quinta-feira, 6 de maio de 2010

Jornal da Ciência: UFRJ inaugura laboratório que impulsiona programa nuclear

Matéria do Jornal da Ciência.

JC e-mail 4004, de 06 de Maio de 2010.

O Laboratório Multiusuário de Fusão a Arco, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi inaugurado nesta quarta-feira, dia 5. No mesmo dia, o Centro Nacional de Bioimagem (Cenabio) também foi inaugurado

O Laboratório Multiusuário de Fusão a Arco fica no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e dará início à produção experimental de ligas de zircônio no Brasil usadas na área nuclear.

Essas ligas metálicas são usadas na produção das varetas que receberão as pastilhas de urânio para depois formar o elemento combustível. Hoje, essas ligas são importadas de outros países. O laboratório está equipado com um forno de fusão a arco de última geração, onde as ligas são processadas a vácuo, com capacidade de processamento de 100 quilos.

O coordenador do projeto na Coppe, professor Luiz Henrique de Almeida, explicou que essa é uma etapa que permitirá a independência de componentes externos. "A próxima etapa do projeto é produzir em escala industrial. Essa é uma oportunidade para que o País se torne o primeiro produtor de ligas especiais no Hemisfério Sul."

A expectativa é que o Brasil passe a economizar em torno de 15% do preço do elemento combustível importado. Atualmente, o Brasil demanda 2 mil tubos de zircônio para a Usina Angra 2 e 1,6 mil para Angra 1, que deixarão de ser importados no longo prazo. O metal é utilizado por ser o único material resistente ao esforço mecânico, radioatividade e calor do reator nuclear. As ligas também são utilizadas na recarga de um terço dos elementos combustíveis dos reatores de Angra 1 e 2. Ao todo, são 115 quilômetros de tubos compostos por zircônio nas duas usinas.

Presente à inauguração, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, ressaltou que, como o Brasil tem a sexta maior reserva comprovada de urânio no mundo, precisa continuar se desenvolvendo na área nuclear.

"Para o Brasil continuar crescendo, não podemos negligenciar essa área como foi feito por muitos anos. Com a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, precisamos trabalhar para desenvolver toda a tecnologia nuclear. Hoje, temos um programa nuclear absolutamente transparente e o domínio de toda a tecnologia usada no ciclo do combustível nuclear. Não precisamos ficar dependentes de outros países", enfatizou.

Para Rezende, a produção do material é ponto estratégico para o desenvolvimento. "Deter essa tecnologia é uma questão não só econômica como estratégica. Estamos tendo certas dificuldades para encontrar no mercado internacional certas ligas de zircônio", explicou o ministro.

Segundo o jornal "O Estado de SP", Rezende afirmou ainda que o país já vem enfrentando uma espécie de boicote por causa da intenção de buscar autonomia no programa nuclear, investindo no desenvolvimento de tecnologias para dominar todo o ciclo do urânio.

"Há vários componentes do programa nuclear e espacial que o Brasil não consegue dos países que detêm essa tecnologia por motivos que todos entendemos. Não podemos ficar temerosos do que pode acontecer. Mas já estamos enfrentando em muitos aspectos essa questão. É quase um boicote", citou o jornal paulistano, completando que o ministro não informou quais países se negam a vender para o Brasil.

De acordo com o diretor de produção do combustível das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Samuel Fayad, a inauguração do laboratório marca o início da nacionalização de componentes. "Estamos trabalhando no desenvolvimento de projetos nessa área de fabricação de componentes, que serão úteis para a área nuclear como também para outros campos. É uma oportunidade para a INB se inserir no centro acadêmico e manter seus técnicos atualizados", destacou.

O laboratório teve investimentos de R$ 4,4 milhões, sendo R$ 3,8 milhões aplicados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com apoio do Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação Coppetec.

Bioimagem
Nesta quarta-feira, a UFRJ também inaugurou o Centro Nacional de Bioimagem (Cenabio), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb).

O centro tem o primeiro equipamento da América Latina para análise morfológica e funcional de órgãos e sistemas em animais vivos. O objetivo do Cenabio é aplicar ferramentas de bioimagem e biologia estrutural em linhas de pesquisa relacionadas às doenças infecciosas causadas por parasitas, bactérias e vírus, além de doenças crônicas e degenerativas, como hipertensão, câncer, Parkinson e Alzheimer.

O Inbeb reúne pesquisadores de todo o Brasil e é coordenado pelo pesquisador e professor da UFRJ e diretor científico da Faperj, Jerson Lima Silva. "Muitas promessas da medicina podem ser comprovadas a partir desses experimentos básicos", afirmou Lima ao jornal "O Globo".
(Com informações das Assessorias de Comunicação do MCT e do INB e dos jornais "O Estado de SP" e "O Globo")

Nenhum comentário: