeira fase do projeto, o grupo, em parceria com a empresa Guatifer, testou motores e foguetes de propulsão líquida com impulso de 10 newtons (N), com o objetivo de avaliar propelentes líquidos pré-misturados à base de peróxido de hidrogênio combinado com etanol ou querosene.

"Os testes mostraram que o projeto é viável tecnicamente. Os propulsores movidos com uma mistura de peróxido de hidrogênio e etanol, ambos produzidos em larga escala no Brasil e a baixo custo, apresentaram o melhor rendimento", disse.

Segundo Miraglia, a mistura apresenta algumas vantagens em relação à hidrazina ou ao tetróxido de nitrogênio, usados atualmente. "Ela é muito versátil, podendo ser utilizada como monopropelente e como oxidante em sistemas bipropelentes e pré-misturados. O peróxido de hidrogênio misturado com etanol apresenta densidade maior do que a maioria dos propelentes líquidos, necessitando de menor volume de reservatório e, consequentemente, de menor massa de satélite ou do veículo lançador, além de ser compatível com materiais como alumínio e aço inox", explicou.

Foguete de sondagem

Na segunda fase do projeto, o grupo pretende construir dois motores para foguetes de maior porte, com 100 N e 1000 N. "Nossa intenção é construir um foguete suborbital de sondagem que atinja os 100 quilômetros de altitude e sirva para demonstrar a tecnologia", disse.

A empresa também está em negociações para uma eventual parceria com o IAE no projeto Sara (Satélite de Reentrada Atmosférica), cujo objetivo é enviar ao espaço um satélite para o desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas e especialidades, como biologia, biotecnologia, medicina, materiais, combustão e fármacos.

"Nosso motor seria utilizado na operação de reentrada para desacelerar a cápsula quando ela ingressar na atmosfera. Atualmente, não existe no Brasil foguete de sondagem a propelente líquido. Todos utilizam propelentes sólidos", disse.

Kits educativos de foguetes

O grupo também pretende produzir motores para foguetes de sondagem que tenham baixo custo. "Eles seriam importantes para as universidades, com aplicações em estudos em microgravidade e pesquisas atmosféricas, por exemplo", disse Miraglia.

Em trabalhos de biotecnologia em microgravidade, por exemplo, pesquisas com enzimas são fundamentais para elucidar processos ligados a reações, fenômenos de transporte de massa e calor e estabilidade das enzimas. Tais processos são muito utilizados nas indústrias de alimentos, farmacêutica e química fina, entre outras.

"Queremos atingir alguns nichos, ou seja, desenvolver um foguete movido a propelente líquido que se possa ajustar à altitude e ser reutilizável. Esse é outro ponto importante, porque normalmente um foguete, depois de lançado, é descartado", disse.

O grupo já construiu um motor de 250 N, que será utilizado em testes. Como forma de difundir e reunir recursos para o projeto, a empresa comercializa kits de minifoguetes e material técnico. "São direcionados principalmente para estudantes", disse Miraglia.

No site http://www.foguete.org/, a empresa oferece também apostilas técnicas e livros digitais sobre foguetes com informações sobre astronáutica, exploração espacial e aerodinâmica.

Brasil Econômico: Brasil entra na rota global de inovação do grupo Bayer.

Matéria do Brasil Econômico.

Domingos Zaparolli   (dzaparolli@brasileconomico.com.br)
07/04/10 10:30

Alemã traz ao país a divisão Technology Services e amplia investimento em pesquisa.

Uma nova divisão da alemã Bayer começa a operar no Brasil este ano, a Technology Services, especializada em soluções de engenharia e execução de obras para as indústrias químicas, farmacêuticas, petrolíferas e de construção civil.

No ano passado, o negócio gerou uma receita global de € 380 milhões. Entre as metas da nova unidade que começa a operar em junho na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, está detectar oportunidades em novos negócios que surgirão com a exploração do pré-sal, com as obras de infraestrutura em andamento no país e com a adequação das arenas esportivas brasileiras para a Olimpíada e Copa do Mundo

Horstfried Läpple, presidente da filial brasileira da Bayer, diz que ainda é cedo para projetar o desempenho da nova divisão. "Teremos um ano de prospecção de mercado e planejamento. Em 2012 teremos uma visão melhor do negócio", diz.

