Lula and the Brazilian moment
por Jorge Heine.
A revista Time acaba de nomear o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o líder mais influente do mundo. Barack Obama é o quarto classificado; o primeiro-ministro Manmohan Singh, o 19 (há apenas quatro chefes de Estado ou de Governo na lista). Este é um exercício um pouco diferente da tradicional seleção da "Pessoa do Ano" que a Time realiza a cada dezembro, mas altamente reveladora, no entanto. Por definição, ela "não é sobre a influência do poder, mas sobre o poder de influência." A Time nunca escolheu um líder latino-americano como a pessoa do ano. Na Índia, Mahatma Gandhi conseguiu isso em 1930.
O Brasil, antes conhecido como o "país do futuro", que sempr o lídere permanecerá como tal, trilhou um longo caminho. Que isto aconteça ao fim do mandato de oito anos do líder do Partido dos Trabalhadores do Brasil, cuja a mera perspectiva de vitória na eleição de 2002 levou a uma fuga do real, a moeda brasileira, e da BOVESPA , a bolsa de São Paulo, é impressionante.
Qual é o segredo do sucesso de Lula e do Brasil? Como é que um país mais conhecido, até há 20 anos por sua inflação galopante e economia de montanha-russa conquistou sua condição atual, de queridinho dos investidores, que aplica políticas sociais altamente eficazes e que tem se posicionado como um jogador de veto em assuntos internacionais, sem uma cuja aquiescência nenhuma grande iniciativa global é viável?
Com uma massa de terra de cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a quinta maior do mundo, comparável ao continental Estados Unidos, o Brasil é mais um continente que um país. Com uma população de 190 milhões, e em rápido crescimento, não está bem na mesma liga que a China e a Índia (o que é o porquê de algumas pessoas terem dito que havia "apenas dois BRICs na parede"), mas ainda é o quinto país mais populoso. Mais de um em cada três latino-americanos é brasileiro. Com um PIB próximo de US $ 2 trilhões, é a oitava maior economia.
No entanto, o Brasil é imenso desde a sua independência, no século 19, mas a sua chegada à linha de frente dos negócios internacionais somente ocorreu nos últimos 20 anos. Por quê?
A resposta é simples: uma liderança presidencial. Para a maioria seria muito difícil citar um presidente brasileiro dos anos 1960 a 1990. Por 20 anos o país foi governado por generais obscuros e, em 1985, com o retorno da democracia, por civis sem brilho, que pouco fizeram para combater a inflação galopante e os desequilíbrios profundos em uma das sociedades mais desiguais do mundo.
Lula tem feito um trabalho notável, mas ele está sobre os ombros de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Foi como um improvável ministro das Finanças do presidente Itamar Franco em 1993 que Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, deixou sua marca. Ele foi o autor do Plano Real, que controlou a inflação e lançou-lhe direto ao Planalto, o palácio presidencial em Brasília. Da mesma maneira que 1991 foi um ano de virada para a Índia, quando sob o ministro das Finanças, Manmohan Singh, o país começou a liberalizar e abrir sua economia, 1993 o foi para o Brasil, e ele nunca olhou para trás.
Cardoso percebeu que o Brasil precisava não apenas estabilizar sua moeda, mas também abrir e liberalizar a sua economia, sufocada por décadas de protecionismo desenfreado. Ele privatizou empresas estatais, abriu as portas para o FDI e empurrou os negócios para os mercados de exportação. Considerando que em 1990 o comércio exterior atingia 11% do PIB, ele é agora de ao menos 24%. Considerando que, até 1990, o Brasil atraia menos de US $ 1 bilhão por ano em FDI, hoje, depois da China, é o país do mundo em desenvolvimento que mais atrai, chegando a até US$ 40 bilhões por ano nos últimos tempos.
Ao estabilizar a política e a economia (o Brasil teve quatro presidentes 1985-1994), Fernando Henrique Cardoso em seus oito anos fez muito para limpar a vegetação rasteira para Lula. E apesar de todas as críticas que Lula levantou, da oposição, contra as supostas políticas "neoliberais" de Cardoso, uma vez que assumiu o cargo, em janeiro de 2003, ele percebeu que só a política econômica ortodoxa iria manter o fantasma da inflação à distância. Lula nomeou um banqueiro conservador, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, e instriu-o a ficar de olho na inflação. Como a The Economist apontou, para um país cuja média anual de inflação no início de 1990 chegou a 700%, ter em 2006, pela primeira vez, uma taxa de crescimento superior à taxa de inflação foi uma façanha.
