O setor biofarmacêutico brasileiro está com cerca de 30 anos de atraso em relação aos países desenvolvidos, de acordo com Leda Castilho, professora de Engenharia Química do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ). Nos últimos anos, porém, o governo federal detectou esse atraso e o seu impacto na balança comercial e começou a investir na área, disse ela hoje (27) à Agência Brasil.
Leda Castilho salientou que há um déficit grande na área de saúde, em grande parte decorrente da necessidade de importar produtos biotecnológicos para a saúde humana. Algumas empresas biofarmacêuticas, segundo ela, foram criadas individualmente ou em consórcio com outras companhias, no país, apoiadas por financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Dos arquivos do blog:
Pesquisadora da FGV: com aumento real de 76% na última década, salário mínimo foi o principal fator na redução da desigualdade.
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As aprovações de empréstimos do BNDES entre 2004 e 2015 para esse segmento somam R$ 617 milhões, o que representa 14% da carteira de aprovações totais do banco, relativas às três fases do Profarma, o programa de apoio ao setor. Os projetos em análise na área de biotecnologia equivalem a 52% do total e alcançam R$ 500 milhões.
Os investimentos permitiram, inclusive, que uma das empresas financiadas, a Recepta Biopharma, criasse um produto inovador (anticorpo monoclonal) que acaba de ser licenciado para os Estados Unidos, visando o desenvolvimento de remédio para o tratamento de câncer. Segundo Leda, é a primeira vez que o Brasil não está comprando uma tecnologia do exterior. Ao contrário, "estamos vendendo para os EUA a tecnologia de um novo produto, moderno, para a saúde humana“. As vendas do setor de biofármacos superaram US$ 160 bilhões no ano passado. “Hoje em dia, o setor biofarmacêutico já representa 20% das vendas da indústria como um todo. E é um percentual crescente”, adiantou.
A professora Leda informou que dos 41 mil novos produtos para a saúde humana com testes clínicos em andamento no mundo, 40% são produtos biotecnológicos. “O setor biofarmacêutico está se tornando cada vez mais importante”, segundo ela. Na avaliação dela, o Brasil está dando os primeiros passos para participar desse mercado mundial. “Está montando as primeiras fábricas para passar a produzir daqui a alguns anos”, disse.
A produção de biofármacos em cultivos de células animais é o tema do sexto seminário internacional promovido a partir de hoje (27) pelo Programa de Engenharia Química da Coppe-UFRJ. O evento se estenderá até a próxima sexta-feira (31) e reunirá especialistas de universidades e da indústria de 13 países.
Para que o leitor possa entender a importância do seminário, biofármacos são produtos biológicos usados para fins terapêuticos. Leda Castilho explicou que no mundo existem medicamentos tradicionais, como aspirinas, por exemplo, que são produzidos por síntese química. Mas desde a década de 1980, começaram a chegar ao mercado, “e de forma crescente nos últimos anos”, medicamentos produzidos por biotecnologia. "São medicamentos que a molécula é muito mais complexa. Por isso, não dá para produzir pelas vias tradicionais, e tem que usar biotecnologia na fabricação. Eles usam células que foram, um dia, isoladas a partir de animais. Essa ferramenta é utilizada para produzir os modernos medicamentos biotecnológicos, explicou.
Durante o seminário, serão discutidas todas as etapas para o desenvolvimento dessas biotecnologias e sua aplicação industrial, disse ela. A manipulação genética da célula, visando a produção de uma cópia da proteína humana – para que ela possa ser injetada em um paciente e suprir uma deficiência que ele tenha em produzir aquela proteína, como ocorre em doentes com hemofilia – será um dos temas em debate, adiantou Leda.
Os especialistas vão discutir desde a modificação genética da célula até a propagação dessas células com a cópia do gene humano, de modo a que elas produzam grande quantidade da proteína humana. A purificação dessa proteína e aspectos regulatórios e de mercado, envolvendo a realização de testes em animais e testes clínicos (em humanos), também estarão na pauta do seminário, disse Leda Castilho. Os especialistas abordarão ainda outros produtos biológicos relevantes também fabricados a partir de células animais, como vacinas e terapias celulares.
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