Segue mais um excelente artigo de Mauro Carrara.
O original (ou a cópia aqui copiada) está aqui.
Belchior e o jornalismo de Ali Kamel
Mauro Carrara
Tempos atrás, narrei publicamente algumas desventuras daquele tido como “o mais pior dos jornalistas brasileiros”.
Entre muitos profissionais e observadores da imprensa, o estatístico Ali Kamel constitui-se em referência singular de apuração preguiçosa, texto confuso e aplicação ladina de lógicas de conveniência.
O sabujo da família Marinho subiu ao cume da Vênus Platinada valendo-se da escada magirus da obscenidade, especialmente na execução de serviços de comunicação encomendados pela direita brasileira.
Detalhe: a referência nada tem a ver com “O Solar das Taras Proibidas”. Deixemos em paz o astuto Casanova de Roberto Mauro.
Convém, no entanto, notar como o amoroso e eterno pupilo de Henrique Caban logrou, no tempo presente, impor seu “modus informandi” às Organizações Globo e, por tabela, a significativa parcela da inculta mídia monopolista do país.
Exemplo formidável tivemos na edição de 23 de Agosto do Fantástico, o caduco programa dominical da emissora carioca.
Inventou-se ali uma estória (sim, agora sem “h”, mesmo) sobre o desaparecimento de um “grande astro da MPB”.
O sumido (ninguém sabe, ninguém viu) seria Belchior, o inspirado cantor e compositor cearense, moço de Sobral, ex-repentista, autor de jóias da música brasileira como “Apenas um rapaz latino-americano” e “Paralelas”.
A longa matéria misturava fraseados de trama noir e música incidental de suspense hitchcockiano. Por meio de depoimentos pinçados e uma edição bem tesourada, a Globo induziu o brasileiro a cogitar até mesmo de uma abdução.
No dia seguinte, por exemplo, no comércio popular da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo, um pirateador de CDs afirmava que o artista encontrava-se numa base militar em Vênus, na qual cientistas cabeçudos escaneavam sua mente de poeta.
Naquele final de tarde, o hábil prosador admitia já ter vendido 16 cópias de álbuns do artista.
O que o telespectador engole
Ora, nos delírios narrados por Patrícia Poeta e Tadeu Schmidt, o folhetim da Globo manteve-se caninamente fiel à doutrina kameliana do jornalismo “testador de hipóteses”.
Afinal, a teoria do desaparecimento era verossimilhante, o que mestre Kamel considera suficiente para a construção de uma boa matéria.
O estatístico, aliás, já cometera experiências do gênero em “Veja” e na própria Globo, com destaque para os malabarismos argumentativos destinados a atirar no colo de Lula a responsabilidade pela tragédia com o avião da TAM, em Congonhas, em 2.007.
No caso de Belchior, a reportagem foi tratada como pândega por vários profissionais gabaritados da Central Globo de Jornalismo. Era o "se colar, colou". Riu-se da figura do trouxa engolidor de bobagens, o típico Homer Simpson boneriano.
Nas redações da emissora, pórém, a pauta se converteu em batata quente. Ninguém queria assumir a execução da suíte.
Durante a semana, os fatos comprovaram que os súditos de Kamel testam hipóteses, levianamente, ou são péssimos apuradores.
Nos dois anos do suposto “sumiço”, Belchior foi visto, fotografado e gravado em vídeo por dezenas de pessoas, entre jornalistas e cidadãos comuns.
Uma cantora lírica encontrara o cantor em duas ocasiões, em setembro do ano passado, em São Paulo.
Dois meses depois, ele aparecera no bairro do Coqueiral, no Recife, para participar de um evento do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.
Bastava aos jornalistas do Fantástico “testar um Google” para encontrar as matérias dos jornais pernambucanos sobre a participação de Belchior na cerimônia.
Em 9 de Fevereiro, em Brasília, posara para fotos ao lado de outro famoso amante do bigode, ninguém menos que José Sarney.