Lula, um ex-metalúrgico que perdeu um dos dedos no chão de fábrica, também veio com uma política de social imaginativa, o Bolsa de Família. Ele transfere renda em dinheiro para cerca de 11 milhões de famílias, que têm de cumprir determinadas condições (incluindo a freqüência escolar das crianças e visitas mensais a órgãos do governo), e diminuiu a desigualdade de renda no Brasil.
Como um homem que estreiou na política no movimento sindical, Lula sabe tudo sobre ganhar sempre nas negociações. Ele também tem uma capacidade notável para se dar bem com todo mundo - de George W. Bush a Hugo Chávez. O PT é apenas um entre muitos no fragmentado sistema partidário brasileiro (que controla governos em apenas 03 dos 27 Estados do Brasil) e conduz um governo de coalizão, que inclui partidos de extrema-direita, na coalizçao presidencial dificil de gerenciar do Brasil. "Ele estruturou um equilíbrio delicado em que o setor privado é a força motriz da economia, mas o Estado desempenha um papel importante, através de entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que tem um orçamento maior do que empréstimos do Banco Mundial, e a Petrobras, a companhia estatal de petróleo.
Em um país conhecido por suas demagógicas tradições populistas, Lula encarna o líder moderno, que acredita nas instituições. Em uma região onde muitos presidentes querem se perpetuar no cargo, ele rejeitou a possibilidade de mudar a Constituição para lhe permitir um terceiro mandato. Sua própria trajetória “trapos-à-riquezas” e a austeridade de seus hábitos pessoais fizeram com que os escândalos de corrupção que afetaram alguns de seus funcionários nunca prejudicassem seriamente a sua popularidade, levando à alcunha de "presidente teflon". Seus índices de aprovação atingem 80%. Ele foi mencionado para vários dos principais cargos internacionais, uma vez que ele deixa o cargo em 01 de janeiro de 2011 - de presidente do Banco Mundial a Secretário-Geral das Nações Unidas.
Dado que também na política externa Lula fez um grande impacto, não é surpreendente. Com Celso Amorim como seu ministro das Relações Exteriores, ele capitalizou o "PIB diplomático" do Brasil.
Com um excelente Ministro dos Negócios Estrangeiros - conhecido como "Itamaraty", pelo palácio do século 19 no Rio de Janeiro que se usou como casa antes que a capital se mudasse para Brasília - O Brasil tem exercido a sua diplomacia com sutileza e eficácia. Na frente multilateral, a sua capacidade para construir alianças, para dar a direção para a agenda internacional e para lidar com as principais questões de governança global têm se destacado. Ele tem mostrado isso no âmbito da OMC e das Nações Unidas, bem como na criação de (ou inclusão em) miríade de siglas como BRICs, BRICSAM, o IBAS, o + G20, o G4, o O5 e, principalmente, no G20 no nível de líderes (o "comité de direcção da economia mundial"), lançado em Washington em Novembro de 2008, e cuja próxima reunião está sendo realizada em Toronto no final de junho. Ele também colocou seu dinheiro onde sua boca está: num momento em que muitos Ministérios dos Negócios Estrangeiros reduziram os orçamentos e fecharam embaixadas, o Brasil, agarrando-se a que a diplomacia se tornou mais e não menos importante na era da globalização, fez o oposto. De 2003 a 2008, abriu 32 embaixadas no exterior, e agora tem 134.
Na América Latina, o Brasil também tem desempenhado um papel fundamental. Tem sido a força motriz por trás de novas entidades, como a Unasul, que reúne todas as nações da América do Sul, o Conselho de Defesa da América do Sul, desenvolvido para oferecer uma alternativa para o obsoleto Tratado Interamericano de Assistência Recíproca. Ele assumiu a liderança em estabilizar o Haiti por meio da MINUSTAH, a primeira missão de paz da ONU formada por uma maioria de tropas latino americanas e liderada por um general brasileiro. Ele está disposto a trabalhar com Washington, mas não se isso implicar sacrificar princípios, tais como o regime democrático, como mostrado na crise hondurenha do ano passado.
Em vez de ceder aos chamados imperativos da globalização, como tantas outras nações em desenvolvimento têm feito, Lula levou o Brasil a afirmar a sua autonomia e independência, estabelecendo as suas próprias condições para lidar com uma ordem internacional em mutação. Ele é o melhor exemplo do poder da deligência e da iniciativa em política externa e diplomacia.
(Jorge Heine holds the Chair in Global Governance at the Balsillie School of International Affairs, is Professor of Political Science at Wilfrid Laurier University and a Distinguished Fellow at the Centre for International Governance Innovation in Waterloo, Ontario. His book (with Andrew F. Cooper), Which Way Latin America? Hemispheric Politics Meets Globalization, is published by United Nations University Press.)
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