domingo, 9 de setembro de 2012

Alunos de escolas com 12ª melhor média do País no Ideb são beneficiários do Bolsa Família.


Ilustração de Remy Charlip para A Day of Summer.
Ilustração de Remy Charlip.


Alunos de escolas com 12ª melhor média do País no Ideb em Pedra Branca moram no campo, mas recebem incentivo de professores e familiares para se dedicar aos estudos
Daniel Aderaldo - iG Ceará | 06/09/2012 05:00:28

Os 360 alunos das duas escolas com maior nota do Ceará no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011 na avaliação dos anos iniciais (1ª à 4ª série) são filhos de pequenos agricultores e beneficiários do programa federal Bolsa Família.

Encravada em uma serra castigada pela seca, a 300 quilômetros de Fortaleza, a pequena Pedra Branca tem uma rede municipal de ensino formada por 60 instituições de ensino e foram justamente as escolas de Ensino Infantil e Fundamental Cícero Barbosa Maciel e Sebastião Francisco Duarte, localizadas na zona rural, onde normalmente os resultados são inferiores, que obtiveram nota 8,1. Esse resultado representa a 12ª melhor pontuação entre todas as instituições públicas do País.

Maria Ducilene Pereira da Silva é diretora da Escola Cícero Barbosa Maciel há seis anos. Conhece bem seus alunos e, a todo instante, cuidava de dividir o mérito do sucesso no Ideb entre gestores, professores, alunos e pais.

Dos arquivos do blog:
Desde a implantação do Bolsa Família, a Taxa de Natalidade já caiu 25%

“Embora tenhamos aqui praticamente 100% filhos de agricultores que vêm de famílias simples, eles tem um diferencial. Não temos problemas com violência, com drogas, com desrespeito de alunos para com professores ou a direção da escola. Nós não temos atritos entre alunos”, afirmou.


Filha de agricultores, Francisca Diany Martins do Nascimento, 11 anos, orgulha-se das notas que tira na escola e, como praticamente todos os colegas, alimenta o sonho de ser “doutora” – médica. O pai passa mais tempo em São Paulo do que em Pedra Branca. Seguiu a sina de ir cortar cana-de-açúcar para tentar fazer chegar à mesa de casa um pouco mais do que o programa federal Bolsa Família proporciona.

“Ele liga para mim sempre para saber se eu estou bem nos estudos. Eu conto que estou bem nas provas: tirei oito, nove, dez

A realidade de Diany é compartilhada por Ana Carla Alves Furtuoso, 11 anos, assim como ocorre com quase todos os alunos matriculados nas duas escolas campeãs em Pedra Branca. A casa simples da família, de paredes pintadas com cal e chão de cimento frio, tem quatro cômodos, que são divididos com duas irmãs mais velhas e os pais, pequenos agricultores.

Uma saca de milhão (60 quilos) e meia saca de feijão é o saldo do que foi plantado no início do ano, antes da quadra chuvosa mais uma vez decepcionar. Do pouco colhido, a família separa uma parte do feijão para a alimentação e outra é vendida. A própria prefeitura compra a safra, que vai para a merenda escolar das crianças, toda baseada na agricultura familiar. O milho fica para o consumo da criação de animais.


Estudante do turno da manhã da 6ª série na Escola Sebastião Francisco Duarte, Carla já havia feito a tarefa de casa quando a reportagem do iG pediu para que ela mostrasse onde e como estudava em casa. Tímida, a menina buscou no quarto o caderno de capa dura e o livro de Matemática, mas não o lápis. Explicou que havia emprestado para uma colega, moradora de um sítio vizinho, que estava com o material escolar incompleto. “Ela passou aqui e levou para fazer o dever de casa também”.

Com uma caneta, revisou a lição feita no dia anterior. Tudo sob a supervisão da mãe. Como estudou somente até o ensino fundamental, a ajuda de Gonçalina Alves Feitosa, ou simplesmente Dona Branca, limita-se ao incentivo. “Quem tira as dúvidas mesmo é a irmã mais velha”

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