No Brasil, a Bayer atua em três segmentos, farmacêutico, defensivos agrícolas e materiais inovadores, que abriga os negócios com polímeros de alta performance, como poliuretanos, um produto criado nos laboratórios da Bayer nos anos 30 do século passado, e o policarbonato.

No ano passado, as vendas do grupo no país cresceram 3%, alcançando R$ 3,8 bilhões. A unidade é a sétima em faturamento no ranking interno da companhia, que está presente em 180 países. Läpple avalia que, em menos de uma década, galgará o quinto posto, posicionando-se atrás apenas das operações nos Estados Unidos, Alemanha, China e Itália.

Läpple está no Brasil há quatro anos. Nas horas de folga, sua atividade predileta é fazer caminhadas no campo. Já fez passeios no Pantanal, na Amazônia e nas imediações de São Paulo.

Mas agora, além de observar a natureza, ele aproveita o tempo para refletir. É que recentemente ele recebeu da matriz a incumbência de coordenar um planejamento, que será concluído em 2011, que direcionará os investimentos da companhia no país. É sobre os vetores deste trabalho que Läpple fala ao Brasil Econômico.

Quais são os fatores que fazem o Brasil ganhar maior importância no planejamento global da Bayer?

Os Brics respondem por 14% das vendas da Bayer, mas esta participação cresce a um ritmo de 30% ao ano. O interessante é notar que o Brasil não é mais o país do futuro. Tornou-se um país que, ano a ano, transforma seu potencial em desenvolvimento.
Além disso, há o pré-sal e os eventos esportivos, que gerarão novas oportunidades. Estou no país há quatro anos, passei por EUA, Japão e China.
O Brasil me surpreendeu positivamente pela forma como está avançando em seus marcos regulatórios e no controle da informalidade. Isso permitirá ao país assumir novas funções globais dentro do grupo.
Quais funções globais a filial brasileira pode assumir?
Para ser considerado um país chave na companhia é preciso ter produção e também pesquisa e desenvolvimento. Nosso parque industrial em Belford Roxo (polímeros e defensivos agrícolas) tem mais de 50 anos.
A Bayer tem três fábricas de hormônios femininos, duas na Alemanha e a de São Paulo, que exporta 45% de sua produção para mais de 30 países da América Latina e Ásia. Então, produção já temos. Falta avançar em P&D.
No ano passado, recebemos a tarefa de realizar pesquisas e monitoramentos em farmaco-vigilância, ou seja, controle dos efeitos dos medicamentos nas pessoas. Só EUA, Japão e Alemanha fazem. É uma função sensível para a companhia e teremos 70 profissionais envolvidos nisso. Neste ano, pela primeira vez, seremos responsáveis por coordenar mundialmente a pesquisa clínica de um novo medicamento, o Riociguat, para hipertensão pulmonar. O momento é de mostrar trabalho. Se tivermos boa performance, novos investimentos virão.
Entre os investimentos programados para 2010 estão novos laboratórios. Qual é a importância do Brasil no esforço global de inovação do grupo?
Hoje os laboratórios brasileiros têm a função de adaptar os produtos desenvolvidos pelo grupo para as condições climáticas do país e, em muitos casos, para toda a América Latina.
É uma função importante, que determina nossa importância regional. Mas acreditamos que no futuro iremos além disso, vamos fazer inovação radical aqui, desenvolver novas moléculas por exemplo.
Quais são as inovações que estão sendo trabalhadas nos laboratórios mundiais da Bayer que devem impactar os negócios no Brasil?
Estamos vivendo um momento de mudanças climáticas. O mundo poderá ficar mais quente e teremos menos água. Precisaremos de plantas mais resistentes, que consigam crescer nestas condições. Outra questão importante: a população mundial cresce em 80 milhões de novos habitantes por ano. Mas a área agrícola não tem como acompanhar.
Precisamos buscar mais eficiência e produtividade no campo. Estes são os mais importantes desenvolvimentos nos quais trabalhamos. É importante registrar que, mesmo com a crise, aumentamos nossos investimentos globais em P&D de € 2,7 bilhões em 2008 para € 2,9 bilhões neste ano.

