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domingo, 29 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
O Brasil estabelece exemplo a ser seguido pelos EUA em ações afirmativas
Outro texto do painel do NYT sobre as ações afirmativas no Brasil. O primeiro publicado aqui no blog foi este: O que o Brasil faz bem.
Os programas de ação afirmativa no Brasil estão bastante difundidos e crescendo. Baseados em vitórias legais estaduais a partir de 2000 e guiados a uma expanção ainda maior pelo Estatuto da Igualdade Racial aprovado em 2010, com a exceção de apenas três, todos os 26 estados do Brasil agora tem sistemas de cotas reparativas.
A objecção generalizada de que as categorias raciais brasileiras eram muito fluidas para definir "negro" com fins de política não foi cumprida. Os candidatos definem sua identidade racial eles mesmo e, aparentemente, os desincentivos a proclamãção de uma identidade negra em uma sociedade ainda permeada de presunções racistas são suficientes para afastar a inundação de candidatos brancos mal intencionados, que os adversários alegavam que travaria o sistema.
Além disso, a ação afirmativa brasileira não é apenas racial. Ela é baseada em também em classe e implementada de maneira inteligente. Na maioria dos estados, as famílias dos candidatos cotistas devem cumprir um limite de salário; e um mesmo número de vagas é reservado para crianças que frequentarm o sistema de escolas públicas do Brasil e para estudantes negros. Como a maioria das famílias pobres o suficiente para atender o limite máximo de renda terá enviado seus filhos às escolas públicas, isso significa que a maioria dos estudantes que preenchem o requisito de renda pode se candidatar, independentemente da cor.
Nos EUA, um sistema híbrido semelhante faria muito para corrigir as desigualdades existentes. Infelizmente, os norte-americanos insistem em fechar os olhos para a classe, se recusando a reconhecer o peso esmagador da pobreza através as gerações. Como a pobreza é altamente racializada nos EUA, assim como no Brasil, a despeito das formas desiguais com que delimitamos as categorias sociais, políticas afirmativas que levem a classe em conta funcionam melhor nos EUA também. O sistema do Texas, que garantiu a admissão à universidade estadual aos 10% melhores de cada turma de formandos, por exemplo, alcançou taxas de diversidade racial tão altas quanto o sistema de raçasm, mas o superou ao evitar a ocupação de até 2/3 das vagas de diversidade por alunos de cor abastados, e muitas vezes estrangeiros, ocorrida no sistema unicamente racial. Igualmente importantes, tais políticas resultam em muito menos evasão.
A questão pode ser melhor colocada em reverso: Será que programas de ação afirmativa no estilo do Brasil funcionariam nos EUA? Dada à sorte que as políticas de ação afirmativa dos EUA sofreram recentemente nas mãos dos tribunais e dos eleitores, a resposta parece clara.
Micol Siegel, professora associada de estudos Afro-Americanos e de Diáspora Africana da Universidade de Indiana, é o autor de "Encontros desiguais: Fazendo raça e nação no Brasil e os Estados Unidos"
Ações afirmativas brasileiras reconhecem e combatem as desigualdades
Um dos textos que integram o painel do NYT sobre as ações afirmativas no Brasil. O outro é este: "O Brasil estabelece um exemplo a seguir"
O que o Brasil faz bem
Jerry Dávila
Jerry Dávila
Nos Estados Unidos e no Brasil, a sombra Jim Crow rendeu entendimentos divergentes sobre a natureza da desigualdade racial e o papel das políticas de consciência racial. Nos EUA, deixar o "separate but equal” (separados mas iguais) no espelho retrovisor alimenta desafios legais à ação afirmativa.
Mas, no Brasil, a distância de Jim Crow molda um crescente reconhecimento de que discriminação racial e desigualdade não são legados, nem são apenas fruto da segregação. Ao contrário, elas têm uma capacidade viral teimosa para se reproduzir e renovar.
A história dos EUA com a segregação racial tem tanta força, que ela consegue ofuscar as formas sutis e muitas vezes ambíguas com que os valores e práticas institucionais reforçam a exclusão racial. Essa força extravasou as fronteiras nacionais, e formatou percepções de relações raciais na América Latina.
Dos arquivos do blog:
No Brasil, a comparação com os EUA tornou mais fácil imaginar que país era uma "democracia racial". No entanto, embora o Brasil nunca tenha promulgado o racismo legal, milhões de negros brasileiros enfrentam desigualdades que são mais profundas do que os EUA
Na ausência de um gatilho como o do “supremacismo branco” nos EUA, o Brasil evitou longamente um questionamento completo sobre suas próprias desigualdades raciais. Na falta disso, uma ágil reinterpretação da discriminação racial está ocorrendo no Brasil, que traz lições para os EUA
No Brasil de hoje, cotas para alunos negros, indígenas e de escolas públicas estão sendo implementadas em muitas das principais universidades. Enquanto isso, programas de financiamento da educação e de expansão do apoio social para os pais que mantenham filhos na escola estão garantindo as primeiras reduções sustentadas da desigualdade social na história moderna do país.
Estas políticas brasileiras não são destinadas a corrigir os legados de racismo: ao contrário, elas reconhecem e combatem as desigualdades em curso. O Brasil, por sua vez, tem tirado uma lição da história dos EUA com ações afirmativas: políticas que promovem a inclusão são insuficientes sem políticas que reduzam a exclusão.
