Matéria da Nature.
Ciência segura nas eleições do Brasil
Próximo chefe de Estado não deve perturbar o status quo.
Anna Petherick
Como muitos outros brasileiros, os cientistas do país têm esperança que as eleições presidenciais de 03 de outubro tragam o mínimo possível de mudanças. Depois de quase uma década de forte apoio à ciência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua provável sucessora, Dilma Rousseff, tem tudo para manter esse quadro. A educação formal do próprio Lula pode ter sido escassa, mas, durante seus sete anos como presidente, ele elevou o status da ciência no Brasil por meio de um aumento constante da participação do financiamento da pesquisa no produto interno bruto (ver gráfico) – que, por si só, cresceu de forma impressionante (ver Nature 465, 674-675, 2010). Ele também tem elevado perfil científico do Brasil, escrevendo numerosos editoriais sobre suas iniciativas em desenvolvimento da ciência, inclusive um na revista Scientific American, em 2008, e seu ministro da ciência por cinco cinco anos, Sérgio Rezende, publicou pesquisa sobre o spin-waves teoria na Physical Review Letters, enquanto no cargo.
"O governo Lula trouxe um aumento muito importante no financiamento e fez um trabalho muito importante em termos de estabelecimento de políticas e definição de agenda", diz Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto de Pesquisas Biomédicas do Rio de Janeiro. "Foi a primeira vez que reunimos áreas tradicionais relacionadas à política industrial com àquelas relacionadas à saúde, ao financiamento à ciência e à agricultura."
Mas nem tudo foram boas notícias, contudo. A ex-Ministra de Meio Ambiente de Lula, Marina Silva - que está agora está disputando contra Dilma - se demitiu em 2008 porque acha que o governo não está fazendo o suficiente para proteger a Amazônia. Apesar de suas preocupações, os números de 2009 mostraram que o desmatamento caiu para um nível recorde de 7.464 quilômetros quadrados. Outra forte queda é esperada quando os números de 2010 forem divulgados, ainda este ano.
Rousseff, candidata de centro-esquerda do Partido dos Trabalhadores, detém uma posição forte como candidata ungida por Lula para a eleição. Desde o final de agosto, quase 50% dos brasileiros entrevistados disseram que pretendem votar nela para presidente. Os candidatos precisam metade da votação popular, mais um voto, para ganhar em definitivo, e seu riva mais próximo, José Serra, da oposição de centro-direita do Partido Social Democracia Brasileira, está oscilando em torno de 28%. Silva está em terceiro lugar.
Espera-se que Dilma Rousseff prossiga com as políticas de Lula em seu mandato. No entanto, não seria necessariamente uma má notícia para a ciência, se Serra ganhasse. A valorização dos benefícios económicos a longo prazo da inovação é espalhado de forma bastante equilibrada por todos partido, afirma Eduardo Viotti, da Universidade Columbia, em Nova York, que aconselha o Senado brasileiro sobre a política para a ciência. Serra foi um popular ministro da saúde, durante a presidência do antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, quando muitas das leis que sustentam os gastos de Lula em ciência foram aprovadas.
Se Dilma Rousseff conquistar a vitória, ela poderá fazer ainda mais para a ciência brasileira do que Lula. Muito se fala de como ela não tem o seu carisma, mas, com sua longa carreira como administradora diligente e eficaz, "ela provavelmente será capaz de ir mais longe em algumas das discussões que estão acontecendo no momento, por exemplo na integração entre a política científica e tecnológica e a política de saúde", Viotti aponta. Esse tipo de integração cuidadosa, é claro, recai sobre os ombros do ministro da ciência, que é deve ser um dos últimos a ser nomeado no novo gabinete.
A escolha do ministro das Finanças de Dilma também vai ser fundamental. Luciano Coutinho, apontado como o favorito para o cargo, é atualmente chefe do Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES, no Rio de Janeiro. Pelo menos no papel, Coutinho parece ser um ministro das Finanças de sonho para a comunidade de pesquisa. Ex-secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Coutinho é também professor da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, e especialista em economia da inovação. Ele já declarou que, como ministro das finanças, ele cortaria o déficit do Brasil e, assim, as taxas de juros - um passo que pode impulsionar o investimento em pesquisa e desenvolvimento corporativo no Brasil. Cientistas têm feito lobby junto a políticos de forma invulgarmente agressiva e coordenada este ano. A Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência fizeram circular uma carta a todos os candidatos presidenciais exortando-os a prestar mais atenção à educação em ciência básica e matemática.
Além disso, uma comissão nomeada por Rezende, liderada pelo físico Luiz Davidovich, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está terminando um guia para a equipe do próximo governo. Ele contém recomendações formuladas em conjunto por cientistas em conferências regionais e nacionais de política científica, tais como a necessidade de maior ênfase na formação científica, para permitir ao Brasil aproveitar a recém-descoberta riqueza em petróleo, encontrado ao largo da costa de São Paulo e Rio Janeiro em 2007, enquanto a preserva a Amazônia. Como equilibrar essas questões em uma política de mudança climática coerente é fundamental para o futuro do Brasil.
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