O Brasil está investindo em infraestrutura, além disso há os eventos esportivos no horizonte e o pré-sal. Como isso impacta os negócios da Bayer?
A Bayer tem inúmeras soluções inovadoras a oferecer. Temos soluções anticorrosivas adequadas para equipamentos de perfuração em águas profundas. Temos poliuretanos que permitem a fabricação de dormentes para trilhos de trem mais resistentes e menos barulhentos e que já estão em teste no Metrô de São Paulo. Temos isolantes térmicos que permitem construções ecologicamente sustentáveis.
Na área esportiva, temos a experiência de fornecimentos para a Copa da Alemanha e a Olimpíada de Pequim. Uma solução que será oferecida no país são as chapas de policarbonato como a que cobre o estádio do Bayer Leverkusen, meu time, que disputa a Bundesliga, a primeira divisão alemã.

Brasil Econômico: empresa brasileira de software ganha o mundo na carona da Ambev.

Matéria do Brasil Econômico.

Pode ser polêmica a estratégia do Governo Lula de apoiar a criação de grandes empresas nacionais e de multinacionais brasileiras. Alguns, como o Kanitz, a consideram fundamental para o crescimento do país.

Independente disso, as escolhas sempre podem ser criticadas. Taí o caso BROI, apenas para exemplificar.

O caso da Ambev, que envolve controle estrangeiro, pode ser mesmo em exemplo do caminho contrário. Mas essa notícia exemplifica uma das vantagens da estratégia do governo: a internacionalização a reboque dos fornecedores das novas grandes empresas.

Fabiana Parajara   (fparajara@brasileconomico.com.br)
07/04/10 10:44

Desenvolvedora de software para departamentos jurídicos exporta para 32 países, em 17 idiomas.

Em 1994, quando foi criada, a Tedesco Tecnologia oferecia sistemas de software para gestão de escritório de advocacia. Basicamente, o programa da empresa ajuda a controlar o trâmite dos processos em andamento, facilitando a organização do trabalho.

Não demorou muito para que departamentos jurídicos de grandes corporações começassem a se interessar pelo produto.

Hoje, a carteira de clientes da Tedesco tem 300 nomes, entre eles AmBev, Camargo Corrêa, Souza Cruz, CSN, Walmart, Pernambucanas e, mais recentemente, a filial italiana da British American Tobacco (BAT Italia), dona das marcas Dunhill, Kent e Lucky Strike.

O tamanho das contas contrasta com o da própria Tedesco, que é de médio porte. A empresa não revela o faturamento, mas está investindo R$ 3,5 milhões para triplicar o escritório em São Paulo. Ela tem ainda unidades em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.

"As grandes corporações precisam de um sistema que ligue o departamento jurídico à contabilidade e ao gerenciamento de riscos", diz Alvaro Barretto, diretor comercial da Tedesco, sobre o sucesso das vendas. Para a empresa, a vantagem é vender um pacote maior de serviços, se comparado aos primeiros clientes, os escritórios de advocacia.

Made in Brazil

Para quem compra os programas da Tedesco, o que chama a atenção é a relação custo e benefício. "A escolha pelo software foi baseada na relação preço e qualidade", diz Antonio Claudio Tarre, diretor jurídico da BAT Itália. Ele afirma que o programa está sendo facilmente implementado, porque o sistema jurídico italiano é bastante parecido com o brasileiro. Mas a experiência anterior com o software também contou.

Tarre usou o mesmo processo de gestão quando trabalhava na Souza Cruz, ainda no Brasil, e o recomendou à BAT, que avalia sua instalação em todas as unidades da companhia ao redor do mundo. Essa é uma história que a Tedesco conhece bem.

Foi graças ao contrato com a AmBev no Brasil que a empresa virou exportadora e desenvolveu versões em 17 idiomas. "A AmBev nos apresentou ao pessoal da InBev. Os 32 países em que estamos hoje são aqueles nos quais a empresa está presente", diz Barretto.

Segundo o executivo, as diferentes legislações não são impedimento para a instalação do software de gestão. "Simplificando, fazemos o controle de entrada e saída dos processos, a análise dos pontos frágeis de contratos, ou seja, a gestão dos documentos e dos riscos, independentemente do sistema legal vigente", afirma.

Com isso, a empresa conseguiu avançar 52% ao ano até 2008. "Mesmo com a crise econômica atingindo vários países, em 2009, conseguimos crescer 23%", compara.

A meta para 2010 é elevar esse índice para 60%. Para isso, não descarta uma fusão ou aquisição, no modelo de troca de ações. "É um projeto embrionário ainda. Não temos nada acertado", diz. Até agora, a Tedesco usou apenas recursos próprios para bancar sua expansão.