segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ações afirmativas brasileiras reconhecem e combatem as desigualdades

Um dos textos que integram o painel do NYT sobre as ações afirmativas no Brasil. O outro é este: "O Brasil estabelece um exemplo a seguir"

O que o Brasil faz bem
Jerry Dávila

Nos Estados Unidos e no Brasil, a sombra Jim Crow rendeu entendimentos divergentes sobre a natureza da desigualdade racial e o papel das políticas de consciência racial. Nos EUA, deixar o "separate but equal” (separados mas iguais) no espelho retrovisor alimenta desafios legais à ação afirmativa.

Mas, no Brasil, a distância de Jim Crow molda um crescente reconhecimento de que discriminação racial e desigualdade não são legados, nem são apenas fruto da segregação. Ao contrário, elas têm uma capacidade viral teimosa para se reproduzir e renovar.

A história dos EUA com a segregação racial tem tanta força, que ela consegue ofuscar as formas sutis e muitas vezes ambíguas com que os valores e práticas institucionais reforçam a exclusão racial. Essa força extravasou as fronteiras nacionais, e formatou percepções de relações raciais na América Latina.


Dos arquivos do blog:


No Brasil, a comparação com os EUA tornou mais fácil imaginar que país era uma "democracia racial". No entanto, embora o Brasil nunca tenha promulgado o racismo legal, milhões de negros brasileiros enfrentam desigualdades que são mais profundas do que os EUA

Na ausência de um gatilho como o do “supremacismo branco” nos EUA, o Brasil evitou longamente um questionamento completo sobre suas próprias desigualdades raciais. Na falta disso, uma ágil reinterpretação da discriminação racial está ocorrendo no Brasil, que traz lições para os EUA

No Brasil de hoje, cotas para alunos negros, indígenas e de escolas públicas estão sendo implementadas em muitas das principais universidades. Enquanto isso, programas de financiamento da educação e de expansão do apoio social para os pais que mantenham filhos na escola estão garantindo as primeiras reduções sustentadas da desigualdade social na história moderna do país.

Estas políticas brasileiras não são destinadas a corrigir os legados de racismo: ao contrário, elas reconhecem e combatem as desigualdades em curso. O Brasil, por sua vez, tem tirado uma lição da história dos EUA com ações afirmativas: políticas que promovem a inclusão são insuficientes sem políticas que reduzam a exclusão.

Jerry Dávila é o autor de "Hotel Trópico: o Brasil e o desafio da descolonização Africana" e "Diploma de Brancura:. Raça e Política Social no Brasil" Ele é um professor de história na Universidade da Carolina do Norte em Charlotte e Jorge Paulo Lemann professor de história do Brasil na Universidade de Illinois.

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