O “sumido” distribuira ainda autógrafos para admiradores em lugares como aeroportos e restaurantes, no Brasil e no Uruguai. Tudo recente, recentíssimo.
Aliás, que fugitivo, abduzido ou desencarnado daria palhinhas em shows, participaria de atividades de ONGs e visitaria o presidente do Senado?
A edição de 30 de Agosto do Fantástico, portanto, tinha de colocar dar um fim honroso a mais essa alucinação kamelista.
A batata quente caiu nas mãos da dedicada Sônia Bridi. Coitada.
E lá foi a galega comer pó nas estradas do Uruguai e, convertida em emissária da assistência social, dar plantão na porta de uma pousada em San Gregorio de Polanco.
Tomou um chá de cadeira. Coitada de novo.
Belchior apresentou-se já de noite à câmera da Globo. Afirmou que considerava “estranha” a reportagem sobre seu suposto desaparecimento. E disparou uma fleumática reprovação: “aquilo não tinha nenhuma relação comigo”.
Com um sorriso de mofa nos lábios, concluiu: “eu vivo em São Paulo”.
Ao que tudo indica, o simpático Belchior deu um tempo para escapar de falsos amigos e parentes chatos. É possível ainda que, inadimplente, tenha revivido seu personagem latino-americano, aquele “sem dinheiro no bolso”. Normal, normalíssimo.
Não por acaso, o jornalismo kameliano faz estardalhaço em torno de fatos inexistentes, mas cerra os olhos ao embuste dos bandalhos mal dissimulados.
A Globo não sabe, por exemplo, quem é o marido de Lina Vieira, desconhece seu padrinho demista cara-de-pau e nem desconfia dos interesses da ninfa da Receita no factóide da “agilização”.
Vamos testar uma hipótese? A empresa da família Marinho continuará enfiando gente em seu Triângulo das Bermudas, e Ali Kamel seguirá educando os truões da mídia imprensaleira. Vale uma aposta?
O original (ou a cópia aqui copiada) está aqui.
Belchior e o jornalismo de Ali Kamel
Mauro Carrara
Tempos atrás, narrei publicamente algumas desventuras daquele tido como “o mais pior dos jornalistas brasileiros”.
Entre muitos profissionais e observadores da imprensa, o estatístico Ali Kamel constitui-se em referência singular de apuração preguiçosa, texto confuso e aplicação ladina de lógicas de conveniência.
O sabujo da família Marinho subiu ao cume da Vênus Platinada valendo-se da escada magirus da obscenidade, especialmente na execução de serviços de comunicação encomendados pela direita brasileira.
Detalhe: a referência nada tem a ver com “O Solar das Taras Proibidas”. Deixemos em paz o astuto Casanova de Roberto Mauro.
Convém, no entanto, notar como o amoroso e eterno pupilo de Henrique Caban logrou, no tempo presente, impor seu “modus informandi” às Organizações Globo e, por tabela, a significativa parcela da inculta mídia monopolista do país.
Exemplo formidável tivemos na edição de 23 de Agosto do Fantástico, o caduco programa dominical da emissora carioca.
Inventou-se ali uma estória (sim, agora sem “h”, mesmo) sobre o desaparecimento de um “grande astro da MPB”.
O sumido (ninguém sabe, ninguém viu) seria Belchior, o inspirado cantor e compositor cearense, moço de Sobral, ex-repentista, autor de jóias da música brasileira como “Apenas um rapaz latino-americano” e “Paralelas”.
A longa matéria misturava fraseados de trama noir e música incidental de suspense hitchcockiano. Por meio de depoimentos pinçados e uma edição bem tesourada, a Globo induziu o brasileiro a cogitar até mesmo de uma abdução.
No dia seguinte, por exemplo, no comércio popular da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo, um pirateador de CDs afirmava que o artista encontrava-se numa base militar em Vênus, na qual cientistas cabeçudos escaneavam sua mente de poeta.
