sábado, 16 de março de 2013

Os efeitos econômicos da igualdade de gêneros

Uma abordagem meio utilitária, mas, ainda assim, interessante.

A propaganda não é engraçada. E, além de absurda, a concepção ilustrada ainda rouba talentos, capital humano.

Gender Equality Pays Off in Brazil
Otaviano Canuto (Otaviano Canuto é vice-presidente do Banco Mundial e chefe de Redução da Pobreza e Gestão Econômica (PREM))

O sucesso do Brasil na redução da pobreza e da desigualdade de renda tem sido amplamente divulgado nos últimos anos. O que é menos conhecido é que também tem havido progresso em diminuir a desigualdade de gênero nas últimas duas décadas. As taxas de analfabetismo para as mulheres com 15 anos ou mais caiu de 20,3% em 1991 para 9,8% 2008. A parcela da força de trabalho feminina com ensino superior aumentou de 7,4% em 1992 para 11,9% em 2008  e agora é mais elevada que a dos homens. Políticas do governo - algumas delas implementadas em cooperação com o setor privado - também têm abordado as necessidades das mães, provendo cuidados de saúde antes e durante a gravidez e no parto, cuidados com a infância e educação. Na violência de gênero, a promulgação da Lei Maria da Penha já trouxe alguns resultados.



Não obstante esses marcos, ainda há muito a ser feito. Por exemplo, as disparidades de gênero no acesso ao emprego formal e na renda ainda persistem no Brasil. Mesmo que com um aumento na proporção de mulheres empregadas no setor não-agrícola, sua vantagem comparativa em educação não tem se refletido nos salários pagos no mercado - apesar do maior nível de habilidade média da força de trabalho feminina. Em 2008, os salários das mulheres eram apenas 84% o dos homens - e a distância aumenta em níveis mais elevados de educação. Entre aqueles com 12 anos ou mais de escolaridade, as mulheres ganhavam apenas 58% dos salários dos homens. Em grande parte, a diferença salarial parece refletir as práticas discriminatórias e normas sociais. As mulheres brasileiras, mesmo aqueles que trabalham em tempo integral, continuam a suportar o peso do tempo destinado para as tarefas da família.

A este respeito, vale a pena lembrar como Relatório do Banco Mundial sobre o Desenvolvimento Mundial 2012: Igualdade de Género e Desenvolvimento destacou vários canais através dos quais o crescimento econômico e o bem-estar social podem se beneficiar da menor desigualdade de gênero. Por exemplo: pense nas provas bem estabelecidas de que os bebês tendem a ter mais peso e altura quando as mulheres têm mais poder de negociação sobre a renda familiar, com consequências óbvias em termos de saúde e capacidade de trabalho da população adulta.

No caso do Brasil, Pierre-Richard Agênor e eu recentemente mostramos os impactos da redução da desigualdade de gênero no aumento do crescimento econômico, com o desenvolvimento de um modelo macroeconômico com o qual se pode simular os resultados de políticas específicas. Suponha, por exemplo, que o governo implemente com sucesso leis contra a discriminação, que levem a uma completa eliminação da discriminação de gênero contra as mulheres no local de trabalho. Usando dados do Brasil, nossos cálculos baseados nos modelos sugerem que uma política de "trabalho igual, salário igual" poderia adicionar até 0,2 pontos percentuais à taxa de crescimento do produto interno bruto anual do país. Este é apenas o efeito direto do aumento do pagamento que as mulheres "levariam para casa", não considerando outros efeitos sobre a alocação de talentos e a produção de capital humano.

Você pode se surpreender com a variedade de mecanismos através dos quais diminuir a desigualdade de gênero pode impulsionar o crescimento econômico. Pense em investimentos em infra-estrutura, tão terrivelmente necessários atualmente no Brasil. Muitos analistas já apontaram várias maneiras pelas quais mais e melhor infra-estrutura no Brasil elevaria o seu ritmo atual de crescimento, reduzindo o desperdício de tempo e recursos na produção e transporte. O que pode ter sido menos percebido é o seu efeito sobre o crescimento através da ... redução da desigualdade de gênero! Mais e melhor acesso às estradas rurais, água, redes de energia e outros reduziria o tempo das mães alocado para as tarefas domésticas e elevaria o tempo dedicado ao mercado de trabalhos, à acumulação de capital humano e à criação dos filhos. Este último também é produtivo, já que leva à melhoria da saúde tanto na infância e idade adulta. Fundamentalmente, o aumento do tempo dedicado a acumulação de capital humano aumenta o poder de barganha das mulheres, o que se traduz em uma preferência maior da família para a educação de meninas e para a saúde das crianças, em um aumento da percentagem média da renda familiar gasto com as crianças e em  uma menor preferência pelo consumo atual.

Mais uma vez, usando o nosso modelo, simulamos os efeitos de um neutro aumento do orçamento em termos de gastos governamentais com investimento em infraestrutura, do seu valor atual de cerca de 2,1% do PIB para 3,1%. Os cálculos sugerem que esta política poderia adicionar entre 0,5 e 0,9 pontos percentuais à taxa anual de crescimento do Brasil, contabilizando os efeitos diretos e indiretos - mais notavelmente por meio de mudanças na alocação de tempo das mulheres e seu poder de barganha sobre os recursos da família.

Uma das conclusões de um recente simpósio sobre Desigualdade de Gênero em Mercados Emergentes, no Green Templeton College, Universidade de Oxford foi:

A desigualdade de gênero é ruim pra economia. Ela priva economias nacionais dos talentos das mulheres. Ela reduz o potencial produtivo da força de trabalho. Ela restringe o consumo, diminui as receitas fiscais e limita os benefícios nacionais e pessoais do investimento em educação feminina, forçando as mulheres para profissões e ocupações que exigem menos que i pleno uso de suas habilidades e capacidades.

Nossos experimentos numéricos com Igualdade de Género e Crescimento Econômico no Brasil corroboram isso.

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