sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Brasil Econômico: desconfie da condenação unânime do mercado financeiro ao corte na SELIC; o setor produtivo aplaude!


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Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico

A decisão do Copom de reduzir fortemente a taxa de juros básicos provocou imediata reação do chamado "mercado" - uma entidade sem nome e de contornos difusos, cujos porta-vozes se alternam, mas que têm uma mesma origem: o setor financeiro.

Eles foram unânimes em criticar a falta de independência do Banco Central e sua vulnerabilidade às pressões políticas ao empurrar a Selic de volta aos 12%. Como disse Nelson Rodrigues, em uma de suas tiradas geniais, sempre temperadas com algum exagero, toda a unanimidade é burra.

Em outras palavras, desconfie delas. Pergunte, por exemplo, a outras parcelas da sociedade sobre a decisão do Copom divulgada quarta-feira à noite. Os empresários do setor produtivo, necessitados de crédito barato, acharam que a pancada nos juros foi até suave.

Falem também com os líderes da construção civil, cujos canteiros de obras são os que mais absorvem mão de obra no Brasil e movimentam uma enorme cadeia de fornecedores - eles estão aliviados com a medida. O efeito também é positivo para as contas públicas, já que boa parte do endividamento das três esferas do governo (federal, estadual e municipal) está atrelada à Selic.

A decisão do Copom devolveu os juros aos patamares de abril deste ano. Entre as grandes economias mundiais, ninguém tem taxas maiores do que as nossas. Então, por que tanto medo? A resposta do "mercado" é imediata: a inflação vai sair de controle.

Pois bem, o índice de preços anualizado está na ponta de cima da meta, algo em torno de 6,5%. Mas, nos últimos meses, o governo tomou medidas, como o aumento do superávit primário, com o intuito de abrir caminho para a redução de juros básicos, sem prejudicar o combate à inflação.

Nada disso parece convencer o "mercado" de que a queda da Selic é uma necessidade do país e os juros básicos em patamares estratosféricos revelam uma anomalia, e não uma política de austeridade monetária.

Nos países desenvolvidos, sempre citados como exemplo pelo "mercado", a taxa de juros básica é definida com um olho na inflação e outro no crescimento econômico e na geração de empregos. Não raro, como na crise de 2008, esses dois últimos critérios falam mais alto na hora da decisão.

A avaliação de que juros baixos provocam automaticamente inflação, repetido à exaustão pelo "mercado", lembra outro mantra que predominou na economia brasileira durante anos. Falava-se que um repentino aumento de renda da população, e a consequente explosão no consumo, levaria a uma disparada nos preços.

Nos últimos anos, cerca de 50 milhões de brasileiros ascenderam socialmente e, com mais dinheiro no bolso, saíram às compras, gerando mais atividade na economia e elevando o nível de emprego. E a inflação não fugiu da meta em momento algum. Vale repetir a pergunta: por que, então, tanto medo?

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Joaquim Castanheira é diretor de redação do Brasil Econômico

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