sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nassif: Ministério Público Federal desmente denúncia contra coordenador da campanha de Dilma.




Vamos tentar entender a matéria da IstoÉ sobre o mensalão e a tentativa de incluir o ex-prefeito Fernando Pimentel nisso.

A revista é conhecida na praça. Há tempos deixou de frequentar o circuito da velha mídia, por capas polêmicas, denúncias complicadas (para ela), atirando em qualquer direção. Em geral, suas denúncias não repercutem em outros jornais por dificuldade em entender sua motivação.

De concreto, o que ela possui contra Pimentel se reduz a uma página das 69 mil do processo:



A página contem os seguintes elementos:
Um dos denunciados do mensalão, Glauco Diniz, era dono de uma conta em paraíso offshore, que foi utilizada no mensalão para remunerar o publicitário Duda Mendonça.

Mas Glauco foi também diretor financeiro do Clube dos Diretores Lojistas de Belo Horizonte. Durante alguns anos, o CDL-BH foi uma entidade bastante ativa, com várias iniciativas, seminários etc.
No tempo de Pimentel, a Prefeitura acertou com o CDL para que se responsabilizasse pelo projeto «Olho Vivo» em BH, sistema destinado a monitorar o centro para reduzir os assaltos.
O contrato firmado continha irregularidades formais, como a dívida fiscal do CDL/BH, irregularidades na prestação de contas, além de dispensa de licitação.
Tem-se aí um caso de terceirização de serviços só que a uma entidade representativa do comércio – em todo Brasil, os CDLs têm capilaridade e representatividade similar a das Associações Comerciais.
Segundo o texto do relatório, porém, o fato de Pimentel – na condição de prefeito -, Glauco – na condição de diretor financeiro da CDL – terem firmado o mesmo documento, mostraria ligações entre eles.

Quem assina a página é o procurador da República Patrick Salgado Martins, baseado em dois fatos que geram uma suspeita:
1. O fato de Glauco ser dono da conta offshore que abastecia o mensalão.
2. O fato de ter assinado um contrato com a prefeitura, mas na condição de diretor financeiro da ADL.

O que se faz em situação semelhante?

O contrato da Prefeitura com o CDL é um indício. O inquérito sai atrás do indício e pode constatar uma de duas: que, de fato, o dinheiro do contrato foi para o fundo de Glauco e serviu para alimentar o mensalão ou foi apenas uma coincidência, sem nenhuma ligação com o mensalão.


Seria o mesmo, por exemplo, que considerar que a IstoÉ foi beneficiária do mensalão por suas óbvias ligações – anteriores ao mensalão – com Marcos Valério. Aí, se pegam algumas capas-dossiês favoráveis ao PT, na época, e se conclui que ela estava no esquema. Seria correto com ela?

Evidentemente não é assim.

A ligação gera uma suspeita, que gera uma investigações. A do mensalão foi exaustiva, a ponto de gerar 69 mil páginas. O repórter leu as 69 mil páginas ou recebeu apenas a página pronta em que Pimentel era mencionado? Evidentemente leu tudo, já que a reportagem se pretende séria. Não se pode imaginar que uma revista séria tenha recebido apenas a página sobre o Pimentel, previamente selecionada pela fonte.

Depois de tanto trabalho, não teve tempo de uma pequena providência para completar a reportagem: ligar para o procurador, cujo nome está claro na página, e perguntar pelo resultado final da investigação.

Ele não fez, o repórter Cláudio Leal, da Terra Magazine, fez. Resposta do procurador:

Claudio Leal

Por meio da assessoria do Ministério Público Federal, de Minas Gerais, o procurador Patrick Salgado Martins afirma que os fatos narrados pela revista IstoÉ “estão fora de contexto”. O coordenador da campanha de Dilma Rousseff e ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), não foi denunciado no caso do mensalão.

Segundo o MPF, o procurador ressalta que os denunciados – Glauco Diniz Duarte e Alexandre Vianna de Aguilar – “cederam uma conta aberta por eles no exterior para o esquema do mensalão. Ou seja, eles fizeram parte do esquema. A ligação deles com Pimentel é a de que eles foram os empresários que venceram a licitação da Olho Vivo”.

O procurador acrescenta: “Não há nenhuma prova ligando (Fernando) Pimentel ao mensalão. Obviamente, por essa razão, ele não foi denunciado. Se houvesse alguma prova, isso teria acontecido.”

Aí o Estadão que, em tempos mais sérios, jamais repercutiu uma denúncia da IstoÉ, abre uma página inteira interna e dá em manchete de seis colunas: «Coordenador da campanha de Dilma atuou no mensalão do PT, diz revista». E, em baixo, uma pequena nota informando que o procurador disse que não há provas.

Entre a palavra do procurador e a da IstoÉ, com quem o Estadão fica: com a da IstoÉ.

Não é um jornal sério.

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