Jerry Dávila é o autor de "Hotel Trópico: o Brasil e o desafio da descolonização Africana" e "Diploma de Brancura:. Raça e Política Social no Brasil" Ele é um professor de história na Universidade da Carolina do Norte em Charlotte e Jorge Paulo Lemann professor de história do Brasil na Universidade de Illinois.
As ações afirmativas brasileiras em debate no NYT.
O artigo abaixo (mal traduzido por mim) foi publicado pelo Psychology Today. Ele resenha um painel realizado pelo New York Times sobre as políticas de ação afirmativa implementadas no Brasil.
O debate, disponível aqui, contou com a participação de brasileiros e gringos, entre eles Yvonne Maggie, Marcelo Paixão, Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, e João Jorge Santos Rodrigues, presidente do Olodum.
Entre os textos gringos, "traduzi" estes dois: "O que o Brasil faz bem" e "O Brasil estabelece um exemplo a seguir".
Problemas surpreendentes na determinação de quem se qualifica para a ação afirmativa no Brasil.
Jefferson Fish
No New York Times de hoje (30 de março de 2012), há uma interessante discussão com oito especilistas acerca da pergunta: "O Brasil será beneficiado por ações afirmativas de estilo norte-americano para contrapor a sua história de escravidão?" O painel, entitulado "Desafio da identidade racial no Brasil", foi estimulado pela preparação para as Olimpíadas de 2016 no Brasil e pelo desejo de compreender a cultura do colosso do hemisfério sul. (O Brasil ocupa mais da metade das terras da América do Sul, é maior do que 48 estados americanos contíguos, e, com quase 200 milhões de habitantes, tem a metade da população do continente).
As respostas dos participantes foram prejudicadas pela brevidade do espaço a elas destinado. Uma questão fundamental que não pode ser explorada - e que todos os participantes entendem claramente - é a grande diferença nas concepções de raça que têm americanos e brasileiros. Micol Seigel referiu-se a elas como "as incomensuráveis maneiras com que delimitamos as categorias sociais." No entanto, as respostas confrontaram a questão em um grau raramente atingido nos EUA durante o diálogo nacional sobre raça, do presidente Clinton.
Dos arquivos do blog:
Uma expressão cultural brasileira chave é “dar um jeito” (sic), com uma gama de significados que vão desde criatividade e flexibilidade até trapacear, suborno e corrupção. A escravidão foi muito mais difundida e terminou significativamente mais tarde (em 1888) no Brasil do que nos EUA. No entanto, o Brasil deu um jeitinho e evitou uma guerra civil ao abolir a escravidão em etapas, ao longo de quase quatro décadas. Primeiro, o comércio de escravos foi abolido; depois, qualquer pessoa nascida de um escravo era livre; em seguida, os escravos com idade superior a 60 anos foram libertados; e, finalmente, quando muito menos pessoas ainda estavam escravizadas e a economia tinha tido tempo para se adaptar, a instituição foi finalmente terminada.
Em um contraste semelhante, a América desenhou uma linha acentuada entre brancos e pretos com a sua regra de “one-drop” (uma gota). A idéia norte-americana de raça tem sido tradicionalmente baseada na ascendência, de modo que qualquer um com um dos pais classificado como negro também era considerado negro - mesmo que tivesse cabelos loiros, olhos azuis e pele muito clara. No Brasil, as pessoas são classificados por sua aparência, em um número de categorias que varia de cerca de dez ou vinte, no sul, a bem mais de uma centena no nordeste. Uma família em Salvador, Bahia, com uma mãe, pai, e seis filhos pode muito bem ser de oito diferentes “cores ou tipos” - palavras usadas pelos brasileiro ao invés de raça. Além disso, quando as pessoas mais escuras ganham mais dinheiro e alcançam ocupações de maior prestígio, elas podem se tornar menos negras - a expressão brasileira é "o dinheiro embranquece".
Afro-americanos que visitam o Brasil como turistas - e que às vezes podem até ser confundidos com brasileiros, por causa de sua aparência – voltam para casa com percepções diferentes sobre o racismo brasileiro. Alguns dirão que o Brasil realmente parece aproximar-se do seu ideal de uma "democracia racial", enquanto outros expressam choque com o racismo manifesto encontrado, de uma espécie que praticamente desapareceu nos Estados Unidos. Pode não ter ocorrido a eles que os tratamentos diferenciados que experimentaram dependeu significativamente de o que eles se parecem. Ou seja, em termos brasileiros, alguns não eram discriminados por serem negros, porque no Brasil eles não eram negros. (O julgamento brasileiro é feito com base não apenas na cor da pele, mas em características faciais e na textura do cabelo, para não mencionar as roupas e outros indicadores de classe social.)
Assim, um problema fundamental na reflexão sobre a pergunta é o acerca de "quem é negro?" Havendo benefício a se obter por ser negro, alguns brasileiros têm preocupação de que não-negros (isto é, aqueles que estão fora qualquer categoria estabelecida pelo governo ) dariam um jeitinho e alegariam ser negros. Isso é similar à maneira como alguns americanos têm "redescoberto" suas raízes indígenas após o desenvolvimento dos casinos em reservas. Ele também explica por que alguns dos participantes no debate defendem a ação afirmativa baseada em classe social, em vez de "raça". A alta correlação entre a pobreza e, por falta de um termo melhor, negritude no Brasil significa que o programa afetaria substancialmente as mesmas pessoas.
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