Em 27 de julho, a Dilma afirmou que a Operação Lava Jato "(...) provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro".
No dia seguinte, O Globo saiu com a capa aí de cima, com a manchete marota, dando a entender que a presidenta fica procurando novos culpados para a crise a cada momento. Entretanto, tudo que ela dissera é que parte da cada do PIB pode ser explicada como efeito das investigações.
O genial economista Rodrigo Constantino publicou um texto sobre o assunto. Compara Dilma a uma criança procurando culpados pelas suas próprias traquinagens, debocha da análise da presidenta, mas não apresenta nenhuma razão que demonstre equívoco da assertiva dela. Sei lá, vai ver que a economista dele estava de férias.
Dos arquivos do blog:
Pesquisadora da FGV: com aumento real de 76% na última década, salário mínimo foi o principal fator na redução da desigualdade.
Pesquisadora da FGV: com aumento real de 76% na última década, salário mínimo foi o principal fator na redução da desigualdade.
Mais de um mês depois, foi a vez do juiz Sérgio Moro reagir. O magistrado embaralhou as coisas e se saiu com a estapafúrdia comparação: "não é o policial que descobre o crime, o culpado pelo cadáver". Para que a comparação fizesse sentido, Dilma teria que ter culpado a Lava Jato pelas propinas ou pelo sobrepreço em obras. Ou a Lava Jato investiga a queda do PIB brasileiro?
De qualquer forma, acho que o juiz perdeu uma bela chance de ficar calado. Dilma não criticara a operação; ela apenas indicara um efeito colateral adverso da apuração.
Aliás, muitos remédios para doenças graves os tem, e apontá-los não significa crítica ao seu uso. Por outro lado, fingir que estes efeitos adversos não existem impede que se adeque a "posologia" e que se busque maneiras para mitigá-los.
Enfim, agora, passados quase três meses, o insuspeito (neste ponto!) diretor do FMI foi além da Dilma. Ele não disse, como a presidenta, que parte da queda do PIB brasileiro é efeito da Lava Jato. Ele afirmou que a contração da economia brasileira este ano decorre principalmente da "paralisia dos investimentos privados para esperar para ver onde vai dar a investigação dos escândalos", e não apenas de questões macroeconômicas.
Fico pensando: o que Moro pensa disso? Constantino vai pintar lá na sede do FMI e se oferecer para um debate econômico com o diretor do fundo?
Mas, sobretudo, tenho uma dúvida: esta informação não mereceria capa de O Globo? Os leitores do jornal não merecerem receber esta informação? Se o chefão do FMI tivesse dito o contrário, que a Dilma estava errada, a fala teria rendido manchete?
RIO - A queda prevista do PIB brasileiro de 3% este ano não é explicada apenas por questões macroeconômicas, mas principalmente por uma paralisia dos investimentos de empresas, diante da expectativa de saber como vão terminar as investigações em curso na força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmou nesta sexta-feira Otaviano Canuto, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Estou entre aqueles que acham que a desaceleração do PIB este ano no Brasil não é explicável por questões macroeconômicas stricto sensu. Ela é principalmente explicada por uma paralisia dos investimentos privados para esperar para ver onde vai dar a investigação dos escândalos”, afirmou, durante assembleia do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), no Rio de Janeiro. O FMI espera queda de 3% no PIB brasileiro em 2015.
(Continua)
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