Segue, com alguns grifos meus, um trecho da matéria da Veja, de 03/02/1999, sobre os remédios do governo FHC para lidar com a crise. Entre eles, a venda da Petrobrás e a ingerência política nos fundos de pensão.
O original está aqui.
No caldeirão da bruxa
Malan chegou a oferecer o cargo e já se fala na venda imediata da Petrobras
Expedito Filho e Felipe Patury
A Esplanada dos Ministérios acompanhou com tensão o pânico que o país viveu na semana passada em relação à moeda. Mesmo com o sigilo que sempre cerca os pacotaços econômicos, desta vez não transpirou nenhum sinal de que o governo esteja pensando em aplicar qualquer golpe de mão na poupança do brasileiro. Seria uma grande surpresa se viesse a fazê-lo, mesmo porque esse tipo de intervenção é unanimemente condenado por todos os conselheiros que Fernando Henrique leva a sério. E não é consistente com nenhuma das mais íntimas convicções de FHC no campo da economia, a partir do que ele tem repetido sem parar desde 1994. Ainda assim, o brasileiro estremeceu na última semana porque surpresas nessa área são sempre possíveis. Nos últimos dias, os auxiliares diretos de Fernando Henrique e alguns economistas que ele tem chamado para gravitar a seu redor nesta hora de crise estudavam a aplicação de medidas de emergência, algumas radicais, para frear a especulação e reconquistar a credibilidade:
*O governo está estudando a possibilidade de privatizar imediatamente a Petrobras.
*Negocia com o Tesouro americano a venda de títulos lastreados em futuras receitas de empresas estatais, como a Eletrobrás.
*Para resolver o problema imediato de caixa, obrigaria os fundos de pensão a aplicar parte dos recursos em papéis de longo prazo.
Essas três medidas, acreditam os economistas, dariam fôlego ao governo por algum tempo. Com mais dinheiro na praça, principalmente dólares, as taxas de câmbio flutuariam para baixo, refrescando o calor que o exagerado aumento da moeda americana tem provocado em toda a economia. Não se sabe quanto seria arrecadado com essas providências nem o presidente Fernando Henrique Cardoso está totalmente convencido da conveniência de uma ou outra. A privatização da Petrobras, que tem no ministro José Serra um dos principais defensores, ainda não recebeu sinal verde. Já a venda de títulos ao governo americano é idéia amadurecida. Um amplo estudo dessa alternativa foi feito pelo economista André Lara Resende na época em que ele ainda era presidente do BNDES. Com sua volta ao governo — ele seria o principal formulador de um Conselho de Notáveis criado para auxiliar o presidente —, a proposta voltou com toda a força. Essa é a principal entre as três providências citadas acima.
(...)
Uma das mais árduas missões do governo daqui para a frente é recuperar a credibilidade. Na sexta-feira, milhares de pessoas correram a agências bancárias impulsionadas por boatos irresponsáveis a respeito de calote nos investimentos do brasileiro. Alguns zeraram suas contas, levando o dinheiro para casa. Outros transferiram saldos de aplicações em fundos para a conta corrente, acreditando que a tunga só alcançaria investimentos em títulos oficiais. Desde as primeiras horas da manhã, a equipe econômica tentou convencer os correntistas de que não havia intenção alguma naquele sentido. O presidente Fernando Henrique chegou a dizer que não era "homem para fazer um confisco", o que seria uma traição contra a sociedade. O movimento nos bancos foi intenso. "Meus pais foram vítimas do confisco do Collor", disse Rodrigo Mourão Cysne, funcionário público, que raspou os 10.000 reais de sua caderneta de poupança. "Acho melhor perder o rendimento do que arriscar." Até no Ipea, a repartição do Ministério da Fazenda em que são elaborados estudos econômicos para o governo, a correria de funcionários para sacar os salários foi intensa. Sim, a crise chegou à classe média.
O original está aqui.
No caldeirão da bruxa
Malan chegou a oferecer o cargo e já se fala na venda imediata da Petrobras
Expedito Filho e Felipe Patury
A Esplanada dos Ministérios acompanhou com tensão o pânico que o país viveu na semana passada em relação à moeda. Mesmo com o sigilo que sempre cerca os pacotaços econômicos, desta vez não transpirou nenhum sinal de que o governo esteja pensando em aplicar qualquer golpe de mão na poupança do brasileiro. Seria uma grande surpresa se viesse a fazê-lo, mesmo porque esse tipo de intervenção é unanimemente condenado por todos os conselheiros que Fernando Henrique leva a sério. E não é consistente com nenhuma das mais íntimas convicções de FHC no campo da economia, a partir do que ele tem repetido sem parar desde 1994. Ainda assim, o brasileiro estremeceu na última semana porque surpresas nessa área são sempre possíveis. Nos últimos dias, os auxiliares diretos de Fernando Henrique e alguns economistas que ele tem chamado para gravitar a seu redor nesta hora de crise estudavam a aplicação de medidas de emergência, algumas radicais, para frear a especulação e reconquistar a credibilidade:
*O governo está estudando a possibilidade de privatizar imediatamente a Petrobras.
*Negocia com o Tesouro americano a venda de títulos lastreados em futuras receitas de empresas estatais, como a Eletrobrás.
*Para resolver o problema imediato de caixa, obrigaria os fundos de pensão a aplicar parte dos recursos em papéis de longo prazo.
Essas três medidas, acreditam os economistas, dariam fôlego ao governo por algum tempo. Com mais dinheiro na praça, principalmente dólares, as taxas de câmbio flutuariam para baixo, refrescando o calor que o exagerado aumento da moeda americana tem provocado em toda a economia. Não se sabe quanto seria arrecadado com essas providências nem o presidente Fernando Henrique Cardoso está totalmente convencido da conveniência de uma ou outra. A privatização da Petrobras, que tem no ministro José Serra um dos principais defensores, ainda não recebeu sinal verde. Já a venda de títulos ao governo americano é idéia amadurecida. Um amplo estudo dessa alternativa foi feito pelo economista André Lara Resende na época em que ele ainda era presidente do BNDES. Com sua volta ao governo — ele seria o principal formulador de um Conselho de Notáveis criado para auxiliar o presidente —, a proposta voltou com toda a força. Essa é a principal entre as três providências citadas acima.
(...)
Uma das mais árduas missões do governo daqui para a frente é recuperar a credibilidade. Na sexta-feira, milhares de pessoas correram a agências bancárias impulsionadas por boatos irresponsáveis a respeito de calote nos investimentos do brasileiro. Alguns zeraram suas contas, levando o dinheiro para casa. Outros transferiram saldos de aplicações em fundos para a conta corrente, acreditando que a tunga só alcançaria investimentos em títulos oficiais. Desde as primeiras horas da manhã, a equipe econômica tentou convencer os correntistas de que não havia intenção alguma naquele sentido. O presidente Fernando Henrique chegou a dizer que não era "homem para fazer um confisco", o que seria uma traição contra a sociedade. O movimento nos bancos foi intenso. "Meus pais foram vítimas do confisco do Collor", disse Rodrigo Mourão Cysne, funcionário público, que raspou os 10.000 reais de sua caderneta de poupança. "Acho melhor perder o rendimento do que arriscar." Até no Ipea, a repartição do Ministério da Fazenda em que são elaborados estudos econômicos para o governo, a correria de funcionários para sacar os salários foi intensa. Sim, a crise chegou à classe média.
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