Já é lugar comum: qualquer referência ao crescimento do Brasil vem acompanhada ou é retorquida pela ressalva derrotista de que, dentre os BRICs, ele é o que menos cresce. Recentemente, outra objeção vem se somando. Agora, lembra-se sempre que o México tem crescido mais que o Brasil.
O discurso subjacente, acho, é sempre o mesmo. O crescimento da economia brasileira e as mudanças por que passamos é resultado do acaso, do momento mundial – e da política econômica de 15 anos atrás. Existe mesmo quem diga que o Brasil cresce “apesar do Brasil”. No caso do México, que integra o NAFTA e tem política econômica mais liberal, além disso, somam-se as críticas ao sepultamento da ALCA.
Dos arquivos do blog:
Agora, matéria do Valor transcrita abaixo (via Vermelho) revela que, apesar de ter crescido apenas 5,1% em média nos últimos anos, os ganhos sociais da evolução econômica do Brasil equivalem a um crescimento da ordem dos 13% ao ano – ou seja, a um padrão chinês de evolução.
Esse modelo de desenvolvimento econômico, segundo a pesquisa noticiada, referente ao período entre 2006 e 2011, coloca o Brasil na liderança mundial quanto ao aproveitamento social do crescimento econômico. O México, veja você, ocupa a 127ª posição no ranking elaborado, que conta com 150 países.
No que diz respeito aos BRICs, vale repetir o seguinte parágrafo do texto abaixo:
“O estudo também compara o desempenho recente dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.”
*****
O mesmo Valor traz, hoje, em artigo do Delfim Netto, referência a um outro índice de bem estar da população e à sua evolução. E o gráfico com os dados referentes ao período entre 1995 e 2011, copiado abaixo, após apresentação do índice pelo próprio Delfim, revelam uma completa estagnação até 2003, quando é substituída por forte e constante crescimento.
Não sou economista (ou outro “cientista”), mas não consigo “comprar” a ideia de que uma mudança tão repentina quanta acentuada na evolução do tal índice ocorra independente de uma alteração equivalente na condução da política econômica e social.
"As pesquisas empíricas sugerem que o sentimento de “bem-estar” depende, fundamentalmente, de duas variáveis: 1) do crescimento da renda real dos cidadãos, que pode ser aproximada pela sua renda média; e 2) da distribuição entre os cidadãos da renda produzida. Elas sugerem, cada vez mais fortemente que uma melhoria do nível de igualdade aumenta o “bem-estar” de todos.
Diante desses fatos, o grande economista Amartya Sen, ganhador do Nobel de 1998), propôs uma medida engenhosa para simular o “bem-estar social”. Se o índice de Gini (que vai de 0 a 1) “mede” a concentração da renda, o seu complemento (1 menos o índice de Gini) sugere uma medida de “desconcentração”, ou seja, de maior igualdade na distribuição da renda.
É bom lembrar que o índice de Gini mede a “distância média” entre as pessoas, não o seu nível de bem-estar. A sugestão de Sen é construir um indicador composto da renda média real multiplicada pelo índice de “desconcentração”, de forma a captar um pouco melhor as duas variáveis a que nos referimos acima.
Felizmente, um interessante trabalho do Ipea (“A Década Inclusiva (2001-2011)”, Comunicações do Ipea nº 155, 25/10/2012) construiu o tal índice, que reproduzimos no gráfico abaixo. Vemos claramente que na octaetéride (1995-2002) ele permaneceu estagnado."
Gráfico do índice de bem estar social calculado pelo IPEA com base no Gini e na renda média. |
*****
O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia.
A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group (BCG), que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda, na sigla em inglês), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE.
O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 1990", diz o texto do relatório "Da riqueza para o bem-estar", que será oficialmente divulgado hoje. O estudo também faz referência ao programa Bolsa-Família, destacando que a ajuda do governo às famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola.
|
Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança (estabilidade política, liberdade de expressão, direito de propriedade, baixo nível de corrupção, entre outros itens), educação, saúde, ambiente e infraestrutura.
O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidas.
Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, com 100 pontos, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária, com 47,8 pontos.
Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais."
Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos – Peru e Uruguai – aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis – Angola, Etiópia e Ruanda – e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação ao padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã.
Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6,5% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%.
O estudo também compara o desempenho recente dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.
O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país."
Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."