Matéria do
Brasil Econômico.
Domingos Zaparolli (dzaparolli@brasileconomico.com.br)
07/04/10 10:30
Alemã traz ao país a divisão Technology Services e amplia investimento em pesquisa.
Uma nova divisão da alemã
Bayer começa a operar no Brasil este ano, a
Technology Services, especializada em soluções de engenharia e execução de obras para as indústrias químicas, farmacêuticas, petrolíferas e de construção civil.
No ano passado, o negócio gerou uma receita global de € 380 milhões. Entre as metas da nova unidade que começa a operar em junho na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, está detectar oportunidades em novos negócios que surgirão com a exploração do pré-sal, com as obras de infraestrutura em andamento no país e com a adequação das arenas esportivas brasileiras para a Olimpíada e Copa do Mundo
Horstfried Läpple, presidente da filial brasileira da Bayer, diz que ainda é cedo para projetar o desempenho da nova divisão. "Teremos um ano de prospecção de mercado e planejamento. Em 2012 teremos uma visão melhor do negócio", diz.
No Brasil, a Bayer atua em três segmentos, farmacêutico, defensivos agrícolas e materiais inovadores, que abriga os negócios com polímeros de alta performance, como poliuretanos, um produto criado nos laboratórios da Bayer nos anos 30 do século passado, e o policarbonato.
No ano passado, as vendas do grupo no país cresceram 3%, alcançando R$ 3,8 bilhões. A unidade é a sétima em faturamento no ranking interno da companhia, que está presente em 180 países. Läpple avalia que, em menos de uma década, galgará o quinto posto, posicionando-se atrás apenas das operações nos Estados Unidos, Alemanha, China e Itália.
Läpple está no Brasil há quatro anos. Nas horas de folga, sua atividade predileta é fazer caminhadas no campo. Já fez passeios no Pantanal, na Amazônia e nas imediações de São Paulo.
Mas agora, além de observar a natureza, ele aproveita o tempo para refletir. É que recentemente ele recebeu da matriz a incumbência de coordenar um planejamento, que será concluído em 2011, que direcionará os investimentos da companhia no país. É sobre os vetores deste trabalho que Läpple fala ao Brasil Econômico.
Quais são os fatores que fazem o Brasil ganhar maior importância no planejamento global da Bayer?
Os Brics respondem por 14% das vendas da Bayer, mas esta participação cresce a um ritmo de 30% ao ano. O interessante é notar que o Brasil não é mais o país do futuro. Tornou-se um país que, ano a ano, transforma seu potencial em desenvolvimento.
Além disso, há o pré-sal e os eventos esportivos, que gerarão novas oportunidades. Estou no país há quatro anos, passei por EUA, Japão e China.
O Brasil me surpreendeu positivamente pela forma como está avançando em seus marcos regulatórios e no controle da informalidade. Isso permitirá ao país assumir novas funções globais dentro do grupo.
Quais funções globais a filial brasileira pode assumir?
Para ser considerado um país chave na companhia é preciso ter produção e também pesquisa e desenvolvimento. Nosso parque industrial em Belford Roxo (polímeros e defensivos agrícolas) tem mais de 50 anos.
A Bayer tem três fábricas de hormônios femininos, duas na Alemanha e a de São Paulo, que exporta 45% de sua produção para mais de 30 países da América Latina e Ásia. Então, produção já temos. Falta avançar em P&D.
No ano passado, recebemos a tarefa de realizar pesquisas e monitoramentos em farmaco-vigilância, ou seja, controle dos efeitos dos medicamentos nas pessoas. Só EUA, Japão e Alemanha fazem. É uma função sensível para a companhia e teremos 70 profissionais envolvidos nisso. Neste ano, pela primeira vez, seremos responsáveis por coordenar mundialmente a pesquisa clínica de um novo medicamento, o Riociguat, para hipertensão pulmonar. O momento é de mostrar trabalho. Se tivermos boa performance, novos investimentos virão.
Entre os investimentos programados para 2010 estão novos laboratórios. Qual é a importância do Brasil no esforço global de inovação do grupo?
Hoje os laboratórios brasileiros têm a função de adaptar os produtos desenvolvidos pelo grupo para as condições climáticas do país e, em muitos casos, para toda a América Latina.
É uma função importante, que determina nossa importância regional. Mas acreditamos que no futuro iremos além disso, vamos fazer inovação radical aqui, desenvolver novas moléculas por exemplo.
Quais são as inovações que estão sendo trabalhadas nos laboratórios mundiais da Bayer que devem impactar os negócios no Brasil?
Estamos vivendo um momento de mudanças climáticas. O mundo poderá ficar mais quente e teremos menos água. Precisaremos de plantas mais resistentes, que consigam crescer nestas condições. Outra questão importante: a população mundial cresce em 80 milhões de novos habitantes por ano. Mas a área agrícola não tem como acompanhar.
Precisamos buscar mais eficiência e produtividade no campo. Estes são os mais importantes desenvolvimentos nos quais trabalhamos. É importante registrar que, mesmo com a crise, aumentamos nossos investimentos globais em P&D de € 2,7 bilhões em 2008 para € 2,9 bilhões neste ano.
O Brasil está investindo em infraestrutura, além disso há os eventos esportivos no horizonte e o pré-sal. Como isso impacta os negócios da Bayer?
A Bayer tem inúmeras soluções inovadoras a oferecer. Temos soluções anticorrosivas adequadas para equipamentos de perfuração em águas profundas. Temos poliuretanos que permitem a fabricação de dormentes para trilhos de trem mais resistentes e menos barulhentos e que já estão em teste no Metrô de São Paulo. Temos isolantes térmicos que permitem construções ecologicamente sustentáveis.
Na área esportiva, temos a experiência de fornecimentos para a Copa da Alemanha e a Olimpíada de Pequim. Uma solução que será oferecida no país são as chapas de policarbonato como a que cobre o estádio do Bayer Leverkusen, meu time, que disputa a Bundesliga, a primeira divisão alemã.