“Apagão científico” ameaça pesquisas em institutos de SP.
Êxodo em institutos traz risco de ‘apagão científico’
Responsáveis por gerar e transferir conhecimentos científicos e tecnológicos para os agronegócios, os institutos de pesquisas agrícolas do Estado estão sob o risco de um “apagão científico” por causa dos altos índices de exoneração de servidores – pesquisadores, técnicos, oficiais e agentes de pesquisa – que buscam institutos federais ou até mesmo o setor privado por melhores salários. Segundo a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APQC), Campinas – sede de quatro dos oito institutos estaduais – tem hoje cerca da metade dos profissionais que o setor registrava há dez anos.
Coordenados pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, os institutos – Agronômico de Campinas (IAC), Biológico (IB), Economia Agrícola (IEA), Pesca (IP), Tecnologia de Alimentos (Ital) e Zootecnia (IZ), e 15 Pólos Regionais distribuídos estrategicamente no estado, bem como o Departamento de Gestão Estratégica (DGE) – contribuem para o desenvolvimento regional, a inovação científica e tecnológica, e para o fortalecimento da economia baseada no agronegócio. Porém, por causa do “exôdo profissional”, muitos projetos correm o risco de não seguir adiante por falta de pessoal.
No IAC, por exemplo, atualmente são 187 pesquisadores e 542 técnicos, oficiais e agentes de pesquisa. No passado, segundo o presidente da associação, Laerte Machado, esse número era quase o dobro. “Tomando em consideração que Campinas ainda abriga o Ital e uma parte do Instituto Biológico, não somamos na cidade 300 pesquisadores”, disse. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), também está localizado o Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa, atualmente com a maioria dos 46 pesquisadores e 214 profissionais da pesquisa. A explicação para Machado são os baixos salários. “O Estado de São Paulo é o que pior paga no país”, disse.
Exôdo
Os profissionais dos institutos têm preferido optar pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde o salário inicial é de R$ 7 mil e pode chegar a R$ 11 mil em um curto período de tempo. No estado, o salário inicial de um pesquisador com doutorado é de R$ 2,7 mil. No auge da carreira, o salário atinge R$ 6,4 mil. “Em alguns órgãos, o salário chega a ser o dobro do nosso”, disse o pesquisador do IAC, Maurílio Terra, durante uma debate ocorrido no final do ano passado na Câmara de Vereadores de Campinas. Segundo ele, no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), o salário varia entre R$ 5 mil e R$ 10,5 mil. Nas universidades estaduais, o salário varia de R$ 3,5 mil a R$ 9,5 mil.
“Além de estarmos perdendo profissionais para órgãos federais ou empresas privadas que pegam mais, não conseguimos repor as vagas deixadas por quem se aposenta. Os jovens que estão preferindo prestar concurso em órgãos como a Embrapa e outros federais do que nos institutos”, disse Machado. “Há vários anos foi prometida a equiparação salarial entre pesquisadores e professores universitários de São Paulo. Mas, com os anos, essa promessa foi deixada de lado e hoje a diferença é grande. Todos os nossos pesquisadores tem no mínimo o mestrado, mas ganha menos”, completou.
Em todos os institutos há notícias de pesquisas paralisadas por falta de pessoal. No IZ, por exemplo, um projeto de suinocultura foi abandonado por um pesquisador que preferiu atuar em outras instituições. “Os institutos estão bem equipados, mas a falta de pesquisadores faz com que eles não sejam usados. Há casos como o de um microscópio de última geração que ficou quase dois anos sem uso por falta de um profissional adequado”, contou o presidente da associação. “Em outros casos, por não suportar os baixos salários, os pesquisadores têm partido para a iniciativa privada. Hoje, o setor do agronegócio cresce e demanda profissionais, e é onde eles encontram bons salários”, completou.
APQC cobra equiparação salarial com professores universitários
Há pelo menos um ano a direção da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo cobra do governo do Estado a equiparação salarial com professores de universidades estaduais. Embasados em decisões da Justiça que lhes garante a equiparação, eles cobram o governador José Serra (PSDB) e o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, João de Almeida Sampaio Filho, o aumento do salário. Segundo dados da associação, a correção resultaria em mais R$ 87,8 milhões ao ano ou R$ 7,3 milhões por mês ao Estado.
“Estamos cientes das dificuldades que iremos encontrar nas negociações com o atual governo. Fato já demonstrado nas respostas que nos tem sido dado à ementa que encaminhamos a diversos elementos do governo, pleiteando o ato normativo, junto ao governo paulista, para corrigir a diferença salarial provocada por efeito de medidas judiciais”, disse o presidente da associação, Laerte Machado. “Esperamos solucionar os problemas pertinentes a nossa carreira, principalmente o relacionado à questão salarial. Algo que tem sido desestimulador e nos deixado muito a quem de outros órgãos de pesquisa, a exemplos, citamos aqueles mantidos pelo governo federal”, completou.
No ano passado, em debate na Câmara de Vereadores de Campinas, os pesquisadores acusaram o governador de sucatear a categoria. Machado disse que o recurso enviado aos institutos pelo governo não é suficiente. “Precisamos nos mobilizar para conquistar melhorias”, defendeu, à época. Ele contou ainda que o governo estudava a possibilidade de transformar os institutos de pesquisa em autarquias. “Nós não temos medo de mudança, o que tememos é perder os recursos de orçamento do Estado”, disse. “Se isso acontecer, teremos que vender projetos de pesquisa para gerar nossos recursos”, criticou Machado. “O governo tem que investir em pesquisa porque nosso trabalho é longo e sequenciado, não podemos perder a manutenção desses repasses”, disse o pesquisador do IAC, Maurílio Terra. (VBF/AAN)
Direção da Apta reconhece problema, mas nega “apagão”
O coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Orlando Melo de Castro, que já atuou como pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), reconheceu o “exôdo profissional” de pesquisadores e técnicos, oficiais e agentes de pesquisa por causa dos baixos salários oferecidos pelo governo do Estado. “É muito difícil a gente competir com a Embrapa. Se fosse por salário base, até que dava, mas existem outras remunerações que fazem com que o salário fique superior”, disse. Ele, inclusive, prevê uma nova debandada de servidores com o novo concurso aberto pela Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
No entanto, ao mesmo tempo que confirma o problema, ele nega a possibilidade de um “apagão científico”. “Não vai sair todo mundo, de um dia para outro (dos institutos). Nós temos os jovens pesquisadores”, disse. “Os projetos de pesquisa são crescentes, as atividades estão sendo mantidas. O que acontece é que, quando a pesquisa não gera mais interesse para o estado, ela deixa de ser trabalhada. E, diante disso, cada instituto tem que se plajenar e ajustar no que é de importância trabalhar”, completou, ao responder sobre a falta de profissionais para seguir com pesquisas iniciadas e paralisadas.
Castro contou que um dos problemas que podem ter contribuído para o déficit de profissionais é a falta de regularidade nos concursos públicos. O último grande concurso foi finalizado em 2006. No entanto, um ano depois, a Embrapa abriu um concurso e todos os profissionais recém-contratados pelo Estado deixaram as funções. “Atualmente, estamos com 805 pesquisadores em todo o estado e 2.488 profissionais de apoio à pesquisa. Por conta disso, estamos fazendo um levantamento para identificar vagas em aberto e novos cargos. Após toda essa pesquisa, vamos apresentar ao secretário e pedir concurso, cuja regularidade tem de ser no máximo de quatro em quatro anos”, afirmou.
Sobre a equiparação salarial, Castro afirmou que o pedido deverá ser encaminhado em breve ao governador José Serra (PSDB). (VBF/AAN)
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