Naquele final de tarde, o hábil prosador admitia já ter vendido 16 cópias de álbuns do artista.
O que o telespectador engole
Ora, nos delírios narrados por Patrícia Poeta e Tadeu Schmidt, o folhetim da Globo manteve-se caninamente fiel à doutrina kameliana do jornalismo “testador de hipóteses”.
Afinal, a teoria do desaparecimento era verossimilhante, o que mestre Kamel considera suficiente para a construção de uma boa matéria.
O estatístico, aliás, já cometera experiências do gênero em “Veja” e na própria Globo, com destaque para os malabarismos argumentativos destinados a atirar no colo de Lula a responsabilidade pela tragédia com o avião da TAM, em Congonhas, em 2.007.
No caso de Belchior, a reportagem foi tratada como pândega por vários profissionais gabaritados da Central Globo de Jornalismo. Era o "se colar, colou". Riu-se da figura do trouxa engolidor de bobagens, o típico Homer Simpson boneriano.
Nas redações da emissora, pórém, a pauta se converteu em batata quente. Ninguém queria assumir a execução da suíte.
Durante a semana, os fatos comprovaram que os súditos de Kamel testam hipóteses, levianamente, ou são péssimos apuradores.
Nos dois anos do suposto “sumiço”, Belchior foi visto, fotografado e gravado em vídeo por dezenas de pessoas, entre jornalistas e cidadãos comuns.
Uma cantora lírica encontrara o cantor em duas ocasiões, em setembro do ano passado, em São Paulo.
Dois meses depois, ele aparecera no bairro do Coqueiral, no Recife, para participar de um evento do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.
Bastava aos jornalistas do Fantástico “testar um Google” para encontrar as matérias dos jornais pernambucanos sobre a participação de Belchior na cerimônia.
Em 9 de Fevereiro, em Brasília, posara para fotos ao lado de outro famoso amante do bigode, ninguém menos que José Sarney.
O “sumido” distribuira ainda autógrafos para admiradores em lugares como aeroportos e restaurantes, no Brasil e no Uruguai. Tudo recente, recentíssimo.
Aliás, que fugitivo, abduzido ou desencarnado daria palhinhas em shows, participaria de atividades de ONGs e visitaria o presidente do Senado?
A edição de 30 de Agosto do Fantástico, portanto, tinha de colocar dar um fim honroso a mais essa alucinação kamelista.
A batata quente caiu nas mãos da dedicada Sônia Bridi. Coitada.
E lá foi a galega comer pó nas estradas do Uruguai e, convertida em emissária da assistência social, dar plantão na porta de uma pousada em San Gregorio de Polanco.
Tomou um chá de cadeira. Coitada de novo.
Belchior apresentou-se já de noite à câmera da Globo. Afirmou que considerava “estranha” a reportagem sobre seu suposto desaparecimento. E disparou uma fleumática reprovação: “aquilo não tinha nenhuma relação comigo”.
Com um sorriso de mofa nos lábios, concluiu: “eu vivo em São Paulo”.
Ao que tudo indica, o simpático Belchior deu um tempo para escapar de falsos amigos e parentes chatos. É possível ainda que, inadimplente, tenha revivido seu personagem latino-americano, aquele “sem dinheiro no bolso”. Normal, normalíssimo.
Não por acaso, o jornalismo kameliano faz estardalhaço em torno de fatos inexistentes, mas cerra os olhos ao embuste dos bandalhos mal dissimulados.
A Globo não sabe, por exemplo, quem é o marido de Lina Vieira, desconhece seu padrinho demista cara-de-pau e nem desconfia dos interesses da ninfa da Receita no factóide da “agilização”.
Vamos testar uma hipótese? A empresa da família Marinho continuará enfiando gente em seu Triângulo das Bermudas, e Ali Kamel seguirá educando os truões da mídia imprensaleira. Vale uma aposta?