O artigo abaixo (mal traduzido por mim) foi publicado pelo Psychology Today. Ele resenha um painel realizado pelo New York Times sobre as políticas de ação afirmativa implementadas no Brasil.
O debate, disponível aqui, contou com a participação de brasileiros e gringos, entre eles Yvonne Maggie, Marcelo Paixão, Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, e João Jorge Santos Rodrigues, presidente do Olodum.
Entre os textos gringos, "traduzi" estes dois: "O que o Brasil faz bem" e "O Brasil estabelece um exemplo a seguir".
Problemas surpreendentes na determinação de quem se qualifica para a ação afirmativa no Brasil.
Jefferson Fish
No New York Times de hoje (30 de março de 2012), há uma interessante discussão com oito especilistas acerca da pergunta: "O Brasil será beneficiado por ações afirmativas de estilo norte-americano para contrapor a sua história de escravidão?" O painel, entitulado "Desafio da identidade racial no Brasil", foi estimulado pela preparação para as Olimpíadas de 2016 no Brasil e pelo desejo de compreender a cultura do colosso do hemisfério sul. (O Brasil ocupa mais da metade das terras da América do Sul, é maior do que 48 estados americanos contíguos, e, com quase 200 milhões de habitantes, tem a metade da população do continente).
As respostas dos participantes foram prejudicadas pela brevidade do espaço a elas destinado. Uma questão fundamental que não pode ser explorada - e que todos os participantes entendem claramente - é a grande diferença nas concepções de raça que têm americanos e brasileiros. Micol Seigel referiu-se a elas como "as incomensuráveis maneiras com que delimitamos as categorias sociais." No entanto, as respostas confrontaram a questão em um grau raramente atingido nos EUA durante o diálogo nacional sobre raça, do presidente Clinton.
Dos arquivos do blog:
Uma expressão cultural brasileira chave é “dar um jeito” (sic), com uma gama de significados que vão desde criatividade e flexibilidade até trapacear, suborno e corrupção. A escravidão foi muito mais difundida e terminou significativamente mais tarde (em 1888) no Brasil do que nos EUA. No entanto, o Brasil deu um jeitinho e evitou uma guerra civil ao abolir a escravidão em etapas, ao longo de quase quatro décadas. Primeiro, o comércio de escravos foi abolido; depois, qualquer pessoa nascida de um escravo era livre; em seguida, os escravos com idade superior a 60 anos foram libertados; e, finalmente, quando muito menos pessoas ainda estavam escravizadas e a economia tinha tido tempo para se adaptar, a instituição foi finalmente terminada.
Em um contraste semelhante, a América desenhou uma linha acentuada entre brancos e pretos com a sua regra de “one-drop” (uma gota). A idéia norte-americana de raça tem sido tradicionalmente baseada na ascendência, de modo que qualquer um com um dos pais classificado como negro também era considerado negro - mesmo que tivesse cabelos loiros, olhos azuis e pele muito clara. No Brasil, as pessoas são classificados por sua aparência, em um número de categorias que varia de cerca de dez ou vinte, no sul, a bem mais de uma centena no nordeste. Uma família em Salvador, Bahia, com uma mãe, pai, e seis filhos pode muito bem ser de oito diferentes “cores ou tipos” - palavras usadas pelos brasileiro ao invés de raça. Além disso, quando as pessoas mais escuras ganham mais dinheiro e alcançam ocupações de maior prestígio, elas podem se tornar menos negras - a expressão brasileira é "o dinheiro embranquece".
Afro-americanos que visitam o Brasil como turistas - e que às vezes podem até ser confundidos com brasileiros, por causa de sua aparência – voltam para casa com percepções diferentes sobre o racismo brasileiro. Alguns dirão que o Brasil realmente parece aproximar-se do seu ideal de uma "democracia racial", enquanto outros expressam choque com o racismo manifesto encontrado, de uma espécie que praticamente desapareceu nos Estados Unidos. Pode não ter ocorrido a eles que os tratamentos diferenciados que experimentaram dependeu significativamente de o que eles se parecem. Ou seja, em termos brasileiros, alguns não eram discriminados por serem negros, porque no Brasil eles não eram negros. (O julgamento brasileiro é feito com base não apenas na cor da pele, mas em características faciais e na textura do cabelo, para não mencionar as roupas e outros indicadores de classe social.)
Assim, um problema fundamental na reflexão sobre a pergunta é o acerca de "quem é negro?" Havendo benefício a se obter por ser negro, alguns brasileiros têm preocupação de que não-negros (isto é, aqueles que estão fora qualquer categoria estabelecida pelo governo ) dariam um jeitinho e alegariam ser negros. Isso é similar à maneira como alguns americanos têm "redescoberto" suas raízes indígenas após o desenvolvimento dos casinos em reservas. Ele também explica por que alguns dos participantes no debate defendem a ação afirmativa baseada em classe social, em vez de "raça". A alta correlação entre a pobreza e, por falta de um termo melhor, negritude no Brasil significa que o programa afetaria substancialmente as mesmas pessoas.
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